14 de nov. de 2013

A Bolívia atrairá turistas mostrando o povo e a cultura do país

Não há praias? Não há problema


  Roger Hamilton

Imagine um país pobre que precise dos dólares do turismo, mas que não tenha praias, cassinos exuberantes ou parques temáticos. Que atrações ele pode oferecer?

Se o país for a Bolívia, atrações não serão problema. Suas vibrantes culturas indígenas, rica história e majestosas paisagens parecem diretamente saídas das páginas da revista National Geographic.

Até agora, porém, a National Geographic é o mais perto da Bolívia que a maioria dos estrangeiros chega. Situada fora dos circuitos turísticos internacionais, ela não é nem sequer lembrada pela maior parte dos organizadores de viagens. Sendo assim, não é surpreendente que muitas áreas da Bolívia não consigam oferecer o conforto que os visitantes internacionais esperam: hotéis de bom nível, transporte confiável, guias profissionais e centros de interpretação.

Hoje, a maioria dos turistas que exploram as cidades e o interior da Bolívia são jovens mochileiros, com muita energia mas poucos meios financeiros para proporcionar uma contribuição significativa à economia local.


Entre os que querem mudar essa situação está Peter McFarren, presidente da Fundação Cultural Quipus da Bolívia (ver link para o site à direita). Seu plano é criar um complexo de museus na cidade de Guaqui, às margens do lago Titicaca. Ao contrário de muitos museus tradicionais, cujas exposições raramente vão além da taxidermia cultural, o complexo de Guaqui ligará o passado da região à vida real de seu presente. Ele funcionará como um trampolim, dando aos visitantes um conhecimento básico das tradições locais e lançando-os depois nas áreas adjacentes, para que vivam suas próprias aventuras de descoberta.

Ícone de um passado distante.

O projeto Museos del Lago está entrando na fase de planejamento com a ajuda de uma concessão de US$30.000 para esse fim oferecida pela Fundação Interamericana para a Cultura e o Desenvolvimento. Essa fundação independente e sem fins lucrativos, que foi estabelecida com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, promove projetos culturais que contribuam para o desenvolvimento econômico e social. A concessão ajudou a Fundação Cultural Quipus a preparar a documentação que a levou a conseguir o apoio da organização de microfinanças boliviana FONDESIF e de outras fontes do governo boliviano, do governo canadense e da prefeitura local. O projeto também está sendo apresentado aos governos do Japão e dos Estados Unidos.

O complexo Guaqui dará destaque à viva mistura de culturas indígenas aimará e seus antecedentes históricos. Um museu de história e cultura alojado num armazém portuário restaurado exibirá artefatos antigos ao lado de exposições interativas atuais sobre a vida cotidiana e comemorações, incluindo danças da região. Os turistas verão ainda outra faceta da história boliviana numa estação e pátio ferroviários restaurados, com locomotivas do início do século XX.

Os coloridos alimentos do novo mundo têm raízes antigas.

Para os apreciadores da gastronomia baseada em produtos agrícolas, um museu da agricultura andina explorará a história e as tradições não só da difundida batata, mas também de grãos nativos menos conhecidos, como a quinoa, tarwi e cañawa, e de todo um conjunto de raízes e tubérculos exóticos. Outro museu visitará a história natural da região, tanto em áreas de exposição como em canais e lagoas das proximidades.

A população local será, ao mesmo tempo, tema e protagonista do complexo cultural, diz McFarren. A capacitação em gestão de turismo e serviços criará cerca de 80 postos de trabalho, enquanto outras 150 pessoas colherão benefícios indiretos. Oficinas ensinarão os artesãos locais a transformar os tradicionais produtos têxteis e de cerâmica em artigos vendáveis. Por fim, novas instalações de tratamento de lixo para o povo de Guaqui reduzirão a poluição junto ao porto.

McFarren destaca a localização geográfica de Guaqui como uma vantagem especial. A cidade fica perto do ponto de entrada de turistas que deixaram atrás atrações peruanas como Cuzco, Machu Picchu e a vizinha Puno. De Guaqui, os turistas poderão fazer cruzeiros para várias ilhas. O sítio arqueológico de Tiwanaku está a mais de 1.000 anos no passado, mas a apenas 15 minutos de carro.

Os planaltos bolivianos são ricos em culturas tradicionais que conservam orgulhosamente seus idiomas, festividades, crenças religiosas, tradições agrícolas e alimentares, trajes e uma variedade de outros elementos culturais. Muitos outros lugares da América Latina têm um potencial similar para fundir o negócio do turismo com uma celebração das culturas e ambientes locais.

Um desses locais é a cidade brasileira de Xapuri, perto da fronteira com a Bolívia. Ali o internacionalmente conhecido Chico Mendes viveu, lutou para proteger as florestas e seu povo e foi morto por um pistoleiro. Sua casa é mantida como um santuário aberto para os visitantes. Também lá, um conjunto de museus e espaços públicos poderia contar a história dramática e transformadora da região e explorar os modos de interação da população local com seu ambiente florestal. Um centro desse tipo criaria um núcleo turístico que seria muito importante para a economia local. Chamaria também a atenção internacional para o empenho do governo local em dar continuidade ao legado de Mendes, com o apoio a uma economia baseada na gestão sustentada da floresta tropical natural.

Claro que esses tipos de atração podem ter dificuldade para competir com Cancún, da mesma forma como, na TV, documentários não podem rivalizar com as séries televisivas e as novelas. No entanto, o número de viajantes interessados em cultura é cada vez maior, e eles geralmente são mais instruídos e têm mais recursos do que os turistas que buscam sol e praia. Para eles, a autenticidade é mais importante do que acomodações cinco estrelas. Seu objetivo não é a busca de prazer, mas de conhecimento e entendimento.

A América Latina é rica em história, culturas, natureza espetacular e, claro, hospitalidade. Mas é preciso fazer mais para atrair os turistas. Espera-se que Guaqui seja apenas o começo.
redação e fotos  - http://www.iadb.org/idbamerica/index.cfm?thisid=4043
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