5 de jun. de 2015

Somalilândia - Africa- quer seduzir turistas


A região semi-independente da Somalilândia está a tentar transformar-se num destino turístico.
A Somalilândia tem muito para atrair turistas: 850 quilómetros de linha de costa virgem e subdesenvolvida ou arte rupestre são apenas alguns exemplos
(DR)
Nas paredes do Oriental Hotel, construído em 1953 e sendo assim o mais antigo de Hargeisa, capital da Somalilândia, há novos cartazes alusivos às praias e aos locais históricos do país, com uma frase esperançosa: «Maravilhosa Somalilândia – o mais novo destino turístico em África».
O desenvolvimento dea indústria turística pode ser um meio para impulsionar a economia dependente de exportações percuárias da Somalilândia, e pode também mudar as perspetivas globais, que permanecem focados na Somália, a sul, continuando a não reconhecer a declaração de independência de Somalilândia, de 1991.
Ninguém afirma que vai ser fácil. Especialmente tendo em conta a falta permanente de soberania, e os avisos da maioria dos governos ocidentais aos seus cidadãos para não viajarem até esta região (sendo considerada parte da Somália). Mas, felizmente, nem todos os turistas vêm do Ocidente.
«A Etiópia é nossa vizinha e, com a sua grande população, representa um grande mercado», diz Mohammed Abdirizak, gerente de base da agência de viagens Safari Travel Tour, em Hargeisa. «Muita gente da sua classe média está a viajar para o Quénia e para o Djibuti para as férias, quando poderiam estar a vir para cá».
A Somalilândia tem muito para atrair turistas etíopes e de outras nacionalidades: 850 quilómetros de linha de costa virgem e subdesenvolvida, alguns dos elementos de arte rupestre mais antigos do mundo, nas cavernas Las Geel, mesquitas antigas, mercados de camelos tradicionais e muito mais.
«O feedback que recebemos é bom», diz Jim Louth, diretor da sede da agência de viagens de aventura Undiscovered Destinations, no Reino Unido, que envia pequenos grupos de turistas para a Somalilândia duas vezes por ano. «Percebem que os habitantes são muito agradáveis, e que Las Geel, com as suas pinturas, é um grande atrativo, e também gostam do ambiente de Hargeisa», explica.
A diáspora da Somalilândia já está a regressar, para descobrir uma pátria que muitos nunca conheceram, depois de fugirem da guerra civil de 1980, que matou dezenas de milhares de pessoas e que quase destruiu por completo as infraestruturas.
Além da crescente classe média da Etiópia, a Somalilândia também poderá beneficiar de se tornar daqui um diante um destino a ponderar para os números crescentes de turistas que chegam ao país vizinho, diz Mark Rowlatt, um turista-viajante. Não se sabe ao certo, mas o número de turistas que visitaram a Somalilândia em 2014 terá rondado entre 300 e 1300. São poucos, mas mostram que o país vai na direção certa. No entanto, há um obstáculo: «Não vejo o número de turistas a aumentar enquanto os governos ocidentais não tiverem peritos em viagens em condições», avança Louth. «A pobre Somalilândia é colocada a par com a Síria e o Iémen, e isso significa que não se vai conseguir investimento de grupos hoteleiros estrangeiros nem apoios para infraestruturas.»
Estas últimas têm mesmo de melhorar – ou simplesmente de ser construídas. A antiga cidade marítima de Berbera, ao lado do Golfo de Áden, oferece uma fachada deteriorada e em ruínas grande parte junto à sua linha de água. «Há muito pouco nas praias em termos de infraestrutura – é preciso haver mais», diz Georgina Jamieson, diretora de desenvolvimento da Dunira Strategy, uma consultora de turismo sediada no Reino Unido. «Mas também é verdade que isso faz parte da beleza, muito natural e intocada. Alguns dizem que é semelhante ao que parecia ser o Egito antes de seu boom turístico.»
Mas, além de as infraestruturas inadequadas – um problema que não se limita às praias – dissuadirem os turistas mais mainstream, a rigorosa cultura islâmica da Somalilândia significa que as mulheres têm de nadar totalmente vestidas e que não há cervejas geladas ao entardecer. Por outro lado, há relatos crescentes de furtos na praia e de estrangeiros a serem abordados de modo agressivo devido ao dinheiro.
«Concluímos que, a curto prazo, os locais históricos da Somalilândia são os seus ativos mais fortes», diz Jamieson, referindo-se a um estudo de viabilidade elaborado em 2014, sobre o património turístico como motor de crescimento económico sustentável na Somalilândia.
«A única forma de vender ativos do país é conseguir reconhecimento internacional», diz Jama Musse, diretor do Centro de Cultura de Hargeisa. «O turismo não vai crescer sem esse reconhecimento. É um facto simples. O mundo não sabe sequer que existimos.»
Como resultado, explica Musse, os estrangeiros não sabem quem contactar, ninguém assume a responsabilidade, e os tipos de instituições que normalmente operam no exterior para proteger os interesses dos turistas não existem. E, sem o devido reconhecimento de autoridade, há o perigo de alguém oferecer conselhos sem depois prestar contas. Alguns dizem que o governo da Somalilândia não está a fazer o suficiente para apoiar o turismo, embora isso se possa justificar por se ver pressionado por assuntos mais urgentes. A economia da Somalilândia permanece perigosamente frágil, com o não-reconhecimento do Estado a privá-lo de apoio internacional em grande escala e do acesso a instituições e sistemas financeiros globais. Além disso, a pobreza é generalizada, e o número de jovens a viver nas ruas testemunha taxas de desemprego crónicas, que podem minar a paz e a segurança.
Por enquanto, porém, a paz na Somalilândia mantém-se, e os turistas que escolhem ignorar os alertas para esta viagem dos seus governos visitam a região em relativa segurança. Numa tarde de sexta-feira de fevereiro, na Baathela Beach, em Berbera, um visitante parecia impressionado. «As pequenas ondas lembram-me o Mediterrâneo", diz Xavier Vallès, um consultor de saúde de uma ONG presente na Somalilândia, que cresceu ao lado de uma praia bem diferente, em Barcelona, antes de experimentar estes mergulhos.
http://www.africa21online.com/artigo.php?a=13086&e=Turismo
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