23 de jul. de 2015

As estratégias da diplomacia comercial brasileira em um mundo em crise


 
A crise econômico-financeira de 2008, lamentavelmente, não chegou ao fim. Inicialmente os seus efeitos não foi notado nos países emergentes, como Brasil e China, por exemplo, mas, diante da desaceleração do crescimento econômico mundial, da redução de demanda por bens e serviços, do endividamento de países  da zona do euro, associado à concorrência com os produtos estrangeiros, favorecida pela valorização cambial, os países em desenvolvimento, inevitavelmente, foram atingidos pela crise.
Não nos esqueçamos dos impasses que têm paralisado a delimitação de regras comerciais no âmbito da Rodada Doha/OMC, no campo da agricultura, medidas antidumping, subsídios e propriedade intelectual.
Nesse cenário de crise internacional associada à paralisação das regras multilaterais, os condutores da política externa brasileira têm criado estratégias para dinamizar suas relações comerciais ante um mundo em crise, nas palavras do Ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo:
[quote_box_center]“As transformações aceleradas do mundo e do Brasil exigem uma política exterior que seja capaz de identificar e aproveitar as novas tendências internacionais, sempre com o objetivo maior de desenvolver o Brasil”[/quote_box_center]
O que se percebe é que o Brasil tem feito uso de estratégias que o permita preservar conquistas econômicas e sociais já alcançadas, bem como explorar novos acessos ao mercado internacional. No que tange a esses instrumentos estratégicos, destaco aqui:
  • No campo regional a diplomacia comercial brasileira tem dedicado atenção especial a região sul-americana, através do Mercosul, ALADI e UNASUL. Com a entrada da Venezuela ao bloco, o Mercorsul adquiriu uma nova dimensão territorial e ampliou o seu mercado consumidor, tornando-se uma nova oportunidade de negócios para o Brasil. A rede de acordos comerciais negociados no âmbito da ALADI pretende assegurar até o 2019 uma zona de livre comércio sul-americana. E a UNASUL pretende desenvolver uma infraestrutura regional de transportes que possibilite o avanço do comércio e investimento regional. Portanto, a diplomacia comercial brasileira visualiza uma região estratégica para negociações internacionais, por isso investe na integração sul-americana.
  • No plano bilateral, o Brasil tem investido em parcerias com os países em desenvolvimento, a relação com a China é um exemplo, hoje o país asiático é seu principal parceiro comercial. Mesmo com a diminuição do ritmo do crescimento econômico chinês, a relação comercial Brasil-China, em termos quantitativos, ainda é satisfatória, a corrente de comércio entre o Brasil e a China ampliou-se entre 2001 e 2013 – passando de US$ 3,2 bilhões para US$ 83,3 bilhões. Mas a relação precisa dar um salto qualitativo, no que tange a diversificação da pauta de exportação, exportando produtos de maior valor agregado. Devo ressaltar aqui que as parcerias e relações comerciais com os países desenvolvidos não foram negligenciadas, o Brasil ainda mantém negócios com EUA e países da União Europeia.
  • No campo da promoção comercial a diplomacia comercial brasileira promove missões empresariais, participações em feiras, palestras e seminários voltados à promoção do produto nacional e novas oportunidades de negócios.
Alguns especialistas acreditam existir uma “visão ideológica” por parte dos condutores da política externa brasileira, que se mantém dependente aos ideais de um bloco fragilizado como Mercosul, sem explorar alternativas de acordos regionais e bilaterais. Outros defendem a tese de que as exportações brasileiras padecem devido à dependência brasileira ao mercado chinês. Com a diminuição do ritmo de crescimento da economia da China, o Brasil corre o risco de ter o saldo de sua balança comercial comprometida.
Claro que o desaquecimento chinês e a fragilidade do Mercosul podem criar efeitos negativos sobre fluxo internacional do comércio, sobretudo, no escoamento dos produtos e serviços brasileiros. Contudo, é preciso levar em consideração que os efeitos proporcionados por uma crise internacional incidem de uma forma muito mais ampla nas negociações internacionais, já que a uma crise internacional é constituída por variáveis ou forças incontroláveis, de impactos macroeconômicos.
Diante do contexto de crise internacional e da falta de avanços das negociações da Rodada Doha não há espaço para se constituir prioridades em torno de negociações isoladas. E o que se percebe é que a diplomacia comercial brasileira parece está atenta aos desafios impostos pelo cenário de crise mundial, e tem explorado novas oportunidades de negociações internacionais, seja nas relações bilaterais, regionais ou multilaterais, seja com os países vizinhos, em desenvolvimento ou os desenvolvidos. Em um mundo em crise, o êxito das negociações comerciais internacionais do Brasil está na diversidade de parcerias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PATRIOTA, Antonio de Aguiar. Política externa brasileira: discursos, artigos e entrevistas (2011-2012). Brasília: FUNAG, 2013.
SENADO FEDERAL NOTÍCIAS. Crise Financeira Internacional. Disponível em:http://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/crise-financeira-internaciona
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