24 de nov. de 2015

Na Chapada dos Veadeiros GO, Kalunga, terra livre -Editor Lá reina a paz, harmonia, amor. É uma boa pedida turistica



No norte de Goiás, o maior território de remanescentes de quilombolas do país abriga um patrimônio da resistência e da consciência negra

por Sérgio Amaral publicado 20/11/2015 10:37, última modificação 20/11/2015 18:01
wSERGIO AMARAL
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A cidade de Cavalcante, 320 quilômetros ao norte de Goiânia, teve suas origens na atividade do garimpo de ouro. O trabalho duro era feito pelos negros escravizados. Os fugitivos do Arraial de Cavalcante se esconderam nos vãos de serra do Rio Paranã. E ali esse povo tem sobrevivido por muitos anos como um verdadeiro território de liberdade conquistada arduamente. O território Kalunga se estende para os municípios de Monte Alegre e Teresina e é banhado pela bacia do Rio das Almas.
O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga tem 230 mil hectares de cerrado, e cerca de 5 mil pessoas moram lá ou trabalham no entorno. É o maior território remanescente de quilombolas do Brasil.
Sempre em agosto é realizada a Romaria de Nossa Senhora da Abadia. A tradição tem mais de 200 anos, de cunho original religioso e que retoma traços da história brasileira, do ponto de vista dos negros, que construíram um arraial com capela e casas de adobe, usado apenas para esse festejo. O evento recebe cada vez mais turistas e pesquisadores de todo o país.
A impressão do forasteiro é de estar num cenário dos pintores Jean-Baptiste Debret ou Johann Moritz Rugendas, ao qual vão se incorporando elementos contemporâneos.
Nos últimos tempos, a religiosidade se mistura ao profano. Geradores de energia a gasolina iluminam o arraial, que vai sendo ocupado por bares e restaurantes abertos para receber forasteiros, e multiplicam-se mascates de miudezas, como óculos escuros, e outros exotismos. Existe a tensão entre o som da sanfona, das cirandas, cânticos, do pandeiro quadrado e das violas e o som dos automóveis, que reproduz as músicas mais tocadas nos centros urbanos. Esses conflitos são resolvidos pelo Imperador, que é o organizador da festa.
Mas nem tudo está ao alcance desse mediador, num território que mistura a tradicionalidade de seus fundadores com a cultura rude das sociedades que se desenvolveram sem senso de civilidade. Ali o Estado se apresenta para de alguma maneira intervir onde o poder do Imperador não chega. A maioria das famílias é beneficiária do Bolsa Família, há uma pequena escola, mantida de manhã pela prefeitura de Cavalcante e à tarde, pelo governo de Goiás.
O Ministério Público no estado desenvolve campanhas para combater violências como a doméstica e a prostituição de meninas quilombolas. Na edição de agosto da festa de Nossa Senhora da Abadia, houve um mutirão organizado pelo órgão para discutir o assunto com moradores e visitantes. A região, integrante da Chapada dos Veadeiros, tem rios e o cerrado ameaçados pelo agronegócio e pela construção de hidrelétricas.
A reportagem visitou Vão de Almas e seus quilombolas em duas oportunidades. A primeira em maio de 2014 para conhecer alguns aspectos do cotidiano dos kalungas e seus fazeres ancestrais. Retornou para a romaria em agosto deste ano para presenciar a festa. Na documentação fotográfica, são destacados os aspectos ancestrais desse patrimônio da resistência e consciência negra.
SÉRGIO AMARALRio das Almas
Janda da Cunha Pereira e os filhos Gabryela e Janderley no Rio das Almas. Quilombo do Vão das Almas, Cavalcante (GO)
SÉRGIO AMARALRomaria e o Imperador
Acima e abaixo, festejos da Romaria de Nossa Senhora da Abadia: o Imperador e seu séquito, a capela e o cortejo noturno
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SÉRGIO AMARALEscola
Gabryela (acima), Julio e Gleison (abaixo): trilhas e rio no percurso até a escola. Jovecy: tijolos com técnicas ancestrais
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Dona Dirani Francisco Maia e sua neta Leila
SÉRGIO AMARALkalunga11
Zelmira Fernandes da Cunha e seu filho Jarlei - www.redebrasilatual.com.br
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