17 de dez. de 2015

Pedalando na crise - A cidade de São Paulo conta hoje com 400 km de ciclovias

Indústria brasileira de bicicletas vê perspectivas de aumento das vendas e da produção no futuro próximo em função de mudança de cultura sobre o veículo e da melhora da infraestrutura para ciclistas.


São Paulo – A produção industrial brasileira está em queda, mas existe um setor que aposta numa retomada no futuro próximo, apesar das perspectivas negativas da economia nacional: o de bicicletas. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), Eduardo Musa, foram fabricadas 3,6 milhões de magrelas de janeiro a novembro, um queda de 10% sobre o mesmo período do ano passado. O número de unidades fabricadas vem caindo pelo menos desde 2009, mas os produtos tornaram-se mais sofisticados, e mais caros, o que tem sustentado as receitas.
Divulgação
Eduardo Musa: produção caiu em 2015, mas faturamento ficou estável
“Houve um aumento crescente do faturamento [nos últimos anos]”, disse Musa à ANBA nesta terça-feira (08/12), após entrevista coletiva organizada pela Abraciclo, em São Paulo, para apresentar o balanço das indústrias de motocicletas e de bicicletas em 2015. “E este ano [o faturamento] se manteve estável”, acrescentou.

De acordo com ele, a recessão econômica afetou o setor, mas este impacto foi suavizado por fatores como a melhoria da infraestrutura urbana para os ciclistas, com a construção de ciclovias em cidades como São Paulo, maior apoio da sociedade civil e dos governos para o uso do veículo, mudanças no perfil do consumidor e nos hábitos de consumo.

Está mudança de perfil ocorre já há um bom tempo. Há 20 anos, o Brasil produzia cerca de seis milhões de bicicletas. Eram majoritariamente, porém, modelos simples, utilizados por pessoas de baixa renda como única opção de transporte. Com o aumento da renda, esta população passou a poder comprar motocicletas e carros, e as bicicletas, na avaliação da indústria, passaram a ser mais procuradas por pessoas mais abastadas interessadas em alternativas de mobilidade urbana, em opções de lazer e esporte, e preocupadas com o meio ambiente.

De acordo com o diretor-executivo da Abraciclo, José Eduardo Gonçalves, isso significa que ao invés da velha Barra Forte, a bicicleta pesadona e pau para toda obra tão comum em áreas rurais, regiões litorâneas e nas periferias, a demanda hoje é por produtos de maior valor agregado, com quadro de alumínio, marchas, design arrojado, suspensão e outros apetrechos.

“As pessoas utilizavam a bicicleta por falta de opções de transporte, agora usam por opção”, disse Henrique Ribeiro, diretor da Sense, empresa que produz bicicletas elétricas e convencionais no Polo Industrial de Manaus (PIM).

Esta tendência foi acelerada com obras de infraestrutura quer permitem melhor convivência dos ciclistas com os motoristas, como as ciclovias instaladas nos últimos anos em São Paulo, maior cidade do país.
Novos ciclistas

Uma pesquisa realizada recentemente pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), que atua na promoção do uso da bicicleta, mostra que na região central da capital paulista, que concentra a maior rede de ciclovias, 40% dos entrevistados disseram pedalar regularmente há menos de um ano. A pesquisa ouviu 1,8 mil pessoas.
Renato Mendes/Brazil Photo Press/AFP 25-05-2015
Ciclovia em São Paulo: incentivo ao uso
“É um grupo importante de novos ciclistas”, observou Daniel Guth, diretor de Participação da Ciclocidade. “Não sei se estas pessoas compraram bicicletas novas, ou arrumaram as antigas, ou trocaram, mas há uma demanda crescente [pelo uso do veículo] influenciada pelas ciclovias”, acrescentou.

A pesquisa mostra também os fatores que levaram as pessoas a optar pela bicicleta, que vão além dos apresentados pela indústria. Segundo Guth, os três principais motivos são a rapidez, a praticidade e economia proporcionada pelo veículo, sendo que a busca por hábitos mais saudáveis e a melhoria da qualidade de vida aparecem apenas em quarto lugar.

“[A quantidade de pessoas] que dizem que isso (optar pela bicicleta) muda o mundo, ou que é melhor para o meio ambiente, deu quase traço (zero)”, destacou o diretor da Ciclocidade. Ou seja, são razões bastante pragmáticas, como fugir dos congestionamentos, não ter problemas para estacionar e não gastar dinheiro.

É no aprofundamento desta demanda que a indústria aposta. E há números que mostram isso. Embora a produção nacional total tenha recuado este ano, o número de unidades fabricadas na Zona Franca de Manaus está aumentando. Segundo a Abraciclo, foram produzidas 613.747 bicicletas no PIM este ano, um aumento de 5,1% em comparação com o mesmo período de 2014.

Parte deste aumento veio do início das operações de novas fábricas no polo. A Sense, do grupo mineiro Lagoa, por exemplo, começou a produzir no segundo semestre do ano passado. A Houston, com sede no Piauí, passou a fabricar em Manaus em janeiro de 2015. Já o grupo Isapa, que há mais de 50 anos atua no ramo de distribuição de peças para bicicletas, adquiriu o controle da Ox Bike em dezembro de 2014 e também está produzindo no PIM, com a marca Oggi.

Expectativas

“Fizemos uma injeção de capital para desenvolver a produção”, disse à ANBA o empresário Isacco Douek, da Isapa. “As perspectivas são extremamente positivas. Se a economia não estragar as coisas, em dois ou três anos [a indústria nacional vai crescer]. É por isso que investimos”, acrescentou Ribeiro, da Sense.
Divulgação/Sense
Fábrica da Sense em Manaus: produção recente
Para Eduardo Musa, que é também presidente da Caloi, a maior fabricante do Brasil, a própria crise econômica incentiva as pessoas a buscar meios de transporte mais baratos e a mudança de cultura em relação à bicicleta, fomentada pela construção de ciclovias, deverá gerar efeitos mais visíveis a partir do ano que vem. “Já atingimos o fundo do poço, é impossível que venha a cair mais”, destacou.

As perspectivas dos fabricantes de bicicletas podem ser vistas como um alento num mar de pessimismo. Segundo Rafael Fagundes Gagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a recessão no Brasil atingiu a maioria dos setores da indústria na maior parte do País, sendo que são os segmentos de produtos de primeira necessidade e os de itens básicos que costumam ter desempenho menos pior.

“As indústrias de alimentos, cosméticos, produtos de limpeza e de higiene pessoal apresentam taxas menores [de queda na produção], mas começam a sentir o impacto com uma crise prolongada”, declarou. Outros exemplos são as indústrias extrativas, como as de minério e petróleo, e as de matérias-primas como madeira e celulose.

Leia mais sobre a indústria de bicicletas e também as perspectivas de exportação no link abaixo.
http://www.anba.com.br/noticia/21869862/especiais/pedalando-na-crise/
Editor - um bom negócio são roteiros turisticos de bike pela ciddade.
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