26 de abr. de 2016

Garzón, o juiz que prendeu Pinochet: o golpe no Brasil foi forjado de forma institucional

Garzón, o juiz que prendeu Pinochet: o golpe no Brasil foi forjado de forma institucional

garzon
Sobre o golpe à brasileira, do juiz espanhol Baltasar Garzón, mundialmente famoso por ter mandado prender o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, por pedir autorização da União Europeia para processar o corruptíssimo Sílvio Berlusconi  e atuou no combata à Máfia e ao terrorismo:
“Dói-me nas vísceras observar que pessoas e referências da boa política defensora dos direitos dos povos, dos trabalhadores e daqueles que são os elos mais fracos da corrente humana se vejam no ponto de mira de corporações que, insensíveis aos sentimentos dos povos, a favor de seus avessos interesses, procuram eliminar todas as barreiras que obstaculizem sua posição de privilégio e controle econômico sobre os cidadãos, sobre seu presente e especialmente para dominar seu futuro. Nesta dinâmica perversa busca-se eliminar política e civilmente aqueles que se opõem a eles e defendem os mais fracos; aqueles que sempre foram privados de voz e palavra na hora de ditar seu próprio destino.
Da perspectiva de quem não vive o dia a dia da política brasileira, devo dizer que sou capaz de perceber que o espetáculo oferecido com o julgamento político contra a presidenta Dilma Rousseff se assemelha muito aos já vividos em outros países, como o Paraguai e Honduras, nos quais, como agora, o golpe foi forjado de forma institucional por parte daqueles que só estão interessados em alcançar o poder a qualquer preço.
A interferência política constante sobre o Poder Judiciário a fim de influenciar suas ações deve parar. Por experiência, sei como é arriscado esse jogo de interesses cruzados, não tanto em prol da justiça, e sim para liquidar o oponente político, instrumentalizando, de passagem, um dos poderes básicos do Estado, que perde o equilíbrio que deve manter em momentos tão delicados para o povo, em benefício de fins obscuros, distanciados da confrontação política transparente e limpa.
A indignação democrática que sinto por estes fatos dói no mais íntimo e me compele a denunciar este ataque com o que alguns querem destruir as estruturas democráticas
A perda das liberdades e a submissão da Justiça a interesses espúrios podem custar um preço excessivo ao povo brasileiro. O Poder Judiciário e seus integrantes devem defender o conjunto dos cidadãos diante dessa tentativa evidente e grosseira de instrumentalização interessada. O objetivo não é nem sequer, como dizem, acabar com o projeto político do Partido dos Trabalhadores e seus máximos expoentes, e sim submeter a população, de forma irreversível, a um sistema vicarial controlado pelos mais poderosos economicamente.”
A luta contra a corrupção é vital e deve ser prioritária em qualquer democracia, mas deve ficar muito atenta com aqueles que se aproveitam dessa “cegueira” da qual a Justiça aparentemente se gaba. Esta deve ter agora os olhos mais abertos do que nunca para enxergar o manifesto ataque ao sistema democrático que se constata num julgamento político sem consistência nem base jurídica suficiente, que busca somente alcançar o poder por vias tortuosas, desenhadas por aqueles que se esquecem do povo em benefício próprio ou que nunca se apresentaram em eleições, mas tentam substituir a vontade do povo, hipotecando seu futuro.
A indignação democrática que sinto por estes fatos dói no mais íntimo e me compele a denunciar este ataque com o qual alguns desejam destruir as estruturas democráticas que tanto custaram para ser erguidas, interferindo na ação da Justiça em benefício próprio.(…)
O povo brasileiro nunca perdoará esse ataque frontal à democracia e ao Estado Democrático de Direito.
A Grazón, doem as vísceras, às nossas excelências de cá roncam as tripas, forras.
Cada Justiça tem o Sérgio Moro que seu caráter merece.
Leia o artigo, na íntegra, no El País
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