26 de mai. de 2016

Arenistas e filhos da Arena foram decisivos para a queda de Dilma

Arenistas e filhos da Arena foram decisivos para a queda de Dilma

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Ministro do TCU que rejeitou pedaladas foi arenista, assim como 7 senadores e 13 deputados que apoiaram impeachment; PP, PSB e PSDB abrigam filhos da Arena
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
A derrubada de Dilma Rousseff teve a ação direta de ex-integrantes da Arena, o partido da ditadura. Seja na linha de frente do impeachment (ministro Augusto Nardes, deputado Heráclito Fortes), seja nas votações na Câmara e no Senado. Pelo menos 13 deputados e 7 senadores que votaram “sim” nos dias 17 de abril e 11 de maio foram da sigla inventada pelos militares, fundada no dia 4 de abril de 1966. Cinquenta anos atrás.
Esses sete votos no Senado, por exemplo, seriam suficientes para reverter o impeachment, após o afastamento por seis meses da presidente.
No mínimo outros 15 deputados e 7 senadores são parentes (filhos, sobrinhos, netos ou cônjuges) de deputados e senadores arenistas. Ou de governadores biônicos, igualmente da Arena. Michel Temer chega ao poder não somente pela força do antigo MDB, portanto. O principal desmembramento do PMDB, aliás, o PSDB, é o segundo partido no Congresso que mais abriga os descendentes de arenistas, atrás do PP.
Confira aqui essa história que conecta diretamente 2016 aos ares que se respirava entre 1964 e 1985. 
PARTE I – OS ARENISTAS
1) Augusto Nardes. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) que rejeitou as contas de Dilma Rousseff por pedaladas foi vereador pela Arena em Santo Ângelo, entre 1933 e 1977. No TCU sucedeu outro arenista, Humberto Souto.
2) Heráclito Fortes (PSB-PI). O deputado foi um dos articuladores do impeachment. Entre abri de 2015 e abril de 2016 foram feitos jantares em sua casa no Lago Sul, reunindo um grupo que ficou conhecido como G-8. Ele foi deputado federal no fim dos anos 70, pela Arena. Depois, senador pelo DEM, se tornaria conhecido como representante do banqueiro Daniel Dantas – outro que teve parentes na Arena – no Congresso.
3) Os senadores. Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) votou sim pelo impeachment. O deputado Valadares Filho o acompanhou na Câmara. O senador fez carreira política pela Arena, foi prefeito e presidiu a Assembleia de Sergipe entre 1977 e 1979. Ele disse que o impeachment é mecanismo de defesa da Constituição, “contra exercício abusivo do poder Executivo”. Benedito de Lira (PP-AL) foi da Arena durante todo o período do partido (1965-1970) e mais um a derrubar a presidente eleita; seu filho Arthur Lira (PP-AL), fez o mesmo na Câmara. Assim como o senador Edison Lobão (PMDB-MA), um típico traidor: foi ministro das Minas e Energia de Dilma e Lula. Cresceu na Arena à sombra de Sarney. Este foi sucedido na Presidência da República por Fernando Collor (PTB-AL), prefeito de Maceió pela Arena, em 1979. Uma vítima de impeachment que se tornou algoz. O senador José Agripino (DEM-RN) administrou Natal pela sigla da ditadura, também nos anos 70. Ele e o filho Felipe Maia (DEM-RN), deputado, votaram pela queda de Dilma. O catarinense Paulo Bauer (PSDB) também integra a lista de senadores que foram da Arena e votaram “sim”. Assim como Ronaldo Caiado (DEM-GO), o fundador da milícia ruralista UDR, de uma família que está na política desde o século 19. Lista que pode ser engrossada pelo presidente da comissão do impeachment no Senado, Raimundo Lira (PMDB-PB), e por Wellington Fagundes (PR-MS), que começaram a carreira já no PDS, em 1980.
4) Outros deputados. Sarney Filho (PV), que abocanhou a pasta do Meio Ambiente, foi deputado pelo PDS e começou a carreira na Arena. Seu pai presidiu o partido entre 1979 e 1980, quando a sigla virou PDS. Mas seria uma injustiça compará-lo a expoentes da Arena da cepa de Paulo Maluf (PP-SP), aquele que disputou a Presidência com Tancredo Neves, como candidato dos militares. Ou de outros ex-governadores do período militar, como Esperidião Amin (PP-SC), que presidiu o PDS, e João Castelo (PSDB-MA). Outros políticos arenistas votaram na Câmara pelo impeachment: Simão Sessim (PP-RJ); Roberto Balestra (PP-GO); Nelson Marquezelli (PTB-SP); Odelmo Leão (PP-MG); Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), um dos parlamentares mais antigos do Congresso. “Não foi um período de se jogar fora“, diz o remanescente Simão Sessim (PP-RJ), sobre o regime militar. “Foi muito importante a revolução para evitar que o Brasil seguisse o caminho do comunismo”, concorda outro veterano, Nelson Meurer (PP-PR). Mas Edinho Araújo, do PMDB, rejeita – em causa própria – a ideia de que todo mundo na Arena fosse de direita. Votou “sim” no dia 17 de abril.
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Esperidião Amin, ao lado de Paulo Maluf e de um expoente do MDB, Mário Covas
PARTE II – OS FILHOS DA ARENA
1) Gilmar Mendes. O ministro do STF é filho de Francisco Ferreira Mendes, prefeito de Diamantino (MT) pela Arena. Foi praticamente um porta-voz do impeachment no Supremo.
2) Mendonça Filho. Fazia parte do G-8 do impeachment, ou seja, era um dos oito cérebros da conspiração organizada durante um ano na casa do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI). Mendonça Bezerra Filho (DEM) governou Pernambuco em 2006, pois era vice-governador e o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) – outro membro ativo do G-8 deixou o cargo para assumir o Senado. Seu pai, Mendonça Bezerra, deputado até 2007, era latifundiário. Chegou a presidir a Associação dos Avicultores de Pernambuco. Foi deputado até 2007, pela Arena, PDS, PFL e DEM. Mendoncinha, agora, é o titular do Ministério da Educação, nada menos. Vitaminado pela incorporação do Ministério da Cultura.
3) Fernando Coelho. Participou ativamente do G-8. Nomeado para o Ministério das Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) descende de uma oligarquia do sertão do São Francisco. Seu pai, Bezerra Coelho, ministro da Integração Nacional durante o governo Dilma, foi filiado ao PDS. O tio do pedessista, por sua vez, Osvaldo Coelho, foi várias vezes deputado pela Arena. A família controlava a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), protagonista de expulsão de camponeses e pescadores na região.
4) Os senadores. Acir Gurgacz (PDT-RO) tem como suplente o pai Assis Gurgacz, arenista em Cascavel. Em 2012, ele prestou homenagem a um amigo da família, Ítalo Conti, secretário de Segurança do Paraná durante os anos de chumbo. A ordem alfabética segue com Aécio Neves (PSDB-MG), filho do ex-deputado Aécio da Cunha. Ana Amélia (PP-RS) foi casada com o ex-deputado Octávio Cardoso. Lúcia Vânia (PSB-GO), com o ex-governador Irapuan Costa Junior. Maria do Carmo Alves (DEM-SE) projetou-se como mulher do ex-governador João Alves Filho. Simone Tebet (PMDB-MS), como filha do ex-senador e governador Ramez Tebet. Todos os parentes mencionados eram arenistas. Assim como Luís Rocha, que governou o Maranhão pelo PDS, mas foi da Arena e da UDN. Ele é pai de Roberto Rocha (PSB-MA).
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Jarbas Passarinho, tio de deputado: “Às favas os escrúpulos de consciência”
5) Os demais deputados. Joaquim Passarinho (PSD-PA), um dos que votaram pelo impeachment, é sobrinho do ex-ministro Jarbas Passarinho, que se tornou famoso pela frase ao ditador Costa e Silva, durante a gestação do AI-5: “Às favas os escrúpulos de consciência”. Outro expoente do período foi Ibrahim Abi-Ackel, ministro da Justiça de João Figueiredo. Seu filho Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) votou “sim”. A lista de deputados com parentes arenistas é extensa. Alguns deles já foram mencionados na lista de senadores que foram da Arena. Lucio Vieira Lima (PMDB-BA) é filho do arenista Afrísio Vieira Lima, assim como o irmão Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Geddel foi nomeado ministro por Michel Temer. Está à frente da Secretaria de Governo. Outro irmão de arenista é Darcísio Perondi (PMDB-RS). Emídio Perondi também foi deputado. Outros tucanos que tiveram pais parlamentares da Arena são Nelson Marchezan Jr (PSDB-RS) e Jutahy Jr (PSDB-BA). Pedro Vilela (PSDB-AL) teve um tio famoso pela luta a favor da redemocratização, Teotônio Vilela – mas  o menestrel das Alagoas também era da Arena. Beto Rosado (PP-RN) é sobrinho do ex-deputado Vingt Rosado; José Otávio Germano (PP-RS), do ex-deputado Pedro Germano. Mais dois do PP, portanto – esse filho direto da Arena. Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) é homônimo e neto do usineiro arenista Aguinaldo Velloso Borges, pivô do assassinato de João Pedro Teixeira, o “Cabra Marcado para Morrer” do filme de Eduardo Coutinho. Iracema Portela (PP-PI) é filha do ex-governador biônico Lucídio Portela, nomeado por Ernesto Geisel. Vale ainda lembrar que Jair Bolsonaro (PP-RJ) – defensor da ditadura – votou a favor do impeachment homenageando o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.
PARTE III – OS CONTRAPONTOS
Nem todos os arenistas votaram a favor do impeachment. O senador João Alberto (PMDB-MA) votou contra e foi acompanhado pelo filho, o deputado João Marcelo (PMDB-MA). Outro remanescente, José Rocha (PR-BA), também disse “não”.
O mesmo vale para os parentes. O deputado Arnon Bezerra (PTB-CE), sobrinho do ex-deputado Adauto Bezerra (Arena), votou contra. O mesmo ocorreu com Antonio Brito (PSD-BA), filho do ex-prefeito soteropolitano Edvaldo Brito, arenista hoje no PSD.
Tem até caso de petistas filhos de político da Arena: os irmãos Tião e Jorge Viana, respectivamente governador do Acre e senador, são filhos de Wildy Viana, deputado durante a ditadura.
E existem aqueles que lutaram contra a ditadura de 1964 e apoiaram o impeachment. O ex-governador fluminense Moreira Franco (PMDB), uma das pessoas mais próximas de Michel Temer, foi da Ação Popular. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) participou da luta armada, pela Aliança Libertadora Nacional (ALN). Com direito a assalto ao trem pagador.
PARTE IV – UM BALANÇO
Somando todos os deputados e senadores arenistas ou com parentes diretos egressos da Arena chegamos a um total de 42 parlamentares que votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff. Sem contar os que eram do PDS (como dois senadores listados acima), no início dos anos 80, e simpatizantes da ditadura, como Bolsonaro.
Merece também registro a nomeação do general Sérgio Etchegoyen para o Gabinete de Segurança Institucional. Seu pai, Leo Guedes Etchgoyen, aparece no relatório da Comissão Nacional da Verdade como violador de direitos humanos; ou seja, na lista de 377 responsáveis por torturas, assassinatos e desaparecimentos durante a ditadura. O novo ministro chamou o relatório de “leviano”.

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