14 de mai. de 2016

Da série Golpistas Rurais: Augusto, o alcoviteiro - Carta Maior

Da série Golpistas Rurais: Augusto, o alcoviteiro

Os golpistas tem uma base no rural, no agronegócio. E um destes golpistas é exatamente Augusto Nardes. Lembram dele?

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Najar Tubino
Valter Campanato / Agência Brasil
O venerável e majestoso Augusto, neste caso específico – João Augusto Ribeiro Nardes – é um intrigante, um articulador de mexericos, fofocas. E, por incrível que pareça, ele conseguiu transformar uma dessas- também conhecidas como pedaladas fiscais- em argumento para derrubar Dilma Rousseff. Mas o argumento maior desse texto é outro. Os golpistas tem uma base no rural, no agronegócio, no Mato Grosso, o estado que centraliza o poder político desses personagens. Estive em Primavera do Leste em 2006, com uma equipe de televisão. Foi a primeira vez que ouvi falar dos Nardes, fora do Rio Grande do Sul. O presidente do Sindicato Rural era José Otaviano Nardes, irmão do ministro do TCU, João Augusto Nardes – são cinco irmãos: além dos dois citados, Cajar, Padre Reus e Carlos. Mas a citação em Primavera tinha relação com o patrimônio na cidade.
 
José Nardes, casualmente, é novamente presidente do sindicato patronal e promove a Farm Show, a feira da cidade, que agora é uma feira de negócio e não uma festa popular, com presença de artistas e tal. Embora a prefeitura tenha cedido 25 ha para o sindicato patronal. Coisas da política, que para os Nardes sempre se traduz em poder da terra e na terra. João Augusto, o alcoviteiro, de 64 anos, quatro filhos – duas filhas do primeiro casamento- é o mais famoso, com um extenso currículo, desde que foi vereador pelo partido da ditadura militar em Santo Angelo (RS), local de origem da família. É administrador de empresas, produtor rural e foi um dos articuladores da Bancada Ruralista- coordenador em 1999. Tem curso de mestrado em estatística numa escola da Suíça.
 
Negócio da família Nardes é a terra
 
A pesquisadora da USP Sandra Helena Gonçalves, especialista na Bancada Ruralista, cita João Augusto em seu livro – proprietário de 220 ha comprados em 1982 em Cuiabá, época que os irmãos chegaram à região de Primavera do Leste, cidade com pouco mais de 56 mil habitantes, que parece uma cópia de qualquer cidade da região da soja no RS. Onde os bairros dos trabalhadores ficam a 10 km de distância. Mas Sandra Gonçalves encontrou no cadastro do INCRA em nome da família Nardes 10 propriedades com um total de 6.703 ha. Os irmãos de João Augusto, o alcoviteiro, sempre estão querendo entrar na política. Mas nunca conseguem se eleger. Em 2010, José Otaviano não conseguiu, entretanto, teve que declarar os bens à justiça eleitoral. Um patrimônio de pouco mais de dois milhões de reais, com citação de cinco fazendas e um total de 5.298 há. No perfil dos políticos brasileiros publicados pelo UOL constam 7.500 ha. Só para deixar claro que os números apenas traduzem a total falta de sincronia com a realidade. Sem contar os valores declarados, que são irrisórios.

 
Porém, este é apenas uma das facetas de João Augusto, o alcoviteiro. Ele também é autor do livro “Ribeiro Nardes: uma família no Brasil” lançado há dois anos, período em que serviu para dezenas de lançamento em todo o território nacional.
 
Medalha pelo orgulho de combater a corrupção
 
Também em Cuiabá, a capital nacional do agronegócio em abril de 2014, quando foi recebido pelo governador Silval Barbosa, do PMDB, que atualmente está em cana na mesma cidade, por roubo de dinheiro público – para os comparsas ele dizia que propina de R$ 10 milhões era mixaria. Além disso, o ilustre membro do TCU também é palestrante e em abril de 2016, já famoso como autor da intriga-mor, presenteou os participantes da II Farm Show, de Primavera do Leste, com a palestra “Governança Pública e Competitividade do Agronegócio”. Na ocasião recebeu a Medalha do Mérito da Federação da Agricultura do MT, onde o presidente Rui Prado declarou:
 
“- É um orgulho para a gente entregar esse troféu para o senhor, um homem que anda na contramão dessa onda de corrupção, que está destruindo o país, que teve a coragem de fazer o que o senhor fez”.
 
Tudo registrado na Operação Zelotes e na CPI do CARF
 
Bem, aqui o alcoviteiro tem um problema sério, já conhecido nacionalmente, mas jogado no arquivo pela imprensa calhorda. Trata-se do seu envolvimento com as maracutaias empreendidas no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF. João Augusto foi sócio da empresa Planalto Soluções, com sede em Brasília até maio de 2005. Em março, a empresa citada fechou um negócio para reduzir as multas fiscais da Rede Brasil Sul de Comunicações, fato bastante conhecido. A tabelinha era Planalto, SGR Consultoria, que pertencia ao ex-conselheiro do CARF, José Ricardo da Silva. João Augusto disse que não era mais sócio, que apenas o sobrinho, Carlos Juliano Ribeiro Nardes continuava na empresa. Em 2011, a SGR depositou R$2,6 milhões nas contas do tio e do sobrinho. Tudo isso está comprovado na Operação Zelotes, depois repassados para a CPI do CARF no Senado. Está no relatório final da CPI:
 
“- Pelos dados analisados não se localizou nenhuma declaração fiscal por parte da SGR sobre pagamentos feitos para a N&P. Esses pagamentos foram feitos de forma a encobrir os reais beneficiários. Um documento rabisco apreendido faz referência a ‘ministro’ com o valor de R$2.556.974,00 ao lado. Por coincidência é o mesmo valor que corresponde a soma de valores constantes no email em Gegliane (secretária da SGR) discrimina – valores repassados a Ju e o tio”.
 
Ministro do TCU é lobista
 
E mais: “Tudo isso demonstra a existência de íntimas e suspeitíssimas relações entre a SGR e a JRSilva e a N&P e que atesta a necessidade de aprofundamento das investigações em relação ao possível envolvimento do Ministro do TCU, Augusto Nardes”, registra o relatório da CPI do CARF. Mas, a Procuradoria da República do Distrito Federal é bem mais direta e objetiva: “o ministro do TCU é o mentor das atividades de lobby da Planalto Soluções. Para os procuradores Nardes se vale da posição de ministro do TCU para praticar condutas que extrapolam os limites das prerrogativas e atribuições do cargo e o ministro continuou exercendo ativamente suas prerrogativas de sócio e membro do respectivo Conselho de Administração da Planalto, mesmo após 2005, inclusive com reuniões periódicas”.
 
João Augusto, o alcoviteiro, é personagem reconhecido em operações da Polícia Federal, como foi o caso da “Castelo de Areia”, declarada ilegal pelo nosso puro e inocente Supremo Tribunal Federal. Os documentos apreendidos na construtora Camargo Corrêa citavam João Augusto. Outro investigado do Mato Grosso, Luiz Pagot, então diretor-geral do DNIT e figura do ciclo íntimo do senador Blairo Maggi, agora Ministro da Agricultura. Pagot deu um emprego para Cajar Nardes, um dos irmãos, que na época fazia parte do segundo escalão do governo Blairo Maggi.
 
A família unida, fortalece a empresa
 
Para encerrar esta sessão de corrupção explícita uma nova surpresa. Encontrei o registro de uma empresa chamada de Progresso Participações LTDA., com sede na St. SHCGN, Bloco G, apartamento 210, Edifício Berkeley, na Asa Norte em Brasília. Número do CNPJ: 12.082.240/0001-61, cuja abertura ocorreu em 11 de junho de 2010. Nome fantasia: PROPAR. Atividade econômica principal: Holdings de instituições Não-Financeiras. Capital social: R$1.000.000,00.
 
Sócios e administradores: Cristina Geiss Nardes – sócio administrador.
 
João Augusto Ribeiro Nardes – sócio, Janaína Geiss Nardes (sócio), João Pedro Freder Ribeiro Nardes (sócio menor, assistido) e João Augusto R.Nardes Filho (sócio menor assistido). Enfim, o alcoviteiro e seus quatro filhos. Família unida, empresa unida. É o típico representante da pureza brasileira: honesto, moralista, reacionário e fofoqueiro.  
 


Créditos da foto: Valter Campanato / Agência Brasi
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