26 de jun. de 2016

A quem serve a Petrobras: ao Brasil ou ao mercado financeiro?


A quem serve a Petrobras: ao Brasil ou ao mercado financeiro?

Cláudio da Costa Oliveira* 
Os petroleiros cunharam a frase, quase um grito em defesa da empresa, que diz: “DEFENDER A PETROBRAS É DEFENDER O BRASIL.”  
A frase é verdadeira para a Petrobras que existiu até 2014, quando tínhamos uma empresa “pelo Brasil”. A partir de 2014 com a anuência do governo Dilma, foi iniciada a construção de uma empresa “pelo mercado”.
Aproveitando a constatação de corrupção dentro da empresa, levantada pela operação Lava Jato, que expôs e enfraqueceu a imagem da Petrobras junto à opinião pública, iniciou-se uma campanha sistemática por parte da mídia, com informações falaciosas de que a empresa estaria quebrada, com uma dívida impagável e problemas de caixa, sem que a direção da companhia viesse em sua defesa, demonstrando as inverdades que estavam sendo divulgadas.
Na verdade, a direção da Petrobras, volto a dizer, com a anuência do governo Dilma, tinha todo o interesse de que a imagem da empresa ficasse assim distorcida, frente a opinião pública e até mesmo dos funcionários da companhia (inclusive gerentes) para os quais nunca foram divulgadas informações verdadeiras e de contestação.
Assim com esta imagem de empresa indutora de corrupção e economicamente inviável, ficavam justificadas as mudanças radicais de uma empresa “pelo brasil” para uma empresa “pelo mercado”
Na realidade a Petrobras registrou lucro ininterruptamente de 1991 até 2013. Em 2014 e 2015, foram feitos ajustes contábeis altamente contestados e sem nenhum efeito no caixa empresa, que provocaram a apresentação de prejuízos.
Em 2015 ajustes totalmente injustificáveis, levaram a empresa ao pior resultado de sua história, um prejuízo de R$ 34 bilhões.
Em consequência 2 dos 5 membros do conselho fiscal da Petrobras não aprovaram e não assinaram o balanço de 2015. Nós mesmos fizemos uma denúncia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre estes ajustes feitos no balanço de 2015. A CVM acatou nossa denúncia e abriu um processo administrativo contra a Petrobras, que tem o número SP-2016-182, e é público podendo ser visualizado no site da CVM. O processo está em andamento.
A dívida da companhia, afetada pela variação cambial, no final de 2015 tinha o valor de R$ 500 bilhões (hoje já é bem menor). Mas esta dívida é plenamente compatível com o faturamento da empresa que é de R$ 400 bilhões por ano. Portanto a relação dívida/faturamento (500/400) é de 1,25.
Se entramos no site da Caixa Econômica Federal, fazendo uma simulação, verificamos que com uma renda anual de R$ 100 mil, a Caixa nos concede um empréstimo de mais de R$ 200 mil. Ou seja a relação divida/renda superior a 2.
Mas então qual é o problema com a dívida da Petrobras? A resposta vem da regra existente em Wall Street, de que uma empresa não pode ter uma dívida superior a 2 vezes a sua geração de caixa anual, pois o objetivo é maximizar o lucro e a distribuição de dividendos para o acionistas.
Mas como atender esta regra de Wall Street se nós temos um pré-sal para desenvolver, com investimentos com prazo de maturação de mais de 10 anos?  Como fazer isto sem assumir mais empréstimos?
A solução é simples para os entreguistas: façam um programa de desinvestimentos e se isto não for suficiente, basta entregar o pré-sal para exploração das petroleiras estrangeiras.
Acima de tudo as regras de Wall Street devem ser seguidas, caso contrário vocês não terão mais o “grau de investimento”  (1)
Na recente transferência do comando da Petrobras o ex-presidente Bendine informou estar entregando uma empresa com um caixa de R$ 100 bilhões. No câmbio atual o caixa se aproxima de US$ 30 bilhões. Trata-se do maior volume de recursos em caixa da história da companhia, suficiente para cobrir suas necessidades até o final de 2017. Que empresa “quebrada” é esta?
O novo presidente Pedro Parente já informou em entrevista : “A Petrobras terá liberdade para fixar os preços dos combustíveis”
Como pode uma empresa que detém praticamente o monopólio na distribuição de combustíveis no Brasil ter liberdade para fixar os preços ?
Significa dizer que nunca mais no Brasil os preços dos combustíveis serão inferiores aos praticados no mercado internacional, como ocorreu no período de 2011 a 2014, quando tínhamos uma Petrobras “pelo Brasil” subsidiando os preços praticados internamente e irritando Wall Street, que viam seus dividendos sendo transferidos para o consumidor brasileiro. O efeito disto foi a queda nos preços das ações da Petrobras
Agora com Pedro Parente vai ser diferente, os preços no mercado interno vão ser estabelecidos no limite para não permitir a entrada de concorrência. Morta a concorrência, Pedro Parente poderá estabelecer o preço que bem entender, e então veremos a transferência dos recursos do consumidor brasileiro, para o pagamento de dividendos em Wall Street.
Portanto podemos concluir que : ESTÁ TUDO ERRADO!
Mais do que nunca se mostra necessária a existência de uma Petrobras 100% estatal, fora do mercado de capitais. Não é possível atender ao mesmo tempo dois senhores com interesses tão diversos.
Durante o Império a economia brasileira se desenvolveu por “ciclos”. No “ciclo do ouro”, vimos o ouro brasileiro ser transferido para a Europa, ficando em Minas Gerais apenas os buracos.
Hoje com pré-sal  também corremos o risco de ficar apenas com os buracos, só que agora bem mais profundos.
*   Cláudio da Costa Oliveira é economista Aposentado da Petrobras.
(1) Não deixem de ver o documentário “Trabalho interno”, que recebeu o Oscar de melhor documentário em 2011 e mostra muito bem como funcionam as empresas de “rating” Procurem no google.
Lembrem-se de que a Petrobras criada em 1954, só veio a obter grau de investimento em 2007. Portanto a empresa cresceu, descobriu o petróleo no pós-sal de Campos e descobriu o pré-sal sem nunca ter sido agraciada com o tal “grau de investimento”.dialogopetroleiro
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