30 de jun. de 2016

Estudo projeta impacto das mudanças climáticas em Santos- SP

Estudo projeta impacto das
mudanças climáticas em Santos

Cenário mais pessimista prevê 45 cm de elevação
do nível do mar até 2100


Um estudo de âmbito internacional em andamento, conduzido por pesquisadores da Unicamp e de outras instituições e centros de pesquisa, traz uma série de dados inéditos sobre o impacto das mudanças climáticas na zona costeira do município de Santos, no litoral sul de São Paulo.
Conforme a pesquisa, que envolveu também uma cidade do Reino Unido e um condado dos Estados Unidos, a elevação do nível do mar no município paulista pode aumentar 18 centímetros até 2050 e 36 cm até 2100, num cenário médio. Associada a eventos climáticos extremos, entre os quais ressacas e marés altas, esta elevação poderia causar prejuízos cumulativos da ordem de R$ 1,3 bilhão para a comunidade santista até 2100, segundo as projeções do trabalho. 
O estudo de caso brasileiro sobre o município de Santos envolveu a participação dos professores Luci Hidalgo Nunes e Roberto Greco, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. Além deles, o projeto internacional conta com a participação de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), Instituto Geológico de São Paulo e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Também participam pesquisadores da University of South Florida, dos Estados Unidos, do King’s College London, da Inglaterra, e gestores e técnicos da Prefeitura Municipal de Santos. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) financia a iniciativa, desenvolvida no âmbito de um acordo de cooperação com o Belmont Forum, mantido pela International Group of Funding Agencies for Global Change Research (IGFA).
O IGFA é formado por algumas das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo. O responsável geral pelo projeto de pesquisa, intitulado Metrópole, é o climatologista José Marengo, chefe da Divisão de Pesquisas do Cemaden, localizado em Cachoeira Paulista (SP).
“A pesquisa envolve três estudos de casos, um nos Estados Unidos, na região da Flórida, outro no Reino Unido, e o caso brasileiro. Nos Estados Unidos, as projeções são para o condado de Broward; e no sul do Reino Unido, para o balneário de Selsey. No Brasil, Santos foi o município escolhido pela relevância estratégica para o país, já que a cidade abriga o porto mais importante do hemisfério sul”, situou a professora Luci Hidalgo, especialista em clima e que atua no Departamento de Geografia do IG.
Ainda de acordo com a docente, o município paulista possui dados importantes para a pesquisa, como as medições de tabuas de marés. “As informações que tínhamos até então, do IPCC [Intergovernmental Panel on Climate Change], eram globais, muito abrangentes. Esse foi o grande desafio, ou seja, obter informações locais e mais realísticas”, avaliou.
O professor Roberto Greco acrescenta que as previsões de elevação do nível do mar envolveram três cenários: “um mínimo, mais conservador, outro médio e um mais extremo.” No cenário conservador, o nível do mar pode elevar 13,5 centímetros até 2050, e 27 cm até 2100.  No cenário médio, a elevação seria de 18 centímetros até 2050 e de 36 até 2100. E, no pior cenário, haveria uma elevação de 22,50 centímetros para 2050 e 45 para 2100.
“Em comum, o que estas projeções mostram é que parte do município de Santos pode ficar inundada pela entrada de água do mar e pela água dos canais que deveriam drenar a ilha de Santos. Pode ocorrer também alagamento. Além disso, as estruturas dos prédios e demais construções podem ser bastante afetadas”, dimensiona Roberto Greco.
Dados da pesquisa informam que, de 1945 até o início da década de 1990, o nível do mar em Santos subiu, em média, 1,3 milímetro ao ano. A partir de 1993 até 2014, o índice dobrou, pulando para 2,7 mm ao ano. Considerando apenas o período de 2004 a 2013, os pesquisadores informam que o índice chegou a 3,6 mm ao ano, número parecido à média global calculada pelo IPCC. A partir desses dados foi possível chegar às projeções de elevação do nível do mar para 2050 e 2100.
Participação da comunidadeAlém dos dados, a pesquisa envolve a participação da comunidade local (sociedade civil, empresas públicas, privadas e organizações não governamentais) e do poder público no sentido de apontar intervenções para que o município se adapte às mudanças climáticas. O estudo avaliou o custo benefício das principais propostas da comunidade em relação aos impactos projetados para a elevação do nível do mar em Santos.
“Um elemento inovador desse projeto foi a apresentação para a comunidade de imagens que visualizam o mapa da cidade e põem em evidência as áreas que serão mais afetadas para o aumento do nível do mar e os danos para os imóveis naquelas áreas. Essa é uma metodologia inovadora que se quis testar e avaliar para observar como afeta a propensão dos cidadãos a tomar medidas de adaptação.  O objetivo no futuro será comparar os dados e análises entre os três países participantes da pesquisa”, explicou Roberto Greco.
No caso de Santos, entre alternativas apontadas pela população, estão os serviços de dragagens para remover os sedimentos dos canais; a construção de diques; de muros de contenção; implementação de sistemas de comporta e estações de bombeamento; recolocação de areia nas praias – o chamado “engordamento”; e a recuperação de manguezais.
Em conjunto com a população, os estudiosos concluíram que tais medidas de adaptação são bastante apropriadas, sobretudo com relação ao custo. Na comparação com os eventuais prejuízos que poderiam ser causados pelos eventos climáticos, o investimento nestas obras e serviços de adaptação às mudanças climáticas seria bem menor. Conforme os pesquisadores, o custo das medidas de adaptação consumiria aproximadamente R$ 240 milhões, evitando R$ 1,1 bilhão de prejuízos causados, se nada for feito. Estas projeções foram feitas para um período correspondente até 2100.
“Antes se falava muito em medidas de mitigação dos eventos extremos e do aquecimento global. Hoje, é preciso falar de adaptação porque as mudanças já estão entre nós. É relevante, portanto, encontrar soluções para conviver da melhor maneira possível com estas alterações, não se esquecendo das mudanças de comportamentos da sociedade, da redução dos padrões de consumo e consequente diminuição da poluição para alterar este cenário no longo prazo”, explica a docente Luci Hidalgo.
A professora da Unicamp informa que para estabelecer os cenários apresentados à população de Santos, entidades e poder público, os pesquisadores usaram uma plataforma chamada COAST (Coastal Adaptation to Sea Level Rise Tool), desenvolvida por uma empresa americana em parceria com universidades e centros de pesquisa do país. A ferramenta permite que os usuários respondam perguntas com relação aos custos e benefícios de ações e estratégias para evitar danos causados pelo aumento do nível do mar e inundações costeiras.
“Esta plataforma mostra, dentro das projeções que nós fizemos para Santos, o que pode acontecer em termos de avanço de água e qual o impacto disso para as construções. Todos esses cálculos dos danos e das medidas de adaptação, nós fizemos empregando a plataforma COAST. Essas projeções envolveram as regiões sudeste e noroeste de Santos, de caráter bastante distintos”, complementa Luci Hidalgo.
De acordo com ela, a região sudeste compreende o bairro nobre do Boqueirão até a Ponta da Praia. Ali estão localizadas as construções de maior valor imobiliário. Já a região noroeste é uma das mais pobres do município, com algumas construções em palafitas. “O estudo aponta o quanto o nível do mar pode afetar em termos de números de edifícios e quanto isso pode custar. Os cálculos de danos levaram em consideração apenas o valor venal dos edifícios.”
Luci Hildago esclarece que as estimativas de prejuízos financeiros são bastantes conservadoras porque levam em conta apenas o valor venal dos imóveis. Segundo a professora, não foram considerados os valores de automóveis, equipamentos e infraestrutura pública existente no local. Além disso, o valor venal dos imóveis estabelecido pela Prefeitura está, quase sempre, desatualizado com relação ao preço de mercado das propriedades. Jornal da Unicamp
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