10 de jun. de 2016

Golpe no Brasil: a conexão internacional

Golpe no Brasil: a conexão internacional

Como fundações norte-americanas financiaram grupos como o MBL, que dizem agir “pelo bem do Brasil”. Os encontros de Aloysio Nunes em Washington, e a visita de Temer ao cônsul geral dos EUA    –   Por:  Pedro Marin   
Thomas Shannon, com quem o senador Aluísio Nunes encontrou-se em Washington logo após o impeachment passar na Câmara. Ex-embaixador no Brasil, entre 2013 e 16, é agora o "número 3" no Departamento de Estado
Foto: Thomas Shannon, com quem senador Aloysio se encontrou nos USA logo após o impeachment na Câmara.   “Fundada em 1981 com objetivo de “promover políticas econômicas do livre mercado pelo mundo”a Atlas é um think-tank que financia declaradamente as atividades da direita em mais de 90 países.  Com um orçamento anual de US$ 11,5 milhões, ela atua patrocinando a formação de quadros neoliberais. Como a legislação dos EUA impede que essas entidades financiem agitações políticas mundo afora, cada movimento é amparado por “institutos de formação”, que estão liberados para receber os recursos.”
Auditórios cheios, carros de som, escritórios.
Organizações como
  • Instituto Millenium, 
  • Movimento Brasil Livre (MBL), 
  • Instituto Liberal, 
  • Instituto Ludwig Von Mises 
  • e Estudantes Pela Liberdade, 
como num passe de mágica, emergiram no cenário político brasileiro, publicando livros e realizando manifestações com enormes estruturas, treinamentos e palestras – um processo que encontrou terreno fértil no país, devido à crise mundial e à Operação Lava Jato.
Apesar das tentativas de seus fundadores e por parte da imprensa em pintar os projetos que defendem como algo“para o bem do Brasil”, oriundo “do povo brasileiro” e “espontâneo”todas estas organizações contam com financiamento e articulação estrangeira, conforme detalhou a reportagem de Marina Amaral na Agência Pública, mostrando como uma rede de ONGs
  • promove treinamento de lideranças,
  • patrocina “intelectuais” para aglutinar consensos nas redes e movimentos para incendiar as ruas.
Entre as organizações presentes na América Latina e leste europeu chama atenção, em especial, a Atlas Network.
Fundada em 1981 com objetivo de “promover políticas econômicas do livre mercado pelo mundo”a Atlas é um think-tank que financia declaradamente as atividades da direita em mais de 90 países.
Com um orçamento anual de US$ 11,5 milhões, ela atua patrocinando a formação de quadros neoliberais. Como a legislação dos EUA impede que essas entidades financiem agitações políticas mundo afora, cada movimento é amparado por “institutos de formação”, que estão liberados para receber os recursos.
Esse é o caso da relação do centro de formaçãoEstudantes pela Liberdade (EPL) com a militância profissional do MBL, por exemplo. O orçamento do EPL deste ano saltou para R$ 300 mil.
“No primeiro ano, a gente teve mais ou menos R$ 8 mil, o segundo foi para R$ 20 e poucos mil, de 2014 para 2015 cresceu bastante. A gente recebe de outras organizações externas também, como a Atlas. A Atlas, junto com a Students for Liberty, são nossos principais doadores. No Brasil, as principais organizações doadoras são a Friederich Naumann, que é uma organização alemã, que não são autorizados a doar dinheiro, mas pagam despesas para a gente”, declarou Juliano Torres diretor executivo do EPL.
Na Ucrânia – onde em 2014 houve um golpe contra o Presidente eleito Viktor Yanukovich -, a Atlas financiou, por exemplo, o Centro de Liberdade Econômica Bendukidzke e o Centro Para Pesquisa Econômica e Social.
  • O primeiro tem como membros o ex-Presidente da Georgia e atual governador de Odessa, Mikheil Saakashvili, além do vice-chefe da administração (pós-golpe) do Presidente Petro Poroshenko, Alexander Danyluk.
  • O segundo é também financiado pela Open Society Foundation, do famoso especulador e homem das revoluções coloridas, George Soros, e tem como parceiros agências governamentais ucranianas, canadenses e inglesas, além da USAID (EUA) e o Banco Mundial.
Em 2014, a Atlas despejou US$ 4,5 milhões mundo afora em uma série de organizações mais ou menos similares, segundo o formulário 990, que as organizações filantrópicas têm de entregar a Receita Federal nos EUA.
KochBrothers
Somente na América Latina, foram alocados US$ 984 mil equivalente a R$ 3,9 milhões a organizações que seguem o pensamento de liberais como Milton Friedman, Hayek e Mises, e fazem oposição aos governos progressistas da região.
É o caso de Cedice Libertad, da Venezuela, e de organizações como a norte-americana Human Rights Foundation, criada pelo venezuelano Thor Halvorssen, primo de Leopoldo López e filho de embaixador durante o governo de Andrés Pérez, que mira em especial os países com governos não-alinhados a Washington (Venezuela, Cuba, Rússia) e que se tornou conhecida em 2015 por criar uma campanha para lançar propaganda em território norte-coreano por meio de balões de gás.
A Atlas por sua vez também é financiada por uma série de grandes corporações e outras fundações.Empresas como
são alguns dos nomes que colaboraram para que a Atlas, no ano de 2014, doasse mais de 10 milhões de dólarespelo mundo.

Uma revolução colorida para o Brasil?

É claro que é motivo para fazer soar os alarmes: adireita liberal cresce exponencialmente e combate num país com 
  • 31 anos de tradição democrática,
  • de abismos sociais no campo e nas cidades,
  • onde um partido governou nos últimos 12 anos com apoio maciço
  • e manteve alianças com governos populares da região.
  • Até a rua, historicamente monopolizada pela esquerda, foi tomada.
A isso se somam outras estranhíssimas casualidades: 
  • o juiz Sérgio Moro, há pouco responsável pelas fagulhas que incendiaram o país, fez em 2009 um “curso para potenciais líderes” nos EUA,patrocinado pelo Departamento de Estado.
  • É também notável o fato de que no processo da Lava-Jato, somente empresas brasileiras tenham sido atingidasainda que diferentes denúncias contra companhias estrangeiras tenham sido feitas.
  • Um dia após a aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados o Senador Aloysio “quero ver ela sangrar” Nunes viajou para o quartel-general do poder global: Washington. Por lá, conforme revelou o colunista Mark Weisbrot,no Huffington Post, encontrou-se com o ex-embaixador dos EUA no Brasil e atual “número três” no escalão do Departamento de Estado, Thomas Shannon:
  • “A disposição por parte de Shannon em encontrar-se com Nunes alguns dias depois da votação do impeachment envia um poderoso sinal de que Washington está com a oposição nesse empreendimento. Como sabemos disso? Muito simples, Shannon não precisava ter comparecido a esse encontro. Se ele quisesse mostrar que Washington estava neutro em relação a esse feroz e altamente polarizador conflito, ele não teria se encontrado com protagonistas notáveis de nenhum dos lados, especialmente nesse momento.”
  • Por fim, para o ansiedade dos desconfiados e o choque dos distraídos, é importante notar os laços que o Sr. Michel “quero jantar com Biden” Temer  manteve com seus parceiros do norte.
Em 19 de Junho de 2006, por exemplo, Temer – à época presidente do PMDB – encontrou-se com o cônsul-geral dos EUA no Brasil, em São Paulo, e respondeu a perguntas em relação às eleições, os candidatos, e seu partido. Diz o cônsul para Washington, em mensagem vazada pelo Wikileaks em 2011:
“Tratando do destino de seu próprio partido, Temer confirmou que o PMDB não terá um candidato para a Presidência, e não entrará em nenhuma aliança formal com o PSDB ou o PT. […] O PMDB continua rachado quase ao meio entre grupos pró e contra Lula. O último busca alianças com o PT e busca diversos ministérios na segunda administração de Lula. Temer, que é anti-Lula, foi altamente crítico em relação à facção pró-Lula e falou com ironia em relação a algumas das divisões e contradições internas do partido.”
Para o cientista político e historiador Moniz Bandeira, os alarmes dispararam há muito tempo. 
“Essas manifestações que começaram no ano passado e antes da Copa não foram espontâneas. Foram preparadas antecipadamente, com elementos treinados, agitadores treinados”, diz ele, que em “A Segunda Guerra Fria” (Civilização Brasileira, 2013), descreve em detalhes o papel de certas ONGs e think-tanks nas chamadas revoluções coloridas pelo mundo. “O que é necessário no Brasil é que o governo faça como Putin: obrigue o registro de todas as ONGs, o registro do dinheiro que recebem, de onde recebem e como e onde aplicam.”
Moniz aponta como interesses norte-americanos 
  • a prevalência do dólar como moeda global – segundo ele, ameaçada pelo BRICS –
  • e a inexistência de potências no continente.
“É isto que os Estados Unidos não querem: 
  • que o Brasil tenha submarino nuclear, eles não querem uma potência na América do Sul – ainda mais ligada à China e à Rússia. E há um detalhe que o brasileiro não sabe: há uma luta pela moeda de reserva internacional. Porque o fato de que os EUA detém o direito de emitir o dólar o quanto queiram e ser o dólar a moeda internacional; é aí que repousa a hegemonia dos EUA. E o que a China e Putin querem acabar é com isso – daí a criação do modelo dos BRICS.”
Notas:
[1] organização que possibilita doações anônimas para a “causa da liberdade”, criada pela Donors Capital Fund, considerada no relatório Fear, Inc uma das 10 maiores organizações contribuintes para o ódio contra islâmicos nos EUA)
[2] Em 2014 a fundação doou 25 mil dólares (cerca de 90,5 mil reais) à Atlas.
[3] A Koch Industries é uma empresa ligada ao setor do petróleo. Como Soros, os irmãos Koch são famosos por financiar instituições e revoluções coloridas pelo mundo.
Pedro Marin Pedro Marin
é estudante de Jornalismo e ex-fundador da revista independente Opera.
Atualmente escreve para o site Global Independent Analytics.
 Fonte 1: http://outraspalavras.net/brasil/golpe-no-brasil-a-conexao-internacional/

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