5 de set. de 2016

Cem mil em um único coro: Diretas Já! Midia Ninja .


 

Cem mil em um único coro: Diretas Já!

Mais de 100 mil pessoas tomam as ruas da cidade de São Paulo exigindo eleições diretas para presidente do Brasil em dia histórico para a democracia
Foto: Mídia NINJA
Foto: Mídia NINJA
Por Gabriele Candido / Nunah Alle / Laio Rocha para Mídia NINJA
No diário da história recente do Brasil, o dia 4 de setembro de 2016 fica assinalado por protagonizar o primeiro grande ato após o impeachment da presidenta eleita, Dilma Rousseff, pedindo, entre suas principais pautas, o Fora Temer, as Diretas Já e nenhum direito a menos.
Foto: Mídia NINJA
Foto: Mídia NINJA
A concentração do ato, que se iniciou às 16h30 no vão do MASP, na Av. Paulista, já possuía milhares de pessoas. Quando marchou pelo maior centro financeiro da cidade, tomava a grande maioria dos seus quarteirões, aglutinando cerca de 100 mil pessoas, de acordo com estimativa dos organizadores do protesto.


O líder da Frente POVO SEM MEDO, Guilherme Boulos, discursou na abertura: “Ontem Temer disse que nosso ato era de 40 pessoas (é interrompido por uma onda de vaias ao número) aqui estão as 40 pessoas! Já somos quase 100 mil pessoas de ponta a ponta da Paulista (pausa novamente sob grito de Fora Temer do público). Ouçam o grito das 40 pessoas! Ainda que fossem poucos, é melhor andar com 40 manifestantes do que com 40 ladrões do governo!”, afirmou.

O povo ta na rua para fazer revolução!

Foto: Midia NINJA
Foto: Midia NINJA
O público que lotou as ruas de São Paulo não tinha idade, cor, gênero ou classe social e a única liga que conseguiu mobilizar 100 mil pessoas foi o desejo incansável por democracia e de fazer a soberania popular ser respeitada pelos golpistas. “É fundamental que lutemos pelas eleições no Brasil, mesmo depois de tantos anos. Meu pai esteve na linha de frente das Diretas Já, na década de 1980, e agora eu estou”, afirmou a design Tereza, que vem trabalhando na retomada do trabalho do seu pai, realizado durante a redemocratização.
Foto: Nunah Alle / Mídia NINJA
Foto: Nunah Alle / Mídia NINJA
O ataque à CLT trouxe muitas pessoas que vêm sofrendo com seus efeitos para às ruas, procurando através disso melhores condições. Clóvis, 53, está desempregado e diz: “Eu nunca fui contra governo algum, mas o que vem acontecendo não é bom. O governo está priorizando quem é rico e eu não sou. Estou aqui para defender o meu pão”, afirma, enquanto tremula pela passeata sua grande bandeira da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Foto: Nunah Alle
Foto: Nunah Alle
O estudante secundarista Ary Terremoto, 18, analisa a luta secundarista como um motor para as demais manifestações que vem se consolidando na resistência: “Isso aqui é histórico, enxergo muitos partidos que estão contra o golpe e isso da esperança, no entanto acho que podemos evoluir nas pautas sobre educação”. Assim também pensa Maíra Pinheiro, 26, que acompanhava o ato: “a resistência dos secundaristas diante da repressão policial também foi importante para chegarmos com fôlego para este sexto ato seguido pelas Diretas Já e o Fora Temer".
Eduardo Figueiredo / Midia NINJA
Eduardo Figueiredo / Midia NINJA
O ato seguiu em direção à Avenida Rebouças por meio do túnel que liga as duas vias. Mesmo após a intensa repressão policial que marcou os atos realizados ao longo da semana, os manifestantes não se intimidaram e entraram no local que estava completamente escuro fazendo ecoar, em um dos momentos mais emocionantes do ato, o grito "Olê, olê, olê, olê, Fora Temer!".
Foto: Mídia NINJA
Foto: Mídia NINJA
Por cerca de 5 km, haviam pessoas com bandeiras e cartazes pedindo a saída de Temer e seus aliados do poder. "Esses golpistas não me representam nem f***, nem a mim nem ao povo da periferia, que, assim como os manifestantes esta semana, é reprimido e assassinado pela Polícia Militar", diz Valmir, 39.
Eduardo Figueiredo / Midia NINJA
Eduardo Figueiredo / Midia NINJA
O imigrante do Kwait, Jibreel, vê com medo as ações do golpista de impedir a entrada de palestinos no Brasil, após mudança em lei que aceitava passaporte da Palestina. "Ele aceitou uma condição de Israel que obriga os palestinos a terem o passaporte israelense para entrar no Brasil, o que é impossível de acontecer", crítica, comentando sobre a ação do ministro de relações exteriores, José Serra. "A violência contra os manifestantes é feita com tanques de guerra israelenses, utilizados para matar na faixa de Gaza. Isso é um absurdo!", lamenta.

A mulherada tá na rua pra lutar

Foto: Tuane Fernandes / Mídia NINJA
Foto: Tuane Fernandes / Mídia NINJA
Se 100 mil vozes se uniram em um só coro exigindo a saída do presidente golpista, é possível dizer que a tônica dessa voz é feminina. Seja na liderança dos inúmeros coletivos que estiveram presentes no ato, ou na voz de dezenas de milhares de manifestantes, as mulheres foram protagonistas em mais um momento político histórico para o Brasil.
“Vivi os golpes contra Getúlio, Jango e agora contra Dilma. A história se encarrega de mostrar quem são os golpistas. Está começando uma nova ditadura, e nosso povo encontrou na bandeira das Diretas Já um meio de lutar contra isso”, contou Conceição, de 81 anos, aposentada que acompanhava a manifestação.
"Nem recatada e nem do lar, a mulherada tá na rua pra lutar", o grito que já é presença marcada nos atos contra o governo golpista e machista carrega consigo a disposição das mulheres para lutar contra todos os retrocessos e
opressões trazidos pelo golpe, dentre eles a reforma previdenciária e a flexibilização da legislação trabalhista para atender os interesses da elite cúmplice.
É o que aparece na fala de dona Valdete, trabalhadora terceirizada de 52 anos, que acompanhava a passagem do ato em frente ao Hospital das Clínicas "Acho que tem que entrar um governo para o povo. Agora querem que a gente trabalhe a vida toda, até os 80 anos. A mulher já tem dois empregos, na rua e em casa, já trabalha dobrado. Eu tenho
tendinite, bursite, tudo que eu consegui nesse emprego. E agora querem tirar a insalubridade, quando mal sobra dinheiro para pagar o aluguel".

As 'Diretas Já'

Em 1983 eclodiu em São Paulo o primeira grande manifestação que viria a se tornar a principal luta contra a ditadura militar: as Diretas Já. 15 mil pessoas se reuniram em novembro daquele ano na praça Charles Miller para pedir eleições direitas e a redemocratização no Brasil, algo que só viria a acontecer no ano de 1985, com a eleição de Tancredo Neves para o comando do país.

O fechamento de um capítulo da história com mais violência

Foto: Mídia NINJA
Foto: Mídia NINJA
A gigantesca massa de manifestantes que marchava pedindo “Fora Temer! Diretas já”, teve dimensão do tamanho da manifestação quando os primeiros grupos começaram a chegar ao Largo da Batata e ainda havia gente próximo à passarela do Hospital das Clínicas, aproximadamente 3 quilômetros atrás. Já no local de encerramento do ato, tomadas pelo clima de luta vitoriosa, as pessoas foram sentando no chão e dando a esse desfecho um ar de grande confraternização daqueles e daquelas que não desistirão da democracia.
As frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular convocaram o povo para as falas finais, saudando os manifestantes e anunciando a próxima manifestação, que será no dia 08 de setembro (quinta-feira). Logo em seguida a dispersão começou, as pessoas foram ocupando o Largo, os bares, e se dirigindo em direção ao metrô.
Os golpistas não saíram impunes (ainda que simbolicamente): os manifestantes queimaram o caixão de Temer e todos seus aliados na articulação do golpe jurídico e parlamentar no Brasil.
Alguns minutos depois, próximo à estação Faria Lima, um agrupamento do choque se formou em posição de ataque dando início a repressão. Manifestantes tentaram diálogo em vão, após a primeira bomba repressão se intensificou. Uma sequência de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d’água foram mirados contra a manifestação que seguia pacífica.
Nessa hora o pânico e o medo da força policial tomaram conta das ruas, assim como a resistência. Um manifestante gritava: “Nós vamos embora andando, viemos andando e voltaremos andando. Covardes.”. Cenas fortes puderam ser presenciadas.Pessoas que estavam em um bar gritando “Fora Temer” tiveram como resposta da polícia bombas direcionadas ao estabelecimento, jornalistas foram agredidos e um manifestante que tentou impedir o avanço do choque posicionando-se em frente ao jato d’água foi detido.

Apesar do lamentável e também inaceitável desfecho proporcionado pela Polícia Militar de São Paulo contra uma manifestação pacífica que reuniu mais de 100 mil pessoas, a luta pelo “Fora Temer! Diretas já” está só começando. O recado dado hoje é de que existe muita disposição para ocupar as ruas e seguir enfrentando todo e qualquer tipo de retrocesso, conservadorismo e fascismo imposto por esse governo ilegítimo. Golpistas, não passarão!
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