19 de fev. de 2017

Como uma empresa tão corrupta quanto a Globo ousa falar em corrupção? Por Paulo Nogueira do DCM - Editor - o futebol fora dos estádios

Como uma empresa tão corrupta quanto a Globo ousa falar em corrupção? Por Paulo Nogueira



Postado em 30 Mar 2016
Teixeira recebeu propinas milionárias da empresa de Galvão
Teixeira recebeu propinas milionárias da empresa de Galvão
Pego para ler o livro Política, Propina e Futebol, do jornalista Jamil Chade, correspondente do Estadão na Suíça.
É a história da corrupção na Fifa.
Há um trecho particularmente interessante nele para os brasileiros. Trata das propinas “constantes” pagas a Ricardo Teixeira e João Havelange para influenciarem nas decisões sobre que emissora teria o direito de transmitir Copas no Brasil.
O assunto foi objeto de investigação da Justiça suíça.
Diz o livro:
“Uma rede de televisão no Brasil é citada (…) no suborno, ainda que seu nome tenha sido mantido em sigilo no documento público [da Justiça da Suíça], uma vez que o processo não era contra ela.”
Quem transmite Copa no Brasil?
A Globo.
“Para os suíços, o serviço dos dois cartolas teria sido comprado por essa empresa [Globo] (…).”
O dinheiro, segundo a investigação, era depositado em paraísos fiscais.
Pagar propinas para corruptos é tão criminoso quanto recebê-las. Mas a Globo, e aquela é apenas uma pequena história de uma longa folha corrida de transgressões, se acha no direito de fazer sermões em torno de corrupção.
Um detalhe pode ser acrescentado em relação a uma das Copas em que a propina garantiu dezenas, centenas de milhões de reais para a Globo por conta das vendas de cotas de patrocínio.
É a Copa de 2002.
Documentos amplamente divulgados pela mídia realmente livre do Brasil – os sites independentes – mostram que os atos corruptos da Globo não se esgotaram nos subornos.
Para a Receita Federal, a Globo declarou que o dinheiro da compra dos direitos era para fazer negócios no Exterior.
A Receita detectou a fraude e multou pesadamente a Globo. Numa manobra que só acontece quando alguém se sente dono do país, uma funcionária da Receita tentou simplesmente fazer sumir o processo. Com isso, a Globo se livraria da multa e das sanções penais pela fraude.
A funcionária foi flagrada.
Em nenhum momento a imprensa tocou nos dois assuntos: nem nos subornos e nem na fraude e sonegação milionárias.
Cheguei a conversar com Sérgio Dávila, editor executivo da Abril. Conheci-o na Abril. Ele pareceu envergonhado. No dia seguinte, a Folha deu uma nota sobre a sonegação. Depois, o tema desapareceu, para sempre, dos jornais.
Um telefonema de patrão para patrão resolve o que vai ser dado e o que não vai, ainda mais quando eles são sócios, como é o caso dos Frias e dos Marinhos, donos do Valor.
Conto essa história porque já me cansei de ver jornalistas da Globo se comportarem como se trabalhassem não para uma organização corrupta e feita para consumir de todas as formas dinheiro público, mas para a Santa Casa de Misericórdia.
Eles são cegos, surdos e obtusos, ou apenas fingem ser?
Merval, Kamel, Waack, Noblat, Míriam Leitão e tantos outros: eles pensam que enganam todo mundo?
A Globo cresceu graças a “favores especiais” – a expressão é de Roberto Marinho – que pedia aos militares em troca de apoiá-los.
Passada a ditadura, continuou a crescer por conta de alianças como a com FHC: escondo sua amante e você me abre as portas do BNDES e me enche de publicidade estatal.
O mais melancólico é que também nos governos do PT a transferência maciça de recursos do contribuinte para os Marinhos continuou a ocorrer, em nome de imbecilidades como “mídia técnica”.
Com audiências despencando, a Globo nestes anos do PT continuou a levar 500 milhões por ano em propaganda do governo e estatais.
É o absurdo do absurdo, até porque o público da Globo abomina, como ela mesma, qualquer coisa relativa ao governo petista. É anunciar picanha para vegetarianos.
E é esta Globo das Copas conquistadas por subornos e das fraudes grosseiras na Receita Federal que comanda agora a cruzada contra a corrupção.
É tão ridículo, tão patético, tão acintoso quanto ver Eduardo Cunha falar em ética e moral.
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