2 de mar. de 2017

Livros retratam estruturas de parentesco e o poder político no Paraná

Livros retratam estruturas de parentesco e o poder político no Paraná

Por Jorge Antonio de Queiroz e Silva - sexta-feira, 11/09/2015, 21h25

Para entender como são as estruturas de parentesco e o poder político, os (as) paranaenses deveriam ler o livro Estado, classe dominante e parentesco no Paraná (editora Nova Letra, 2015) organizado por Ricardo Costa de Oliveira, Doutor em Ciências Sociais e Professor da Universidade Federal do Paraná.

Zélia Bonamigo, Jorge Queiroz, Alessandro Cavassin Alves e Gislaine Cristo Alves, esposa do Alessandro.

Com o respaldo de participantes do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), criado em 1994, são identificadas parentelas (nepotismo) se apoderando das instituições públicas. E não é um fenômeno recente, remonta ao tempo em que o Paraná era submisso à Província de São Paulo. Na contemporaneidade, o Poder Executivo é uma referência:

Governadoria: Beto Richa, Governador. Fernanda Richa, esposa do Governador e Secretária do Trabalho e Desenvolvimento Social. José Richa Filho, irmão do Governador e Secretário de Infraestrutura e Logística. Marcos Elias Traad da Silva, primo do Governador e diretor-geral do Departamento de Trânsito do Paraná (DETRAN/PR). Luiz Abi Antoun, primo do Governador e proprietário da oficina Providence Auto Center, de Cambé, Norte do Estado. Antoun foi preso em março deste ano. Motivo: acusação de corrupção em oficinas de carros oficiais. Fernanda Richa, a primeira-dama do Paraná, e Eloiza Antoun, esposa de Luiz Abi Antoun, foram sócias em faculdade particular. Detalhe: Eloiza é Diretora de Participações da Sercomtel, empresa paranaense de telecomunicações de Londrina, Norte do Paraná, que atende 14 cidades com infraestrutura própria e 65 cidades em parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel).  E por ai vai...

Vice-Governadoria: Cida Borghetti, Vice-Governadora. Casada com Ricardo Barros, Deputado Federal. São pais de Maria Victória Borghetti Barros, Deputada Estadual. Esta é cunhada de Sílvio Barros II, Secretário de Planejamento e Coordenação Geral e irmão de Ricardo Barros.

A Teia de Nepotismo não está entrelaçada somente nos Poderes Executivo e Legislativo, também no Poder Judiciário.  Ricardo Costa de Oliveira reforça: "(...) Os poderes executivo, legislativo, judiciário, os tribunais de contas, o ministério público, os cartórios, as mídias e alguns setores empresariais formam grandes teias de interesse e de nepotismo organizados dentro do Estado."

Pensemos. Para dificultar que essas famílias privilegiadas continuem no poder, o caminho é a participação da sociedade na vida política. Isto, aliás, começou a  acontecer.

O exemplo vem de Santo Antônio da Platina, cidade localizada no Norte Pioneiro. Os vereadores, pressionados pela população, reduziram os seus salários, de R$ 7.500,00 para R$ 970,00. Da mesma forma, uma parcela da sociedade curitibana tem exigido a diminuição dos salários dos vereadores, de 15.000,00 para 1.500,00.

Jorge Bernardi, autor do ótimo capítulo O poder familiar na Câmara Municipal de Curitiba (1947-2014) do livro citado acima e vereador pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), apresentou um Projeto de Lei que objetiva igualar os salários dos vereadores aos salários dos (das) professores (as) da rede municipal de ensino de Curitiba. Caso seja aprovada a proposta, o salário dos vereadores, para a próxima legislatura, passaria dos atuais R$ 15.000,00 para R$ 11.600,00, o teto dos educadores (as). Jorge Bernardi explica:

Defendo que o salário dos vereadores, motivo de tanta discórdia, tenha como limites a remuneração dos professores municipais. Assim como entendo que, em qualquer nível do funcionalismo público, do juiz ao promotor, do médico ao fiscal de tributos, a remuneração máxima seja a dos professores de cada ente federado.

A partir desses relatos engajados da sociedade, qual o caminho que o (a) leitor (a) sugere para acabar com a prática do Nepotismo do Paraná que mancha a democracia?

Pois bem, o livro A Província do Paraná e sua Assembleia Legislativa (1853-1889): a força política das famílias tradicionais (editora Máquina de Escrever, 2015) de Alessandro Cavassin Alves, Doutor em Sociologia e Professor da rede pública de ensino e de cursos de graduação, também é leitura obrigatória para entendermos as estruturas de parentesco e o poder político paranaense, com ênfase no período imperial.

Existem poucas pesquisas referentes a esse momento político, século XIX. Por isso, o autor, baseado em inúmeras fontes, nos ajuda a discernir as estruturas dos poderes, as estruturas sociais e as estruturas das parentelas na então recém-criada Província do Paraná, independente de São Paulo.

Os familiares que detinham o poder político (senador, deputado geral e deputado na Província do Paraná) estavam atrelados à terra, desde o século XVII ao XIX, conforme explica Alessandro:

(...) eram membros e/ou herdeiros de uma classe senhorial colonial, isto é, de famílias que receberam sesmarias nesta região, desde o século XVII ao XIX. (...) Assumir o cargo público de senador, deputado geral ou provincial, ou mesmo de vereador e juiz de paz, nas localidades, portanto, só era possível ao indivíduo que estava atrelado a uma estrutura familiar proprietária de terras e escravizados, grande comerciante, por vezes com títulos acadêmicos, mas sempre com vínculos de nascimento ou casamento na região. Caso contrário, sem o apoio destas famílias, dificilmente um indivíduo conseguiria se eleger.

Se o poder político estava nas mãos de uma minoria no período imperial, pergunto: O poder político permanece nas mãos de uma minoria? As famílias que atuam na política paranaense defendem os interesses da população ou interesses de algumas famílias?

Parabenizo ao Alessandro Cavassin Alves pela multiplicidade de detalhes disponíveis no livro, como o entendimento da conjuntura social, cultural, sociológica e, principalmente, política do Paraná Imperial.

Reforço o parabéns ao Alessandro porque é autor do ímpar capítulo O Paraná político na década de 1880 do livro Estado, classe dominante e parentesco no Paraná, organizado por Ricardo Costa de Oliveira.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é historiador, palestrante, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.


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