13 de mar. de 2017

Villa-Lobos, a alma brasileira - 130 anos. - Editor - Essa alma brasileira, desprezada pelas elites, culturalmente colonizadas a padrões europeizantes e estadunidense, menosprezando a cultura popular, desconsiderou, embora o suportasse, por sua genialidade e reconhecimento internacional, mas mesmo assim , não o prestigiava. Talvez venha de antanho, a satisfação do ex-ditador-presidente Figueiredo, que preferiu o cheiro dos cavalos, ao do povo. Raizes são raízes, burguesas, o que fazer? Deve ser o peso das senzalas e da matança e crueldades e exploração de milhares e milhares de seres humanos.

25 de setembro de 2015 - 17h29 

Villa-Lobos, a alma brasileira


Reprodução
"Tom Jobim dizia que seu mestre foi Villa-Lobos""Tom Jobim dizia que seu mestre foi Villa-Lobos"
O que sempre me vinha à memória foi uma entrevista feita na ocasião, Qu´est que-ce qu´un Chôros? onde ele comentava, com humor e ansiedade, a crise do homem e pensava, com seu idealismo utópico, trazer a paz ao mundo por meio da música.

Villa-Lobos foi a memória sonora de todo um Continente. Ele dizia que sua obra “é a consequência de uma predestinação, ela é de grande profusão porque fruto de uma terra imensa, ardente e generosa”. Em Nova York, em 1961, o prefeito Robert Wagner declara o domingo 5 de março de 1961 Dia de Villa-Lobos na cidade de Nova York, assim justificando seu ato: “A obra de Villa-Lobos é de tal importância que conservará um lugar permanente na história da grande música. Suas composições serão ouvidas sempre e sempre e por toda a parte onde a grande música seja valorizada e amada”.

O Brasil e a brasilidade encontraram nele seu melhor e maior intérprete, a da miscigenação do povo brasileiro. Suas raízes estão fecundando a MPB até hoje. “Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que transporto instintivamente para tudo que escrevo”.

Villa-Lobos é o maior intérprete da alma brasileira. A ária da Bachianinha nº 5 é a sua mais completa expressão.

O Brasil não lhe rendeu as homenagens devidas. Nas palavras do próprio Villa-Lobos, “O Brasil reconhece a minha glória, me incensa, me acha formidável, mas ignora o principal de minha obra. Gostaria de saber o motivo, mas não posso perder tempo em descobri-lo”.

Tom Jobim dizia que seu mestre foi Villa-Lobos. Este, indagado naquela entrevista à rádio em Paris sobre que eram seus mestres, respondeu: Donga. Donga, Cartola e Pixinguinha. Eles haviam sido mobilizados pela missão Stokowski, uma reportagem musical entre os dois maestros para gravação do “Native brazilian music”, num estúdio montado no navio Uruguai ancorado na Praça Mauá, Rio, em agosto de 1940.

Há uma deliciosa história, registrada em

http://daniellathompson.com/Texts/Stokowski/Donga_para_Villa.htm.

Villa-Lobos havia escrito a Stokowski, referindo-se a contratar artistas populares para as gravações:
“Para mobilizar estes elementos, o seguinte é necessário:

1) – Seu consentimento em uma resposta urgente para

iniciar a convocação destes elementos nos próximos dez dias;

2) – A garantia de 500 dólares para despesas gerais;
isto é, a estes músicos, que devemos pagar para
reuni-los, que é uma coisa muito difícil;

3) – As cópias dos discos gravados devem permanecer no Rio,
mesmo aqueles que serão gravados nos países americanos”.


Treze dias depois de Villa-Lobos enviar sua carta a Stokowski, os “elementos” fizeram suas próprias exigências:

Rio, 29 de Julho de 1940

Exmo.Snr.Maestro H.Villa-Lobos

Na qualidade de encarregando de convocar e organizar os elementos para tomarem parte nas gravações do Exmo.Snr.Maestro Leopoldo Stokowski e necessitando um adeantamento urgente para as despezas com os referidos elementos por vós determinados, peço-vos providencieis no sentido de me ser confiada a importancia total de 1:700$000 (um conto, setecentomil reis) afim de ser distribuidos do seguinte modo:


ao encarregado do Maracatú e Frevo 200$000
ao encarregado do Grupo Regional 200$000
ao encarregado dos Sambas 100$000
ao encarregado de Macumbas, Candomblés e Batucadas 200$000
ao encarregado das Modinhas 50$000
ao encarregado dos Choros 200$000
ao encarregado de Emboladas, Desafio e Toada 300$000
ao encarregado das Instrumentações 200$000
Despezas diversas (automóvel, etc.) 250$000
Total 1:700$000

Aproveito a oportunidade para vos apresentar os protestos de alta estima e consideração,
Ernesto dos Santos “Donga”

Alguém calculou a quantia envolvida em cerca de 500 dólares, mas isso não vem ao caso.
É uma história incrível, feita da alma popular brasileira. O popular é a verdadeira essência da construção nacional.

Donga, pelo telefone, fez o primeiro samba gravado. Uma preciosidade até hoje.
Share:

0 comentários:

Postar um comentário