17 de jun. de 2017

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita pelo IBGE, televisão e geladeira aparecem da mesma forma nos domicílios nacionais, em 97,2% deles.


APRESENTAÇÃO


Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita pelo IBGE, televisão e geladeira aparecem da mesma forma nos domicílios nacionais, em 97,2% deles.
E isso não é nenhuma novidade. Há mais de três décadas que usamos a referência das geladeiras para falar da centralidade da TV aberta na vida domiciliar brasileira. Há mais de três décadas também se diz que a TV aberta está morrendo, cedendo lugar a uma nova tecnologia. E, mesmo com a efervescência das redes sociais e dos serviços de comunicação pela Internet, a TV aberta analógica ocupa um lugar central no acesso à informação, na elaboração de sentidos e na própria cultura nacional. Nos domicílios que têm TV não tem: TV por assinatura (69,7% sem), sinal de TV digital aberta (64,1% sem), antena parabólica (61,1% sem). 52% dos domicílios brasileiros não têm nem acesso à Internet. Como vamos dizer que TV aberta é algo ultrapassado? Como podemos acreditar que a “mais nova novidade” – por exemplo, o Netflix – agora, sim, vai acabar com a influência da televisão aberta na formação da opinião pública brasileira? Não, não podemos. Estudar televisão aberta não é estudar o passado. O modelo patrimonial brasileiro tem na centralidade da televisão aberta no setor audiovisual uma das suas ferramentas fundamentais de sobrevivência sociopolítica.
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NA INTENÇÃO DE SOMAR E PROPOR OLHARES DIVERSIFICADOS, APRESENTAMOS AQUI, INICIALMENTE, DOIS BANCOS DE DADOS:

– O primeiro tem abrangência nacional e natureza histórica. É um banco de dados que cruzou as informações oficiais com as disponíveis online e consultas telefônicas diretamente aos municípios. Estes dados são o retrato das outorgas de televisão no Brasil na década passada, sua última atualização é de 2005. Este retrato abrange todas as outorgas concedidas naquele momento, mesmo as não licenciadas. Importa aqui mais entender a quem foram dadas as concessões do que restringir-se às emissoras em funcionamento efetivo.
– O segundo banco de dados, também inédito no país, dedica-se a um universo com características muito específicas, a Amazônia Legal. Por um dispositivo legal visando ampliar o acesso à informação, as retransmissoras de TV desta região têm natureza mista e, diferente de todas as outras, podem gerar conteúdo próprio. Isso transformou em mini-geradoras de conteúdo empresas que, usualmente, seriam meras repetidoras da produção das cabeças de rede das grandes cidades. Aqui temos a mais completa coleta de dados sobre outorgas que se publicou até o momento: com consultas documentais e in loco. Destaca-se que este banco de dados foi elaborado pela mais experiente repórter deste setor, Elvira Lobato. A competência e intimidade da autora com o cenário das outorgas de radiodifusão são amplamente reconhecidas.

A CENTRALIDADE DA TV ABERTA NO CENÁRIO AUDIOVISUAL EM UMA DÉCADA (2005-2015)

Em 2005, nosso banco de dados comportava 10.491 outorgas. Em fevereiro de 2016, o Sistema de Informação dos Serviços de Comunicação de Massa, da Anatel, apontava 13.031 registros de serviços de televisão. A TV aberta cresceu, mas nem tanto. Alguns canais desapareceram, outros surgiram, alguns empresários morreram, outros mudaram de ramo, como é usual.
Mas, no quadro geral do sistema audiovisual esta não foi uma década de grandes mudanças. Destoando dos outros países da América Latina que elaboraram novas leis de meios de comunicação, o Brasil fez uma opção conservadora nas políticas de comunicação do início do século XXI. Tivemos o acréscimo dos canais de transmissão digital, presenteS em cerca de 30% dos domicílios com televisão no país. Contudo, com praticamente os mesmos canais analógicos que já tínhamos. A televisão por assinatura, outra importante aposta na mudança do padrão de consumo audiovisual, ganhou uma nova Lei, agrupando os distintos serviços, mas, ainda hoje, chega a apenas 29,5% dos domicílios brasileiros com televisão. Os donos da TV aberta? Mais do mesmo: as tvs que mais cresceram na última década foram as ligadas às igrejas e aos grupos políticos. As emissoras estatais e dos grupos empresariais sem ligações religiosas ou políticas se mantiveram muito próximas ao que já eram em 2005.
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Ao longo de 2016 e 2017 pretendemos anexar dois outros bancos de dados: a atualização dos dados das outorgas de geradoras e RTV de todo o país e o mapa das comunicações e relações de poder em 100 cidades brasileiras.
Naturalmente, trata-se de um objeto em constante mutação e passível de muitas falhas. Tornar públicos estes dados permite que eles sejam revisados e atualizados constantemente, transformando-nos em importante ferramenta para o estudo e o acompanhamento do acesso às informações, à cultura e ao entretenimento.
http://www.coronelismoeletronico.com.br/dados-da-tv/apresentacao/
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