14 de jul. de 2017

Brasil merece conhecer relações entre “senador da chalana” e Carlinhos Cachoeira



Brasil merece conhecer relações entre “senador da chalana” e Carlinhos Cachoeira

chalana
Wilder de Morais, dono do barco-boate onde esteve Alexandre de Moraes, foi investigado na CPI do bicheiro; seu sócio no Hotel Nacional foi sócio de Cachoeira
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
A imprensa vai blindar Wilder de Morais (PP-GO) e os demais senadores que estavam na chalana de sua propriedade, o barco-boate onde ele recebeu, para uma sabatina muito peculiar, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes? Ou serão expostas as conexões entre Morais e o bicheiro Carlinhos Cachoeira? E entre ele e o senador cassado Demóstenes Torres, de quem foi suplente por ser um empresário milionário? E entre Sandro Mabel, assessor especial de Temer, e Cachoeira?
Que o engenheiro Wilder Pedro de Morais esteve na CPMI do Cachoeira, em 2012, na época como suplente de Demóstenes Torres (DEM-GO), há algumas referências tímidas na mídia, aqui e ali – em 2017, poucas. Mas falta relembrar que ele mereceu um item inteiro no relatório da CPI. Os nobres parlamentares concluíram que não havia ligação dele com a organização criminosa, mas os diálogos que conectam os dois personagens talvez possam ser resgatados pela eventualmente curiosa imprensa brasileira.
Ou ela se interessará apenas em rememorar aquela que foi chamada de “musa da CPI” pelos machistas de plantão, Andressa Alves Mendonça? Andressa era casada com Morais. Consta que ela o trocou por Cachoeira. É mãe dos filhos do senador. Chegou a acusá-lo de agredi-la. Quanto de coisa pública está embutida nessa narrativa, para além da história de amor – e eventual violência – entre um casal? (Há quem diga que Morais montou a chalana-boate após ser preterido por Cachoeira.)
Há mais histórias a serem resgatadas, algumas distantes das luzes e sons de boate do barco do senador, o Champagne. Um dos sócios de Morais no Hotel Nacional, no Rio (aquele que era para ter ficado pronto na Copa do Mundo), Marcelo Limírio, já foi sócio de Carlinhos Cachoeira, informou o Globo em 2012: “Dono do Hotel Nacional é sócio de Demóstenes“. Demóstenes, no caso, é ele mesmo, o senador cassado Demóstenes Torres – os personagens se repetem.
O RELATÓRIO DA CPI
wilderO leitor pode acessar aqui o trecho do relatório da CPMI do Cachoeira que traz informações sobre o senador Wilder Morais. Pode ir direto à página 118, onde há esta citação de Rui Barbosa: “A justiça pode irritar porque é precária. A verdade não se impacienta porque é eterna”. Mas vamos adiantar algumas informações relevantes sobre Morais e Cachoeira.
Talvez não seja tão relevante para o “caso Chalana” que Cachoeira e Andressa compraram uma casa, após a separação entre ela e Morais, que pertencia ao governador Marconi Perillo (PSDB-GO), por sinal outro ex-sócio de Marcelo Limírio, aquele do Hotel Nacional. Mas há diálogos – interceptados pela Polícia Federal – intrigantes, como este, entre Cachoeira e um homem identificado como Wladimir:
– Wilder ligou, tinha acabado a bateria do celular dele ontem. Me perguntando direitinho como tinha ficado o negócio lá. (inaudível) Não até porque quando eu falei com o governador, os caminho era para saber se já estava tudo acertado com o Carlos com todo esse time e tal.
A suspeita na época era que a vaga de Morais como suplente do senador Demóstenes Torres (na época no DEM-GO) tinha sido obtida pela influência de Cachoeira.
Há outros trechos curiosos. Como uma conversa entre o bicheiro e Andressa:
– E o Demóstenes tá puto com ele. O Demóstenes já viu que ele tá metendo o pau nele, tá puto com ele. Ele pega o (senador Ronaldo) Caiado e vai falar mal do Demóstenes para o Caiado. O Caiado conta tudo para o Demóstenes. (…) O Demóstenes ta puto com ele. Puto! Mas puto, puto, puto. Ele falou assim: me chamou para ir lá para me usar em negócio de creche na casa dele. Não vou não. Vou mandar esse cara pra a puta que pariu! (…) Você poderia ter arrumado um melhor pra mim. Você deveria ter arrumado o Ataídes, o Cláudio, o Rossini, Agora, você me arrumou esse sujeito ai pô!
QUESTÃO AGRÁRIA
Este blogueiro, infelizmente, não tem tempo para esmiuçar cada uma dessas conexões entre esses personagens muito específicos e cenários pouco comuns. Entrei no tema para ver se havia ligações com questão agrária, já que sou editor de um observatório sobre agronegócio, o De Olho nos Ruralistas. Elas existem. Mas concluí que as informações acima têm uma relevância específica neste caso – por isso este texto.
Mas vale lembrar que havia outro personagem presente na chalana, no dia da sabatina paralela com Alexandre de Moraes. Atende pelo nome de Sandro Mabel. Moraes chegou com Mabel ao barco, no dia 7 de fevereiro. Um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, Mabel é assessor especial do presidente Michel Temer para assuntos relacionados ao Congresso. O que ele estava fazendo lá?
Mabel nasceu Sandro Antonio Scodro, em Ribeirão Preto (SP). Adotou o sobrenome Mabel por causa do nome da fábrica de biscoitos, vendida em 2011 para a Pepsi. Depois disso ele passou a se dedicar à empresa Gama Sucos e Alimentos. Foi deputado federal (PR-GO) e membro da bancada ruralista. Em 2010, informou possuir uma fazenda de 9 mil hectares no Mato Grosso. Outras de 1.860 e 968 hectares em Goiás – entre outras.
sandromabelNaquele ano era dono de uma fortuna de R$ 71 milhões. Pecuarista, não declarou nenhuma cabeça de gado, como os da fazenda São José dos Anjicos, somente empresas agropecuárias. Em 2013 ele possuía uma casa em área de preservação ambiental no Rio Araguaia. No ano anterior, Carlinhos Cachoeira disse – num diálogo gravado pela Justiça – que a fazenda Montaria, em Brasília, era de Mabel.
Como se sabe, a fronteira entre público e privado é difusa no Brasil. Precisa ser melhor detalhada. No caso de Alexandre de Moraes, Wilder de Morais e Sandro Mabel (para não falar do presidente Michel Temer, que também já teve terras em Goiás), a chalana pode ser um bom assunto, mas outras histórias talvez não estejam no Distrito Federal, mas em Goiás. A ver se há interesse político, digo, jornalístico.

UMA IDEIA SOBRE “BRASIL MERECE CONHECER RELAÇÕES ENTRE “SENADOR DA CHALANA” E CARLINHOS CACHOEIRA

http://outraspalavras.net/alceucastilho/2017/02/13/brasil-merece-conhecer-relacoes-entre-senador-da-chalana-e-carlinhos-cachoeira/
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