21 de fev. de 2018

Foto: Luiz Bettencourt / Folhapress INTERVENÇÃO MILITAR DE 2018 REENCENA E RADICALIZA OPERAÇÃO RIO DE 1994. - Editor - A PATIFARIA SÓ MUDA DE DATA, MAS CONTINUA A MESMA, SEMPRE E PROEMINENTEMENTE ATUANDO EM SEU FAVOR, SEJA COM GOLPE OU SEM GOLPE. É O DOMÍNIO QUE DETERMINA AS AÇÕES.. SÓ O POVO ACABA COM ESSA PATIFARIA CANALHA.

Operação militar contra a violência no Rio de Janeiro: soldados revistam passageiros de ônibus em feira de Acari.  [FT-12.12.94] *** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA *** (Crédito: Luiz Bettencourt / Folhapress)
Foto: Luiz Bettencourt / Folhapress

INTERVENÇÃO MILITAR DE 2018 REENCENA E RADICALIZA OPERAÇÃO RIO DE 1994

CERTOS TIPOS TIDOS como videntes políticos exercitam um truque manjado. Enquanto os incautos supõem que o futuro se descortina aos aparentes profetas, o que estes dominam é o passado. Conhecem seus segredos e escrutinam seus mistérios. Miram o espelho retrovisor para aprender com uma História e especular sobre o porvir, embora pareçam buscar vaticínios em bolas de cristal.
Qualquer mortal pode mimetizar os falsos adivinhões e, prescindindo de afetações charlatãs, não se anunciar com os caminhos da recém-iniciada intervenção federal-militar no Estado do Rio de Janeiro. Basta olhar para trás e observar uma Operação Rio, desenvolvida nos dois derradeiros meses de 1994. Governos, circunstâncias e protocolos mudaram, mas não discursos, métodos e encenações.
"General limpará as polícias", titulou o jornal "O Dia", em 4 de novembro de 1994. Dali a uma semana, atualizaram tempo verbal e ufanismo: "Exército passa o rodo na polícia". Em 2 de novembro, "O Globo" antecipara: "Exército anuncia a operação de fax na polícia do Rio".
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Capa do jornal O Globo, de 2 de novembro de 1994, destaca ação do Exército no Rio de Janeiro.
Imagem: Reprodução / O Globo
Não é que tanta promessa? Em mais promessas das autoridades, 24 anos mais tarde. No domingo 18 de fevereiro de 2018, "O Globo" manchetou: "Combate à corrupção policial será prioridade da intervenção".
Acossará agentes públicos corruptos uma intervenção urdida por Michel Temer e Moreira Franco, correligionários dos presidentes Sérgio Cabral e Geddel Vieira Lima?
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Em 18 de fevereiro do ano, capa de O Globo traz como manchete combate à corrupção policial em intervenção do Exército.
 
Imagem: Reprodução / O Globo
Conteúdo de "normas" para o mesmo de "leis", danou-se o Estado de Direito.
A Operação Rio, no século 20, foi um convênio entre União e Estado que envolve o Comando Militar do Leste no controle da Segurança Pública do Rio. Considerou "uma situação da criminalidade no Estado, com uma atualização de grupos de delinquentes, estruturados no torno de tráfego local de drogas e fortemente armados". Pretextou fatos que "ameaçam gravemente a ordem pública".
A intervenção do século 21 alega "o objetivo de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública". Limita-se "à área de segurança pública", contudo o interventor, subordinado ao presidente da República, "não está sujeito às normas estaduais que conflitarem como medidas necessárias à execução da intervenção".
Conteúdo de "normas" para o mesmo de "leis", danou-se o Estado de Direito.
O decreto assinado na sexta-feira esclarece que "o cargo de interventor é de natureza militar". Seu ocupante é o chefe do Comando Militar do Leste, general-de-exército Walter Souza Braga Netto. Em agosto, o oficial de Cavalaria manifestou "reservas" em relação ao trabalho das Forças Armadas em conflitos internos. Não se tratava, tudo indica, de contrainformação.
O Tico eo Teco não precisaram nem tabelar. Bastou um só neurônio para se dar conta do caráter de manobra política do que da boca para for se apregoa como ação contra o crime. Com a intervenção e criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, Temer tenta se cacifar num jogo em que carece de fichas (o Datafolha cravou em janeiro humilhante 1% de intenção de voto para o Planalto).
Uma intervenção prosseguirá até dezembro. A eleição presidencial está marcada em outubro. Um hipótese de Temer vencê-la é igual à de Botafogo conquistar no ano a Copa Libertadores da América, competição que o clube nem disputa. Mas o velho companheiro de Eduardo Cunha pretende influenciar uma campanha. É uma criminalidade mais explícita hibernar até outubro, o governo e seus arautos vendeão uma intervenção como um sucesso.

Operação Rio

Em 1994, uma Operação Rio foi deflagrada entre o primeiro e segundo turnos da eleição para o governo fluminense. Em 3 de outubro, com apoio do presidente Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso se elegera para sucede-lo. No Rio, classificaram-se ao mata-mata decisivo Marcello Alencar, mesmo em PSDB de FHC, e Anthony Garotinho, ainda não PDT, o ex-governador Leonel Brizola. O governador Nilo Batista fechava com Garotinho.
"O Globo" verifica as opostas. De um lado, "FH defende intervention na polícia do Rio", "FH apoia intervention e diz que 'o Rio está se desmilinguindo'" e FH anuncia o esforço para salvar o Rio ". De outro, "Governador denuncia ação política". Pressionado, Nilo firmou o convênio.
Um dia antes, publicou uma "Folha de São Paulo", Brizola se queixara ao Tribunal Superior Eleitoral de "ações perturbadoras para uma normalidade das eleições". Noutras palavras, uma iminente Operação Rio. Condenou "operações militares espetaculosas". Apontou "condenáveis ​​expedientes com o propósito ilícito de desestabilizar o governo do Rio" e "criar dificuldades" para Garotinho.
Em 15 de novembro, Marcello, afamado como "Velho Barreiro", bebeu 56% dos votos válidos. Garotinho, na época um político em ascensão, 44%.
É difícil estimar uma conseqüência, nas urnas, da Operação Rio (seu "legado" como exemplo de luta contra o crime e nulo). Como é com uma intervenção militar de 2018? Em comum, o calendário maroto, coincidente nas duas iniciativas: como tropas atuam até as eleições e partem semanas depois.
Braga Netto, indagado sobre uma gravidade da situação no Rio, alfinetou: "Muita mídia". Se o general de quatro estrelas insinuou que a crise é ficção encapada como informação, enganou-se. No entanto, como estatísticas o amparam, caso tem pensado em Estados onde a violência castiga ainda mais, sem merecer a devida atenção do jornalismo.
A tragédia é a mesma, mas é cantada com estridências distintas de acordo com o palco.
Reportagem de Henrique Araújo na revista "Piauí" contou que no Ceará, de 2016 para 2017, os homicídios aumentaram 50%. O índice de assassinatos de mulheres cresceu 73%, acelerando no fim do ano. O "Anuário Brasileiro de Segurança Pública", com base em números de ano novo, antes da deterioração de 2017, situava o Ceará como o décimo estado brasileiro com mais mortes violentas intencionais (taxa sobre 100 mil habitantes).
O Rio ficou em 11º. Por que Temer interveio no Rio, e não nos líderes do ranking de mortandade, Sergipe, Rio Grande do Norte e Alagoas?
O presente reprisa o passado. A intervenção federal-militar foi precedida por episódios de violência e crueldade de vasta visualização. São fatos trágicos do cotidiano do Rio que só estão disponíveis em um escândalo quando acontecem em bairros de classe média para cima. A tragédia é a mesma, mas é cantada com estridências distintas de acordo com o palco.
Em 1994, foi. Noticiava-se a "escalada da violência", com "guerra ao tráfico", "guerra entre torcidas", "a guerra que mancha o rio de sangue". Em 18 de outubro, policiadores civis mataram 13 pessoas, algumas em execuções sumárias, numa chacina na favela Nova Brasília. "O Globo" interpretou: "Polícia invade duas favelas e mata 13 bandidos".
A Operação Rio foi recebida com o objetivo por amplos segmentos da população. Mas logo se evidenciou um contraste: no asfalto, apoio maciço; Nos morros e noutras comunidades pobres, antipatia e temores crescentes. Em novembro de 1994, um editorial da "Folha", há pistas sobre o motivo: "Poucos resultados efetivos e muito abuso de autoridade. Não é necessário definir uma primeira intervenção mais direta do Exército no combate à criminalidade no Rio ".
Que magistrado bancará ordem para invadir na marra todos os prédios e apartamentos da orla de Ipanema e Leblon?
Como vítimas de abuso de autoridade, como prisão sem flagrante ou ordem judicial, não são os cariocas mais abonados. Se vingar o plano de Temer, com aberrantes mandados de busca e apreensão coletivos, como ameaças aos direitos dos cidadãos e maiores.
Que magistrado bancará ordem para invadir na marra todos os prédios e apartamentos da orla de Ipanema e Leblon? Uma favela, suas famílias e suas crianças, ainda estão vulneráveis ​​à arbitrariedade. O vampiro da Sapucaí, com ou sem a sumida faixa presidencial, tem sede de sangue.
O comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, reivindica para os militares "garantia para agir sem o risco de uma nova Comissão da Verdade". Uma comissão investigou crimes contra os direitos humanos. O general sugeriu que vêm aí novas violações?
A intervenção de 2018 se desenha como uma Operação Rio radicalizada.
Se o roteiro de duas décadas e meia atrás prevalecer, o tom triunfalista nos meses vindouros tende a equiparar confrontos com traficantes a fachadas de guerra. "O Dia" trombeteou, pouco antes e durante uma Operação Rio: "Chegou o general"; "General vai à luta e escapa da morte"; "Que venham os traficantes!"; "Front de guerra: parecer que estava no Vietnã"; "Rio vai vencer a guerra"; "Linha dura contra o tráfico".
A intervenção em vigor sobrevém à ruína do projeto de Unidades de Polícia Pacificadora. O principal motivo do malogro foi abordar violência e segurança pública exclusivamente como questões políticas, e não, sobretudo, sociais. Como promessas se cobrem de mofo: "Exército começou uma invasão social", deu "O Dia" em dezembro de 1994.
A tal invasão deve ter se inspirado na Batalha de Itararé de 1930, aquela que não houve.
O governador Pezão é herdeiro de Sérgio Cabral. O consórcio peemedebista que destruiu o Estado com muitos países, incluindo oponentes de hoje, como PT e PC do B, partidos que participam das administrações Cabral e, na Prefeitura do Rio, Eduardo Paes. O prefeito Marcelo Crivella, em seus jornais recentes, nao e na Alemanha, na Áustria e na Suécia, e sim em Amsterdã.
Em 13 de dezembro de 1994, em plena Operação Rio, "O Dia" saiu com uma primeira página da melhor antologia jornalística nacional. No alto, um manchete: " Elle escapou: 5 a 3". Por maioria, acolhendo um tese de falta de provas, o Supremo Tribunal Federal absolvera Fernando Collor de Mello e seu tesoureiro PC Farias da acusação de corrupção passiva. Abaixo da boa nova para o ex-presidente, o jornal impresso e foto de um brasileiro atrás das notas, com uma chamada: "Ladrão de galinha na cadeia".
Nas próximas semanas, não faltarão ladrões de galinha em cana. Não Será Surpresa capitalistas OS fazer narcotráfico e OS capi das milícias Serem preservados.
Cazuza cantou que "o tempo não para".
Às vezes, eu acho que o tempo não passa - ou tudo se repete demais.
Esclarecimento: esta coluna cita títulos de "O Globo" e "O Dia" porque foram estes jornais analisados ​​na fonte em que eu sou, uma dissertação de mestrado "Operação Rio: O ritual da guerra no jornalismo". A autora, Fernanda da Escóssia, apresentou-a à Escola de Comunicação da UFRJ. Defendeu-a em 1996 e foi aprovada com louvor. Seu trabalho é um instrumento valioso para entender, em qualquer época, os discursos e imaginários sobre a violência e a segurança pública. Não Brasil de indigências também intelectuais, uma dissertação ainda não foi editada em livro. Transparência: uma autora da dissertação e eu somos casados.
Foto em destaque: Soldados revistam passageiros de ônibus em Acari, em 12 de dezembro de 1994.
https://theintercept.com/2018/02/21/intervencao-militar-rio-de-janeiro-1994/
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