16 de jan. de 2016

Hotel JK na Ilha do Bananal - São Felix do Araguaia . O Sonho de um Grande Presidente- Juscelino Kubitschek


— O Sonho de um Grande Presidente —


Foto original do Hotel JK no tempo em que já estava em decadência (Foto de Adão fotógrafo)

Conheça a história do feito de um homem visionário que construiu Brasília, alimentado pelo sonho de Dom Bosco – e construiu um hotel luxuoso nas profundezas da selva da Ilha do Bananal-

O presidente Juscelino Kubitschek apaixonado por distâncias, que se perdia nas cidades e se encontrava nos ermos, o seresteiro que vibrava com a amplidão, certamente enluarada, que os bordões de Dilermando, seu violeiro, descobriam em sussurros de velhas cidades mineiras, o sensitivo, cujos olhos guardavam na memória, sem nunca ter visto, os barrancos e varjões, os lagos e as praias, os remansos e os travessões e os fantasmas criados pelas sombras e que ouvia o esturro da onça, o espadanar dos jacarés na água, o coral da saparia e o assovio das capivaras, estava predestinado a também ouvir o chamado da correnteza de onde emergiram os índio  karajá, nos banzeiros das lendas. Esse homem estaria fadado a se empolgar com a Ilha do Bananal. Que outra coisa não fez Juscelino, senão esperar pela noite nupcial com o Araguaia, a quem namorava do alto das “gerais”, para comporem, juntos, a paisagem e o personagem?


Imagem do legendário hotel

Quando ainda governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek decidiu extemporaneamente visitar seu colega de Goiás, Pedro Ludovico, que o antecedera construindo Goiânia, e para lá embarcou em dois aviões “Beechcraft”, do Estado. A visita não teve protocolo, e na mesma tarde Juscelino resolveu prolongar seu vôo, indo até Aragarças, onde veria o Araguaia pela primeira vez.
Parece que Goiás estava em seu destino, pois foi em Jataí que iniciou sua campanha para presidente da República, antes mesmo de localizar no cerrado goiano e ponto onde ergueria a futura capital do Brasil, e expirado o tempo de Brasília nela ficou como senador pelo estado de Goiás.


Juscelino: um homem visionário e à frente do seu tempo

Inaugurada a nova capital em 1960 e completada a estrada Belém-Brasília, por Bernardo Sayão, Juscelino mostrou não ter esquecido a visita que fizera ao rio Araguaia e decidiu lançar a sua última campanha, a “Operação Bananal”, cuja execução e administração foram entregues à Fundação Brasil Central.
Em ritmo de Brasília, o “Projeto Bananal” foi iniciado com verbas da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPEVEA – e consistia em erigir na ilha um centro turístico e promocional do Brasil Central e do Rio Araguaia, composta de pista asfaltada para aviões da época, um hotel que seria (e foi) chamado de JK, um pequeno hospital, uma escola e ainda uma casa/residência para a presidência ou outros hóspedes especiais.


Kubitschek não esquecia o Araguaia e seu povo

A pista logo se completou e aviões começaram a descer na logística de completar e transportar as outras partes do conjunto. A Casa da Presidência foi terminada com bom “acabamento” e nela se hospedaram os presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart e convidados especiais como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
O hospital, rústico, planejado para conter ambulatório e poucos leitos, recebeu material suficiente, remédios e instalações e com intermitências prestou serviços, estando em funcionamento, nos dias de hoje, com médicos e funcionários da Funai.


A visão do presidente estava voltada para a magnitude do rio Araguaia

O hotel seria a melhor atração da Ilha do Bananal. Esportivo e elegante, construído sobre palafitas – pois área era sujeita a enchentes – as janelas se debruçando sobre o Araguaia, representava um pernalta insólito pousando nas margens do rio. Em fim do mandato de JK o hotel chegou a funcionar como local de convenções sem pressa e reuniões de dirigentes turísticos ou administrativos vindos de Brasília. Mas nunca se estruturou.
A 31 de janeiro de 1961 esgotou-se o tempo de Juscelino Kubitschek e a substituição por Jânio Quadros e a agitação da renúncia influíram fortemente sobre a Fundação Brasil Central, que já se vinha ressentindo por administrações corruptas e incompetentes. A “Operação Bananal”, criação pessoal de um presidente, Não motivou a seus substitutos, sendo esquecidos os planos complementares de JK de construir via especial que, vindo de Brasília, atravessasse a braço Javaé e mantivesse o centro turístico de Santa Isabel em desenvolvimento. Em vez disso, a deterioração dos edifícios começou. O hospital continuou atendendo aos karajá cuja aldeia é vizinha e à população de São Félix do Araguaia. Mas no hotel, precariamente ocupado por funcionários da Funai, a destruição começou a com a pintura desfeita, as janelas aos pedaços, os pilares corroídos, a sujeira se antevendo nos vãos das portas, as roupas penduradas em todas as partes, o pátio acumulado de detritos, máquinas quebradas, tratores sem uso e automóveis que o ocupam como garagem.


O conjunto sonhado por Juscelino está desfeito e em decadência. Como o sonho de Couto Magalhães iniciado e terminado em Aruanã, com os tristes despojos de três navios, assim a “Operação Bananal” exibe o esqueleto de sua estrutura inicial e incompleta. Até as iniciais JK passaram a significar “Jack Kennedy”, em lugar do nome do presidente que a criou.
Em novembro de 1967 a Fundação Brasil Central se extingue, sendo futilmente substituída pela Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro Oeste – SUDECO - . Profunda melancolia invadiu o rio Araguaia, pois de 1868 a 1968 – exatamente cem anos – os fracassos se seguiram: a navegação a vapor, a Fundação Brasil Central e a Operação Bananal. Possivelmente condições e conjunturas tenham exercido influência no triste rolar dos fatos; mas certamente, faltaram para impedi-lo os vultos humanos dos seus criadores: Couto Magalhães, João Alberto Lins de Barros e Juscelino Kubitschek.


Mas um dia o sonho chegou ao fim: o Hotel JK se tornou apenas uma lembrança

Êh, êh, êh, ôh!!! Ìndio quer apito…:

Segundo depoimento feito por Matuzalém Milhomem (Natural) a senhora Sara Kubitschek mantinha um costume de também vir à Ilha do Bananal passar uns dias tranquilos e sossegados. Dessa maneira, ela trazia presentes para as crianças karajá. Nesse oportunidade específica, a digníssima senhora teve a infelicidade de trazer, em sua carga de presentes, alguns pirulitos daqueles em que, quando totalmente saboreados, se transformam num apito para o deleite das crianças.
E numa determinada noite a nobre senhora Sara não teve sossego, porque as crianças nativas, maravilhadas com os presentes inusitados, passaram toda a noite assoviando com aqueles instrumentos insuportáveis. A velha senhora, não suportando a barulheira, desceu no pequeno Catetinho que lhe servia de leito, para negociar com as crianças:
— Dou-lhes outros brinquedos muito melhores, se vocês desistirem de soprar esses apitos!
Mas as crianças estavam tão maravilhadas com o novo brinquedo que a negociação varou muitas noites, sem que tivesse como entrarem em acordo. Só depois que a senhora Kubitschek ofereceu belíssimos e caros colares, foi que a situação se normalizou e a negociação foi feita, dando fim aos nefastos apitos.
Nesses dias estavam em visita ao hotel vários artistas e personalidades importantes do carnaval do Rio de Janeiro e da música popular brasileira, surgindo a partir de então, a famosa marchinha de Haroldo Lobo, conhecida do público brasileiro:
Ê, ê, ê, ê, ê...
Índio quer apito
Se não der
Pau vai comer
Lá no Bananal mulher de branco
Levou pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Mim não quer colar
Índio quer apito...


Pinga com Rapadura:
  Afirma Erotildes Milhomem, escritora, poetisa e ex vice-prefeita de São Félix do Araguaia que o nobre presidente Juscelino, quando em visita ao hotel, gostava de comparecer na rua principal do vilarejo, lá pelos idos de 1969, para conversar com os ribeirinhos e populares e, também, para degustar uma boa pinguinha (cachaça) a qual saboreava juntamente com uma rapadura ( doce feito de melaço de cana). Segundo Erotildes Juscelino chegava a estalar a língua e dizer:
      — Como eu gosto de uma pinguinha com rapadura!!

A Coluna de Fumaça negra:
Segundo afirma o atual prefeito de São Félix do Araguaia, José Antônio de Almeida (Baú), num certo dia, ele vinha de Gurupi, juntamente com o bancário Romildo, quando viu lá pelos lados do Hotel JK, uma coluna de fumaça muito grande. Assustado o então aviador Baú fez uma curva em sua aeronave saindo da rota inicial. Em seguida sobrevoou a hotel, quando constatou que a grande estrutura criada pelo presidente do Araguaia estava pegando fogo. “Foi uma destruição lamentável!”, afirma Baú.
Em seguida, foi constatado que, os índios karajá, ao tentar atear fogo numa caixa de marimbondos, acidentalmente atearam fogo no hotel destruindo-o completamente. Dessa forma, uma belíssima página de nossa história foi se embora com a coluna de fumaça, e o hotel, em sua grande parte, permaneceu apenas na memória da população.
Hoje, o que sobrou do mirífico Hotel JK, onde tantas pessoas famosas se hospedaram, sonharam e se divertiram, são apenas ruínas, (como mostram as fotos), alguns tijolos pelo chão, pedaços de paredes, pratarias que se acham bem guardadas no museu do município e, quadros e mais quadros retratando a fase áurea da existência do hotel. Segundo a população antiga da região até as atrizes Merilyn Monroe e Elisabeth Taylor passaram férias nesse legendário hotel.

O tempo da decadência:

Depois que tudo passou, o Hotel JK se transformou no que vocês leitores e apreciadores de nosso portal vão ver a seguir:


Restos do que fora as colunas do famoso hotel


O sonho de JK jogado no meio do mato


Este é o Catetinho, onde o famoso presidente dormia, quando de suas estadas no Araguaia


Quem não se emociona, passeando sobre a história?


Vila Militar, outrora gloriosa, agora em ruínas


Ruínas do Hospital da Ilha



Baixelas e pratarias usadas pelos hóspedes do hotel: hoje expostos no museu municipal

Redação: Sergildo Ribeiro Gonzaga
Fotos: Departamento de Comunicação
Créditos das pinturas: Val Tietê – Margui – Hanne – Erotildes Milhomem – Sônia Argôlo
Agradecimentos: Cléia Sousa
Depoimentos: Erotildes Milhomem, José Antônio de Almeida (Baú) e Matuzalém Milhomem (Natural)
Fonte de pesquisa: livro “Araguaia, corpo e alma – Durval Rosa Borges – 1986
Editor - No dia 13 de dezembro de 1971, entregava  ao então Secretário Estadual de Indústria e Comércio Antonio Fábio Ribeiro e ao Diretor do Detur Nelson Boze, um projeto do Potencial TUristico do estado de Goiás e a Ilha do Bananal foi contem´plada como um pólo potencial de indução do turismo entre outras  cidades totalizando 48 municipios com potencial turistico. Um dos itens na época da pesquisa feita pelos integrantes do GTT  Grupo Técnico de Turismo-SP, o qual fazia parte, tinha a ver com oHotel  JK  , que embora não tinhamos dados, mas sabia-se de sua construção, sendo proposto a restauração e a retomada da atividade turistica na ilha, incluindo o turismo étnico, através da tribo Karajá. 
Me surpreendeu a matéria e mesmo  estando em Goiania, como Consultor de Turismo do ent
ao prefeito de Goiania, prof Nion Albernaz, tentei levantar dados , mas nada consegui.
São Felix do Araguaia, através de ações diversas, pode e deve resgatafr esse patrimonio histórico nacional e lutar de todas as formas para reativá-lo, fazendo deste ponto um memorial a JK, o presidente bossa nova.
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