17 de jun. de 2016

A imensa fragilidade do plano Goldfajn, por André Araújo


Por André Araújo
A IMENSA FRAGILIDADE DO PLANO GOLDFAJN 
 
A política econômica do novo governo não tem um comando central como foi Delfim Netto ou a dupla Campos/Bulhões.  Henrique Meirelles nunca foi, por treinamento ou profissão, um formulador de política econômica, sua carreira é de executivo de banco, algo que não tem nada a ver com política econômica de País.
 
Por decantação, o eixo da política econômica cairá no colo do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cujo discurso de posse se concentrou exclusivamente na meta de inflação como única marca da política econômica que está na sua cabeça. "Trazer a inflação para o centro da meta" é seu lema, o segundo é a "estabilidade do sistema financeiro".
 
A pobreza desses objetivos é chocante. Não há a mais remota vinculação com a economia produtiva, nem preocupação, nem metas, nem objetivos. Basta-lhe "trazer a inflação para o centro da meta" como um alfaiate cuja única especialidade seja fazer uma linda casa para os botões do paletó, o resto da confecção do terno não lhe interessa.
 
No discurso de posse, Goldfajn disse que o controle da inflação beneficia os mais pobres porque mantém o poder de compra da moeda. Mas e se o pobre não tem moeda no bolso porque está desempregado, uma realidade para milhões de trabalhadores, de que vale o "poder de compra da moeda"? Para ter a moeda é preciso ter fonte de renda, uma economia em brutal recessão corta na carne a renda do pobre pela falta de emprego, mas e daí? E daí não é problema do Senhor Goldfajn, afinal o nosso Banco Central, ao contrário do americano, não tem como obrigação assegurar o "máximo emprego", expressão literal que está nos estatutos do Federal Reserve como uma de suas obrigações fundamentais, não é só estabilidade monetária, é isso e MAIS assegurar o máximo emprego.
 
Para esse alvo tão medíocre será necessário o óbvio: travar a economia ao máximo, enxugando a liquidez e bloqueando a expansão monetária, mantendo os juros nas alturas, está no brilho dos olhos do Senhor Goldfajn a vontade quase incontrolável de subir a taxa Selic, se não faz é por razões políticas que prejudicariam o governo que o indicou.
 
Desse mato não sai coelho e dessa fórmula única do Banco Central não saimos da recessão a tempo de salvar da miséria milhões de brasileiros que querem trabalhar e não encontram postos de trabalho.
 
Sempre achei o biotipo de economista de mercado do qual Goldfajn é um exemplo claro, um padrão de mediocridade, mas não imaginei que fosse tão medíocre, o discurso de posse que ouvi na Voz do Brasil é pior do que meus maiores pesadelos. Poderia dar algum pitaco sobre a produção e o emprego, mas o Senhor Goldfajn nem tocou no assunto.
 
Para "trazer a inflação para o centro da meta" existem duas ferramentas clássicas, ambas péssimas para a economia da produção: manter os juros nas alturas e apreciar o câmbio, valorizando o Real, exatamente o contrário que faria quem tivesse interesse em tirar o País da recessão. Desvalorizar o Real é essencial para a recuperação industrial, é a ferramenta clássica que a China usa para tornar sua economia competitiva, para sair da recessão é a primeira receita.
 
A armadilha é achar que "restabelecendo a confiança" voltam os investimentos, mas voltariam para que?
 
Quem vai investir numa nova fábrica de qualquer coisa se não há dinheiro no bolso dos consumidores para comprar seu produto? Alguém vai investir numa fábrica de caminhões se as que ja existem tem 60% de capacidade ociosa?
 
A confiança foi restabelecida e daí? Quem vem investir numa economia de cemitério?
 
Já escrevi aqui recentemente uns cinco artigos sobre a fantasia contida nessa lenda de "vamos fazer isso porque restabelece a confiança". Não vai acontecer. Em primeiro lugar, a confiança depende de muitos mais fatores do que "trazer a inflação para o centro da meta", o que só pode ser feito com mais recessão.
 
Depende de maior estabilidade politica, depende de oportunidades de investimento geradas por demanda não atendida, algo que não existe em nenhum setor da economia brasileira, toda ela com excesso de capacidade sem uso.
 
Tomo como exemplo histórico o Governo JK, inflação alta, nem banco central existia, a economia crescia sem parar, pleno emprego, um boom de novas fábricas, engenheiro saía da faculdade já empregado, as fábricas todas tinham placa de "Procura-se" no portão, qual o segredo? Objetivos claros de crescimento (O Plano de 30 Metas), liderança puxando a economia, Juscelino foi à Alemanha três vezes buscar investidores (ver Moniz Bandeira em O Milagre Econômico Alemão e o Brasil), tudo era feito para atrair fábricas novas, JK também fez muitas estradas, refinarias e aeroportos, a economia bombava, a Casa da Moeda trabalhava dia e noite.
 
Os economistas do padrão Goldfajn usam cartilhas velhas e gastas, falam mal, não entusiasmam um camelô para comprar tabuleiro novo, só conhecem gente do mercado financeiro, único lugar onde trabalharam na vida, isso não vai tirar o Brasil da crise, falta o elan, o charme, o papo, a visão de País, a economia brasileira precisa de cozinheiros de cardápio variado, que saibam fazer muitos pratos ao mesmo tempo, o Goldfajn só sabe fritar ovo com pouco sal. consciência.blogspot.com 
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