As cadeiras do conselho de administração da CGD têm sido ocupadas por ex-governantes, dirigentes, militantes e gente ligada ao PSD, ao PS e ao CDS-PP, numa rotação em que o interesse nacional é submetido a interesses partidários e ao poder económico.
A polémica que envolve a actual composição do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) esconde uma realidade: os cargos na gestão do banco público serviram para distribuir lugares de acordo com prioridades que nada têm a ver com os interesses da CGD. Recuámos a 1989, à época da privatização da banca, da criação da União Económica e Monetária e das maiorias absolutas do PSD, com Cavaco Silva como primeiro ministro. Analisámos os dez mandatos que cobrem o período entre 1989 e 2015 e os números são claros: a passagem de ex-governantes, militantes, dirigentes e gente próxima do PSD, do PS e, a partir de 2004, do CDS tem sido regra na gestão da Caixa.
Mas uma análise caso a caso mostra outra realidade: a promiscuidade alastra-se ao regulador – o Banco de Portugal – e à banca privada. O que têm em comum Vieira Monteiro, Mira Amaral, Carlos Santos Ferreira, Tomás Correia e Jorge Tomé? Todos eles foram presidir a bancos privados depois de saíram da Caixa. Na verdade, os três primeiros ainda estão à frente do Santander Totta, do BIC, e do BCP, respectivamente.
Os conselhos de administração da Caixa Geral de Depósitos foram, ao longo dos últimos anos, território ocupado por gente próxima do poder político e económico, que muitas vezes se confundem. Na verdade, a actual composição dos órgãos sociais da Caixa não mostram qualquer ruptura com este passado, pelo contrário. Paulo Mota Pinto, ex-deputado e dirigente do PSD, preside à Assembleia Geral. Rui Vilar, o primeiro presidente do período que abordamos, é vice-presidente do conselho de administração. O presidente, António Domingues, e metade da comissão executiva vieram directamente do BPI para o banco público.
1989-1993
O primeiro mandato de Rui Vilar é também o primeiro em que se impõe o acordo entre o PS e o PSD de divisão das presidências da Caixa e do Banco de Portugal. É o próprio que assume. São os anos em que o governo de Cavaco Silva promove privatizações, nomeadamente no sector financeiro. É neste período que o BPI adquire o Fonsecas & Burnay, metade do Totta & Açores vai para os espanhóis da Banesto e o grupo Mello recupera o seu banco.
Rui Vilar
Presidente
PS
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Rui Jorge Martins dos Santos
Vice-Presidente
Álvaro Pinto Correia
Vogal
Amilcar Junqueira Martins
Vogal
António Vieira Monteiro
Vogal
PSD
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Alexandre Sobral Torres
Vogal
Rodrigo Marques Guimarães
Vogal
José Falcão e Cunha
Vogal
PSD
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José Varatojo Júnior
Vogal
Carlos Tavares
Vogal
PSD
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Maria Emília Freire
Vogal
1989
1990: Início da livre circulação de capitais na União Económica Bancária
7 de fevereiro de 1992 é assinado o Tratado de Maastricht.
1 de Junho de 1989 aprovada II Revisão Constitucional, que retira a irreversibilidade das nacionalizações ocorridas após o 25 de Abril de 1974.
São privatizados os bancos Espírito Santo, Fonsecas & Burnay, Totta & Açores, Borges & Irmão, Crédito Predial Portuguê.
1993
1993-1995
É no início deste mandato que a Caixa passa a ser uma sociedade anónima de capitais integralmente públicos. A divisão partidária da administração da CGD alarga-se aos vice-presidentes, com o PSD de Cavaco Silva a colocar os seus na cúpula do banco. O ano de 1995 é marcado pela recuperação do Pinto & Sotto Mayor por Champalimaud, a que juntaria o Totta e o Crédito Predial Português.
Rui Vilar
Presidente
PS
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António Vieira Monteiro e Carlos Tavares
Vice-Presidente
PSD
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Rui Jorge Martins dos Santos
Vogal
Álvaro Pinto Correia
Vogal
Rodrigo Marques Guimarães
Vogal
José Varatojo Júnior
Vogal
Maria Emília Freire
Vogal
António Paes Sousa Alvim
Vogal
1993
25 de junho de 1994 Bloqueio da Ponte 25 de Abril.
1 de Outubro de 1995: PS obbtém maioria relativa nas eleições legislativas, pondo fim a 10 anos de maioria absoluta do PSD. Guterres torna-se primeiro-ministro.
É privatizado o Banco Português do Atlântico, maior banco comercial português à data.
1995
1996-1999
Com a mudança de governo, Rui Vilar impõe o respeito pelo acordo de alternância e dá o lugar a João Salgueiro. As alterações no sector financeiro prosseguem, com a adesão de Portugal ao euro. A Caixa vê-se envolvida na compra do grupo Champalimaud pelos espanhóis do Santander, comprando todo o grupo mas mantendo apenas a seguradora Fidelidade, passando o Totta e o Crédito Predial para o Santander, e o Pinto & Sotto Mayor para o BCP.
João Salgueiro
Presidente
PSD
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Alexandre Vaz Pinto e António Vieira Monteiro
Vice-Presidente
PSD
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Rui Jorge Martins dos Santos
Vogal
Álvaro Pinto Correia
Vogal
José Varatojo Júnior
Vogal
Herlânder Santos Estrela
Vogal
José Manuel Pereira
Vogal
António Tomás Correia
Vogal
PS
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Alexandre Sobral Torres
Vogal
Almerindo Marques
Vogal
PS
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1996
Em 1997 é revogada a lei de delimitação de sectores.
É fundado o Banco Central Europeu, a 1 de Julho de 1998
10 de Outubro de 1999: o PS é o partido mais votado, mas falha o objectivo da maioria absoluta. Faz um acordo com um deputado do CDS-PP que permite aprovar os Orçamentos do Estado.
1999
2000-2004
O novo milénio traz consigo o alastrar da influência do PS e do PSD a todo o Conselho de Administração: passa a ser difícil encontrar um vogal que não tenha perfil partidário. Acabado o longo processo de privatizações na banca, a Caixa passa a ser o único banco público em Portugal. São os anos da chegada ao governo de duas figuras que marcariam, pelas piores razões, mais de uma década em Portugal e na União Europeia: Durão Barroso e Paulo Portas.
António de Sousa
Presidente
PSD
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Oliveira Cruz e Mira Amaral
Vice-Presidente
PSPSD
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Alexandre Sobral Torres
Vogal
António Tomás Correia
Vogal
PS
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Miguel Athayde Marques
Vogal
PSD
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Fernando Miguel Sequeira
Vogal
Vitor Fernandes
Vogal
PS
José Ramalho
Vogal
PSD
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2000
O euro entra em circulação no primeiro dia de 2002
17 de Março de 2002: o PSD e o CDS-PP elegem a maioria dos deputados à Assembleia da República e formam governo. Durão Barroso é o primeiro-ministro, Paulo Portas é ministro da Defesa.
10 de Dezembro de 2002: greve geral convocada pela CGTP-IN contra o Código do Trabalho de Bagão Félix
2004
2004-2004
António de Sousa, que transitara directamente de governador do Banco de Portugal em 2000, mantém a presidência do banco. O mandato foi de curta duração por incompatibilidades entre o presidente e Mira Amaral, que passou a ser o único vice-presidente do conselho de administração da Caixa.
António de Sousa
Presidente
PSD
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Mira Amaral
Vice-Presidente
PSD
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Miguel Athayde Marques
Vogal
PSD
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José Ramalho
Vogal
PSD
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Vitor Fernandes
Vogal
PS
Maldonado Gonelha
Vogal
PS
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António Vila Cova
Vogal
Carlos Costa
Vogal
PSD
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José João Abrantes Coutinho
Vogal
Luís Alves Monteiro
Vogal
PSD
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2004
Durão Barroso deixa o governo português para dar início a dez anos como presidente da Comissão Europeia
2004
2004-2005
Com a saída da anterior administração, regressa a divisão entre o PSD e o PS no topo da CGD, mas o destaque vai para a entrada do CDS-PP na divisão dos cargos sociais no banco. Celeste Cardona sai do Ministério das Finanças directamente para a administração da Caixa.
Vitor Martins
Presidente
PSD
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Maldonado Gonelha e João Freixa
Vice-Presidente
PS
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José Ramalho
Vogal
PSD
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Vitor Fernandes
Vogal
PS
António Vila Cova
Vogal
Luís Alves Monteiro
Vogal
PSD
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Carlos Costa
Vogal
PSD
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Gracinda Raposo
Vogal
Celeste Cardona
Vogal
CDS
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Norberto Rosa
Vogal
PSD
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2004
20 de Fevereiro de 2005: o PS vence as eleições com maioria absoluta. José Sócrates é nomeado primeiro-ministro.
2005
2005-2007
Muda o governo e a administração da Caixa, e o PS passa a ocupar a presidência e a vice-presidência. Mas a divisão pelos três partidos que se vão sucedendo no governo não cessa. Esta é a administração que, em 2008, se mudou de armas e bagagens para o BCP.
Carlos Santos Ferreira
Presidente
PS
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Maldonado Gonelha
Vice-Presidente
PS
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Francisco Bandeira
Vogal
PS
José Ramalho
Vogal
PSD
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Celeste Cardona
Vogal
CDS
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Norberto Rosa
Vogal
PSD
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Armando Vara
Vogal
PS
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Vitor Fernandes
Vogal
PS
Carlos Costa
Vogal
PSD
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2005
13 de Dezembro de 2007: é assinado o Tratado de Lisboa, que torna o Banco Central Europeu numa instituição oficial e consagra como competências exclusivas da União Europeia a política monetária dos estados da zona euro.
Entre 2006 e 2007 avançam as privatizações da Galp, da EDP, da REN, da Portucel e da Inapa.
2007
2008-2011
A polémica saída do presidente e de dois administradores para o BCP ditaram a alteração no conselho de administração. Faria de Oliveira, ainda hoje presidente da Associação Portuguesa de Bancos, entra e faz regressar a presidência do banco a uma figura do PSD. Os três anos são marcados pelo início da crise financeira e económica mundial.
Faria de Oliveira
Presidente
PSD
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Francisco Bandeira
Vice-Presidente
PS
Norberto Rosa
Vogal
PSD
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Rodolfo Lavrador
Vogal
PS
Araújo e Silva
Vogal
PS
Jorge Tomé
Vogal
PS
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Pedro Cardoso
Vogal
2008
O Banco Português de Negócios (BPN) é nacionalizado e incorporado na CGD, em Fevereiro de 2008
24 de Novembro de 2010: pela primeira vez desde 1983, a CGTP-IN e a UGT convocam uma greve geral.
É assinado o acordo com a troika pelo PS, pelo PSD e pelo CDS-PP, em Maio de 2011, que reserva 12 mil milhões de euros para a banca privada.
5 de Junho de 2011: o PSD e o CDS-PP regressam ao governo. Passos Coelho é primeiro-ministro, Paulo Portas é ministro dos Negócios Estrangeiros.
2011
2011-2013
O modelo de gestão da CGD é alterado pelo governo do PSD e do CDS-PP, este último que volta a ter um representante na administração da Caixa. O banco passa a ter uma comissão executiva, onde reside o poder, e que é presidida por José de Matos, com Nogueira Leite e Norberto Rosa como vice-presidentes. Em 2012, o governo aprova um plano de recapitalização, com a entrada de 900 milhões de euros em «instrumentos financeiros híbridos».
Faria de Oliveira
Presidente
PSD
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José de Matos
Vice-Presidente
PSD
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António Nogueira Leite
Vogal
PSD
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Norberto Rosa
Vogal
PSD
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Cabral dos Santos
Vogal
PSD
Rodolfo Lavrador
Vogal
PS
João Nuno Palma
Vogal
Nuno Fernandes Thomaz
Vogal
CDS
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Eduardo Paz Ferreira
Vogal
Pedro Rebelo de Sousa
Vogal
Álvaro Nascimento
Vogal
PSD
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2011
O BPN é vendido ao BIC por 40 milhões de euros, em Julho de 2011.
Os anos de 2012 e 2013 são marcados pelo «enorme aumento de impostos» de Vítor Gaspar.
Entre Novembro de 2011 e e Junho de 2013, a CGTP-IN convoca quatro greves gerais.
5 de Junho de 2011: o PSD e o CDS-PP regressam ao governo. Passos Coelho é primeiro-ministro, Paulo Portas é ministro dos Negócios Estrangeiros.
2013
2013-2015
Faria de Oliveira dá o lugar a Álvaro Nascimento, mas a comissão executiva continua a ser presidida por José de Matos. O CDS-PP sobe na hierarquia, com Nuno Fernandes Thomaz a ser nomeado vice-presidente da comissão executiva. Prossegue o plano de reestruturação, que leva à saída de milhares de trabalhadores e à redução da presença em Espanha.
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