3 de mai. de 2017

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, desafio em MS é manter a independência

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, desafio em MS é manter a independência

Relatos de ataques pessoais a jornalistas, intimidações e decisões judiciais abusivas são constantes no Estado

3 MAI 2017
Diana Christie
15h25min


Foto: André de Abreu/Arquivo
No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado nesta quarta-feira (3), os jornalistas em Mato Grosso do Sul ainda têm grandes desafios para garantir um trabalho independente e livre de censura. No Estado, são constantes os relatos de ataques pessoais a jornalistas, intimidações, decisões judiciais abusivas e violação ao direito de sigilo da fonte.
Para a presidente da SidJor-MS (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul), Marta Ferreira de Jesus, o principal desafio da profissão “é furar o bloqueio, normalmente alinhado à agenda do poder público”. 
“Hoje, os jornais, em um cenário de crise, são todos dependentes do capital financeiro seja do poder público seja da iniciativa privada, o que dificulta muito o campo de atuação. Soma-se a isso um público leitor pagante bastante reduzido, e, também, a falta da cultura de leitura mesmo”, aponta.
Abusos
Entre os casos recentes de abusos de poder, Marta destaca o fechamento temporário do blog do jornalista Nélio Raul Brandão, supostamente pelo crime de desobediência. “Aquilo foi um flagrante atentado à liberdade de imprensa. Entendemos que há limites e que as pessoas podem e devem procurar reparação legal de conteúdos que considerem ofensivos”.
O blog ficou fora do ar após ação proposta pela Associação Sul-Mato-Grossense dos Membros do Ministério Público. O TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) acatou o pedido da associação destacando, na decisão, que as matérias veiculadas no site ‘se distanciavam da real obrigação de informar a população’.
“Mas a própria decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a lei de imprensa vetou a possibilidade de censura, considerado o princípio da liberdade de expressão. O pedido dos promotores, acatado pela Justiça, feriou completamente esse princípio até por ter considerado como risco conteúdos ainda nem publicados”, contrapõe Marta.
Presidente do SidJor-MS, Marta Ferreira - Foto: Arquivo Pessoal
Violência
Não há registros recentes de violência física contra jornalistas em Mato Grosso do Sul, no entanto, o SindJor-MS acompanha denúncia de assédio e agressões verbais envolvendo um membro do governo estadual que está judicializada. O sindicato ainda publicou uma nota de repúdio a um profissional de comunicação que teria feito ataques pessoais a uma colega.
Além disso, na fronteira entre o Paraguai e o Brasil, duas pessoas ficaram feridas em uma atentado à Radio Amambay 570, situada na rua 14 de maio esquina com a avenida Cerro Leon, em Pedro Juan Caballero. Uma bomba do tipo granada foi lançada no telhado da emissora em 9 de setembro de 2016.
Com a explosão e o lançamento de estilhaços, a jornalista Patrícia Ayala e um entrevistado identificado como Raimundo Farina tiveram ferimentos leves, sendo encaminhados para uma clínica privada. A Policia Nacional de Amambay verificou o local a fim de determinar que tipo de bomba foi utilizada e encontrou dois projéteis do calibre ponto 50, que poderia ser um aviso do crime organizado aos proprietários do meio de comunicação.
Cenário nacional
A situação é crítica em todo o país. Em levantamento realizado pela organização RSF (Repórteres sem Fronteiras) em 180 países, o Brasil ocupa a posição de número 103 no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2017, apenas uma posição melhor do que no levantamento anterior.
A análise é focada na segurança dos profissionais e registra que, desde 2013, o número de agressões a jornalistas em manifestações vem aumentando. Em entrevista à Agência Brasil, o representante do RSF no Brasil, Artur Romeu, destaca que foram registrados mais de 300 casos de agressões a jornalistas entre junho de 2013 e dezembro de 2016.
Também há relatos de pressões institucionais, processos abusivos, falta de transparência pública, alta concentração dos meios de comunicação e até mesmo represália policial de pessoas insatisfeitas com denúncias feitas. Outro problema recorrente é o aumento de processos judiciais contra jornalistas e a quebra do sigilo da fonte.
Para piorar, nos últimos cinco anos, o Brasil passou a ser o segundo país que mais mata jornalistas e comunicadores na região, depois do México. Somente em 2016, foram registrados três assassinatos que tiveram relação confirmada com a atuação profissional. A RSF investiga mais quatro casos.
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