1 de dez. de 2019

“O estuprador é você”: música feminista contra violência percorre o mundo

Performance do "Um estuprador no seu caminho", marcha  feminista que surgiu no Chile (Foto: CLAUDIO REYES / AFP)
PERFORMANCE DO "UM ESTUPRADOR NO SEU CAMINHO", MARCHA FEMINISTA QUE SURGIU NO CHILE (FOTO: CLAUDIO REYES / AFP)

Feministas chilenas criaram a música e a divulgaram nas redes. Agora, mulheres vendadas de Bogotá à Paris entoam a canção. Veja a letra

“E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia”. O refrão determina bem contra o quê feministas chilenas cantavam no dia 25 de novembro, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. A música “Um estuprador no seu caminho” ganhou proporção dentro da conurbação social em que se encontra o Chile, onde as manifestações seguem há mais de 40 dias. Agora, a letra rompeu as dimensões do país e se transformou em uma ferramenta de protesto para mulheres mundo afora.
Cidade do México, Paris, Istambul, Londres, Madrid e demais cidades reúnem mulheres vendadas que cantam a letra com um entusiasmo enraivecido. Criada por quatro feministas do coletivo Las Tesis, a letra da música não teme em nomear algozes distintos das mulheres vítimas de violência: são os policiais, os juízes, os presidentes. O “homem estuprador” (ou “macho violador” em espanhol) é desmascarado: “o estuprador é você”, cantam.
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MULHERES PROTESTANDO COM A MÚSICA “UM ESTUPRADOR NO SEU CAMINHO” NA CIDADE DO MÉXICO. (FOTO: CLAUDIO CRUZ / AFP)
Os motivos para apontar culpados não poderiam ser diferentes: a cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio no mundo, segundo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2018. 58% delas foram assassinadas por conhecidos, companheiros e ex-parceiros ou demais familiares.
A América Latina desponta como o continente mais perigoso para se viver quando se é uma mulher – nascida ou não como tal, já que a população transgênero tem o Brasil, segundo a ONG Transgender Europe, como seu pior algoz.
Movimentos famosos latino-americanos, como o Ni Una Menos (Nem uma a menos), criado na Argentina em 2014, já encabeçaram a luta das mulheres pelo fim da violência de gênero na região. No contexto chileno atual, a disparada da violência, especialmente a policial, contra os protestantes já levou mais de 11 mil pessoas aos hospitais, segundo diz a organização Humans Rights Watch. Nesse contexto, estão mais de 71 denúncias de abuso sexual.
A letra faz também referência ao desaparecimento de protestantes, outro aspecto do escopo de violências no país. Em um dos casos mais noticiados, a ativista e artista de rua Daniela Carrasco, também conhecida como “Mimo”, desapareceu e foi encontrada enforcada em uma praça pública em Santiago. O corpo dela ficou amarrado a uma grade. Vizinhos de Carrasco denunciaram a atuação das forças policiais no caso, enquanto as autoridades trabalham com a tese de suicídio.
O impulsionamento da causa pelas redes sociais e o alcance da canção já fez com que o Las Tesis convocasse manifestações extraterritoriais e, também, disponibilizasse a base da canção para grupos feministas interessados. O intuito, segundo elas, é formar um material extenso de encontros formados.
“Estamos agradecidas por como a nossa intervenção ressoou em tantas pessoas. Por isso, adoraríamos ter o registro de todas as suas versões para incluir esse material em futuros trabalhos”, escreveu o grupo no Instagram.
Confira a letra traduzida e em espanhol da canção e, também, algumas das manifestações que ocorreram até agora:
Chile:

França:
Turquia:
Espanha:
México:
Inglaterra:
Alemanha:

“Un violador en tu camino” (Um estuprador no seu caminho)

El patriarcado es un juez, (O patriacado é um juiz)
que nos juzga por nacer (que nos julga ao nascer)
y nuestro castigo es (e nosso castigo é)
la violencia que no ves. (a violência que não se vê)
El patriarcado es un juez, (O patriarcado é um juiz)
que nos juzga por nacer (que nos julga ao nascer)
y nuestro castigo es (e nosso castigo é)
la violencia que ya ves. (a violência que já se vê)
Es feminicidio (É o feminicídio)
Impunidad para el asesino (Impunidade para o assassino)
Es la desaparición (É o desaparecimento)
Es la violación (É a violação)
Y la culpa no era mía, ni dónde estaba, ni cómo vestía (4x) (E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia)
El violador eras tú (2x) (O estuprador é você)
Son los pacos (policías) (São os policiais)
Los jueces (Os juízes)
El estado (O estado)
El presidente (O presidente)
El estado opresor es un macho violador (2x) (O estado opressor é um homem estuprador)
El violador eras tú (2x) (O estuprador é você)
Duerme tranquila niña inocente, (Dorme tranquila, menina inocente)
sin preocuparte del bandolero, (sem se preocupar com o bandido)
que por tus sueños dulce y sonriente (que os seus sonhos, doce e sorridente)
vela tu amante carabinero. (cuida seu querido carabinero (policial) – os quatro últimos versos foram retiradas de um canto da polícia chilena, uma forma de ironizar a letra da canção, segundo declararam as compositoras -)
El violador eres tú (4x) (O estuprador é você)

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