Este trabalho apresenta uma proposta de segmentação objetivando a definição de grupos homogêneos de trens turísticos, utilizando, como ferramenta, a análise de “cluster.
3. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS
A técnica da análise de cluster pressupõe a definição e quantificação de variáveis. Para efeito deste trabalho, optou-se em escolher aquelas que estivessem associadas à oferta local, como os atrativos turísticos do passeio, a infraestrutura urbana e as características do próprio sistema ferroviário, que foram denominados “fatores de atratividade” das ferrovias turísticas.
A figura abaixo demonstra os passos metodológicos para obtenção das variáveis respectivas a cada um destes fatores.
Embora grande parte destas variáveis pudesse ser obtida diretamente nos próprios sistemas ferroviários ou registros dos municípios, outras, associadas ao “fator de atratividade do passeio” tiveram que passar por uma adaptação, uma vez que representam características qualitativas. Partiu-se, então, para a coleta, nos registros disponíveis, de informações que melhor exprimissem este fator. Nestes termos, foram encontradas algumas classificações nacionais (EMBRATUR) e internacionais (BENI 2000) turísticas, só que para a área de transporte hidroviário. Após uma nova adaptação chegou-se a uma classificação própria para o sistema ferroviário turístico, descrita a seguir:
Trem do Pantanal - foto jm1.com.br |
CLUSTERS – UMA FERRAMENTA DE
SEGMENTAÇÃO PARA OS TRENS TURÍSTICOS BRASILEIROS
Engª Rosemberg de Oliveira Fernandes
Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/COOPE
RESUMO
Este trabalho
apresenta uma ferramenta para segmentação de trens turísticos – a “analise de
cluster” técnica multivariada que permite identificar entidades similares nas
características analisadas, importante para a definição de estratégias
competitivas de mercado e na formulação de modelos de previsão de demanda
específicos.
As variáveis
selecionadas para utilização na análise de “cluster” referem-se à atratividade
do passeio, às características internas do próprio sistema e sócio-econômicas
representativas do turismo da região receptora de viagens.
Como contribuição
complementar ao estudo, incluiu-se uma proposta de classificação para os trens
turísticos nacionais, necessária à identificação e coleta das variáveis
associadas à atratividade do passeio.
Das
ferrovias turísticas selecionadas para o estudo, em função da disponibilidade
de
informações por parte das operadoras, foram identificados quatro grandes grupos
ou “cluster” de ferrovias turísticas com características homogêneas. Percebe-se,
na análise dos resultados, uma estreita relação entre a demanda e as
características apresentadas, com ênfase não só nas características
sócioeconômicas do município, mas também na atratividade do próprio
passeio.
1.
INTRODUÇÃO
O turismo nacional vem crescendo vertiginosamente
nas últimas décadas. Pesquisas anuais realizadas pela Organização Mundial
do Turismo- OMT (1999) mostram que o Brasil ocupava, nesta época, a 290
posição no “ranking” internacional dos países mais visitados do mundo.
Os trens turísticos, parte
integrante desta indústria turística, ainda estão num processo inicial de
desenvolvimento. Apenas na última década, o serviço adquiriu uma gestão mais
comercial, preocupando-se em oferecer serviços complementares e em formar
parcerias que redundem em benefícios para todos os setores envolvidos. Este
crescimento também pode ser atribuído à recuperação econômica do período de
1996/2000, referente ao plano de ajuste do Governo Federal, conhecido como Plano
Real, ocorrido desde 1994, elevando e distribuindo a renda nacional, com
reflexos positivos em vários setores da sociedade, inclusive no turismo.
Embora toda esta gama de
características seja fundamental, o ponto mais importante de toda a estratégia
de desenvolvimento dos trens turísticos e condição básica para sua
competitividade residem no foco do negócio, em sua gestão voltada para o campo
turístico, em consonância com suas diretrizes. A adequada articulação entre os
setores de transporte e turístico é, portanto, condição essencial para que os
trens turísticos possam desempenhar seu papel multiplicador, ou seja, atrair
cada vez mais serviços e turistas nas regiões onde atuam.
A
análise do conjunto das características dos trens turísticos, entre os vários
segmentos nacionais que o compõe, auxilia na definição e estruturação do setor,
sendo importante para o direcionamento das políticas públicas de
turismo, beneficiando não só as empresas, mas, e, principalmente, melhorando a
qualidade do produto turístico nacional, o que, em outras palavras, significa
retorno em demanda e financeiro para o país e suas respectivas
regiões.
Se esta visão conjunta do setor apresenta benefícios, também a setorial ou segmentada é igualmente importante. Segmentar o setor pressupõe a identificação de grupos homogêneos e possuem vantagens, citadas por BENI (2000): como: as economias em escala para as empresas turísticas, aumento da concorrência, criação da política de preços e propaganda especializada, modelo de gestão e produtos prioritários, promoção de maior número de pesquisas científicas, dentre outras.
Além da contribuição mercadológica, o uso de segmentações também pode subsidiar o desenvolvimento de estudos específicos, como, por exemplo, os de demanda.Este trabalho apresenta uma proposta de segmentação objetivando a definição de grupos homogêneos de trens turísticos, utilizando, como ferramenta, a análise de “cluster.
2.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Dentre
as técnicas de análise multivariada, para a segmentação dos Trens Turísticos em
grupos ou conglomerados homogêneos, optou-se pela análise de
“cluster”.
Análise
de “cluster”
“Cluster
Analysis”
é a denominação de um grupo de técnicas multivariadas cujo principal
propósito é identificar entidades similares nas características que elas
possuem.
O propósito da
Análise de “Cluster é alocar objetos em grupos ou conglomerados sugeridos pelos
dados, não definidos a priori, tal que objetos em um dado “cluster tende a ser
similar a cada outro em algum sentido, e objetos em conglomerados diferentes
tendem a ser dissimilares.
“Cluster”
pode ser usado para revelar estruturas e relações na amostra. Segundo JOHNSON
et al (1994) é uma
ferramenta de prospecção de relações tanto entre variáveis como entre elementos.
É uma das poucas técnicas sistemáticas que podem ajudar a busca de similaridades
ou homogeneidade entre variáveis.
A técnica de análise de “cluster” foi
escolhida por simplificar o processo de segmentação, uma vez que não
exige a ponderação entre os indicadores selecionados, ou seja, não diferencia
variáveis relevantes das irrelevantes. Encontra os mais consistentes grupos de
objetos, ou seja, os mais similares, distintos através de todas as variáveis
utilizadas.
3. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS
A técnica da análise de cluster pressupõe a definição e quantificação de variáveis. Para efeito deste trabalho, optou-se em escolher aquelas que estivessem associadas à oferta local, como os atrativos turísticos do passeio, a infraestrutura urbana e as características do próprio sistema ferroviário, que foram denominados “fatores de atratividade” das ferrovias turísticas.
A figura abaixo demonstra os passos metodológicos para obtenção das variáveis respectivas a cada um destes fatores.
Figura 3.1 – Etapas Metodológicas da
Segmentação
Embora grande parte destas variáveis pudesse ser obtida diretamente nos próprios sistemas ferroviários ou registros dos municípios, outras, associadas ao “fator de atratividade do passeio” tiveram que passar por uma adaptação, uma vez que representam características qualitativas. Partiu-se, então, para a coleta, nos registros disponíveis, de informações que melhor exprimissem este fator. Nestes termos, foram encontradas algumas classificações nacionais (EMBRATUR) e internacionais (BENI 2000) turísticas, só que para a área de transporte hidroviário. Após uma nova adaptação chegou-se a uma classificação própria para o sistema ferroviário turístico, descrita a seguir:
4. CLASSIFICAÇÃO PROPOSTA PARA O SISTEMA TURÍSTICO
FERROVIÁRIO
São propostas, a seguir, seis
categorias para a classificação dos trens turísticos nacionais, provenientes de
classificações internacionais e nacionais, ligadas ao setor hidroviário, que
foram adaptadas ao setor ferroviário em consonância às características
operacionais e aos serviços turísticos oferecidos.
Cada uma das categorias é, por
sua vez, subdivida em subgrupos ou espécies. As categorias funcionam
matricialmente, isto é, cada trem turístico possuirá, necessariamente, pelo
menos uma espécie entre as categorias abaixo discriminadas:
I - Âmbito de Atuação -
refere-se à área de abrangência da viagem, sendo classificada pelo número de
unidade política que atravessa, quais sejam:
- Local (dentro de um único município).
- Intermunicipal (abrangendo mais de um Município)
- Interestadual (mais de um Estado)
- Internacional (trafegando entre países distintos)
II - Uso da Linha
Turística - a utilização da ferrovia para fins turísticos nem sempre é
exclusiva, podendo conviver com trens de carga ou de passageiros urbanos.
- Exclusivamente turística (apenas para o deslocamento de turistas). Operam em linhas exclusivas permitindo a existência de vários horários diários.
- Turística compartilhada (quando o uso turístico é alternado ao de passageiros em rotas comerciais ou com o transporte de carga). Neste caso, ainda que o uso não seja exclusivo, permite que se estabeleçam roteiros em função da grade horária destes serviços.
- Eventualmente turística (quando a operação também é compartilhada com outros sistemas, porém o uso para o turismo só ocorrem em épocas especiais, durante o ano). A circulação, neste caso, é predominantemente efetuada por outras categorias ferroviárias, de passageiros ou carga, mas permite, em determinadas ocasiões, o uso para o turismo.
III – Sistema de Propulsão -
refere-se ao uso predominante de uma formas de tração dos trens
turísticos brasileiros.
- Vapor – também chamada de “Maria-Fumaça”. São as mais antigas do sistema, por isso considerada de inegável valor histórico;
- Diesel – Utiliza derivado de petróleo.
- Elétrica – Cabos aéreos alimentam os trens. São as mais modernas do sistema.
IV - Categoria dos Trens -refere-se ao padrão de
conforto dos carros de passageiros.
- Convencional ou Standard (módulo turístico simples)
- Executivo ou Luxo (com alto padrão de conforto)
- Camarote ou Superluxo (quando uma área específica é destinada ao cliente)
V - Serviços Internos -
considera-se como serviço interno, tudo aquilo que é realizado ou
oferecido aos turistas no interior dos trens
- Serviço à Bordo – fornecimento de lanches e bebidas, vagão-restaurante
- Explanação – guias turísticos internos para apresentação da história da ferrovia e panorama externo;
- Recreação – atividades folclóricas, religiosas, recreadores infantis, dentre outros;
- Música Ambiente – sonorização interna ou apresentação de grupos musicais.
VI – Interação na Viagem
- nesta categoria os usos se diferenciam pela forma com que o turista interage
com os serviços, durante o passeio. Não se refere aos tipos, mas à forma com
que o turista se comporta durante a viagem. Se, de maneira pacífica, inercial ou
contemplativa ou de forma intensa, interagindo diretamente com os serviços
oferecidos, seja, internamente, ou externamente, afastado do sistema sobre
trilhos.
- Circuito ou Descoberta – é um roteiro no qual pode ser encaixada uma estada ou um circuito a partir de uma de suas estações. Nesta categoria o turista participa, durante a viagem, ativamente do meio externo, fora das imediações do sistema ferroviário.
- Turístico-Transporte – O turista, de maneira geral, permanece em atitude inercial ou contemplativa. Sua função principal é o deslocamento misto de passageiros e turistas, não havendo escalas intermediárias durante percurso, embora possam existir estações e paradas para embarque e desembarque, durante o trajeto.
- Temático Interno - Nesta categoria o turista interage de forma intensa no interior do trem, sendo a estação ferroviária seu raio máximo de ação. Acontece em função de uma animação ou de um tema sobre o qual se organiza a vida à bordo, como o trem musical, gastronômico, religioso, natalino, de saúde, dentre outros.
VII – Principal Atração
- esta categoria se refere ao tipo de atividades que podem ser oferecidas,
geralmente relacionadas aos atrativos locais das cidades onde estão inseridos os
trens turísticos. Muitos sistemas ofertam mais de um tipo de atividade, o que
deve ser adotado com cautela, sob pena de se perder o foco do negócio. Ainda
assim, mesmo quando são verificadas várias atividades, deverá ser evidenciado
qual delas predominará para efeitos de divulgação externa. É também chamada de
vocação da ferrovia.
- Cultural Histórica – considera-se o conjunto de construções e fazendas centenárias, pontes, túneis e viadutos históricos, incluindo-se, ainda, museus, trens e estações preservadas pelo patrimônio público.
- Cultural Contemporânea – sua função essencial é integrar todos os benefícios de uma viagem às atividades e serviços culturais do entorno. Percorre, geralmente, as zonas urbanas da cidade, onde se encontram restaurantes, centro culturais, comerciais, teatros, boates, podendo também acessar à parques de diversão, dentre outros.
- Ecológica – agrega uma série de locais naturais, com ou sem equipamentos receptivos, motivados pelo desejo e necessidade de fruição ou observação da natureza, sua fauna, flora, quedas d’água, relevo da paisagem e aspectos cênicos do entorno.
4.1 UMA SEGMENTAÇÃO PARA OS TRENS TURÍSTICOS
BRASILEIROS
A partir das
informações obtidas na classificação proposta para os trens turísticos foram
definidas as variáveis deste fator que serão utilizadas na
segmentação.
Embora esta nova classificação esteja em
consonância com a legislação turística, verificou-se, posteriormente, que
estes atributos deveriam ser agrupados de outra forma, voltados para as
características relativas do passeio, isto é, para aquilo que o turista valoriza
e que poderia interferir na divulgação da viagem a terceiros e, portanto, no
fluxo turístico ferroviário.
Desta forma chegou-se às
seguintes variáveis: Valor Histórico (VH), Valor Cultural (VC), Valor Ecológico
(VE) e Logística do Serviço (LS).
Para obtenção destas variáveis
foram utilizados os mesmos atributos obtidos na classificação proposta, sendo
atribuída a cada um deles uma pontuação. A forma de pontuação varia de acordo
com a variável. Em algumas delas, a presença de um atributo ou sua ausência
significa, respectivamente, valor 1(um) ou 0(zero). Em outras se pontua a
quantidade de atributos existentes, isto é, a quantidade de serviços
disponibilizados ao turista. Assim, quanto mais serviços maiores o número de
pontos obtidos.
Alguns atributos, por serem
demasiadamente genéricos, foram ainda subdivididos em características, tendo
sido a pontuação efetuada sobre elas.
4.1.1 VARIÁVEIS DE ATRATIVIDADE DO PASSEIO
Valor Histórico (VH) –
Dos atributos da classificação proposta, os que melhor configuram esta variável
são: sistema de propulsão a vapor e construções históricas e obras de arte
especiais, como, pontes, viadutos e túneis, desde que construídas em épocas
remotas.
Valor Cultural (VC) –
formado pelo atributo cultural-contemporâneo, que corresponde aos serviços
comerciais, culturais e gastronômicos que podem ser acessados pelos turistas,
bem como, pelas paisagens urbanas que podem ser contempladas durante a viagem,
ou seja, museus, restaurantes e demais estabelecimentos comerciais. Assim os
atributos selecionados para compor esta variável foram: acesso as áreas
culturais, comerciais e gastronômicas e paisagens urbanas.
Valor Ecológico (VE) –
Dos atributos da classificação proposta, os que melhor configuram esta variável
são: acesso às áreas naturais e paisagens fauna e flora e relevo observadas
durante a viagem.
Logística do Serviço (LS) –
formado pelos atributos da classificação que interferem positivamente na
viagem ou que agreguem valor ao serviço. São características e padrões cujos
operadores possuem maior controle. Relacionam-se às atividades internas
oferecidas (serviço à bordo, explanação, recreação e música ambiente), à
interação do turista durante o passeio (trem-temático), categoria dos trens
(convencional, luxo ou superluxo), uso da linha turística (exclusiva ou
compartilhada) e o âmbito de atuação (local, intermunicipal etc) da linha
turística.
Tabela
4.1.1.1
– Variáveis do Fator Atratividade do Passeio – Pontuação dos Trens
ATRIBUTOS
|
TRENS
TURÍSTICOS
| ||||||||||
A
|
B
|
C
|
D
|
E
|
F
|
G
|
H
|
I
|
J
|
K
| |
VH
= VALOR HISTÓRICO
| |||||||||||
Trem à Vapor |
1
|
1
|
0
|
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
1
|
Obras de Arte especiais |
0
|
0
|
1
|
0
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
Construções Históricas |
1
|
0
|
0
|
1
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
TOTAL
|
2
|
1
|
1
|
2
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
2
|
VC
= VALOR CULTURAL
| |||||||||||
Acesso áreas Culturais |
0
|
0
|
1
|
0
|
1
|
1
|
1
|
0
|
1
|
1
|
1
|
Acesso áreas Comerciais |
1
|
0
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
0
|
1
|
0
|
1
|
Acesso áreas Gastronômicas |
1
|
0
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
1
|
Paisagens Urbanas |
0
|
0
|
1
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
0
|
TOTAL
|
2
|
0
|
2
|
0
|
4
|
4
|
4
|
2
|
4
|
1
|
3
|
VE
= VALOR ECOLÓGICO
| |||||||||||
Acesso às Áreas Naturais |
0
|
1
|
1
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
1
|
0
|
Paisagens Flora-Fauna |
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
1
|
1
|
Paisagens Relevo |
0
|
0
|
1
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
TOTAL
|
1
|
2
|
3
|
1
|
3
|
3
|
3
|
3
|
0
|
2
|
1
|
LS
= LOGÍSTICA SERVIÇO
| |||||||||||
Âmbito Atuação(Local) |
2
|
1
|
2
|
2
|
0
|
0
|
1
|
2
|
2
|
2
|
2
|
Uso da Linha Exclusiva |
0
|
0
|
1
|
1
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
Categoria do Trem (Luxo ou Superluxo) |
1
|
0
|
1
|
0
|
2
|
2
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
Serviço à Bordo |
1
|
1
|
0
|
0
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
Explanação |
0
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
Recreação |
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
1
|
0
|
Música Ambiente |
1
|
0
|
0
|
0
|
1
|
1
|
1
|
1
|
0
|
0
|
0
|
Trem-Temático |
1
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
TOTAL
|
7
|
1
|
2
|
2
|
5
|
5
|
4
|
4
|
1
|
2
|
1
|
Trens
Turísticos selecionados:
A – Bento
Gonçalves B – Tubarão C – Corcovado D –
Campinas
E – Litorina
Curitiba F – Trem Curitiba G –Pindamongangaba/Campos
Jordão
H – C.Jordão/S. A
Pinhal I – C.Jordão/Abernéssia
J –
Pindamonhangaba/Reino Águas Claras K – São João Del Rey
4.1.2 VARIÁVEIS INTERNAS DO SISTEMA DE TRANSPORTE
FERROVIÁRIO TURÍSTICO
Outro fator relativo à demanda turística
ferroviária refere-se às variáveis internas do sistema. Estas variáveis foram
obtidas a partir de dados operacionais para o ano de 2000, coletados junto
às operadoras de trens turísticos. Considerando-se que muitas informações
não puderam ser obtidas pela inexistência das mesmas em alguns sistemas, foram
selecionadas apenas três que estão, diretamente, associadas aos fluxos
turísticos. São elas:
- Passageiros transportados – total de passageiros transportados pelo sistema durante o ano. Esta variável poderia ter sido a única selecionada para a segmentação entre os trens turísticos, porém, como se acredita que outros fatores também contribuem para a composição da demanda turística ferroviária, foram selecionados uma série de outras variáveis associadas ao tema em questão. A inclusão desta variável serve de parâmetro para as demais, inclusive de outros fatores.
- Tarifa –. Sendo a viagem um movimento entre dois pontos, verifica-se que a demanda turística depende tanto das características relativas a estes dois pontos quanto do custo deste movimento Considerando-se que, em alguns sistemas, existem tarifas diferenciadas por tipo de viagem, percurso, composição etária, para simplificação deste estudo, optou-se pela maior tarifa praticada no ano, no percurso de ida, para representar esta variável.
Tabela
4.1.2.1
– Variáveis Internas dos Trens Turísticos – Ano 2000
SISTEMAS
|
Pass
Transp. (ano)
|
Tarifa
(R$)
|
Bento
Gonçalves
|
81.347
|
20,00
|
Tubarão
|
4.531
|
5,00
|
Corcovado
|
377.716
|
20,00
|
Campinas
|
54.491
|
16,00
|
Litorina
Curitiba
|
21.919
|
70,00
|
Trem
Curitiba
|
115.075
|
43,00
|
Pindam./C
Jordão
|
11.137
|
30,00
|
C.Jordão/SAP
|
43.760
|
20,00
|
C.Jordão/Abernéssia
|
33.670
|
5,00
|
Pindamongangaba/RAC
|
10.298
|
4,00
|
S.João
Del Rey
|
49.434
|
10,00
|
4.1.3 VARIÁVEIS
SOCIOECONÔMICAS DO MUNICÍPIO
O terceiro fator que se acredita estar
associada à demanda ferroviária turística refere-se às características
sócio-econômicas dos municípios nos quais estão inseridos estes sistemas.
RABAHY (1990) aponta a
existência de certa correlação entre o tamanho das cidades e o número de
turistas. A força de atração de uma cidade está associada, dentre outros
fatores, à sua infraestrutura urbana e turística e se comporta como fonte
geradora de fluxos a todos os atrativos nela instalados.
Para BENI (2000) a demanda de
uma atividade turística particular, ligada a certa distribuição no espaço (como
os trens turísticos), é derivada da demanda turística final. Esta demanda final
é composta, por sua vez, do somatório das demandas das atividades e equipamentos
instalados, como alojamentos, equipamentos de alimentação, de animação, dos
recursos naturais, culturais.
Desta forma, a composição dos
aspectos sócio-econômicos do município, onde estão inseridas as ferrovias
turísticas, pode ser expressa pelas seguintes variáveis:
- Variáveis da Infraestrutura
Turística
- Número de Hotéis (NHOT)
- Número de Restaurantes (NREST)
- Número de Museus (NMUS)
A fonte utilizada neste subgrupo GUIA
QUATRO RODAS BRASIL/2000, embora não represente a totalidade dos dados de uma
cidade, possui critérios próprios. Como a base utilizada foi a mesma para todos
os municípios, as eventuais falhas existentes são compensadas mutuamente.
- Variáveis da Infraestrutura Urbana (dados obtidos nos Anuários
Estatísticos Municipais 1998 - IBGE)
- Energia Comercial (ECO) - consumo de energia elétrica comercial no Município
- Energia Total (ETO) – consumo de energia total no Município (comercial, residencial, industrial e outras)
Embora uma série de variáveis componha este
fator, foram selecionadas, neste trabalho, apenas aquelas disponíveis para todos
os sistemas de trens turísticos, expressas com seus respectivos valores na
tabela 4.6.
Tabela
4.1.3.1
– Variáveis Socioeconômicas dos Municípios dos Trens Turísticos
SISTEMAS
|
NHOT
(*)
|
NREST
(*)
(No) |
NMUS
(*)
(No) |
ECO
(**)
(MWh) |
ETOT
(**)
(MWh) |
Bento
Gonçalves
|
17
|
4
|
1
|
15.565
|
168.339
|
Tubarão
|
5
|
2
|
1
|
16.309
|
141.589
|
Corcovado
|
97
|
157
|
77
|
3.406.808
|
13.386.636
|
Campinas
|
24
|
19
|
8
|
351.360
|
1.567.185
|
Litorina
Curitiba
|
58
|
59
|
18
|
533.934
|
2.324.386
|
Trem
Curitiba
|
58
|
59
|
18
|
533.934
|
2.324.386
|
Pindam./C
Jordão
|
3
|
1
|
1
|
13.558
|
762.676
|
C.Jordão/SAP
|
46
|
16
|
2
|
21.400
|
59.970
|
C.Jordão/Abernéssia
|
46
|
16
|
2
|
21.400
|
59.970
|
Pindamongangaba/RAC
|
3
|
1
|
1
|
13.558
|
762.676
|
S.João
Del Rey
|
23
|
4
|
7
|
10.344
|
69.340
|
(*)
Dados Guia 4 Rodas (2000)
(**)Dados
IBGE – Anuários Estatísticos Municipais (1998)
5. SEGMENTAÇÃO DO SETOR
Uma vez compiladas todas as variáveis relativas
à demanda turística ferroviária, referentes aos fatores de atratividade
do passeio, internas do sistema e sócio-econômicas dos municípios onde estão
inseridas as ferrovias, se dará prosseguimento à metodologia deste trabalho,
passando para a segmentação dos trens.
5.1 TRATAMENTOS DOS DADOS UTILIZADOS NA ANÁLISE DE
CLUSTER
As variáveis utilizadas
possuem diferentes unidades, por exemplo: tarifa, número de hotéis, dentre
outros. Para que as variáveis possam ser mais bem comparadas entre si, e que
nenhuma exerça maior influência no resultado final do “cluster”, devido a sua
maior escala, elas foram transformados em índices, cujos valores variam entre 0
e 1. A fórmula geral para a construção destes índices é:
Índice= (valor observado – pior valor) / (melhor valor
– pior valor)
Onde o melhor valor
correspondente ao resultado observado para um trem turístico que obteve o nível
mais satisfatório para o indicador em relação aos demais, recebe índice
1(um).
O pior valor correspondente ao
resultado observado para o trem turístico que obteve o nível menos satisfatório
para o indicador em relação aos demais, logo este trem turístico receberá índice
zero (0) para este indicador.
Em seguida é investigado o
grau de correlação entre os indicadores transformados, na tentativa de eliminar
os indicadores que apresentam altas correlações, uma vez que o grau de
explicação desses, já estaria sendo resumido por outro indicador. As variáveis
de consumo de energia elétrica, número de hotéis e restaurantes foram retiradas
do estudo.
Tabela 5.1.1 - Matriz de correlação entre as variáveis do
estudo
| |||||||||||
NHOT
|
NREST
|
NMUS
|
ECO
|
ETO
|
TAR
|
PAX
|
VH
|
VC
|
VE
|
LS
| |
NHOT
|
1,00 | ||||||||||
NREST
|
0,90 | 1,00 | |||||||||
NMUS
|
0,82 | 0,98 | 1,00 | ||||||||
ECO
|
0,79 | 0,96 | 0,99 | 1,00 | |||||||
ETO
|
0,76 | 0,95 | 0,99 | 1,00 | 1,00 | ||||||
TAR
|
0,38 | 0,34 | 0,19 | 0,13 | 0,13 | 1,00 | |||||
PAX
|
0,78 | 0,91 | 0,95 | 0,94 | 0,96 | 0,02 | 1,00 | ||||
VH
|
-0,29 | -0,30 | -0,20 | -0,21 | -0,23 | -0,24 | -0,07 | 1,00 | |||
VC
|
0,33 | 0,15 | 0,05 | -0,02 | -0,02 | 0,53 | 0,00 | -0,29 | 1,00 | ||
VE
|
0,33 | 0,45 | 0,39 | 0,37 | 0,40 | 0,60 | 0,27 | -0,59 | 0,17 | 1,00 | |
LS
|
0,07 | 0,02 | -0,09 | -0,10 | -0,09 | 0,62 | -0,02 | 0,08 | 0,34 | 0,36 | 1,00 |
OBS:
As variáveis em negrito foram retiradas da análise de cluster devido à alta
correlação com alguma(s) outra(s)
variáveis.
|
- RESULTADO DA SEGMENTAÇÃO
O
dendograma a seguir, da figura 4.3, foi obtido com os resultados das variáveis
finais, após teste de
correlação das variáveis. Neste caso, observa-se que dois grandes conglomerados
distintos foram formados (A e B). O grupo A, por sua vez, originou, os grupos A1
e A2 e, este último, os subgrupos A21 e A22. O grupo B deu origem aos grupos B1
e B2. Alguns outros subgrupos ainda poderiam ser identificados, porém, para esta
análise, optou-se em restringir o número de “clusters” aos principais grupos, a
saber: grupo 1 (A1); grupo 2 (A21), grupo 3 (A22) e grupo 4 (B1 e
B2).
Figura 4.3 –
Dendograma dos Trens Turísticos
6. COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES
A segmentação dos trens turísticos mostrou-se uma
importante ferramenta na análise do setor. As comparações estabelecidas, através
de similaridades e divergências entre os sistemas, permitem que sejam
evidenciadas características próprias, comuns aos segmentos, úteis para a
elaboração de estratégias de concorrência de mercado, bem como, para futura
elaboração de modelos de previsão de demanda mais específicos.
A crescente utilização da análise de
cluster, em várias áreas como, na biologia, medicina, marketing, pode estar
associada, dentre outros fatores, às vantagens provenientes do esquema de
classificação resultante do método, bem como, à facilidade de se agruparem
diferentes elementos sem a necessidade de se estabelecerem relações de
dependência entre eles. A classificação, ao limitar o número de variáveis em
cada extrato, também denominados de nichos de mercado, facilita a observação,
manipulação e controle das mesmas.
A
técnica de segmentação selecionada, análise de cluster, evidenciou, através da
construção gráfica denominada de dendograma, quatro grupos (conglomerados) de
trens turísticos, diferenciados em função das características socioeconômicas
dos municípios onde estão inseridos (no de hotéis e consumo de energia
comercial), da atratividade do passeio (valor histórico, cultural, ecológico e
logística dos serviços) e dos aspectos internos dos sistemas (passageiros
transportados e tarifa), fatores estes estabelecidos nos objetivos deste
trabalho. Das diversas variáveis selecionadas para a composição destes três
fatores, algumas foram descartadas pela alta correlação apresentada. A análise
dos resultados, a seguir, representa, dentro de cada grupo, os aspectos mais
significativos que servem para caracterizar as potencialidades de cada um destes
clusters.
O
primeiro conglomerado, chamado de cultural contemporâneo, é composto somente
pelo trem do Corcovado. Este sistema se destaca não só em termos de demanda,
como também, em relação às expressivas características socioeconômicas do
município do Rio de Janeiro, no qual está inserido. Este posicionamento permite
o desenvolvimento de outras atividades através de parcerias, como por exemplo,
em projetos de integração com os bondes de Santa Teresa, repercutindo, por
conseguinte, na cadeia logística do setor turístico do município.
O
segundo cluster, chamado ecológico, é composto por dois subgrupos, um formado
pelos trens de Campos do Jordão/Sto Antônio do Pinhal e Pindamonhangaba/Campos
do Jordão; e outro pelo Trem e Litorina de Curitiba. As características mais
importantes deste conglomerado referem-se à atratividade do passeio, possuindo
elevado valor ecológico, histórico, cultural e logística dos serviços. Também
são significativas as variáveis socioeconômicas dos municípios onde estão
inseridos, principalmente em relação ao número de hotéis. Quanto às
características internas verifica-se que os trens que possuem menor tarifa são
mais expressivos em relação à demanda. Entretanto, quando as características
socioeconômicas são diferentes, como número de hotéis, o volume de passageiros
transportados também se altera. Assim, para este conglomerado, passam a ser
consideradas variáveis relevantes a tarifa, o no de hotéis e os atrativos do
passeio. Como estratégia de mercado o aproveitamento destes recursos naturais,
poderia contribuir de forma consciente e adequada à sua perpetuação e a
manutenção do bem estar humano, através do emprego de atividades ecoturísticas
em áreas potencialmente aptas para tal, sempre levando em consideração o correto
planejamento e manejo dessas áreas.
O
terceiro grupo, chamado cultural histórico e contemporâneo, é formado também por
dois subgrupos, a saber: um representando por Campos do Jordão/Abernéssia e
outro composto pelos trens de Pindamonhangaba/Reino das Águas Claras e Tubarão.
Se os outros conglomerados, já citados, podiam ser caracterizados como altamente
produtivos e com uma variedade de atrativos, este reuniu os sistemas de baixa
demanda, logística, reduzida atratividade do passeio e pouca significância em
relação às características municipais. Mesmo com baixas tarifas, os volumes de
passageiros transportados são os menores entre todos os sistemas. Verifica-se,
no entanto, que segmentos, mesmo que localizados em cidades de médio porte, mas
que apresentam infraestrutura hoteleira significativa, assim como, maior número
de atividades (culturais, ecológicas), produzem melhores resultados em termos de
demanda. Assim, passam a serem expressivas, neste grupo, as variáveis
relacionadas aos atrativos do passeio, incluindo a logística dos serviços, assim
como, o número de hotéis. Neste grupo de operação eventual, a estratégia de
mercado deveria se concentrar na divulgação e promoção do calendário de eventos
dos municípios envolvidos.
O
quarto e último grupo, chamado de cultural histórico, é diferenciado de todos os
demais, principalmente, por seu expressivo valor histórico. É formado por dois
subgrupos: um composto pelo trem de Campinas e o outro pelos sistemas de Bento
Gonçalves e S.João Del Rey. Embora as características municipais (hotéis e
consumo de energia),não sejam tão significativas como as dos 1o e 2o
conglomerados, são suficientes para justificar os expressivos números de
passageiros transportados. Isto porque souberam associar esta infraestrutura aos
atrativos do passeio. Como exemplo, cita-se Bento Gonçalves, 3o em número de
passageiros, entre todos os trens turísticos estudados, que além de suas
características históricas, reúne as culturais, ecológicas com a melhor
logística entre todos os demais trens. A tarifa, embora importante
economicamente, nestes sistemas torna-se menos significativa. Prova disto são os
valores superiores cobrados por Bento Gonçalves, mostrando a relação que existe
entre esta e a qualidade oferecida. Assim, considera-se relevante para estes
segmentos a variável relacionada aos atrativos do passeio e à logística dos
serviços. A estratégia competitiva deveria ter como finalidade, neste grupo, a
promoção de valores históricos regionais utilizando a ferrovia como meio de
transporte e atrativo histórico cultural vivo, um trem temático histórico.
BIBLIOGRÁFIA
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VALENTIN,J.L;
2000, Ecologia
Numérica: uma introdução à analise multivariada de dados: 1 ed. Rio de
Janeiro, Interciência Ltda.
Artigo reproduzido na íntegra do portal www.aenfer.com.br Associação dos Engenheiros Ferroviários
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