“Pátria Amada do Brasil,/ De quem és mãe gentil?/ Eu insisto em perguntar: /Dos famintos das favelas, / Ou dos que desviam verbas/ Pra champagne e caviar?” Essa é um estrofe da canção “Procissão dos Retirantes”, de Pedro Munhoz, vencedora do 1º Festival da Reforma Agrária, realizado pelo MST em 1999, em Palmeira das Missões (RS). Dezessete anos depois, o movimento decide lançar o Festival Nacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária, de 20 a 24 de julho, em Belo Horizonte (MG).
A decisão de ampliar o festival decorre das discussões do Coletivo Nacional de Cultura junto ao MST, compreendendo que o cultivo da vida, da resistência e da luta pela terra fez brotar manifestações artísticas das mais variadas linguagens.
Dentre elas, a poesia se destaca. Segundo Luana Silva, militante do Coletivo Nacional de Cultura, “não há um rincão deste país, um assentamento ou acampamento, em que não se produzam poemas, em que a palavra não seja utilizada em versos como barricadas”.
Pão e poesia
Ela ressalta que os poemas são, junto com as músicas, parte das místicas e do dia a dia da organização. “Na rotina de reuniões diárias dentro do movimento, as poesias são tão comuns como o café na mesa dos mineiros. Elas abrem e fecham discussões, animam nossa ação, denunciam e criticam momentos, processos, recontam a história... Por isso, essa prática precisa ser valorizada”, explica Luana.
Da Mostra, serão selecionados 60 poemas para integrar um livro, que serão recitados durante o Festival Nacional. Já o Festival de Música selecionará 40 canções inéditas, que serão apresentadas no evento. Desta, 20 farão parte de um CD e um DVD, que será gravado durante as apresentações na capital de Minas Gerais.
Segundo o regulamento, para se inscrever é preciso apenas que as poesias e canções tenham relação com a realidade do movimento e temas da atualidade, como a reforma agrária, a democracia, a produção, a violência no campo e a busca por justiça. E como já disse o poeta:
“Há momentos na história
Em que todas as vitórias
Parecem fugir da gente
Mas vence quem não desanima
E busca em sua auto-estima
A força pra ser persistente
Regando o deserto da consciência
Um novo ser nasceu,
É hora de ir em frente companheira e companheiro
Vocês são os guerrilheiros
Que a história nos deu.”
Festival Nacional
Popularizar a pauta
O Festival Nacional será um grande convite à sociedade para conhecer de perto o movimento. O evento surge da necessidade de popularizar a pauta da Reforma Agrária, para que as cidades entendam a importância da democratização das terras na produção de alimentos saudáveis, além de contrapor a difamação que a mídia pratica sobre o MST e o ódio que se alastra como epidemia na atual conjuntura.
Serão atrações variadas, como a instalação de um acampamento de lona preta para visitação no centro de Belo Horizonte, a mostra de vídeos e artes plásticas, debates, shows e personalidades convidadas nacionais e internacionais.
A Feira da Reforma Agrária também trará mais de 200 toneladas de produtos das áreas do movimento, tanto “in natura”, quanto agroindustrializados. A Feira Gastronômica terá os pratos típicos de todas as regiões brasileiras, como pato no tucupi, bode assado, arroz com pequi, churrasco, o tradicional tropeiro mineiro, entre outros.
Assim, os participantes terão oportunidade de vivenciar a cultura da luta pela terra e toda riqueza do campo brasileiro. “Não queremos que seja um festival do MST, queremos que seja um festival dos povos deste país”, afirmou Ênio Bohnenberger, da Coordenação Nacional.
Fonte: MST-MG
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