Natureza e tecnologia em parceria para a produção de fármacos
Publicado em 28/09/2017
Como a biodiversidade brasileira pode contribuir para a produção de fármacos? Para construir essa relação, os pesquisadores Spartaco Astolfi, professor e pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Eliezer Jesus Barreiro, Acadêmico e químico do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ), Letícia Lotufo, pesquisadora do Departamento de Farmacologia da Universidade de São Paulo (USP) e o professor e pesquisador Norberto Peporine Lopes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP, foram convidados a compor o debate sobre a função da biotecnologia e da química na relação com a diversidade biológica.
Guaraná amazônico: genoma complexo e grande potencial comercial

O biólogo defendeu também a importância do uso da biotecnologia para criar alternativas para a utilização da biodiversidade e apresentou a pesquisa realizada pela Rede da Amazônia Legal de Pesquisas Genômicas (REALGENE) sobre a análise genômica do guaraná, planta domesticada pelos indígenas. O estudo mostrou que o guaranazeiro tem um genoma 3 vezes maior que o humano, 210 cromossomos. “Por causa da grande complexidade do genoma, o trabalho se concentrou em identificar os genes ativos no fruto e na semente dessa planta, local de onde se produz o extrato que possui várias propriedades medicinais”, explicou. Descobriram, dentre outros, os genes responsáveis pela síntese de alcaloides e flavonoides, substâncias antioxidantes responsáveis por algumas de suas maravilhosas propriedades medicinais. Além disso, como tem sido comum em análises genômicas já realizadas em diversas espécies, identificaram também inúmeras sequências gênicas ainda desconhecidas.
Astolfi salientou a importância de se estudar a biodiversidade em nível molecular. “Isto sem dúvida levará a descoberta de novas moléculas e novos genes que terão importantes aplicações biotecnológicas.” “Conservar é preciso pois a cada espécie extinta milhares de genes se perderão e nunca serão conhecidos”, arrematou o biólogo.
Resposta vinda do mar

A pesquisa mais recente da bióloga analisa como a seriniquinona, composto presente em uma bactéria marinha, pode se ligar à proteína responsável pela sobrevivência da célula cancerígena, chamada dermicidina. Com pouco conhecimento já existente sobre a dermicidina, a intenção do grupo é averiguar como é possível converter o composto da bactéria marinha em substância anti-câncer, que seria usada principalmente para o câncer de pele, uma vez que a dermicidina é mais presente em células da epiderme.
Fármacos e produtos naturais

O farmacêutico foi um dos responsáveis pela descoberta da caramboxina, uma neurotoxina presente na composição da carambola. O grupo responsável pelo estudo percebeu que, em pacientes saudáveis, a substância é eliminada pela urina, mas em pessoas com problemas renais, ela segue para a corrente sanguínea, chegando ao sistema nervoso e causando efeitos como soluços, convulsões, confusão mental e até mesmo morte. A substância aparece em baixa quantidade na fruta, mas os pesquisadores ressaltaram a recomendação de moderação no consumo. Com este conhecimento, o grupo terá um novo material para pesquisar a produção de substâncias antagonistas para a toxina ou novos indutores para estudos de epilepsia.
Produzindo química

O pesquisador vê na biodiversidade brasileira uma espécie de “fonte de inspiração molecular”. A união da química de produtos naturais com a química medicinal permite que a segunda se baseie em moléculas encontradas na natureza para produzir outras, com as funções necessárias. Desta forma, são produzidas substâncias para combater doenças que não são encontradas diretamente no ambiente natural. “É como se química medicinal ‘domesticasse’ as moléculas ‘selvagens’ da mãe natureza”, comparou Barreiro.
http://www.abc.org.br/centenario/?Natureza-e-tecnologia-em-parceria-para-a-producao-de-farmacos
(Thaís Soares para NABC)
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