Conceição Evaristo é homenageada em cerveja feminista

“Nos últimos 10 anos, apenas 1% da publicidade de cerveja não tinha peito ou bunda”, segundo pesquisa feita pela Cervejaria Feminista.

Mulher não só bebe cerveja, mas também produz. Cinco mulheres se reuniram no Rio de Janeiro, fizeram um curso de produção de cerveja artesanal e, há seis meses, inauguraram a Cervejaria Feminista. Segundo Maria Antônia Goulart, uma das produtoras, a cerveja é um “disparador de discussão” e a cada edição uma mulher é homenageada no rótulo.
Na segunda edição, Conceição Evaristo foi a grande homenageada e sua imagem está em 2 mil unidades de Cerveja Feminista. Conceição escolheu uma cerveja de trigo e mais adocicada. “Não é somente a cerveja pela cerveja. O primeiro objetivo é homenagear mulheres. Pra mim é uma oportunidade de juntar lazer com leitura, porque uma situação não exclui a outra”, contou Conceição.
Maria Antônia justificou a escolha da escritora mineira, “A Conceição Evaristo, que é o segundo rótulo que a gente tá fazendo, tem uma trajetória muito interessante. Ela vem de uma família de origem popular, a mãe dela era lavadeira. Sendo negra e filha de uma mulher negra, Conceição rompe quando assume a literatura como uma possibilidade de se expressar, que não era permitida para pessoas na condição dela. Ela traz essa luta porque a literatura ainda é muito negada para mulheres negras. Temos poucas escritoras negras reconhecidas. A ideia da cerveja é trazer esse tipo de discussão. A gente produz a cerveja e ainda problematiza”. A Cerveja em homenagem a Conceição Evaristo não é vendida no mercado, mas pode ser encontrada em eventos ligados à temática feminista.

A Cervejaria Feminista foi lançada com o rótulo da Maria Prestes, que participou do movimento comunista brasileiro e é viúva de Luís Carlos Prestes. “Quando ela conheceu o Prestes, ela já era uma liderança importante dentro do partido comunista, mas depois que se casou com ele, a associam apenas como viúva do Prestes. Colocam a mulher sempre em um segundo papel, mesmo quando ela tem um protagonismo, a sociedade tende a reduzi-la, para que fique como um acessório”, disse a representante da marca.
A iniciativa pretende criar outra possibilidade para as mulheres se relacionarem com a cerveja. “A gente fez um levantamento e descobrimos que nos últimos 10 anos, em toda publicidade de cerveja menos de 1% não tem peito ou bunda. A própria forma que a cerveja é vendida junto com o corpo da mulher como se ele fosse parte do pacote. Os homens pautam todo o processo relacionado à cerveja e entendem que a mulher também é um produto a ser consumido. Se não tem mulher dentro do processo como você vai pautar outra forma de vender o produto?”, questionou Maria Antônia. São cinco mulheres feministas que gostam de beber e contaram que a principal motivação para criar a cervejaria foi o incômodo com a publicidade.
Maria Antônia contou que no primeiro curso de cerveja que fizeram foram muito hostilizadas, primeiro por serem mulheres e segundo pelo nome da cervejaria. “É quase que um xingamento para o homem a mulher ser feminista. Entramos em universo extremamente masculino, que é o de produção de cerveja, e temos esse enfrentamento”, concluiu ela.

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