13 de fev. de 2018

Globo fez com Vandré em 68 o que faz hoje com Tuiuti - Editor - UMA VEZ GOLPISTA, GOLPISTA ATÉ MORRER.. NINGUÉM, MAS NINGUÉM MESMO É DONO DO BRASIL. O BRASIL É DO POVO BRASILEIRO, QUE JÁ MOSTRA A INSATISFAÇÃO E EXIGE A VOLTA DA DEMOCRACIA, SEM CASUÍSMOS.



Globo fez com Vandré em 68 o que faz hoje com Tuiuti





Creio que a palavra “Boicote” é a melhor forma de definir os minúsculos segundos assegurados pelo Jornal Nacional ao desfile da Escola Paraíso do Tuiti, desde já a grande vitoriosa do carnaval carioca de 2018.
 Num país onde as instituições políticas se encontram esfrangalhadas -- situação para a qual a Globo deu uma contribuição notória e insubstituível -- a Escola não só apresentou  boa qualidade técnica e inegável originalidade. Também fez aquilo que se espera da boa arte popular – colocar o dedo na ferida dos problemas que incomodam a vida do povo.
Para resumir: se o tema eram os 130 anos de Abolição da Escravatura, a conclusão do desfile era uma denuncia do governo Temer e o retrocesso em estilo pré-13 de maio de 1888 no qual o país foi colocado. Simples, direto, exagerado e divertido – como convém a todo desfile de Escola de Samba, vamos combinar.
 Ao minimizar a participação da Paraíso do Tuiti, privilegiando apresentações convencionais, cujo maior destaque eram novidades de sempre em torno de celebridades homenageadas, a Globo repetiu um piores momentos de sua história cultural.  
Estou falando do Festival Internacional da Canção, realizado em 1968, em plena ditadura militar, excrescência que a Globo apoiou até o final. Na conjuntura de opressão e violência do período – o golpe dentro do golpe do AI-5 iria ocorreu no final do mesmo ano -- a música Caminhando, de Geraldo Vandré, dava voz e alma a uma juventude que não se rendia.
Logo adotada pela platéia que transformou os festivais num ambiente de protesto político -- normal em toda ditadura, como sabemos -- Caminhando também chamou a atenção do regime militar.
Conforme o executivo Walter Clark revelou ao jornalista Gabriel Priolli, o general Sizeno Sarmento, porta-voz da linha mais dura dos quartéis, comandante do I Exército, exigiu que a música de Vandré fosse vetada. Não poderia ganhar o primeiro lugar de forma nenhuma -- determinou. 
O final todos conhecem. Nascida e amamentada pela aliança com a ditadura, a Globo, que era a organizadora do Festival, ajoelhou-se. Enquanto a juventude e os trabalhadores resistiam e lutavam, ela abria o caminho para uma fase mais cruel do regime. 
Caminhando ficou em segundo lugar, resultado que produziu uma das mais longas e vergonhosas vaias da história do Rio de Janeiro mas ajudou a emissora a consolidar seu prestígio político único entre a cúpula militar.
Quarenta anos depois, terá havido algum telefonema do Planalto para a Venus Platinada, em nome de uma reaproximação com o Vampiro da avenida, há pouco realizada? Quem sabe?
Sabemos outra coisa. Ao tentar transformar o desfile da Paraíso do Tuiti num asterisco do carnaval 2018, a Globo repete os piores momentos de sua história. Como todos já aprenderam em bons livros, há uma diferença essencial. Há 40 anos, o país vivia sob a tragédia de uma ditadura.
Em 2018, o que se assiste é uma farsa, na qual a Globo não apenas apoia o governo, mas funciona como o Big Brother de um projeto de estado de exceção.
Neste ambiente, a emissora age responsável pela novilíngua dos nossos tempos. Essa noção, criada pelo escritos britânico George Orwell, para denunciar o universo cultural do nazismo e do stalinismo, procura submeter a sociedade pela inversão de significados e sentidos nas coisas. Assim, Mentira vira verdade, Corrupção vira Honestidade,  Alegria é Depressão, Jornalismo é Fraude e Carnaval, Manipulação. O boicote a Paraíso do Tuiti é isso. 
Ao colocar-se nessa posição, o jornalismo da Globo se encaixa na crítica que, 30 anos atrás, o teatrólogo Arthur Miller, um dos mais respeitados do século XX, fez ao poder da imprensa norte-americana sobre o teatro de seu país.
Vamos acompanhar o raciocínio, que se encaixa muito bem neste debate sobre a TV brasileira: “em amplíssima medida, o teatro que temos é o teatro que os críticos permitiram que tivéssemos, posto que filtram e depuram o que segundo eles não devemos ver, aplicando leis jamais escritas, leis, entre outras, do gosto até do conteúdo ideológico”.  
Em outra passagem, Miller define a situação em termos diretos: “temos uma ditadura tão eficaz como qualquer dos mecanismos de controle cultural que existe hoje no mundo.”
Autor de ideias progressistas e posturas corajosas ao longo da vida, embora tenha se tornado mundialmente conhecido  pelo casamento com Marilyn Monroe, Miller escreveu também que “o monopólio não é só uma enfermidade, mas uma enfermidade perniciosa”.  
Alguma dúvida?  
https://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/341881/Globo-fez-com-Vandr%C3%A9-em-68-o-que-faz-hoje-com-Tuiti.htm




Geraldo Vandré – Para não dizer que não falei das Flores (Caminhando)

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer




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