23 de mai. de 2018

Com forte ligação com SC, Admar Gonzaga Neto protagoniza embates com relator de julgamento no TSE



JULGAMENTO HISTÓRICO

Com forte ligação com SC, Admar Gonzaga Neto protagoniza embates com relator de julgamento no TSE

09/06/2017- 14h37min
  -  Atualizada em 09/06/2017- 15h04min

Com forte ligação com SC, Admar Gonzaga Neto protagoniza embates com relator de julgamento no TSE Divulgação / TSE/TSE
Ministro foi indicado por Michel Temer ao TSE em abril deste ano
Foto: Divulgação / TSE / TSE
Criado em Santa Catarina e ainda mantendo fortes ligações com o Estado, o ministro do TSE Admar Gonzaga Neto tem protagonizado os principais embates com o relator do processo de cassação da chapa Dilma-TemerHerman Benjamin. Tanto na quinta-feira, quanto nesta sexta, Gonzaga tem sido por vezes até mais polêmico que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, nos confrontos e discussões com o relator.

A principal divergência diz respeito à inclusão de delações da Odebrecht que tratam de caixa 2 no processo que pede a cassação da chapa vitoriosa na campanha presidencial de 2014. Na quinta, Benjamin disse que os colegas que rejeitam a apreciação de fatos novos no processo "invertem" a história da Casa. A declaração foi uma resposta a Admar Gonzaga, que se posicionou contrariamente à inclusão no julgamento do caixa 2 e de descobertas recentes da operação Lava Jato.
— Meu voto, portanto, se limitará a recebimentos de doações oficiais de empresas contratadas pela Petrobras. A fase da Odebrecht se refere a caixa 2 — declarou Gonzaga.
Houve troca de farpas, com o relator desejando "boa sorte" para quem não iria analisar a questão de caixa 2.
— Para analisar caixa 1, não precisamos de TSE —, afirmou Benjamin.
Admar reagiu e disse que a fala do relator tinha o objetivo de constrangê-lo. Benjamin rebateu, afirmando que seriam os eventuais votos dos ministros que os constrangeriam.
Nesta sexta, os dois voltaram a se enfrentar. Gonzaga argumentou que, como Benjamin não disponibilizara seu voto com antecedência, estava com dificuldade de comparar as provas nos autos com o que era dito pelo relator. Até a discreta Rosa Weber interveio, ao lembrar ao colega que o relator já havia tornado tudo público na internet antes do início do julgamento. Benjamin também retrucou, dirigindo-se a Gonzaga:
— Vossa excelência, com todo o respeito, está querendo se prender ao acessório do acessório.
A questão da delação da Odebrecht e do caixa 2 da campanha de 2014 é um dos principais — e decisivos — pontos de debate TSE. Juridicamente, segundo especialistas ouvidos pelo DC, a avaliação de alguns ministros de que devem ser analisadas apenas as doações oficiais citadas na petição inicial do processo é correta. Isso facilitaria a absolvição da chapa e manteria Michel Temer na Presidência da República.
Para o advogado e presidente da comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC), Pierre Vanderlinde, o posicionamento de Gonzaga é acertado. Ele destaca que o ponto central da discussão é o prazo e a legalidade da inclusão de mais provas, independentemente dos fatos em si.
— A própria legislação prevê um prazo para se entrar com esse tipo de processo, de ação de investigação eleitoral, que é até 15 dias depois da diplomação. A delação da Odebrecht é algo recente e cita vários políticos que não têm qualquer tipo de cassação em trâmite. Por estar fora do prazo, essa delação não me autoriza a entrar com qualquer processo, pela lei. E se não permite a quem não tem processo, também não poderia permitir a quem já tem baseado em outros fatos — explica, ponderando que isso poderia criar um precedente perigoso por abrir jurisprudência que prejudica a defesa.
Opinião semelhante tem o advogado e membro da Comissão de Direito Constitucional da OAB/SC Ruy Espindola, que defende que só os fatos descritos na petição inicial deveriam ser investigados.
— Processos eleitorais têm prazos muito restritos. O relator Herman Benjamin vem do Ministério Público, é um ministro mais duro, tem um olhar mais acusador, mas ele não está se atentando aos rigores do processo eleitoral. Dessa maneira, acaba ampliando a causa e tornando a defesa muito insegura. Por mais que tenhamos opinião e as delações sejam fortes, tem que respeitar as regras do direito. A democracia tem um preço, que é esse — afirma Espindola.
Ministro é neto de catarinense ilustre e já defendeu partidos políticos
O ministro Admar Gonzaga Neto foi indicado no final de março deste ano, pelo presidente Temer, para a vaga que ocupa no TSE, no lugar de Henrique Neves. Ele é filho do médico Augusto Luiz Gonzaga e nasceu no Rio de Janeiro em 1960, quando seu pai trabalhava lá. O jurista é neto de Admar Gonzaga, grande empresário do ramo da construção civil que atuou no Estado no início do século 20 e deu nome a uma rodovia estadual que corta o bairro Itacorubi, em Florianópolis.

Admar Gonzaga Neto morou no Rio de Janeiro por alguns anos, mas veio para Florianópolis junto com a família quando seu pai se aposentou. Em Florianópolis, fez o primeiro e segundo graus nos colégios Alferes Tiradentes e Catarinense. Foi funcionário do extinto Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) entre 1980 e 1992. No ano seguinte, se mudou para Brasília, onde cursou Direito no Uniceub. Durante esse período, chegou a trabalhar como motorista do deputado Renato Johnson (PDS-PR).
Fez carreira na advocacia eleitoral, especializado na atividade partidária, com serviços prestados ao PP, DEM e PSD. Também foi advogado da campanha da chapa Dilma-Temer em 2010. Na Câmara dos Deputados, foi assessor do PPR, PPB, PFL e DEM. Foi advogado de causas marcantes no TSE. Atuou na defesa da criação do PSD, partido liderado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e criado em 2011, e foi autor da consulta feita pelo DEM ao TSE que deu origem ao reconhecimento da infidelidade partidária como causa de perda de mandato.
http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/06/com-forte-ligacao-com-sc-admar-gonzaga-neto-protagoniza-embates-com-relator-de-julgamento-no-tse-9812443.html
Share:

Related Posts:

0 comentários:

Postar um comentário