Ibama e PF confiscaram em SP 1,8 mil m³ da Indusparquet, que abasteceu também mansão de Bono Vox na França; um dos sócios da madeireira, José Antonio Baggio, é diretor da Fiesp
Por Alceu Luís Castilho e Igor Carvalho
A maior apreensão de madeira da Amazônia feita em São Paulo pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no último dia 24 de maio, teve como alvo uma empresa que já exportou para o Vaticano. A Indusparquet, de Tietê (SP), forneceu também pisos para o Taj Mahal, na Índia, e para a residência do astro pop – e defensor das florestas – Bono Vox, o líder da banda U2.
O Ibama e a Polícia Federal recolheram 1,818 mil metros cúbicos de madeira serrada, estocada no depósito da Indusparquet, em Tietê, no interior paulista. Uma “apreensão recorde”, conforme a divulgação das instituições. Um dos sócios da empresa, José Antonio Baggio, é um dos 91 diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Os principais sócios da Indusparquet são Baggio e seu primo Luiz Francisco Fávero Uliana. Baggio preside o Sindicato das Industrias de Serrarias, Carpintarias, Tanoarias, Madeiras Compensadas e Laminadas do Estado de São Paulo (Sindimad) e tem Uliani como suplente.
A casa de Bono Vox na Riviera. (Foto: Reprodução)
Por meio da Masterpiso, empresa do Grupo Indusparquet, Uliana e Baggio fornecem seus pisos e revestimentos, todos em madeira, para mais de 40 países, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Bélgica, Venezuela, Portugal e Vaticano.
Em reportagem – exaltadora – sobre a empresa, em 2016, a revista Casa Vogue contou que os pisos fornecidos pela madeireira ornamentaram a Casa de Santa Marta, no Vaticano. É lá onde se hospedam os cardeais durante os conclaves. E onde o papa Francisco escolheu morar.
Os tacos da Indusparquet também ornam o Theatro Municipal do Rio de Janeiro; o monumento Taj Mahal, na Índia, Patrimônio da Humanidade conforme a Unesco; uma das salas da premiação do Oscar, em Los Angeles; e uma das residências de Bono Vox, a mansão na península de Saint-Jean-Cap-Ferrat, na França – um tradicional destino de milionários na Riviera.
Bono Vox é um conhecido defensor da Amazônia.
OPERAÇÃO COMBATE FRAUDES EM DEPÓSITOS
De acordo com a Polícia Federal, 70 agentes e quatro engenheiros ambientais acompanharam a apreensão, que faz parte da Operação Pátio, que combate esquema de fraudes na homologação de depósitos de madeireiras. Isso significa que o material apreendido no local não foi devidamente declarado e, portanto, não há como comprovar sua origem.
A madeira apreendida em Tietê. (Foto: Ibama)
A Operação Pátio cumpriu 13 mandados de prisão e nove para busca e apreensão. Além do município de Tietê, sede da Indusparquert, os agentes também atuaram em São Bernardo do Campo, Piracicaba e Osasco.
“Há indício da homologação de ‘pátios’ fictícios, utilizados somente para as atividades do grupo investigado”, explicou a PF em nota sobre a operação. “Até o momento, cerca de 8 mil m3 de créditos em madeira fictícios foram gerados pelo servidor. O volume corresponde a 325 caminhões carregados com madeira”. A instituição constatou “prejuízo ao erário público e ao meio ambiente.”
Ainda de acordo com a Polícia Federal, os envolvidos serão indiciados por associação criminosa, corrupção passiva, corrupção ativa, inserção de dados falsos em sistemas oficiais e violação de sigilo de dados.
EMPRESA DIZ SEGUIR DIRETRIZES EUROPEIAS
Ao Estadão, a Indusparquet alegou que as autuações se devem a “irregularidades formais e burocráticas”, que atingiram um “percentual irrelevante do estoque da empresa”. A empresa argumenta que sua preocupação com o meio ambiente sempre esteve ligada à aquisição da matéria-prima de origem 100% legal, “proveniente de florestas com plano de manejo florestal”.
Segundo a madeireira, ela possui o selo CE – Certification Europeenne, “que comprova que seus produtos estão de acordo com as exigências e diretrizes da União Europeia”. Parte dos produtos, ainda, é certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC), “que identifica produtos fabricados com madeiras provenientes de florestas exploradas”. E possui o Certificado Madeira Legal Cadmadeira, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Este foi primeiro compromisso na agenda de Temer voltado especificamente para lideranças empresariais desde que assumiu a Presidência
O prefeito de Tietê, Manoel David Korn de Carvalho, e o empresário tieteense José Antonio Bággio, da Indusparquet, estiveram na quarta, 8 de junho, no Palácio do Planalto, em Brasília, onde o presidente interino da República, o tieteense Michel Temer, realizou o primeiro compromisso na sua agenda voltado especificamente para lideranças empresariais desde que assumiu a Presidência.
“Aproveitamos a oportunidade e reforçamos os pedidos de investimentos para Tietê, principalmente para a construção das casas populares e verbas para a reconstrução dos efeitos das três enchentes deste ano na cidade”, disse o prefeito Manoel David.
Antes de se reunirem com Michel Temer, o prefeito e o empresário encontraram-se com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf; com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles; e o presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi.
O diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Raimundo Deusdará Filho, anunciou este mês que o Governo Federal vai disponibilizar, no ano que vem, 2,11 milhões de hectares para concessões florestais.
O anúncio foi feito durante uma oficina na Greenbuilding Brasil Expo, a maior feira de negócios da construção sustentável da América Latina, que ocorreu em São Paulo (SP) e contou com o apoio do WWF-Brasil.
De modo bem simples, a concessão florestal é um contrato administrativo no qual o poder público autoriza um particular – uma empresa, por exemplo – a explorar os recursos existentes em florestas públicas brasileiras. A concessão florestal é regulamentada pela Lei de Gestão das Florestas Públicas, a Lei 11.284/2006; e pela Lei Geral de Licitações, a Lei 8.666/93.
Entre as vantagens deste modelo, estão a manutenção da floresta e dos serviços que ela oferece – como armazenamento de água e regulação do clima – mas também o apoio à estruturação e gestão das Unidades de Conservação; a regularização fundiária; e a maior presença do Estado na região.
Além disso, ela promove o diálogo entre o poder público e a iniciativa privada, dá suporte às cadeias produtivas florestais e possibilita a exploração racional dos recursos da floresta.
Iniciativa mais ampla
Na ocasião do anúncio, Deusdará afirmou que os 2,11 milhões de hectares estão previstos no plano anual de outorga do Serviço Florestal Brasileiro para 2016 e fazem parte de uma iniciativa mais ampla – de possibilitar a produção, até 2020, de 5 milhões de metros cúbicos de madeira oriundos de concessões florestais. “Nosso objetivo é fazer com que um terço de toda a madeira explorada e comercializada no País venha de concessões”, afirmou o diretor-geral.
Hoje, o Serviço Florestal Brasileiro possui contratos para concessão florestal em cinco Florestas Nacionais no Pará e em Rondônia. Foram disponibilizados até agora cerca de 842 mil hectares de floresta, que serão manejadas de forma sustentável por oito empresas pelos próximos 40 anos.
Agenda positiva
A oficina Perspectivas para a legalidade da produção de madeira da Amazônia contou ainda com a participação do analista de conservação do WWF-Brasil, Ricardo Russo; e do empresário José Antonio Baggio, um dos responsáveis pela IndusParquet – famosa no mundo todo pela qualidade de seus pisos de madeira e pela preocupação com o meio ambiente.
Ricardo Russo apresentou o Programa Madeira é Legal – uma iniciativa de 23 instituições, da qual o WWF-Brasil faz parte, que busca fortalecer o mercado responsável de madeira junto à construção civil brasileira. Por meio deste Programa, são realizadas capacitações, edições de livros, apostilas e folderes e promovidas articulações institucionais entre governos, empresas e organizações da sociedade civil.
O especialista lembrou que, segundo estimativas, 20% da madeira que sai da Amazônia é legalizada (“precisamos para de nos concentrar no negativo e propor uma agenda positiva”, declarou) e afirmou que os desafios do setor florestal hoje são promover uma mudança de mercado e aumentar a oferta de madeira certificada no Brasil.
“A madeira não é a vilã do desmatamento da Amazônia, ela é o grande ativo deste bioma. Precisamos criar uma onda de responsabilidade e juntar o maior número possível de empresas e instituições neste movimento”, disse.
Mercado internacional
O empresário José Antonio Baggio, por sua vez, afirmou que o Brasil está muito atrasado no que diz respeito ao manejo eficiente de suas florestas.
“Na década de 90, houve o surgimento do DOF (o Documento de Origem Florestal, que atesta a boa origem das madeiras) que melhorou um pouco. Mais ainda há muitos problemas”, afirmou o empresário.
Baggio disse os Estados Unidos manejam suas florestas há 100 anos, que a França realiza esta atividade desde o ano 1.100 e que a Alemanha, atualmente, vende madeira pra a China. “São coisas absurdas de se pensar. A Alemanha, um país pequenino daquele, consegue fazer esta transação sem grandes problemas e nós, como todo o nosso tamanho, com toda a nossa biodiversidade, não. Temos muito a melhorar ainda”, disse.
O empresário também ressaltou que os órgãos governamentais, de várias esferas diferentes, não conversam entre si e isso atrapalha a boa gestão das florestas. “Existem regras e visões divergentes dentro do poder público, o que complica a vida dos empresários”, afirmou. https://www.wwf.org.br/?47343 Adendo Carta da Indusparquet sobre a Operação Pátio
Prezados,
No período de 24 a 30 de maio, a Indusparquet e outras madeireiras
foram alvo da Operação Pátio, conduzida pelo Ibama, e que teve
como objetivo combater eventuais fraudes no sistema de vendas de
madeira proveniente da Amazônia.
Segundo o relatório de apuração do Ibama, a Indusparquet foi
autuada por INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS o que significa
diferenças burocráticas nos controles internos da empresa, como por
exemplo, a transferência de produtos da fábrica para o depósito
(filial).
Houve divergência na contagem física do estoque de madeira
comparando-se à contagem realizada pelos fiscais do Ibama, ou seja,
a conversão de produto intermediário e acabado para madeira bruta
resultou em um crédito virtual acima do saldo do estoque físico.
Lamentavelmente, foram divulgadas na mídia e nas redes sociais
informações distorcidas sobre o resultado da apuração no estoque
da Indusparquet. Estamos trabalhando incansavelmente para identificar
essas divergências burocráticas o mais rápido possível, e assim
normalizar a emissão do DocumentodeOrigemFlorestal(DOF)eentregadospedidos,oquedeveocorrernospróximosdias.
Com mais de 48 anos de atuação no mercado de madeiras local e
internacional, nossa empresa é líder na fabricação de pisos de
madeira tropical no país, tendo como pilares a sustentabilidade, a
qualidade de seus produtos e o respeito aos clientes, parceiros e
colaboradores. Reforçamos nosso compromisso de trabalhar somente com
madeiras provenientes de origem legal regularizada pelo Ibama.
Nos colocamosàdisposiçãoparamaisinformações,
se necessário.
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