18 de fev. de 2019

SOUTHCOM: Bolsonaro late por seu mestre


 

SOUTHCOM: Bolsonaro late por seu mestre

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O almirante Craig Faller anuncia uma operação militar conjunta sem precedentes com o Brasil para o Comitê de Serviços Armados do Senado dos EUA. O que significa para a soberania nacional?
Marcelo Zero
A participação do Brasil no SOUTHCOM dos EUA é parte de um processo mais amplo que começou com o golpe de 2016. A agressão contra nossa soberania é muito mais séria do que imaginávamos. Os motivos para isso são os seguintes.
A projeção dos interesses de um país no complexo e competitivo cenário mundial ocorre essencialmente em duas formas: política externa e política de defesa.
Portanto, enquanto a projeção completa dos interesses estratégicos do Brasil no cenário internacional depende de uma política externa consistente, ela deve estar vinculada a uma sólida política de defesa.
Sem dúvida, a persuasão diplomática deve ser o principal meio de afirmar os interesses nacionais, especialmente os de nações pacíficas como o Brasil. No entanto, é preciso reconhecer que essa persuasão funciona mais eficazmente quando complementada pela dissuasão estratégica.
Como disse o ex-chanceler e ministro da Defesa, Celso Amorim, há alguns anos, “a sétima maior economia do mundo, integrante do BRICS e do G-20, não pode ter toda a importância que o Brasil assumiu e não ter um exército devidamente equipado. A existência de forças armadas treinadas fortalece a capacidade diplomática e minimiza a possibilidade de agressão, permitindo que a política de defesa contribua para uma política externa focada na paz e no desenvolvimento. ”
Um país das dimensões geográficas, demográficas e econômicas do Brasil não pode prescindir de uma política de defesa eficiente. Mesmo no contexto de uma região pacífica como a América do Sul, o Brasil, com seus abundantes recursos estratégicos (água doce, biodiversidade, terra, reservas de petróleo pré-sal, etc.) e sua recente projeção geopolítica internacional, ciúmes e rivalidades que devem ser neutralizados.
A política externa e a política de defesa são políticas complementares. Ambos projetam o tipo de país que querem estar no cenário mundial. Mas que tipo de nação essas políticas projetam hoje?
Desde o golpe de 2016, tanto a política externa quanto a política de defesa que foram esboçadas, que agora estão se consolidando e aprofundando com Bolsonaro, projetam um país menor e frágil, que se submete à órbita norte-americana de interesses geopolíticos e geoestratégicos. Essencialmente, estamos sendo transformados em um gigante Porto Rico.
Os contratempos na política externa tornaram-se bastante claros. Enquanto buscavam ansiosamente um alinhamento acrítico com os Estados Unidos e seus aliados como Israel, todas as linhas anteriores de política externa que aumentaram dramaticamente nossa proeminência internacional, como a do Mercosul e a integração regional, cooperação Sul-Sul, integração com BRICS, parcerias estratégicas com os países emergentes, o investimento em países árabes e africanos, a ênfase no multilateralismo e a geração de um mundo multipolar, etc., foram para fora da janela.
Mas esses contratempos também estão acontecendo na política de defesa de uma maneira um pouco mais discreta e menos perceptível. Eles estão em andamento desde o golpe de 2016, mas agora eles adquiriram maior velocidade e profundidade com um novo governo que abertamente saúda os Estados Unidos.
Nos governos do PT, tentou-se articular uma política externa “ativa e arrogante”, que projetou um país independente e forte no cenário mundial, com uma política de defesa consistente que visava criar uma dissuasão estratégica completa e contribuir ativamente para a economia brasileira. e desenvolvimento tecnológico.
Assim, em 2005, foi lançada a nova Política Nacional de Defesa (PDN), que deu ênfase especial à capacitação na produção de materiais e equipamentos de alto valor agregado em tecnologia, com vistas a reduzir a dependência externa do país nessa área estratégica. Além disso, vários projetos estratégicos, como o submarino nuclear e os novos caças, foram criados ou fortalecidos para promover a dissuasão estratégica em todos os cenários.
Por sua vez, a Estratégia Nacional de Defesa (NDT), lançada em 2008, estabeleceu a “revitalização da indústria de material de defesa” como um dos três pilares da defesa nacional, juntamente com a reorganização das Forças Armadas e sua política de composição. Desta forma, a Estratégia afirmava a ligação indissociável entre defesa e desenvolvimento. A BITD (Base de Defesa Industrial) passou a ser vista como impulsionadora de inovações tecnológicas, com aplicações civis. Também estimulou o desenvolvimento tecnológico independente, especialmente nos setores nuclear, cibernético e espacial.
A Política Nacional de Defesa e a Estratégia Nacional de Defesa complementaram a política externa independente da época, tanto no que diz respeito à obtenção de armamentos adequados quanto à promoção da dissuasão estratégica, além de estimular o desenvolvimento econômico e tecnológico autônomo. A política externa e a política de defesa apontavam, portanto, para a mesma direção: a construção de uma nação independente com interesses geopolíticos e geoestratégicos próprios.
Agora, a política de defesa, em conjunto com a política externa pobre de Bolsonaro, ilustra claramente o enfraquecimento e aprofundamento da dependência econômica, política e tecnológica do país.
O primeiro grande golpe contra a política de defesa anterior foi atingido em 2016. A Emenda Constitucional nº 95 de 2016, que congelou os gastos primários por um longo período de 20 anos, significou uma inevitável restrição econômica à busca da dissuasão estratégica e ao desenvolvimento de uma política. base de defesa industrial significativa.
Em todas as simulações projetadas, espera-se que os investimentos em defesa sofram contrações brutais, uma vez que as novas despesas constitucionais obrigatórias deverão aumentar substancialmente nos próximos anos devido ao crescimento populacional. Mesmo admitindo que os gastos com defesa não sofram uma contração nominal durante este período, uma hipótese altamente improvável, seu mero congelamento implicará (supondo que o Brasil retorne a uma taxa de crescimento anual de 2,5%) uma redução substancial nos gastos como porcentagem do PIB. Mesmo com essa taxa média de crescimento, ela passará de 1,4% do PIB em 2014 para 0,85% do PIB em 2036.
Além dos danos que a Emenda Constitucional nº 95 de 2016 causará inevitavelmente à Estratégia Nacional de Defesa, também é necessário analisar como a investigação Lava Jato causou perdas consideráveis ​​à Base de Defesa Industrial. De fato, todas as empresas que foram paralisadas e fragilizadas pela Lava Jato desempenham um papel crucial nesta Estratégia e na Base Industrial, uma vez que as empresas investigadas estão fortemente presentes em todos os grandes projetos da área.
Não temos dúvidas de que a combinação da Lava Jato, que está enfraquecendo o braço empresarial da Estratégia Nacional de Defesa, com a Emenda Constitucional nº 95, de 2016, que reduzirá drasticamente o investimento estatal nessa área, poderá fazer o Brasil voltar ao seu papel nos anos 90, quando a ênfase dada pelo neoliberalismo estava no desarmamento do país.
Além desses fatores econômicos, é importante mencionar que o Exército dos EUA participou, a convite do governo brasileiro, em um exercício militar conjunto em novembro de 2017 na tríplice fronteira amazônica entre o Brasil, o Peru e a Colômbia. Este fato revela uma decisão política preocupante para a soberania nacional, no campo da defesa e da indústria de defesa.
Foi uma das decisões mais inusitadas e bizarras da recente história militar do Brasil. Antes do golpe, nosso país vinha investindo na gestão soberana da Amazônia em parcerias com países sul-americanos estabelecidos em mecanismos de cooperação regional, particularmente os da UNASUL e os da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Assim, este convite a uma superpotência estrangeira que não faz parte da Bacia Amazônica, representou um ponto fora da curva, em relação à soberania nacional em uma das regiões mais estratégicas do Brasil.
Esses exercícios surgiram na esteira de uma série de iniciativas bilaterais que fazem parte de uma estratégia do governo pós-golpe para a reaproximação subalterna com os Estados Unidos, tanto na política externa quanto na política de defesa.
Nesse contexto, o Ministério da Defesa do Brasil e o Departamento de Defesa dos EUA assinaram o Contrato de Intercâmbio de Informações Mestras para Pesquisa e Desenvolvimento (MIEA). Com essa decisão, os governos pós-golpe investirão agora em cooperação com os EUA como forma de “desenvolver” nossa indústria de defesa. Na prática, isso significa renunciar à autonomia real nos campos do desenvolvimento industrial e tecnológico da defesa nacional.
Aparentemente, setores das Forças Armadas renunciaram ao desenvolvimento tecnológico relativamente autônomo previsto na Estratégia Nacional de Defesa, e agora estão erroneamente apostando em uma relação reestruturada de dependência com os EUA.
Um sinal disso é a nova renegociação do notório Acordo de Alcântara, que impediria o desenvolvimento de nosso programa de lançamento de satélites e o substituiria por uma base militar americana, estabelecendo uma nova dependência dos EUA.
A compra da Embraer pela Boeing, tendo em vista o duplo uso civil e militar da tecnologia aeronáutica, também comprometerá importantes projetos militares, além de impedir o desenvolvimento tecnológico autônomo em um campo sensível e estratégico.
Todos esses reveses, que começaram em 2016, estão agora claramente se aprofundando com o governo de Bolsonaro.
A proposta de construir uma base militar norte-americana em território brasileiro, anunciada pelo próprio Bolsonaro, embora temporariamente negada pelo vice-presidente geral Hamilton Mourão, nos equipara a países como Honduras, que se transformou em um mero satélite norte-americano.
A participação do Brasil no plano belicoso e perigoso dos EUA para desestabilizar o governo venezuelano é outro indicador de uma subserviência que se opõe diretamente aos interesses de nosso país na região, que seria muito melhor servida por uma estratégia de negociação que preservasse a integração regional e a paz na região. continente.
Agora, um novo anúncio enterrou as esperanças de todos que ainda apostavam na preservação da soberania brasileira.
Em 7 de fevereiro, o almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), anunciou ao Comitê de Serviços Armados do Senado dos EUA que o Brasil participará de sua SPMAGTF (Força Aérea de Fins Especiais Marítimos) e liderará a marinha multinacional. exercício UNITAS AMPHIB. Isso significa que nosso país participará ativa e diretamente das operações militares lideradas pelos EUA. Ou seja, o Brasil se posicionará voluntariamente em uma posição de subordinação militar às ações dos EUA em nossa região.
Além disso, o almirante Faller também anunciou que o Brasil enviará um general para atuar como vice-comandante do SOUTHCOM. Estes são anúncios muito sérios.
Os Estados Unidos estão fortemente comprometidos em combater a influência da China e da Rússia em nossa região e identificam países como Venezuela, Nicarágua e Cuba como aliados desses "inimigos", que devem ser combatidos com afinco.
Portanto, o SOUTHCOM será usado ofensivamente na América Latina para atender a essa meta geopolítica norte-americana. Não se trata, como os panglossianos podem imaginar, de meros exercícios de treinamento para fins humanitários, mas também de ações militares destinadas a desestabilizar os governos regionais e estabelecer laços de dependência com as forças armadas dos países aliados.
Os EUA não pretendem colocar suas botas no chão nessas operações, mas encorajarão o envolvimento de tropas de países como o Brasil e a Colômbia. Eles querem que façamos o trabalho sujo.
Há também um objetivo claro de garantir acesso privilegiado aos recursos naturais estratégicos de nossa região. Não parece ser uma mera coincidência que a Quarta Frota dos EUA tenha sido restabelecida após 58 anos, precisamente em 2008, pouco depois de o Brasil ter anunciado a descoberta dos depósitos petrolíferos do sub-sal, que a transformaram no país com a 3ª maior do mundo. reservas de petróleo.
O fato é que desde que o Brasil estabeleceu a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), através da Resolução 41/11 da ONU, de 27 de outubro de 1986, os Estados Unidos têm tentado se opor à projeção do Brasil no Atlântico. Portanto, em 2008, no mesmo ano em que recriaram a Quarta Frota, os EUA também criaram o Comando Africano (USAFRICOM), com a clara intenção de se opor à projeção dos interesses sino-brasileiros naquele continente.
Em 2010, tanto o Pentágono quanto a OTAN pressionaram o governo brasileiro a apoiar a extensão da jurisdição da Otan no Atlântico Sul. No entanto, o governo da época expressou vigorosamente a oposição brasileira aos EUA e à OTAN. O ministro da Defesa, Nélson Jobim, disse considerar as “questões de segurança das duas metades do oceano” distintas e que, após a Guerra Fria, a OTAN “se tornou um instrumento de seu exponencial membro, os EUA e os aliados europeus”. . Aqueles eram bons tempos.
Agora, com essa decisão embaraçosa, o Brasil perde sua própria projeção geoestratégica no Atlântico Sul e na Amazônia Azul, onde está localizado o sub-sal.
Observe que, há alguns anos, a Marinha dos EUA começou a realizar exercícios multinacionais com membros da OTAN e países africanos para patrulhar manobras no Golfo da Guiné, onde estão localizadas as reservas do sub-sal africano.
Todas essas medidas e ações convergem em um cenário: as bases econômicas e institucionais de nossa Política de Defesa e Estratégia de Defesa Nacional estão sendo minadas e decisões políticas estão sendo tomadas para colocar nossas forças armadas como representantes subordinados dos EUA. 
Essas decisões políticas sobre defesa, juntamente com uma política externa de subordinação geopolítica aos Estados Unidos, que agrada ao ex-capitão do exército que saudou John Bolton e seu obcecado Chanceler Estrangeiro dos Cavaleiros Templários, estão nos transformando em um infeliz cão do Império dos EUA.
A destruição da Base de Defesa Industrial e as restrições econômicas aos investimentos em Defesa Nacional, que serão agravadas pelo foco no ultraliberalismo, levarão ao desarmamento, ao enfraquecimento dos principais projetos estratégicos, à dependência tecnológica e à absorção de obsoletos equipamentos militares dos EUA. .
Quando isso acontecer, não seremos apenas um cachorro. Nós seremos um vira-lata desdentado, latindo para os inimigos do nosso mestre.
O Atlântico Sul será agora dominado pela OTAN.
http://www.brasilwire.com/southcom-bolsonaro-barks-for-his-master-4/

tradução literal via computador
por motivo técnico do blog a página de capa da matéria sai truncada e sem a foto.
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