(Novo texto).
SE A EXTREMA DIREITA DERRUBAR O PRESIDENTE NICOLÁS MADURO, TODOS NÓS SEREMOS "TRATORIZADOS".
Lamentavelmente, alguns "puristas" do pensamento de esquerda ainda não perceberam a importância de o presidente eleito da Venezuela não ser sacado do poder pelo senhor Trump, representante máximo da extrema direita aqui no Ocidente.
Se os Estados Unidos colocarem, explicitamente, tropas militares na América do Sul para intervirem na Venezuela, os movimentos sociais de esquerda estarão aniquilados, pois eles jamais sairão daqui. Será a total e absoluta vitória da extrema direita em nosso Continente.
Se a derrubada do presidente Nicolás Maduro ocorrer em razão de ilegítimas pressões econômicas internacionais, ficará claro e evidente que é impossível uma "revolução pacífica" em direção ao socialismo, ainda que se pense em um socialismo democrático.
Neste último caso, lembrando o insucesso de Allende no Chile, haverá total desestímulo, desalento, desmobilização e ceticismo dos movimentos sociais de esquerda. Ficará evidenciado que não será para este século a luta eficaz para um outro modelo de sociedade, a luta eficaz em prol de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna (eu mesmo, "penduraria as minhas chuteiras").
Julgo relevante notar que o grupo político do presidente Maduro não pretende implantar, na Venezuela, uma social democracia, vale dizer, um capitalismo menos selvagem. Na verdade, a busca é pelo socialismo, que pressupõe uma ruptura política, social, jurídica e econômica com a ordem vigente. Ruptura, mas sem violência política.
Desta forma, não podemos analisar o processo político na Venezuela utilizando as categorias teóricas da democracia burguesa, do liberalismo político.
Todo processo revolucionário, ainda que por meios pacíficos, é bastante traumático e tem efeitos colaterais danosos. Não é possível desarticular toda uma estrutura e sistema econômico capitalista sem crises acentuadas de várias espécies.
A destruição do "velho" sem que o "novo" tenha chegado cria desajustes deletérios, mas necessários. Tudo isto resulta agravado em um mundo globalizado, principalmente quando o país não está razoavelmente industrializado e sempre foi dependente e explorado pelo capital internacional.
Destarte, acho até ingênuo exigir do presidente Nicolás Maduro uma postura própria de um estadista tradicional, uma postura própria de um político cunhado em uma democracia burguesa.
Em uma revolução popular, em um processo de ruptura com a impiedosa ordem capitalista, dentro de certos limites éticos e revolucionários, os fins de justiça social podem sacrificar alguns meios que caracterizam a democracia liberal.
Contra os instrumentos inescrupulosos da extrema direita é legítimo se valer de métodos revolucionários que se acomodem a uma nova “ética revolucionária”, sempre respeitando os direitos fundamentais da pessoa humana.
O socialismo democrático deve ser libertário e respeitoso aos melhores valores do nosso processo civilizatório. Entretanto, tudo isto dependerá da sua consolidação, dependerá do sucesso das grandes transformações econômicas, políticas, jurídicas e sociais.
Evidentemente, não caberá se afastar dos legados do pensamento marxista, condição necessária para termos um verdadeira justiça social.
A esquerda precisa ser mais “política” e transigente com estratégias que divirjam das várias concepções de seu pensamento.
Para vencer a extrema direita, devemos ter “mais jogo de cintura” e menos dogmatismos. Os ensinamentos de Lênin devem sempre ser lembrados. Vamos ser radicais nos objetivos, mas razoavelmente tolerantes na utilização dos métodos e estratégias para nele chegar.
Afranio Silva Jardim, professor de Direito da Uerj.
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