2 de jul. de 2019

Bolsonaro não quer saber de conversa com Raoni


BRASIL MUNDO

Bolsonaro não quer saber de conversa com Raoni

Ao ser perguntado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em Osaka, se ele concordaria em fazer uma reunião a três, incluindo o líder indígena Raoni, o presidente Bolsonaro foi curto e grosso: “Não interessa! Raoni não representa o Brasil, nem o povo de onde ele veio”. Raoni, de 87 anos, que ganhou notoriedade no mundo inteiro por sua defesa das terras indígenas, foi recebido em maio passado pelo presidente francês e pelo papa Francisco.

Do G1
No encontro que tiveram em Osaka, na reunião do G20, o presidente Jair Bolsonaro ouviu uma proposta do presidente da França, Emanuel Macron:
“Você aceita se reunir comigo e com o Raoni [Metuktire, líder indígena]?”, perguntou o francês a Bolsonaro.
“Não”, respondeu de pronto o presidente brasileiro, explicando que Raoni “não representa o Brasil e sequer representa a comunidade indígena de onde veio”.
Líder da etnia kayapó, o cacique de 87 anos ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia.
Em maio, reuniu-se com Macron para promover sua luta contra o desmatamento da Amazônia e proteger o Parque Nacional Indígena do Xingu – reserva onde vivem vários povos indígenas – de madeireiros e do agronegócio. Raoni também foi recebido pelo Papa Francisco.
A conversa se deu na última sexta-feira (28), quando Bolsonaro garantiu a Macron que o Brasil vai honrar o Acordo de Paris, do qual é signatário. O compromisso do presidente foi apontado como fundamental para a assinatura do acordo Mercosul e União Europeia.
Logo após a eleição, Bolsonaro cogitou deixar o acordo climático, o que elevou a tensão nas relações com países como França e Alemanha onde há forte cobrança de cumprimento de normas ambientais.
Foi depois desta recusa a uma reunião com a presença de Raoni que o presidente Bolsonaro convidou Macron para sobrevoar a Amazônia, de Boa Vista a Manaus, cerca de uma hora e meia de voo “sem encontrar qualquer ponto de desmatamento”.
Ao revelar o diálogo com o presidente da França, “que começou mais tenso, mas o ambiente foi se desanuviando”, um assessor do Palácio do Planalto afirmou que o Brasil não vai mudar sua política ambiental, mas pretende mostrar que é cumpridor dos acordos firmados e da legislação como o Código Florestal.
“O presidente não vai baixar a cabeça e não vai aceitar a tutela de ninguém”, disse o porta-voz da Presidência, Otávio Rego Barros.
Segundo ele, o Brasil vai manter sua política em defesa do meio ambiente “sem radicalismos”.
Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, avalia que o Brasil pode melhorar sua comunicação sobre a questão ambiental, tendo como alvo, principalmente, a opinião pública em países da Europa. Ele disse que se há uma imagem negativa no Brasil lá fora ela é fruto de campanha de ONGs que, segundo ele “recebiam dinheiro a rodo e agora não recebem mais”.
O porta-voz Rego Barros também foi na mesma linha. “Há críticas ao ministro Salles porque ele meteu a mão em cumbuca que ninguém antes metia”, afirmou.
“As versões não correspondem aos fatos”, disse Salles.
Na discussão que culminou com a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia, o Brasil conseguiu incluir o que chama de salvaguarda para cláusula de precaução prevista no acordo.
A primeira, é a de que se um país recusar a importação de produtos brasileiros por alegação de descumprimento da legislação ambiental ele terá de provar este descumprimento no âmbito jurídico e, em segundo, a recusa só valerá para aquele país e não se estenderá aos demais países europeus.
Nas conversas, a delegação brasileira ouviu de um dos comandantes da negociação. “Nós sabemos que vocês cumprem as normas ambientais, mas a imagem do produto brasileiro junto à opinião pública europeia é negativa”.
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