8 de jul. de 2019

Precariedade uber alles: a ameaça da uberização do trabalho


Precariedade uber alles: a ameaça da uberização do trabalho

A uberização é a precariedade acima de todos, o desfazer dos vínculos contratuais e a anulação dos direitos dos trabalhadores. Analisamos o novo modelo de organização do trabalho imposto a quem é empregado nas plataformas de serviços online para transporte individual ou distribuição de bens e serviços. Dossier organizado por Carlos Carujo.
Ciclista de um serviço de entregas.
Ciclista de um serviço de entregas. Foto de Robert Anasch. Unsaplash.
A uberização do trabalho aconteceu de repente e envolve milhões de trabalhadores no mundo inteiro. Para além da dispersão geográfica, entranhou-se, intensificou-se e colonizou domínios que se pensava que não poderiam ser uberizados.
Os seus patrão são ladrões do tempo que se apropriam da vida pessoal de quem exploram, como nos explica Joana Neto. Por detrás da sedução tecnológica, escondem a regressão social do trabalho à jorna 2.0. Sob a propaganda da libertação dos horários e da subjugação hierárquica, disseminam o contrário, escreve Danièle Linhart enquanto procura alternativas à uberização.
E esta precarização ainda é mais dura se vivida no feminino acredita Julia Dolce que foi ao encontro das experiências de mulheres brasileiras uberizadas.
Mas não há um ubercapitalismo, sem um uberariado. Para compreender as novas relações de trabalho é preciso analisar o perfil dos novos “servos digitais”. É o que faz Ricardo Antunes em entrevista.
A exploração máxima a que estão sujeitos não fez deles sujeitos passivos e dóceis. Aliás, até já realizaram um protesto mundial. Mas a condição dos também chamados crowdworkersimplica necessariamente dificuldades organizativas. Esse foi o tema que fez António Brandão Moniz e Nuno Boavida juntar-se a um projeto de investigação europeu que nos apresentam.
Nascida no mundo das aplicações, à exploração dos trabalhadores juntam-se também a exploração dos dados dos clientes. Várias destas empresas utilizam-nos para ganharem dinheiro ou influência junto dos decisores políticos, uberizando as políticas locais de transportes.
Neste dossier, damos ainda a conhecer a empresa que deu o nome a este processo e que é campeã das práticas abusivas. Faz agora cinco anos que a Uber entrou ilegalmente em Portugal. Comprou uma guerra com os taxistas que se queixaram de concorrência desleal. E acabou por ser regulamentada através de uma polémica lei apoiada pelo PS, PSD e PAN. Uma luta que ainda não acabou já que a disparidade de condições entre os dois setores permanece e os taxistas ameaçam voltar aos protestos. Revisitamos esse processo em que o Bloco se bateu pela equidade.
Para além das questões de regulamentação dos transportes que foram as mais sublinhadas na comunicação social portuguesa, subjacente a toda esta disputa estava questão laboral, como lembra, num artigo de fundo, a socióloga Maria da Paz Campos Lima.
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