Bolsonaro decide exonerar Diretor do Inpe após criticar dados sobre desmatamento
Ricardo Galvão disse a jornalistas que seu afastamento ocorre por conta de seu discurso em relação ao presidente Bolsonaro
Jornal GGN – O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, se reuniu com o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), Ricardo Galvão, nesta sexta-feira (2) para tratar sobre a sua exoneração do cargo. A decisão de afastar Galvão ocorre em meio a uma série de críticas do governo aos dados sobre desmatamento registrados pelo Instituto. Bolsonaro alega que as informações são sensacionalistas.
Segundo informações da Folha de S.Paulo, Pontes e Galvão se reuniram durante cerca de duas horas. Ao final do encontro, Galvão fez uma rápida declaração a jornalistas explicando que sua exoneração ocorreu por conta de seu discurso em relação ao presidente Jair Bolsonaro, causando constrangimento.
No sábado, dia 20 de julho, Galvão afirmou ao Jornal Nacional que “ele [Bolsonaro] tem um comportamento como se estivesse em botequim. Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas”. “Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer”, observou.
Já no domingo (21), em entrevista à Folha, o diretor do Inpe disse que poderia ser demitido, mas que o instituto era cientificamente sólido para resistir aos ataques do governo.
Nesta sexta, em coletiva para informar sobre sua exoneração, Galvão pontuou: “Diante do fato, a maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou-se um constrangimento que é insustentável. Então eu serei exonerado.”
Ricardo Galvão foi diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e é membro do Conselho da Sociedade Europeia de Física e presidente da Sociedade Brasileira de Física. Assumiu a diretoria do Inpe em setembro de 2016. O mandato, com prazo de quatro anos, estava previsto para terminar em setembro de 2020.
Na coletiva de hoje ele expressou preocupação de que suas críticas pudessem prejudicar o Instituto. “Não vai acontecer”, arrematou em seguida.
Galvão destacou também que ele indicou um nome para substituí-lo com a finalidade de continuar sua linha de gestão no Inpe, mas não disse quem seria, completando que a prerrogativa de escolha do novo diretor é do ministro da Ciência e Tecnologia.
Galvão pontuou sobre Pontes: “Ele tem alta capacidade técnica e concorda inteiramente com os dados do Inpe, ele sabe como são os dados do Inpe. Foi só uma questão simples de comunicação que houve e que nós esperamos corrigir. Nós temos que aprender com os erros e temos que corrigir no futuro”.
Segundo Galvão, a conversa com o ministro sobre sua exoneração foi “excelente” e “muito construtiva”. “[Ele] conversou comigo de um jeito muito cortês, e o que me deixou muito feliz foi a preservação do Inpe”, prosseguiu.
Pelo Twitter, o ministro escreveu: “Agradeço pela dedicação e empenho do Ricardo Galvão à frente do Inpe. Tenho certeza que sua dedicação deixa um grande legado para a instituição e para o país. Abraços espaciais.”
As declarações reativas de Ricardo Galvão contra Bolsonaro aconteceram após uma série de críticas feitas tanto pelo presidente quanto pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, de que os dados do Inpe sobre desmatamento não eram confiáveis.
A declaração mais controversa aconteceu no dia 19 de julho, durante um café da manhã com jornalistas estrangeiros. Ao ser questionado por um repórter europeu sobre o desmatamento da Amazônia, Bolsonaro disse que existe uma “psicose ambiental”. “A Amazônia é nossa, não sua”, disse.
No dia 25 de julho, em visita a Manaus, Bolsonaro disse que o governo “não pode ter órgãos aparelhados com pessoas que têm fidelidade às ONGs [organizações não governamentais] internacionais”, se referindo novamente aos dados sobre o aumento de desmatamento na Amazônia registrados pelo Inpe.
A Amazônia brasileira perdeu mais de 1.330 milhões de quilômetros quadrados de cobertura florestal, desde que Bolsonaro assumiu o poder. Um aumento de 39% em relação ao mesmo período do ano passado.
Somente em junho, durante a estação mais fria e seca, que facilita o corte de árvores, a taxa de desmatamento aumentou drasticamente em 80% em relação a junho de 2018, revelam os dados coletados pelos sistemas do Inpe.
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