4 de ago. de 2019

Festival em defesa da Feira do MST reúne mais de 2 mil pessoas no centro de SP

COMIDA SAUDÁVEL

Festival em defesa da Feira do MST reúne mais de 2 mil pessoas no centro de SP

Banquetaço com apoio de chefes de cozinha, artistas e entidades serviu 300 kg de comida saudável na Ocupação 9 de Julho

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Evento serviu cerca de mil refeições preparadas por chefes e voluntários / Marina Duarte
Melancia, banana da terra, cenoura e beterraba; arroz integral, purê de inhame e abóbora; caldos, alface, repolho e berinjela. Na tarde deste domingo (4) cheiros e sabores tipicamente brasileiros coloriram a Ocupação 9 de Julho, no Centro de São Paulo, no Festival Comida de Verdade.
Chefes de cozinha, voluntários, movimentos e artistas se uniram para servir um banquete em Defesa da Feira da Reforma Agrária do MST – ameaçada de não acontecer este ano devido à intransigência do governador João Dória (PSDB), que se recusa a liberar o Parque da Água Branca, onde o evento ocorre há 4 anos.
“A gente faz um grande banquete agroecológico, muitas vezes de xepa (sobras). A gente trabalha com o que sobra de uma feira orgânica e o que um produtor orgânico doa e faz uma homenagem neste festival a essa Feira, que é a feira de alimento mais importante do Brasil”, conta Bel Coelho, chefe de cozinha do restaurante Clandestino e integrante do Coletivo Banquetaço.
banquetaçoBanquetaço teve grande variedade de pratos com ingredientes da agricultura familiar
As refeições foram produzidas com mais de 300 quilos de alimento orgânico doados por agricultores familiares e de assentamentos do MST. O preparo contou com a colaboração de outros chefes de cozinha e mais de 60 voluntários. Entre 12h e 16h, foram servidas cerca de mil refeições. Mais de duas mil pessoas passaram pelo local.
A chefe Bel fala da importância de defender a IV Edição da Feira. “O MST é o maior produtor de alimento orgânico do Brasil e da América do Sul. É um movimento muito importante para saúde e também para a democratização da produção agrícola. Sem a democratização e reforma agrária a gente não tem como comer bem”, concluiu.
Para Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, a grande participação popular em eventos como o deste domingo mostra uma tomada de consciência das pessoas em relação à comida saudável.
“A diversidade da agricultura familiar e da reforma agrária está atraindo um público cada vez maior. Esse apoio para realização da Feira, além dos todos tipos de feiras, é muito importante e reflete que a sociedade brasileira avança muito na ideia de consumir cada vez mais alimentos saudáveis. Então, esse ato, e também todas as manifestações de solidariedade, refletem essa tendência. Não tenho dúvida que essa pressão vai fazer com que a Feira seja realizada em São Paulo”, afirmou Mauro.
Gustavo Vidigal, da Rede Sustenta, considera a Feira do MST é uma “dádiva” para a cidade de São Paulo. “A feira e importante porque torna a cidade mais democrática. Os movimentos sociais têm o direito de escolher o lugar onde se manifestam publicamente. E a reforma agrária é fundamental para o país. Por isso que a a gente de engajou nesse movimento, porque pra gente é essencial”.
A Rede Sustenta é uma das entidades organizadoras do Festival, ao lado do movimento Banquetaço, do Instituto Chão, da Cozinha 9 de Julho e do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), responsável pela ocupação.
Após o banquete, o festival prosseguiu com shows musicais no palco da ocupação. Durante as apresentações foi distribuído um manifesto em defesa da Feira, da alimentação saudável e dos movimentos e lideranças criminalizados pelos governos de direita. Leia abaixo a íntegra:
Comida de Verdade no Campo e na Cidade
Hoje, dia 4 de agosto de 2019, seria o último dia da IV Feira Nacional da Reforma Agrária na cidade de São Paulo, caso não estivéssemos vivendo esse momento de duro golpe na democracia no Brasil. O Movimento Sem Terra foi tolhido do seu direito democrático de uso da cidade, onde realizou suas feiras de comercialização de alimentos ao longo de 4 anos, movimentando mais de 200 mil pessoas no Parque da Água Branca na última edição do ano de 2018 e comercializando 400 toneladas de alimentos oriundos dos assentamentos e ocupações rurais.
O território que nos acolhe aqui é o território de outro movimento fundamental na luta pela terra! A ocupação 9 de julho, presente no coração de São Paulo, nos acolhe junto com o MSTC de dona Carmen, de Preta e Sidney Ferreira, presos desde junho pelo “crime” de não se calar frente às injustiças que estamos vivendo. É também contra toda a intolerância, ódio e abuso de autoridade que esse amplo movimento se une numa parceira histórica de defesa dos direitos dos trabalhadores e contra a criminalização dos movimentos populares! Chega de assassinatos e perseguição das lideranças sociais e defensores dos direitos humanos!
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo há muitos anos, porém neste ano de 2019 essa preocupação cresceu entre os brasileiros. Já foram mais de 250 novas substâncias aprovadas pela Anvisa, sendo que muitas delas são extremamente tóxicas para os humanos e meio ambiente. Nossa água, nosso solo, nossa comida e nosso corpo estão sendo contaminados pela ganância da burguesia brasileira, atenta apenas em retomar o crescimento de suas taxas de lucro para sair da crise econômica que assola o país, em detrimento da saúde do povo.
Porém, anunciamos! A solução para a crise no Brasil é todo brasileiro ter acesso ao alimento de verdade! Moradia e alimentos no campo e na cidade e sem agrotóxicos! É inadmissível que a fome volte a crescer num país tão privilegiado em recursos naturais como é o Brasil com um potencial tão abundante e rico em biodiversidade!
Demonstramos isso hoje com o nosso delicioso banquetaço, que recebeu mais de 300 kg de alimentos agroecológicos doados e envolveu mais de 60 colaboradores e chefes de cozinha. O resultado é a comida de verdade para a classe trabalhadora, na busca pela soberania alimentar e na aproximação do agricultor com o trabalhador urbano. É a união campo e cidade derrubando fronteiras e encurtando a distância entre produção e consumo.
Gostaríamos de agradecer a todas e todos que ajudaram a fazer esse festival! Especialmente aos músicos que também nos alimentaram… Não apenas nosso corpo, mas também a nossa alma nessa tarde fria e aconchegante. A cultura comprometida com os direitos do povo pode romper barreiras inimagináveis!
Libertar Preta e seus companheiros, libertar Lula e realizar a IV Feira Nacional da Reforma Agrária é urgente! Convidamos a todos pra engrossarem as fileiras da luta pela democracia. Com alegria e determinação, vamos afastar esse período sombrio das nossas vidas!
Se o campo não planta, a cidade não janta!
Quando o campo à cidade se unir, a burguesia não vai resistir!
Edição: João Paulo Soares

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