8 de out. de 2019

‘Inteligência artificial fez um burro chegar à presidência da República’, diz secretário da CSI

BIG DATA

‘Inteligência artificial fez um burro chegar à presidência da República’, diz secretário da CSI

Víctor Báez, da Confederação Sindical Internacional (CSI), critica o mau uso das tecnologias. Congresso da CUT debate integração internacional para enfrentar a "uberização" do trabalho
  16:46
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JORDANA MERCADO
Vítor Báez, da CSI: hoje um taxista é obrigado a utilizar três aplicativos para complementar a renda, sem nenhuma proteção social (Fotos: Jordana Mercado e Roberto Parizotti)
“Da revolução industrial até hoje produzimos 3 mil vezes mais, mas não há distribuição. Menos de 1% da população mundial controla quase 45% de toda a riqueza produzida, enquanto 2/3 da população mundial fica com apenas 2% do que é produzido”
Rasigan Maharajh, África do Sul
São Paulo – A luta dos brasileiros em defesa da democracia e a resistência à prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem ser encaradas como batalhas globais pelo reequilíbrio na correlação de forças no mundo do trabalho. O papel do mau uso das tecnologias pelo empresariado e as granes corporações e novas formas de organização dos sindicatos para que possam atingir os novos trabalhadores surgidos da precarização das relações profissionais estivaram no centro dos debates que antecedem, nesta segunda-feira (7), a abertura do 13º Congresso Nacional da CUT, em Praia Grande, litoral de São Paulo.
Dezenas de representantes sindicais da América Latina, África, Ásia e Europa participam do evento na manhã de hoje. O sindicalista paraguaio Víctor Báez, secretário-geral adjunto da Confederação Sindical Internacional (CSI), ao mencionar o maus uso das novas tecnologias pelo empresariado, citou de maneira ácida os impactos da inteligência artificial na eleição brasileira: “A inteligência artificial é uma ferramenta que fez um burro chegar a presidência da República”, disse, referindo-se a Jair Bolsonaro. A CSI reúne entidades sindicais que representam 175 milhões de trabalhadores em 155 países.


“A inteligência artificial está nos fazendo acreditar que para ser embaixador do Brasil é preciso saber fritar hambúrguer”, disse o dirigente, numa crítica a indicação de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente , à embaixada brasileira nos Estados Unidos. Báez faz uma alusão ao papel da indústria de fake news disseminadas a partir de redes sociais como Facebook (nos Estados Unidos e Grá-Bretanha) e WhatsApp (Brasil), tendo como alicerces os perfis psicológicos do eleitorado usuário dessas redes, construídos a partir de ferramentas tecnológicas de monitoramento de comportamentos.
O ex-banqueiro e executivo de mídia norte-americano Steve Bannon, estrategista da campanha de Donald Trump e tido como uma dos disseminadores do neofascismo pelo mundo, foi um dos ideólogos colaboradores do uso do chamado big data nas eleições brasileiras.
“Não basta apenas olharmos para as novas tecnologias mas sim, unir a classe trabalhadora do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Precisamos de Lula Livre para lutarmos pelo fortalecimento de toda a democracia na América Latina . E para isso, é preciso fazer uma greve continental que nos permita mostrar a força dos trabalhadores”Bárbara Figueroa, presidenta da CUT do Chile.
A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, observou que o mundo caminhando para mais retrocessos aos direitos da classe trabalhadora, e que os planos do governo Bolsonaro de destruição do sindicalismo brasileiro e os direitos sociais e trabalhistas devem chama a atenção do mundo e atraem a solidariedade internacional. “Precisamos da amizade que construímos ao longo da história da CUT com as organizações internacionais que compreendem o momento que passamos sob um governo de extrema-direita que tira direitos dos trabalhadores, ataca os jovens, as mulheres e os indígenas”, afirmou Carmen.

Confira reportagem completa de Rosely Rocha, para o Portal CUT


Joana Mercado e Roberto Parizotti/CUT
Bárbara Figueroa (Chile), Andreas Botsch (Alemanha) e Carmen (Brasil): integrar ações
O debate sobre o Sindicalismo do Futuro e os Impactos das Novas Tecnologias no Sul Global deu início nesta segunda-feira (7) aos trabalhos do 13º Congresso Nacional da CUT, que está sendo realizado na Praia Grande, e foi além da discussão sobre novas tecnologias. Para os representantes da África, América Latina e Europa que compuseram a mesa de discussões do 13º Concut, sem democracia, sem a contenção dos avanços da extrema direita no mundo e sem Lula Livre toda a luta dos trabalhadores pode ser comprometida.
Ao dar as boas vindas aos participantes, a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, lembrou que nos últimos anos o mundo vem caminhando para mais retrocessos aos direitos da classe trabalhadora. E que no Brasil, diante dos atos do governo de Jair Bolsonaro (PSL) para destruir o sindicalismo brasileiro e dos ataques aos direitos sociais e trabalhistas, é preciso agradecer a solidariedade internacional que a Central vem recebendo e o apoio por Lula livre.
“Precisamos da amizade que construímos ao longo da história da CUT com as organizações internacionais que compreendem o momento que passamos sob um governo de extrema direita que tira direitos dos trabalhadores, ataca os jovens, as mulheres e os indígenas”, declarou Carmen.
A dirigente, no entanto, avisou que “jamais a classe trabalhadora vai se curvar e a CUT, neste congresso, vai demonstrar uma firme disposição para resistir”.
Para Carmen, a democracia cumpre um papel fundamental na defesa dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, mas não se pode pensar num processo democrático no Brasil, sem Lula livre.
“Lula precisa ser libertado porque é inocente, não cometeu crime algum. Não queremos Lula solto com tornozeleira. Armaram contra ele para impedir que  voltasse a governar este país”.
Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT, também agradeceu a solidariedade internacional tanto política como na luta pelos direitos dos trabalhadores e lembrou que a luta dos sindicalistas cutistas é a mesma que a dos companheiros de todo o mundo, em defesa da democracia, do trabalho decente de Lula livre.
“Nossa luta é contra o fascismo e o neoliberalismo e, por isso, o 13º Concut se chama ‘Lula Livre’. Com este Congresso pretendemos que os dirigentes saiam daqui e voltem às suas bases, aos sindicatos e aos seus locais de trabalho com mais informações para lutar contra a avalanche de perdas de direitos”, declarou.
“Estamos passando por mudanças climáticas dramáticas, maior do que pensávamos, e quem sofre as primeiras consequências são os povos dos países subdesenvolvidos, mas o sofrimento também vai chegar para os povos dos países mais desenvolvidos”
Andreas Botsch, Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB Alemanha)

Novas tecnologias

O representante da Fundação Friedrich Ebert (FES Brasil), Yesko Quiroga, acrescentou que a discussão sobre as novas tecnologias tem de vir junto com as discussões sobre globalização e o desenvolvimento demográfico que estão modificando as cadeias de trabalho.
“O avanço da direita, do retrocesso, da precarização com mais flexibilização está afastando a representação sindical porque os trabalhadores não se sentem mais como trabalhadores. Foi incutida a ideia de que somos colaboradores das empresas”, criticou o dirigente da FES Brasil.
SegundoYesko,  instituições de pesquisa coincidem numa visão pessimista de perda de empregos e precarização dos trabalhos, principalmente na América Latina.
“Para enfrentar os efeitos negativos, para ter trabalho decente precisamos de novas estratégias sindicais. O sistema sindical está debilitado. É preciso ter acesso a um sistema social forte e consistente que defenda os menos favorecidos, mas sem movimento sindical isto não vai acontecer”, declarou Yesko.
O representante da África do Sul, Rasigan Maharajh, do Instituto de Pesquisa Econômica em Inovação (IERI), fez um relato histórico de como as mudanças tecnológicas,  desde a revolução industrial até hoje, afetam a vida dos trabalhadores. Segundo ele, desde o século 18 a humanidade tem aumentado sua capacidade de produzir coisas, e em cada uma dessas ondas de produção massiva de riqueza se diminuiu a distribuição e aumentou a concentração de renda.
“Da revolução industrial até hoje produzimos 3 mil vezes mais, mas não há distribuição quantitativa . No mundo somente 42 milhões de pessoas, ou 0,8% do total controlam quase 45% de toda a riqueza produzida. São US$ 143 trilhões nas mãos desta pequena parcela, enquanto 2/3 da população mundial fica com apenas 2% do que é produzido”.
De acordo com Rasigan, uma nova onda tecnológica se aproxima, mas está nas mãos dos que detém o capital, aumentando a exploração e o acúmulo de riqueza.
“A resposta a esses ataques tem de vir dos sindicatos, mesmo vivendo sob um momento que não é exatamente amistoso aos trabalhadores. A tecnologia é resultado da produção humana, mas tem sido expropriada de nós. Isto não é nada diferente do que havia no começo da revolução industrial”.
A liberdade do ex-presidente Lula, mantido preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde abril do ano passado, os novos desafios da classe trabalhadora diante do avanço do neoliberalismo e as novas tecnologias também foram citados pela presidenta da Central Única dos Trabalhadores do Chile, Barbara Figueroa.
Segundo ela, o grande desafio da América Latina é avançar a um sindicalismo que não seja apenas uma política local, mas continental. Por isso, é preciso lutar contra a reforma da Previdência no Brasil, em defesa da aposentadoria e pela democracia.
“Não basta apenas olharmos para as novas tecnologias mas sim, unir a classe trabalhadora do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Precisamos de Lula Livre para lutarmos pelo fortalecimento de toda a democracia na América Latina . E para isso, é preciso fazer uma greve continental que nos permita mostrar a força dos trabalhadores”, defendeu a chilena.
O dirigente da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB Alemanha), Andreas Botsch, reafirmou a luta dos sindicatos do seu país por Lula Livre.
Já sobre os desafios das novas tecnologias no mundo do trabalho, Botsch disse que o aumento da produtividade está se dando às custas dos salários e da destruição do planeta.
“Estamos passando por mudanças climáticas dramáticas, maior do que pensávamos, e quem sofre as primeiras consequências são os povos dos países subdesenvolvidos, mas o sofrimento também vai chegar para os povos dos países mais desenvolvidos”, alerta.
Para ele, o mundo vai enfrentar o “dia do julgamento final” porque o medo sempre foi mau conselheiro.
“As pessoas têm medo do futuro, se terão trabalho. Eu não acho, são os humanos que criam as máquinas e por isso que devemos falar não do trabalho do futuro, mas do futuro do trabalho”.
Para o dirigente, é preciso que a flexibilização do trabalho seja feita de forma que os trabalhadores tenham mais tempo de lazer, de estudo e capacitação e não para exploração da mão de obra.
“É preciso mudar nossa mentalidade para sermos capazes de ser sujeitos desta mudança e não vítimas. Mas, isto não acontece automaticamente. É necessária a promoção de novos empregos e políticas sociais para quem não conseguirá encontrar um novo emprego”, acredita Botsch.
Victor Baez, da Confederação Sindical Internacional (CSI) vê com preocupação o mau uso das novas tecnologias. Ele citou como exemplo, a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República no Brasil.
“A inteligência artificial é uma ferramenta que fez um burro chegar a presidência da República”, disse se referindo a Bolsonaro.
“A inteligência artificial está nos fazendo acreditar que para ser embaixador do Brasil é preciso saber fritar hambúrguer”, disse o dirigente, numa crítica a indicação de Eduardo Bolsonaro, filho zero três do atual presidente , à embaixada brasileira nos Estados Unidos.
O dirigente criticou ainda o uso da tecnologia para que os empresários ganhem ainda mais dinheiro. Citou como exemplo, um taxista que hoje é obrigado a utilizar 2, 3 aplicativos de transporte para conseguir complementar sua renda.
“O trabalhador não tem direitos. Hoje ele trabalha num país, mas quem administra esses aplicativos são chineses, espanhóis, cujas sedes não ficam onde as pessoas trabalham e eles não têm proteção sindical”, criticou.
13º CONCUT

Trabalhador nem sempre sabe que muitas de suas conquistas se devem aos sindicatos, diz diretor da CUT

Para secretário de Comunicação, Roni Barbosa, congresso da CUT precisa debater estrutura sindical capaz de enfrentar o desmonte da legislação trabalhista
  13:22
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ROBERTO PARIZOTTI/CUT
Central defende os interesses do conjunto dos trabalhadores, e não apenas dos seus filiados
São Paulo – Sindicalistas de todo o Brasil se reúnem a partir desta segunda-feira (7) no 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), na Praia Grande, no litoral de São Paulo. Em pauta, a precarização do trabalho, após dois anos da “reforma” trabalhista, e as restrições nas aposentadorias, com a iminente aprovação da “reforma” da Previdência. Há ainda a perseguição do governo Bolsonaro às entidades que representam os trabalhadores.
Com o tema Lula Livre – Sindicatos FortesDireitosSoberania e Democracia, a programação do Concut, que vai até quinta-feira (10), começa com análises da conjuntura nacional e internacional que vão contar com a presença da ex-presidenta Dilma Rousseff, do ex-presidenciável e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, da presidenta do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e do ex-chanceler Celso Amorim.
“É um processo difícil neste momento, e requer que a gente debata qual é a estrutura sindical necessária para enfrentar esse processo de desmonte da legislação trabalhista. Fala-se inclusive que já estaria em curso uma reforma sindical. Nós sabemos o projeto do governo federal. É um ataque, mais uma vez, às entidades sindicais”, afirmou o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (7).
Segundo ele, a crise do desemprego tem submetido as pessoas a trabalhos precários, como os de motoristas e entregadores de aplicativos, marcados por jornadas extensas e quase nenhum direito. “Queremos conhecer melhor essas categorias e ver como é que o movimento sindical pode se inserir para ajudá-las a não serem tão exploradas como estão sendo hoje”, disse Barbosa, sobre a chamada “uberização“.


Papel dos sindicatos

Em cenário de ataque à organização sindical, o Concut também deve discutir estratégias para mostrar à sociedade qual é o papel das entidades. A política de valorização do salário mínimo, por exemplo, derivou de um acordo perseguido pelas centrais sindicais. Implementada a partir de 2004, no início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e sem sua continuidade definida pelo atual governo, essa política previa o reajuste anual calculado a partir da variação do Produto Interno Bruto (PIB) e pela inflação do ano anterior, e foi um dos mais importantes instrumentos de redução das desigualdades no país nos últimos anos.
Esta e outras medidas têm pouco impacto direto em boa parte dos trabalhadores filiados à CUT, que em geral têm remunerações acima do salário mínimo, mas influenciam diversas outras categorias e beneficiam a economia de uma forma geral. “Por isso estamos trabalhando fortemente para rejeitar a reforma da Previdência. Os trabalhadores de baixa renda serão os principais prejudicados. Talvez nem todos estejam representados nos nossos sindicatos, mas achamos isso muito importante. Esse é o papel de uma central sindical.”
Outro exemplo de conquistas sindicais, segundo Barbosa, são benefícios obtidos pelas categorias como plano de saúde e vale-refeição. “O trabalhador bancário, por exemplo, recebe vários benefícios e acha que é uma concessão do patrão, sendo que tudo isso é fruto de conquistas de décadas e décadas de luta dos sindicatos. Todos os direitos que estão acima da legislação são conquistas dos sindicatos, e às vezes os próprios trabalhadores não sabem”, afirmou o secretário de Comunicação da CUT.

Ouça a entrevista completa

CONCUT

Surgida na ditadura, CUT faz seu 13º congresso novamente sob um governo extremista

Aos 36 anos, central reúne filiados para tratar de crescimento, democracia e direitos ameaçados. Congresso escolhe nova direção e homenageia Lula. Abertura terá Dilma e Haddad
  06:09
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Entre o Brasil do general Figueiredo e do ex-capitão Bolsonaro, CUT participou da luta pela Constituição, em 1988, e agora enfrenta um governo que quer desmontá-la
São Paulo – A CUT surgiu em 1983 em resistência ao autoritarismo, nos últimos anos da ditadura, e se vê agora às voltas com um “neoconservadorismo” simbolizado por Jair Bolsonaro, declarado inimigo dos movimentos sociais e assumido admirador do regime de 1964. Sob essa perspectiva, com um de seus principais fundadores preso e cerrado ataque a direitos, a central realiza desta segunda (7) a quinta-feira (10) o seu 13º congresso nacional, o Concut, em um ginásio de Praia Grande, no litoral sul paulista. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será homenageado. O lema do encontro é “Sindicatos fortes = direitos, soberania e democracia”.
“É um lugar simbólico, ali foi o pré-nascimento da CUT”, diz à TVT o secretário-geral da entidade, o metalúrgico Sérgio Nobre, 54 anos, referindo-se a Praia Grande. Foi naquela cidade a menos de 80 quilômetros da capital paulista que ocorreu a 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, a Conclat, em agosto de 1981, reunindo todas as correntes de pensamento do movimento sindical, que se rearticulava após anos de repressão. O Brasil ainda estava sob o governo de João Figueiredo, último dos generais-presidentes, e convivia com instabilidade política.
Grupos de extrema-direita não aceitavam o já lento processo de “abertura” política: em 1980, uma bomba matou a secretária Lyda Monteiro da Silva na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro. Em maio do ano seguinte, exatamente o da Conclat, outra bomba explodiu antes do tempo e matou um militar no Riocentro, que realizava um festival de música. Documentos mostram que a própria Conclat foi monitorada por arapongas do regime.
Sérgio lembra que, ao longo dos anos, a CUT consolidou o conceito de sindicalismo cidadão, que procura não se ater a questões trabalhistas. E também prevaleceu a ideia da negociação, do diálogo. “Nós somos combativos, vamos para a rua, fazemos greve, mas apresentamos soluções.”
Ataque aos sindicatos
Agora, na atual conjuntura, os desafios são enfrentar um mundo do trabalho em rápida transformação, recuperar a democracia e buscar a retomada do crescimento econômico. Em um contexto de ataque às entidades sindicais. Um tema central do 13º Concut será o da liberdade para Lula, um dos fundadores da entidade, em 28 de agosto de 1983, durante congresso em São Bernardo do Campo, no ABC paulista – de 1975 a 1981, ele comandou o então Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. A CUT foi a primeira central brasileira, ainda fora da estrutura sindical, cuja instância máxima eram as confederações profissionais. As centrais só foram reconhecidas formalmente em 2008, com a Lei 11.648, assinada pelo então presidente Lula.
Essa deverá ser a tônica do ato de abertura do congresso, marcado para as 18h desta segunda-feira, com a presença da ex-presidenta Dilma Rousseff, do ex-candidato Fernando Haddad, da presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e do ex-chanceler Celso Amorim. São esperados 2 mil delegados de todo o país. Também estarão presentes perto de 100 representantes de entidades sindicais e sociais, incluindo dirigentes de 40 países. Antes, estão previstos dois seminários internacionais, sobre o futuro do sindicalismo e a desregulamentação e precarização do trabalho.
No último dia, será escolhida a nova direção – nos dois últimos mandatos, a presidência foi exercida pelo bancário Vagner Freitas. O 11º Concut, em 2012, aprovou a paridade de gênero, com os cargos divididos igualmente entre homens e mulheres. Essa resolução foi implementada a partir de 2015.
Desde então, a situação econômica se deteriorou e a política mudou drasticamente. Um processo de impeachment tirou Dilma da Presidência da República em 2016. No ano passado, Lula foi preso. Nesse hiato, um deputado obscuro, Jair Bolsonaro, elegeu-se com retórica moralista e antipolítica, apesar de viver da política há três décadas. Movimentos extremistas ganharam espaço e a agenda parlamentar foi ocupada pelo discurso de ajuste fiscal e de reformas, com destaque para a da Previdência, ainda em discussão no Senado – a trabalhista, dois anos atrás, ajudou a deteriorar o mercado, que agora cria empregos predominantemente informais e sem proteção social. Nesse cenário já adverso, sindicatos perderam fonte de receita e se enfraqueceram. Além de se reorganizar para sobreviver, o movimento sindical tem o desafio de combater o contínuo desmonte das políticas e leis de proteção social.


• Leia também: 
A CUT, o tempo e as ruas

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