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Dr. Rosinha: Mourão mente quando diz que o general Castello Branco foi eleito para presidente da República
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Dr. Rosinha: Mourão mente quando diz que o general Castello Branco foi eleito para presidente da República
31/03/2020 - 17h02
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Triste o povo
por Dr. Rosinha*
Por ocasião do golpe de 1.964´, eu tinha 13 anos de idade e morava no sítio.
Minha vida era estudar (fazia o ginásio na cidade), por um esforço extraordinário do meu pai e da minha mãe, e trabalhar na roça e ajudar outros afazeres –tratar de porcos, galinhas, regar a horta, cuidar do terreiro de café e da horta, etc. –do sítio.
Vida difícil para todos e todas, principalmente para o pai e a mãe.
Na minha família, materna e paterna, não havia militantes políticos, portanto éramos totalmente alienados do processo político que se vivia no Brasil e no mundo naquele período.
Guerra Fria, na nossa realidade e consciência não existia.
Não existia para nós. E pelo que eu saiba nem para nossos parentes e vizinhos. Eram todos alienados, como nós.
Política só em época de eleição. E muito mais para votar do que efetivamente participar.
Sobre política pouca coisa entrava na nossa casa, via rádio rádio e igreja.
Uma vez por mês o padre da nossa paróquia rezava missa e, volta e meia, falava contra o comunismo. E, uma noite por semana, na casa de um ou de outro, eram rezados terços e, às vezes, contra o comunismo.
Como eu era dos poucos alfabetizados, às vezes era quem rezava.
Ninguém sabia o que era comunismo e ninguém sentia a ameaça do mesmo, mas tinha medo.
Para mim, inocente do sítio, creio hoje, que o medo era o mesmo que sentia por fantasmas: terrível.
Rezamos missas e terços contra o comunismo. Veio o golpe militar e a ditadura. Não rezamos pedindo isso.
Ninguém rezou missa ou terço contra o capitalismo e os banqueiros e, a maioria, como nós, dos agricultores familiares, perdeu sua pequena porção de terra para os capitalistas fazendeiros e para os banqueiros.
Hoje acho que rezamos para o Santo errado.
Muita gente ainda reza para o Santo errado e volta suas orações contra o comunismo. Mal sabem que a ameaça está no capitalismo. É o capitalismo que ameaça a vida humana.
Neste momento, uma pandemia ameaça toda a vida humana. Os capitalistas, no entanto, querem salvar a economia, ou melhor, seu patrimônio e capital, e não a vida humana.
Há como salvar muitas vidas e recuperar a economia mundial.
Para que isso ocorra são necessárias duas coisas: humanismo e solidariedade.
Ser humano e solidário significa “repartir o pão”, coisa que os ricos não querem nem ouvir falar.
Eles não precisam abrir mão do “pão que têm”. Continuarão ricos. Basta justiça tributária: só isso é suficiente para arrecadar R$ 272 bilhões de reais a mais por ano.
Com esses recursos se pagaria uma renda mínima, para quem precisa, salvaria vidas e recuperaria a economia.
Mas vida digna não faz parte do vocabulário da burguesia e de parte dos militares.
Hoje faz 56 anos do golpe militar de 1964. Vários militares têm se manifestado politicamente no ensejo de mudar a narrativa da história.
Mourão escreve:
“Há 56 anos, as FA intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população. Com a eleição do General Castello Branco, iniciaram-se as reformas que desenvolveram o Brasil”.
Mourão, propositalmente, nada registra que a ditadura perseguiu, prendeu, torturou, assassinou brasileiros e brasileiras, e que obrigou a milhares a se exilarem.
Mourão mente ao afirmar que Castelo Branco foi eleito.
Tinha eu 13 anos quando do golpe militar e, com a imposição da ditadura, votei pela primeira vez para presidente quando estava com 34 anos de idade. Isto é democracia?
A imprensa noticiou ontem: General Vilas Bôas reaparece.
Coincidência: reaparece na véspera dos 56 anos da instalação da ditadura militar para dar apoio a Bolsonaro, que sempre defendeu a ditadura e seus torturadores.
O golpe dado em Getúlio Vargas, João Goulart e Dilma Rousseff tem o mesmo DNA, o capitalismo –principalmente a elite brasileira –se sentiu, mesmo que pouco, ameaçado.
As razões apresentadas, nos três casos, para darem os golpes são as mesmas: corrupção e ameaça comunista.
Triste um povo que não ganha consciência, que continua marionete dos poderosos.
Triste um povo que continua rezando para o Santo errado e, pior, como se dizia no meu interior da infância e adolescência, “enricando mais os ricos” e agora os pastores.
Triste de um povo que, como na minha família, vive totalmente alienado do processo político que se vivia e, ainda, vive o Brasil.
Triste de um povo que acredita naqueles que governam o nosso país e na balela do comunismo.
*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.Apoie-nos
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