Um crime que foi esquecido: os responsáveis pela morte do reitor Cancellier
Quase três anos depois, a reputação de Cancllier continua manchada pela covardia inominável das instituições em recusar a admitir o erro, formular um pedido público de desculpas, derradeira maneira de consolar familiares e amigos dele, e punir os responsáveis por esse crime.
No dia 14 de setembro de 2017, uma operação desencadeada pela Polícia Federal, a Ouvidos Moucos – comandada pela delegada Erika Merena -, acompanhada por equipes de TV, invadiu o campus da Universidade Federal de Santa Catarina e levou presos vários professores.
Foi o ápice do clima de macarthismo instaurado no país, no bojo da Operação Lava Jato, a tragédia final de um dos períodos políticos mais torpes da história do país, comparável aos tempos de AI-5 e imensamente piores do que os tempos atuais. O clima criado pelo discurso de ódio intimidou o Supremo, fez com que a mídia abafasse o episódio, permitindo a ascensão de linchadores em todos os poderes.
Na PF, eles foram despidos, constrangidos, tiveram as partes íntimas revistadas. Depois foram encaminhados ao Departamento de Administração Prisional para serem encarcerados.
A indignidade foi tratada com naturalidade pela mídia, totalmente entorpecida pelo macarthismo emanado da Lava Jato.
No dia 2 de outubro de 2017, o reitor Luiz Carlos Cancellier subiu no último andar de um shopping em Florianópolis e se matou. Foi um gesto de indignação, de quem viu na própria morte a única maneira de romper com a violência da prisão e a total indiferença de uma opinião pública que perdera totalmente o compromisso com a justiça.
As acusações eram de desvio de R$ 3 milhões, referentes a cursos de educação à distância.
A denúncia foi feita por um professor polêmico, Rodolfo Hickel do Prado, indicado como corregedor da Universidade pela Controladoria Geral da União, no movimento absurdo dos órgãos de controle de interferência na autonomia universitária. As acusações de Hickel contra Cancellier não eram sequer de desvio de dinheiro, mas de tentativa de obstrução das investigações.
O inquérito resultou em um catatau de 817 páginas, onde o nome de Cancellier é citado 8 vezes. No dia 10 de maio de 2018 a Folha questionou a PF, de que não havia uma prova sequer que incriminasse Cancellier em desvio de recursos. A única menção era de um empréstimo de R$ 7 mil de um dos professores a um filho de Cancellier.
A resposta da PF foi nas entrelinhas. Apenas se limitou a informar de que a investigação estava finalizada, uma maneira de informar que nada mais foi encontrado.
Quase três anos depois, a reputação de Cancllier continua manchada pela covardia inominável das instituições em recusar a admitir o erro, formular um pedido público de desculpas, derradeira maneira de consolar familiares e amigos dele, e punir os responsáveis por esse crime. É princípio básico da justiça de transição. Denunciar os abusos, punir os responsáveis, é a maneira das instituições aprimorarem seus protocolos de atuação, se tornarem melhores, impedindo a repetição dos malfeitos.
Os principais personagens dessa tragédia
Delegada Erika Merena

Juíza Janaina Cassol

Procurador André Stefan Bertuol

Quando a Justiça Federal rejeitou denúncia contra o novo reitor da UFSC, por injúria, o MPF de Santa Catarina recorreu à 3a Turma recursal da JF do estado, insistindo no acolhimento da denúncia. Segundo a denúncia, caberia ao reitor, como autoridade de primeira hierarquia da administração universitária presente na solenidade em questão, exercitar o poder de polícia administrativa que “coibisse o malferimento à honra funcional dos servidores públicos retratados na faixa”. E ele, o reitor, teria consentido em “se deixar ser fotografado/filmado em frente à faixa “injuriosa”.
Rodolfo Hickel do Prado

Levantamento feito pelos Josnalistas Livres mostrou que Hiackel já havia sido condenado em instância criminal e civil pela prática continuada de crime de difamação contra um vizinho de condomínio. Chegou a ser condenado a quatro meses e 23 dias de detenção, pelo fato de ter coordenado a invasão do apartamento do vizinho pela Polícia Militar e , depois, impuado-lhe a falsa acusação de ‘obstruir a ação policial”, a mesma que fez a Cancellier.
Segundo reportagem do Jornalistas Livres, no dia 3 de junho de 2010, mais de cinco viaturas com oito homens da Polícia Militar armados, sendo três do Bope portando fuzis e metralhadoras, arrombaram e invadiram o apartamento do professor Cozzatti. Quando viu o síndico alcançar uma escada para que os policiais subissem por ela a sacada do seu apartamento, o professor pediu à mulher que chamasse por telefone o socorro do irmão (como ele se refere ao procurador Ricardo da Silveira dentro e fora dos autos), que acabara de deixar a residência.
A CGU sequer consultou a ficha de Hickel. Mais tarde, quando a reitoria da UFSC demitiu Hickel e indicou novo corregedor, a CGU avançou novamente o sinal determinou o afastamento de corregedor indicado pela própria Universidade.
0 comentários:
Postar um comentário