28 de mar. de 2010

A ARQUITETURA, O URBANISMO, O DESIGN E O TURISMO

Publicado por Victor Tagore
em 17 de março, 2010

Artigo indicado pela arquiteta: Nida Chalegre

A ARQUITETURA COMO MOLA PROPULSORA DAS DESTINAÇÕES

O que seria de Bilbao sem o Guggenheim??? , o que seria de Cairo sem as pirâmides??? O que seria de Paris sem a torre Eifel????? O que seria de Dubai sem os seus prédios e o seu moderno complexo urbanístico?????

O que seria do turismo sem a arquitetura???

O turismo é a única atividade econômica em que o consumidor se desloca até o produto. Muitas vezes a arquitetura é o ponto focal, o objetivo principal do deslocamento desse consumidor. Do ponto de vista econômico é indiscutível que significa um fator propulsor do desenvolvimento e geração de empregos de uma determinada região. Isso é positivo.

Entretanto, ao analisarmos a questão pelo viés do turismo sustentável, verificamos que esse turismo estimulado pelas experiências afetivas e estéticas da visitação a patrimônios históricos e/ou marcos arquitetônicos, pode impactar negativamente as cidades se essas não se prepararem com um planejamento urbanístico adequado.

As pesquisas sobre o impacto ambiental dos produtos EIPRO (Environmental Impact of Products) realizadas por diversos pesquisadores, concluiram que, na Europa, as 3 áreas que causam os maiores impactos ambientais são alimentação, moradia e mobilidade.

O turismo está baseado no deslocamento das pessoas aos sítios que visitam, logo é uma atividade geradora de mobilidade com grande capacidade de se tornar impactante.

Para que esse turismo se torne sustentável, isto é, continue a oferecer a mesma ou até uma melhor qualidade aos futuros visitantes, continue a gerar empregos e desenvolvimento às regiões, primeiramente deve-se buscar avaliar a verdadeira capacidade de carga do destino. Qual o fluxo máximo de pessoas, por um período de tempo, que suporta a visitação a essa arquitetura ou a esse sítio histórico?

Qual a sua conseqüência? Como controlar esse fluxo para um movimento sustentável de pessoas?

Como exemplo podemos citar o aumento da poluição causada pela circulação de veículos automotores em centros históricos, o que pode diminuir a vida útil dessas casas que estão lá há séculos, seja pelas emissões de gases poluidores, seja pela trepidação que, gradativamente, pode vir a abalar as estruturas dos prédios.

Portanto, a forma e a estrutura urbana têm um papel fundamental na melhora da qualidade ambiental e o desenho urbano pode melhorar a qualidade ambiental das cidades com foco na sustentabilidade do “arquiturismo”.

A integração de espaços públicos pode resultar em um espaço urbano permeável e acessível aos pedestres e portadores de deficiência física, reduzindo a demanda por veículos motorizados. Criar circuitos integrados com uma eficiente e segura rede de transporte público pode transformar o caminhar em uma atividade extremamente prazerosa para o turista o que ainda lhe permite apreciar com detalhes a arquitetura que foi buscar.

A sustentabillidade do turismo depende da criação e manutenção de espaços urbanos de qualidade que observem também as questões inerentes à preservação ambiental. Isso envolve vários atores nos processos de decisão: empreendedores, governo e população que, de uma forma interativa poderão minimizar os impactos negativos que a indústria do turismo pode vir a causar nos recursos urbanos das destinações, melhorando a qualidade do meio ambiente natural das cidades.

Essa interação nas decisões, esse envolvimento coletivo é o aspecto positivo que o turismo pode trazer para a região. Nesse caso ele se transforma na mola propulsora do desenvolvimento urbanístico e consequentemente da conservação também da arquitetura histórica local.

O DESIGN DE INTERIORES, SUA IMPORTÂNCIA PARA O TURISMO E O COMPROMISSO COM A SUSTENTABILIDADE

Em um outro aspecto, o Design dos Interiores assume uma responsabilidade solidária. Além de poder contribuir para a preservação da identidade cultural de uma determinada cidade ou região, através da introdução do artesanato, da utilização de materiais e até mão de obra local, o design dos interiores destinados ao uso coletivo dos turistas deve estar atento aos novos conceitos de sustentabilidade.

Nada acrescenta ao turismo de uma determinada região se o turista entrar em um hotel que por sua aparência pode estar em qualquer lugar do mundo, que não remeta ao contexto, às características e à história do destino da viagem. O diferencial está em vivenciar o lugar onde se está hospedado, e é o design que vai proporcionar esse clima, desde a escolha do mobiliário, as cores, os materiais, a iluminação e todos os elementos que vão proporcionar conforto funcional e estético.

Mas e a sustentabilidade?

Trabalhar em prol da sustentabilidade implica trabalhar com prudência ecológica, possibilitar a inclusão social e propiciar desenvolvimento econômico sustentado no tempo. No campo da gestão empresarial, essa tríade tem sido tratada como “triple botton line”, expressão que identifica as três dimensões da sustentabilidade: a ambiental, a social e a econômica.

Na construção existe o conceito do ”Green Building”, cujo significado é intensificar no projeto a eficiência dos recursos utilizados, seja de energia, água e materiais, e ainda reduzir impactos na saúde humana e no ambiente. No Design, a essa mesma intenção podemos dão o nome de “Green Design”.

Ainda podemos acrescentar à tríade, dois fatores que hoje devem ser observado no “Green Design” que é a individualização e a emocionalização que uma vez aliadas à sustentabilidade podem fazer toda a diferença na oferta de um serviço voltado aos interesses de um consumidor mais exigente e atento aos novos tempos e aos novos conceitos.

MEDIDAS QUE PODEM SER APLICADAS EM HOTÉIS RURAIS DE PEQUENO PORTE

1. utilização de madeiras de reflorestamento para móveis, pisos e construção.

2. Energias Limpas – utilizar fontes renováveis de energia, como a energia eólica, solar fotovoltaica (geração de energia elétrica a partir de luz solar) e o aquecimento de água com coletores solares. Essas iniciativas, juntamente com um esforço permanente de uso racional de energia, minimizam a demanda de energia elétrica convencional. Cada placa solar aquece 1000 litros de água, e há ainda a complementação por aquecimento de boiler elétrico que pode ter capacidade de 100 litros de água quente cada. Cada gerador elétrico solar permite que sejam acesas sete lâmpadas por um período de 24 horas.

3. Fossas ecológicas – Sistemas individualizados de fossa-filtro podem ser utilizados para o tratamento dos esgotos. Em associação às fossas ecológicas, pode ser implantado o uso de papel higiênico biodegradável.

4. Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos – Um programa de gerenciamento de resíduos garante o tratamento e a destinação ambientalmente adequados dos resíduos do hotel. Por meio deste programa se faz a triagem e destinação compatível para os resíduos recicláveis e a compostagem dos resíduos orgânicos, reutilizada como adubo no viveiro e na horta, reduzindo assim a necessidade de utilização do serviço público de coleta e destinação do lixo. 70% do material orgânico pode ser destinado à compostagem, à exceção de limão e abacaxi, que levam à excessiva acidez do solo. As latinhas de alumínio podem ser levadas para reciclagem bem como os resíduos de papel que contém tinta. As sobras de papéis sem tinta são também destinados à compostagem.

5. Compras verdes – Os produtos de limpeza utilizados devem ser biodegradáveis, não tóxicos, assim como as sacolas de lixo. As tintas, à base de água.

6. Horta orgânica e menu adaptado – Algumas hortaliças e legumes a serem consumidos, como alface, tomate e rúcula, podem ser plantados de forma orgânica no próprio hotel. O menu é adaptado aos produtos da horta e também pode se adequar à oferta de frutas locais, peixes nativos e suas respectivas épocas.

7. Tratamento da água da piscina – A água da piscina não necessita cloro; o tratamento pode ser feito por de um sistema de filtragem própria através de ionização da água.

8. Paisagismo - minimizar potenciais interferências nos ecossistemas e na paisagem local. Utilizar plantas da flora local, essencialmente espécies nativas, reduzindo impactos sobre a paisagem natural da região e sobre os ecossistemas naturais com a introdução de espécies exóticas.

9. Integração com o entorno – procurar integrar social e economicanente o hotel com a comunidade local por meio da oferta da mão-de-obra, capacitação, assim como ações comunitárias de desenvolvimento regional.

A aplicação de tais medidas encontra respaldo em hotéis com número restrito de hóspedes, já que um hotel de grande porte essas práticas talvez não sejam viáveis.

O próprio fato de se tratar de um hotel implica maiores dificuldades em seguir o plano da sustentabilidade. Há maior facilidade em aplicar ações sustentáveis na moda e no design, por exemplo, pensando em utilizar materiais ecologicamente corretos e procurando associar-se a uma comunidade local. É bem mais dispendioso estruturar todo um hotel para se adequar ao tripé da sustentabilidade, preocupando-se com os todos os detalhes de estrutura arquitetônica, dos interiores, do paisagismo, dos recursos de manutenção e integração com o entorno e ainda prestar um serviço diferenciado privilegiando a individualização (serviço personalizado) e a emoção.

É o desafio do futuro.



Aquecimento Global, Sustentabilidade
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