30.09.2011 Home > Mercado Imobiliário Extraido Construção&Negocios Texto Karla Soares
Ao mar
Considerada a maior descoberta da indústria petrolífera brasileira, a camada de pré-sal e sua exploração abrem uma nova frente de expansão imobiliária no litoral brasileiro, especialmente na Baixada Santista e litoral norte de São Paulo, onde foram encontrados poços de petróleo e gás natural a mais de 5 mil m de profundidade. A Petrobras investiu pesado na construção de tecnologias até então inexistentes para a exploração dos hidrocarbonetos na região. Os investimentos de US$ 104,6 bilhões na exploração da camada do pré-sal correspondem ao período de 2009 a 2013.
A petrolífera brasileira deve implantar uma base logística no Guarujá em um terreno integrante da Base Aérea de Santos. Na mesma cidade, a empresa deverá construir duas torres no bairro Valongo para abrigar sua sede. Com isso, a expectativa da estatal é de que sejam criados em torno de 10 mil empregos diretos na Baixada Santista, que já possui um número grande de trabalhadores atuando em gasodutos e em unidades de tratamento de gás.
Apesar dos altos números que envolvem a exploração da camada de pré-sal, os poços ainda se encontram em fase de testes, o que dificulta dimensionar o volume de produção esperado. Mesmo assim, a simples menção à exploração dos novos poços de petróleo e a consequente infraestrutura em terra para que o processo seja materializado já movimentam municípios da Baixada, como Santos, São Vicente, Guarujá e Caraguatatuba – esta última, já passagem de um gasoduto que chega a Taubaté.
Um dos setores atentos às oportunidades iminentes é o mercado imobiliário. De acordo com o diretor regional do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi), Domingos Nini de Oliveira, a notícia da construção da unidade de negócios da Petrobras em Santos já agitou o mercado local. “Detectamos um aumento no valor das unidades próximas ao entorno da futura sede. Em Itanhaem, por exemplo, os preços começam a subir, bem como em Praia Grande”, comenta.
Oliveira explica que, no caso do bairro Valongo, em Santos, além do aumento do preço dos imóveis, há também a valorização da área localizada no centro antigo da cidade, bastante degradado. “Quando a Petrobras anunciou a construção das duas torres nessa área, começou uma disputa por terrenos”, conta.
O diretor do Secovi frisa que a nova demanda ocorre não só por conta das futuras contratações da petroleira, mas das que envolverão as empresas prestadoras de serviços, como as terceirizadas. Embora não haja nenhuma obra em andamento, Oliveira afirma que a simples menção ao início delas já se configura como possibilidade de revitalizaçãourbana. “Houve uma valorização nesta primeira fase, não para o público em geral, mas da própria área, por conta da expectativa de empreender ali”, pontua.
Na Baixada, o representante do Secovi afirma que a área central de Santos deverá passar por uma grande expansão. “Há expectativas de que as construções dirijam-se às praias. É uma mudança de perfil induzida pelo movimento”, analisa. Domingos Oliveira aponta como efeito imediato dessa mudança a crescente presença de clientes em pontos de venda de imóveis na Baixada. “Santos vai entrar em um círculo ascendente e isso vai se refletir no mercado imobiliário”, acredita. Mas o representante do Secovi alerta que esse reflexo não deve resultar em números astronômicos para o mercado local. “Será uma leve alta”, pondera.
Ainda em relação a Santos, Oliveira lembra que não há disponibilidade imediata de imóveis, sendo necessário construir novas unidades. De acordo com ele, já impulsionada pelos desdobramentos da futura infraestrutura para a exploração de petróleo, a cidade de Santos recebeu cinco lançamentos de prédios comerciais. “São já adaptados para as necessidades de grandes empresas”, conta.
Analisando o mercado de uma região conurbada como é a da Baixada Santista, o representante do Secovi afirma que há expectativa de que o mercado imobiliário também se expanda para a Praia Grande. “Os últimos dados da Fundação Sead dizem que o município cresce, em número de habitantes, em torno de 6% ao ano”, afirma, comparando o processo de ocupação da área com o da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, caracterizado pela construção de inúmeros edifícios de luxo com unidades a preços elevados.
Mais investimentos
A infraestrutura a ser construída pela Petrobras para a produção de petróleo na Bacia de Santos ajuda também a impulsionar outros setores, como o poder público municipal, que investe na formação de mão-de-obra e construção e ampliação de malha viária, aeroportos e urbanização destas áreas.
A princípio, as prefeituras preferem afirmar que os planos de modernização e construção de infraestrutura não têm quaisquer relações com a exploração da camada de pré-sal, mas é notável que muitas ações governamentais visamformar mão-de-obra e propiciar o melhor escoamento de produtos e pessoas com relação direta e indireta ao novo empreendimento da estatal.
De acordo com a prefeitura de Santos, a área que receberá a sede da Petrobras e seus funcionários será modificada por meio do Plano Diretor do Valongo, que prevê diversas intervenções estruturais. Na área também ficará o núcleo principal do Parque Tecnológico de Santos, credenciado pelo governo do Estado, que será o primeiro do país com foco na área de petróleo e gás.
O prefeito da cidade, João Paulo Tavares Papa, afirma que o programa “Santos Novos Tempos” – realizado com financiamento do Banco Mundial – vai atender às principais demandas de estruturas locais. O plano inclui obras de macrodrenagem, segurança nos morros, recuperação ambiental, construção de 5.400 moradias e recuperação de outras 2.200. Estão previstas também as obras do Sistema Integrado Metropolitano (SIM), que utilizará Veículos Leves Sobre trilhos (VLTs) ainda em 2010.
Na educação, a cidade criou em 2008 o primeiro curso técnico público de ensino médio na área de petróleo e gás, em parceria com a Petrobras. Outra ação em conjunto com a Petrobras é a instalação de laboratórios para qualificar o pessoal que atuará nas empresas do segmento. O programa tem custo estimado em R$ 486 milhões (R$ 70 milhões financiados pelo Banco Mundial). Já o SIM será implementado por meio de parceria públicoprivada e está orçado em R$ 688 milhões. O Estado repassou R$ 260 mil para a prefeitura aplicar no projeto de Ciências, Tecnologia e Inovação e no plano de Marketing do Parque Tecnológico. A implementação da escola técnica e as intervenções do Plano Diretor do Valongo ainda não têm custo estimado.
Em Caraguatatuba, por exemplo, o secretário de comunicação do município, André Procópio, explica que as obras em andamento na cidade já estavam previstas no plano diretor. “A cidade hoje é um grande canteiro de obras já previstas anteriormente”, explica. De acordo com Procópio, os recursos utilizados nestas obras são provenientes da arrecadação do próprio município, o que exclui recursos de origem estadual ou federal.
Entre as obras em andamento estão a recuperação de rodovias perimetrais e saneamento básico. Para a educação, o secretário menciona a Escola Técnica Estadual (ETEC) inaugurada em fevereiro deste ano. O município já sedia unidades do SESI e SENAI, que qualificam alunos em áreas de petróleo e gás. Para 2012, já com vistas ao pré-sal, a cidade ganhará uma Faculdade de Tecnologia (FATEC). Ao todo, Caraguatatuba deve investir em torno de R$ 70 milhões nestas melhorias.
No Guarujá, as obras devem abranger a construção de parque tecnológico, ampliação do aeroporto da cidade com o aumento da posta e novo terminal de passageiros, obras no porto e maior oferta de cursos nas áreas de construção civil, portuária, petróleo e gás. Santos também terá ampliação do porto, melhoria na malha viária e, como nas demais cidades, incremento de cursos profissionalizantes. O aeroporto de Itanhaém ganhará melhorias na pista e no terminal de passageiros, bem como um hangar. No quesito saúde pública, haverá ampliação do hospital municipal.
“Nossa visão é de fornecimento de mão-de-obra por estarmos entre o pólo de Cubatão e o Porto de Santos, que são cidades com geração de empregos fortes e conurbadas com São Vicente”, explica o prefeito de São Vicente, Tércio Garcia. De acordo com Garcia, São Vicente exporta mão-de-obra e por isso a preocupação é também com a capacitação. Imaginamos que o fundamental para o crescimento é a capacitação para servir ao sistema”, afirma.
Em relação à capacitação para o pré-sal, o prefeito conta que São Vicente sediará o Instituto do Pré-sal, entidade gerenciada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), cuja sede será erguida em terreno cedido pela prefeitura local. Com o instituto, o poder público espera formar pessoal especializado em pesquisa e exploração de petróleo. A construção civil é contemplada com cursos no SENAI. Já o trade turístico ganha com a capacitação de mão-de-obra para atuar em navios de turismo em uma parceria entre a prefeitura e a MSC Cruzeiros.
A educação, aliás, é ponto comum entre as cidades do entorno do pré-sal. Na avaliação da gerente de Planejamento e Avaliação de Recursos Humanos da Petrobras, Mariângela Mundim, o pré-sal abre uma nova era na área de recursos humanos no setor. A empresa tem necessidade de mão-de-obra qualificada para projetos próprios e precisa também de gente qualificada na indústria de fornecedores, conforme frisou a gerente. Neste ponto a Petrobras atua em parceria com o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), para estimular os jovens a buscarem carreiras no segmento.
Entenda mais
O que é o pré-sal: trata-se de uma sequência de rochas sedimentares depositadas há mais de 100 milhões de anos no espaço geográfico formado pela separação dos continentes americano e africano, que começou há 150 milhões de anos. Um grande lago foi formado entre os dois continentes, onde foram depositadas as rochas geradoras de petróleo. Com o aumento do lago, a água do mar passou a ser depositada no local, dando origem a uma espessa camada de sal de até 2 mil metros de espessura, sobre a matéria orgânica que se transformou em hidrocarbonetos (petróleo e gás natural).
Trabalhos atuais: A Petrobras instalou uma plataforma flutuante para realizar testes de longa duração na área de Tupi, localizada na Bacia de Santos, onde as informações disponíveis permitiram estabelecer volumes recuperáveis entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo.
Para o segundo semestre de 2010 está prevista a instalação do segundo projeto na Bacia de Santos, que será um piloto de produção para 100 mil barris por dia, também na área de Tupi. Para esse projeto também já foi contratado o fretamento de um navio-plataforma, que levará o nome de FPSO Cidade de Angra dos Reis.
A embarcação terá capacidade para produzir 100 mil barris/dia de óleo e 35 milhões de m³/dia de gás natural. A unidade está programada para chegar no Brasil no quarto trimestre de 2010 e será instalada em lâmina d´água de 2.150 m. A meta da Petrobras é iniciar o teste piloto no prospecto em dezembro de 2010.
Linha do tempo do pré-sal
1979 – Primeiras perfurações na camada de pré-sal na Bacia de Campos. Mas, segundo a empresa, nesta fase o contexto geológico era outro e as descobertas confirmadas não foram tão significativas.
2005 / Agosto – Encontrados os primeiros indícios de petróleo no pré-sal na Bacia de Santos, no bloco BM-S-10 –Parati.
2006 / Julho – Encontrada uma jazida de óleo leve no bloco BM-S-11 – Tupi.
Outubro – Divulgados os resultados do teste no primeiro poço perfurado no BM-S-11 – Tupi.
2007 / Novembro – Conclusão das análises no segundo pólo do MS-S-11, Tupi, que indicou volumes recuperáveis entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural.
2008 / Agosto – Comprovada presença de óleo leve em outra região do bloco BM-S-11- Iara.
2009 / Setembro – O presidente Luis Inácio Lula da Silva divulga a descoberta da Petrobras em cerimônia histórica no
Palácio do Planalto. A camada de pré-sal é considerada a maior província petrolífera do país, equivalente às mais importantes áreas petrolíferas do planeta.
2010 – Para atingir as camadas pré-sal, entre 5000 e 7000 m de profundidade, a Petrobras desenvolveu novos projetosde perfuração: mais de 2000 m de sal foram atravessados. Os dados obtidos por esses poços possibilitaram delimitar com elevado grau de segurança que as rochas do pré-sal estendem-se por uma área que vai do Estado do Espírito Santo ao Estado de Santa Catarina, com 800 km de extensão e 200 km de largura, em lâmina d’água entre 2 e 3 mil metros de profundidade.
Cerca de 25% da área de ocorrência das rochas do présal já estão concedidas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis a várias empresas petrolíferas sob a forma de blocos exploratórios e concessões de produção.
Texto: Karla Soares
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