13 de out. de 2011

Impactos da Exploracão do Petroleo e Gas no Turismo - Espirito Santo

Trabalho em parceria do Governo do Estado do Espirito Santo-SEDETUR - SEBRAE-ES - Bandes- Banco de Desenvolvimento do Estado do Espirito Santo SA - 2007
Texto na integra http://www.biblioteca.sebrae.com.br/
Este trabalho vem a somar-se com varios sobre o tema ja publicados no Odtur

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

© Copyright by Sebrae/ES, Vitória, 2007.

APRESENTAÇÃO

No Brasil, a importância do turismo tem sido cada vez mais evidenciada nas políticas públicas em âmbito federal, estadual e municipal e compreendida como fonte de geração de postos de trabalho e de renda. Essa é uma das atividades que mais se desenvolve no mundo, evidenciada pelo aumento de sua participação relativa dentro do setor de Serviços que, por sua vez, vem apresentando crescente influência no Produto Interno Bruto em países desenvolvidos.

Dada a diversidade de seu patrimônio natural e cultural, o Brasil é um dos maiores potenciais turísticos
do mundo, o que tem despertado o interesse de visitantes e de empreendedores de diversos
segmentos econômicos. Isso pode ser comprovado por inúmeros investimentos realizados no País.
Felizmente, o Espírito Santo faz parte deste cenário não apenas pelo nosso potencial de atrativos naturais e culturais mas, sobretudo, nos últimos tempos, pelos vários negócios que emergem principalment com as diversas atividades de setores prioritários da economia estadual.



Os mais distintos estudos dos mais diferentes órgãos e instituições que trabalham na identificação
de setores com as melhores condições de geração de renda e emprego sempre apontam o turismo como um dos mais importantes, seja pela capacidade de agregar valor ao produto turístico local, seja pela possibilidade de absorver quase que imediatamente de grande parte da mãode-obra da região. Eis o porquê de o turismo ser um dos principais segmentos da economia neste princípio de século.
Inúmeras publicações apontam que o fenômeno do turismo, transportando pessoas do seu local de
origem para um determinado destino, por motivo de negócios ou lazer, impacta uma ampla variedade
de atividades econômicas e é também impactado por elas. Entre tais atividades são mais diretas e evidentes: compra de equipamentos de hospedagem, de alimentos e bebidas, de entretenimento e lazer, fabricação de móveis, utensílios e enxoval para equipamentos de hospedagem e de alimentação
e bebidas, confecção de brinquedos para a indústria de entretenimento e lazer, distribuição de
combustíveis, principalmente para aeronaves, ônibus de carreira e lazer, serviços de recepção a
turistas e, até mesmo, serviços de câmbio.

Em particular, no caso do Espírito Santo, todo um cenário vem sendo transformado nos últimos anos.

Essa transformação se associa à indústria de petróleo e gás, à expansão das usinas siderúrgicas, à
fábrica de celulose, à extração e ao processamento de mármore e granito, ao desenvolvimento da
agricultura (em especial da fruticultura), ao uso do espaço rural também para atividades de lazer e
entretenimento, à expansão imobiliária etc. Isso sinaliza claramente que todo o movimento social,
cultural, econômico e ambiental merece ser estudado, o que exige, por sua vez, uma reunião de
informações que nos permitirão uma leitura mais clara de tudo o que vem ocorrendo.
Sob este aspecto, é preciso que lancemos um olhar sobre o social e busquemos entender de que
forma a atividade econômica do turismo impacta ou é impactada por toda essa onda virtuosa que abraça o nosso Estado.

Foi, pois, com este intuito que o Sebrae Espírito Santo convidou as especialistas, Ana Carolina Weber
e Mônica von Glehn Herkenhoff, para discorrerem sobre o tema da “Exploração de petróleo e gás
no turismo”, de forma que possamos disponibilizar a professores, pesquisadores e estudiosos do assunto, ao poder público e à iniciativa privada uma fonte de consulta e informação que venha nortear
a intervenção em vários setores, à luz de uma perspectiva de se ter o turismo como um indutor de um processo de desenvolvimento econômico e social.

No que se refere ao turismo, o estudo busca uma analogia com a experiência de Macaé (RJ) em função da exploração de petróleo na Bacia de Campos. Esse município se viu obrigado a redefinir seu modelo de turismo de negócios, visando a satisfazer necessidades e exigências de profissionais e empresas que se deslocaram para a região temporariamente.

Esse cenário de Macaé, buscando atender o perfil desse novo público, leva o município a investir
maciçamente em melhoria da qualidade dos serviços, infra-estrutura hoteleira e serviços de apoio ao turista (como o transporte), o que foi possível com a utilização dos royalties recebidos pelo poder público municipal.

No caso do Espírito Santo, destaca o impacto nos municípios de São Mateus, Linhares e Vitória, a
partir da rede de hospedagem que apresentou crescimento considerável nos últimos anos ,particularmente na RMGV.

Esta pesquisa chama atenção para a poluição visual provocada pelas plataformas de extração de
petróleo, os possíveis acidentes ambientais que daí poderão advir, bem como para o aparecimento
de pequenos negócios, exigindo a capacitação de mão-de-obra, a fim de atender um turismo mais
seletivo, o que fortalece as modalidades de turismo já praticadas, a exemplo do turismo de negócios,
enriquecendo as rotas turísticas a partir dos atrativos existentes na região.

 INTRODUÇÃO

A cada ano, o Brasil desenvolve aceleradamente sua matriz petrolífera. O petróleo representa,
atualmente, um expoente para o futuro do País. Apesar de tanta euforia que o óleo negro provoca, os Estados e municípios em que se encontram os blocos de perfuração preocupamse com os impactos que a indústria petrolífera pode provocar em suas regiões. É nesse panorama que se buscou estruturar o presente estudo.

As autoras dedicaram-se, primeiramente, a analisar o turismo e suas diversas repercussões. A partir da configuração do turismo e do petróleo é que foi possível verificar os impactos deste na cadeia turística. A pesquisa foi, assim, estruturada, sabendo-se que, em razão de tão vasto tema, não seria possível esgotá-lo.

O TURISMO COMO OPORTUNIDADE DE DESENVOLVIMENTO

Em nosso Planeta, a indústria do turismo fatura cerca de US$ 5 trilhões por ano e gera em torno
de 200 milhões de empregos. Nos últimos anos, registrou-se crescimento nesse serviço apesar
das crises asiáticas e da guerra no Iraque. Segundo especialistas, o turismo é a atividade econômica
que mais deverá crescer no século XXI. De acordo com dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), o número de viajantes, que era de 563 milhões em 1995, deverá passar para 1,6 bilhão em 2020. A atividade turística afirma-se, assim, como o setor da economia de serviços que lidera o mercado de trabalho nos países mais ligados ao ramo.

A globalização está contribuindo para a expansão do turismo de negócios, estimulando as viagens de
incentivo e de lazer, proporcionando as concorrências entre destinos, acirrando a competitividade e
ocasionando a redução de tarifas aéreas e de hotéis ou gerando ofertas de pacotes turísticos tentadores.

No Espírito Santo, o turismo está adquirindo uma nova dimensão, com a criação de novos destinos
turísticos estruturados pela regionalização do Estado e pela criação de rotas diversas e complementares
entre si. Outro fator de importância para o turismo capixaba é a viabilização do Programa de
Desenvolvimento Turístico do Nordeste (Prodetur/NE II) que, em sua segunda fase, proporcionará
uma nova dinâmica para o setor na região Norte do Estado.

 TURISMO – UMA NECESSIDADE SOCIAL E UMA OPORTUNIDADE ECONÔMICA

Objetivando a retomada do crescimento do País, o governo brasileiro vem implementando um novo
modelo de desenvolvimento, selecionando ações e projetos prioritários que possuam condições de
viabilizar plenamente uma multiplicidade de investimentos em empreendimentos turísticos diversos.

Enquadra-se nesse princípio o Prodetur/NE, que tem como agente financiador o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID). Conscientes da importância da atividade turística na economia, principalmente na geração de exterioridades que impulsionam o desenvolvimento, os governos dos Estados nordestinos definiram as concepções de desenvolvimento turístico das unidades federativas e as obras de infra-estrutura necessárias para viabilizá-lo.

O Espírito Santo, apesar de não pertencer à região Nordeste, participa desse Programa, pois o semiárido brasileiro abrange o Norte do Estado, que integra o Polígono da Seca, constituindo, portanto,
área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a atual Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene).

Com vistas a promover o turismo no Espírito Santo e a sua inclusão no Prodetur/NE II, foi elaborado o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS) do Pólo Capixaba do Verde e das Águas, abrangendo os municípios de Conceição da Barra, São Mateus, Linhares, Jaguaré, Sooretama, Rio Bananal, Marilândia, Colatina, Pancas, Alto Rio Novo e Baixo Guandu. Esse Plano tem como metodologia o planejamento integrado, buscando o desenvolvimento econômico sustentável da região e contemplando os seguintes objetivos:
a) dotar a região de uma política direcionada à geração de emprego e renda;
b) efetivar uma política de desenvolvimento equilibrado entre as microrregiões;
c) preservar o patrimônio histórico e cultural existente;
d) democratizar o acesso à prática do desporto e lazer;
e) ampliar e melhorar os serviços básicos oferecidos à população, tais como saneamento básico
(esgotamento sanitário, abastecimento d’água e remoção de resíduos sólidos), infra-estrutura de acessos e transportes;
f) fortalecer e interiorizar atividades relacionadas ao setor turismo, incentivando, inclusive, micro, pequenas e médias empresas;
g) possibilitar uma infra-estrutura turística auto-sustentável e capaz de contribuir para o desenvolvimento econômico estadual;
h) viabilizar os investimentos necessários à expansão do sistema elétrico do Estado, com um nível de qualidade capaz de atender as expectativas de seus consumidores, bem como estimular o desenvolvimento de fontes alternativas de energia;
i) intensificar atividades turísticas que permitam a captação de recursos públicos, garantindo, assim, a efetivação de programas paralelos de ações governamentais;
j) incrementar a circulação de bens e mercadorias;
k) elevar os índices de emprego, bem como proporcionar uma melhor distribuição da riqueza gerada;
l) reduzir as distorções socioeconômicas entre as microrregiões;
m) valorizar e qualificar o quadro funcional do setor turístico;
n) incentivar todas as formas de manifestação cultural;
o) fortalecer o Estado do Espírito Santo na rota do turismo nacional e internacional;
p) superar os desequilíbrios ecológicos e assegurar uma qualidade aceitável do meio ambiente.
O crescimento do desemprego nos grandes centros urbanos nos conduz a uma reflexão acerca da
oportunidade para o desenvolvimento do turismo, levando-se em conta que os investimentos nesse
segmento da economia são usualmente bem mais baixos do que no setor industrial e agrícola. Isso
se deve às características da atividade turística que absorve mão-de-obra qualificada local e se
desenvolve em lugares diversos, onde a natureza é privilegiada: praias, rios, montanhas, vales.

Em algumas dessas áreas é que as atividades de exploração do petróleo e do gás estão presentes,
convivendo harmonicamente, ou não, com o turismo, mas presenciando o risco de poluição ambiental
inerente a esse tipo de atividade.

Nas regiões aonde vem se desenvolvendo a atividade petrolífera, a atração de mão-de-obra especializada para trabalhar nos diversos setores da cadeia produtiva do petróleo ocasiona a evolução e o desenvolvimento de outros setores da economia, repercutindo, assim, nas dimensões social, econômica, físico-espacial (urbana e rural) e ambiental.

 A POPULAÇÃO LOCAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO

A renda gerada pelo turismo não se restringe à aquisição de bens e serviços principais, tais como hospedagem, alimentação, transporte, serviços de agência de viagens ou de guias e atividades recreativas.

Cada um desses itens desdobra-se em inúmeros outros. O hotel, por exemplo, tem serviço de restaurante, para o qual se compram os alimentos, as bebidas, o material de limpeza, a rouparia de cozinha e de mesa, entre outros; além do restaurante, o hotel dispõe de outros setores que também vão se desdobrar em novos itens como: compra de mobiliário, de equipamentos de comunicação, de informática, de roupas de cama, mesa, banho, de produtos de limpeza etc.

Percebe-se a partir desse breve exemplo que os gastos realizados na aquisição de bens e serviços
têm, além do impacto direto sobre a economia, um efeito multiplicador interno que contribui para a
expansão de outras atividades econômicas no município, especialmente no ramo de comércio e serviços.

É assim que, por meio de sua cadeia produtiva, o turismo possibilita a melhoria da qualidade de vida
das pessoas empregadas no setor, que acabam por gastar seus salários, normalmente no mercado
local, movimentando a economia e gerando empregos.

Como uma atividade econômica dinâmica caracterizada pelos interesses múltiplos envolvidos, o turismo requer, dessa forma, ações interinstitucionais articuladas, coordenadas, descentralizadas dos poderes públicos e a participação efetiva do setor privado, incluindo-se, nesse contexto, asOrganizações Não-Governamentais e as comunidades. Com a evolução contínua desse processo, eleva-se a qualidade de vida da população local das pessoas ligadas direta ou indiretamente à atividade turística.

Para que a população possa almejar o crescimento profissional nas várias atividades da cadeia produtiva do turismo, é necessário que ela esteja capacitada de forma a permitir que o turismo se desenvolva plenamente como atividade apta a sustentar uma economia estável. É preciso que a população seja sensível ao turismo, que entenda sua importância e receba bem os turistas, os empreendedores e os prestadores de serviço.

 OPORTUNIDADES DO MERCADO TURÍSTICO

O mercado turístico receptivo de uma região é composto de atrativos que, agrupados em segmentos
específicos, trazem como conseqüências mais proveitosas a descoberta e a exploração de novas oportunidades de negócios, desenvolvendo melhor um segmento já existente ou estimulando um segmento latente, com produtos diferentes. No turismo relacionado a petróleo e gás, os segmentos mais tradicionais são:
a) turismo de sol e mar: tomar sol e banho de mar são atrativos imperdíveis para o turista em
dias de feriados prolongados, férias e fins de semana. São desenvolvidas atividades de lazer,
de contemplação, de esportes e outras;
b) turismo cultural: o turista busca os atrativos culturais disponíveis no local, sejam permanentes,
sejam temporários, tais como: arqueologia, monumentos históricos, museus, festivais
de música, festivais de balé, atrações teatrais, atrativos baseados nas características
socioculturais de uma população que disponha de um estilo tradicional de vida ou com qualidades
próprias manifestadas por meio de festas populares e religiosas;
c) turismo de aventura: baseado na participação dos visitantes em atividades ao ar livre ou
relacionadas à natureza ou ao esporte, tais como, escalada, caminhada, montanhismo,
mountain-bike que, em si mesmas, supõem uma experiência diferente da atividade cotidiana;
d) turismo de negócios: o turismo de negócios envolve deslocamentos de executivos e homens
de negócios para efetuarem transações e atividades profissionais, comerciais e industriais.
São turistas em potencial, já que empregam seu tempo livre no consumo de recreação e
entretenimento típicos desses locais, incluindo-se também a freqüência a restaurantes, com gastronomia típica e internacional;
e) turismo de feiras: tal como no turismo de negócios, envolve a atração de executivos e homens
de negócios em épocas e locais pré-estabelecidos, para participação em feiras e eventos em
torno de temas específicos. No Espírito Santo, realiza-se anualmente a Feira do Mármore e
Granito. A partir de 2005, o município de Vitória passa a sediar a Vitoria Oil & Gas Expo and
Conference, colocando a cidade no circuito dos principais eventos de petróleo e gás. Como
acontece com outras feiras do circuito mundial, a Vitoria Oil & Gas é realizada a cada dois
anos e reúne os principais produtores e fornecedores da indústria mundial do petróleo;
f) turismo esportivo: deriva-se dos acontecimentos esportivos que atraem numerosos visitantes,
tais como: jogos olímpicos, mundiais de futebol, campeonatos etc.;
g) ecoturismo ou turismo ecológico: atividade com amplo crescimento em todo o mundo. Nessa
atividade, o turista procura os locais em que o meio ambiente é o foco principal das
visitas: unidades de conservação, parques, grutas, florestas, rios, chapadas, pantanal, em
que seja possível desenvolver passeio, trilhas, visitas guiadas e pesca esportiva;
h) turismo de educação: faz-se com viagens de estudos para a participação em seminários e
cursos de curta e longa duração: congressos e trabalhos de campo, como as pesquisas de
um modo em geral;
i) turismo rural: refere-se a atividades que são feitas no campo, seguindo os costumes e as tradições vividos em ambientes distantes das cidades e áreas industrializadas, como povoados, sítios etc;
j) turismo de saúde: baseia-se nas viagens a instalações ou locais, com a intenção de obter
cuidados médicos, realizar reabilitação, tratamento de saúde ou de beleza, entre os quais se
destacam os balneários, centros de talassoterapia, fitness center, Sanitas per Aquum (“Saúde pela Água” – SPA) e outros.

No caso de regiões onde há concentração da exploração da atividade petrolífera, essas devem ser preparadas para a recepção tanto das empresas que fazem parte da cadeia produtiva quanto das famílias
que acompanham trabalhadores e funcionários ligados diretamente à atividade em questão. O turismo de
negócios nessas regiões acontece de forma automática em função das características das atividades
inerentes à indústria petrolífera. Há, no entanto, a necessidade de se planejar estrategicamente o turismo, para que ele se desenvolva de forma integrada e sustentável, obtendo uma performance exemplar.

Para tanto, as localidades devem ser preparadas e planejadas de forma sustentável, permitindo à população de áreas urbanas boa qualidade de vida e provê-la com infra-estrutura adequada, equipamentos e mobiliários urbanos dimensionados de forma a atender a demanda e manter o meio ambiente preservado.

 BENEFÍCIOS DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL

O desenvolvimento do turismo sustentável abrange e permite equacionar as necessidades
socioeconômicas, infra-estruturais e estéticas de uma região. Possibilita o incentivo à preservação
do patrimônio cultural local. Além disso, promove o controle de processos de degradação ambiental,
trazendo benefícios para as populações residentes e para os turistas, garantindo às gerações futuras
os benefícios desse desenvolvimento planejado. Implica, também, a tomada de decisões políticas
que podem ser severas, como monitorar ou restringir o acesso de pessoas a determinadas áreas que
requerem um controle ambiental mais rigoroso e que necessitam de uma visão a longo prazo, principalmente no momento de efetivar o processo de planejamento.

Em qualquer forma de desenvolvimento, torna-se essencial manter o sentido histórico, cultural e o
da identidade da população local. Efetivamente, o turismo sustentável pode conseguir tudo isso mais
amplamente, considerando-se que ele:
a) monitora os impactos na natureza, na cultura e no comportamento humano;
b) assegura investimentos mais adequados em infra-estrutura de acessos, saneamento básico,
entre outros, e a obtenção de benefícios para a região, possibilitando o desenvolvimento da
economia e a conseqüente geração de emprego e renda;
c) estimula o trabalho na cadeia produtiva do turismo (hotéis, restaurantes, transportes, serviços de guias etc.);
d) gera intercâmbios com o exterior e injeta capital novo na economia local;
e) diversifica a economia local, particularmente nas áreas rurais onde o emprego na agricultura
é esporádico ou insuficiente;
f) realiza a tomada de decisões com todos os segmentos da sociedade e com a população local,
para que tanto a indústria turística como os demais usuários dos recursos possam coexistir.
Assim, incorpora o planejamento e a regionalização e assegura a boa relação entre o
desenvolvimento do turismo e a capacidade de suporte do ecossistema;
g) estimula a melhoria nos transportes locais, nas comunicações e nas outras infra-estruturas básicas;
h) cria regiões de lazer que podem ser utilizadas pela população local e pelos turistas. Também incentiva e ajuda economicamente a preservação de sítios arqueológicos, de edifícios e de bairros históricos;
i) incentiva o turismo rural, com uso produtivo de terras impróprias para a agricultura;
j) proporciona à população local, no que tange à prática do turismo cultural, o conhecimento
de suas tradições e maior entendimento de outras culturas;
k) evidencia a importância dos recursos naturais e culturais para a manutenção socioeconômica
do patrimônio existente na região.

EVENTUAIS IMPACTOS NO TURISMO

 IMPACTOS POSITIVOS

Os principais impactos positivos gerados pela indústria do petróleo são relativos à cadeia produtiva:
turismo de negócios; geração de emprego e renda; royalties para os municípios envolvidos; desenvolvimento para as regiões de influência; e desenvolvimento de outras formas de turismo.

 Cadeia produtiva – turismo de negócios

A experiência do Estado do Rio de Janeiro, em Macaé, em relação à exploração de petróleo na Bacia de Campos, mostra o quão relevante é a indústria do petróleo para o turismo. A cidade de Macaé vem sendo completamente redefinida em razão da exploração petrolífera. Empresas, executivos, engenheiros, advogados e técnicos são atraídos para a região, fazendo com que o município tenha que redefinir seu modelo de turismo de negócios, a fim de satisfazer as necessidades de todos esses potenciais “turistas”. O mencionado município é um mero exemplo, uma vez que em qualquer local onde se explore ou se produza petróleo, observa-se esse movimento de crescimento do turismo de negócios. Seja nos campos de exploração, seja nas proximidades das refinarias, faz-se necessária a criação de uma infra-estrutura capaz de recepcionar todo esse contingente humano que se dirige a tais locais. Parece natural que hotéis, restaurantes, meios de transportes e estabelecimentos de lazer alcancem níveis de qualidade tais que permitam a atração de um número cada vez maior de turistas em busca dos atrativos adicionais oferecidos.

Dessa forma, espera-se que os governantes liderem o processo de crescimento da atividade turística na
região, considerando que os royalties recebidos podem ser aplicados nos programas  de profissionalização, na estrutura de transportes e, principalmente, na estrutura hoteleira, em parceria com o setor privado.

No Espírito Santo, o turismo nos municípios de São Mateus, Linhares e Vitória vem sofrendo impactos
diretos provocados sobretudo pela indústria do petróleo. Constata-se esse fato na evolução socioeconômica ocorrida nessas circunscrições regionais nos últimos anos. Um dos indicadores dessa evidência está relacionado à oferta de Unidades Habitacionais Hoteleiras (UHs), que apresentou razoável expansão nos últimos anos, em função do crescimento da demanda gerada pelo turismo de negócios, de eventos e de feiras, com repercussão maior na região da Grande Vitória.

 Geração de emprego e renda

Até o ano de 2010, estima-se que a indústria brasileira de petróleo e gás deverá receber um montante
de US$ 60 bilhões em investimentos. Os recursos terão origem não somente nos órgãos governamentais,
mas, também, nas empresas privadas, com amplos interesses no setor e na própria Petrobrás.
Esse aumento nos investimentos não representa apenas um maior crescimento, em estrutura, da
indústria. Ele representa uma expansão no número de postos de trabalho e na renda dos municípios
envolvidos. Adicionalmente, deve-se prever que a tendência será de que a indústria necessite cada
vez mais de mão-de-obra mais bem qualificada e atenta às necessidades da atividade petrolífera.

Contudo, isso não significa que só haverá emprego para aqueles que sejam especializados, por exemplo, em engenharia de perfuração em águas profundas. A expansão de toda a cadeia produtiva permite antever que, entre outros, haverá trabalho para arquitetos – que projetarão as casas dos empregados da indústria; para o engenheiro elétrico – que auxiliará no funcionamento dos equipamentos e para diversos outros especialistas. Por extensão, deve-se admitir que, em decorrência da maior geração de emprego e renda, haverá, conseqüentemente, uma maior disponibilidade de recursos para serem investidos no lazer, no descanso e nas férias. Dessa forma, a região será beneficiada com equipamentos turísticos adequados para proporcionar atividades diversas, gerando novos postos de trabalho ligados à cadeia produtiva do turismo.

Assim, podem ser sintetizados os principais benefícios oriundos da expansão da indústria do petróleo:
a) dinamização do comércio e serviços locais;
b) geração de empregos diretos e indiretos;
c) aumento na arrecadação dos municípios;
d) distribuição mais igualitária da renda; e
e) desenvolvimento do turismo ligado sobretudo a negócios, feiras e eventos.
 Royalties para os municípios envolvido

Deve ser enfatizado que a arrecadação dos valores advindos do pagamento de royalties passa a ser essencial para alguns desses municípios. Muitas vezes, é desse montante que vem a verba
para investimento em infra-estrutura, para a capacitação da população e, ainda, para o estabelecimento
de planos de desenvolvimento para o próprio município. Isso pode ser percebido em Vitória (ES). A cidade, tradicionalmente conhecida por seu turismo, vem recebendo grandes investimentos em razão da atividade de petróleo e gás. O município vem destinando os recursos provenientes do recebimento dos royalties à ampliação da rede de energia, pavimentação de rodovias, proteção ao meio ambiente, saneamento básico, infra-estrutura em geral e a qualificação de sua população.

 Desenvolvimento de outras formas de turismo

A partir do turismo de negócios, de eventos e de feiras, todos desenvolvidos em regiões cuja base
da economia gira em torno da indústria petrolífera, outras formas de turismo surgem na região. São
estruturadas rotas e circuitos tematizados, tendo como base os atrativos existentes nesses locais,
envolvendo a gastronomia típica, aspectos culturais e folclóricos, esporte, aventura e, mesmo, lazer.

O mercado ou o público-alvo é o empresário do setor petrolífero que trabalha nos arredores ou aqueles
que juntamente com seus familiares e amigos para ali vão à busca de novos negócios. Dessa
maneira, é estruturada uma cadeia de oferta de serviços voltados às diversas modalidades de turismo,
movimentando as atividades ligadas aos setores primário, secundário e terciário da região.

Ademais, na organização de toda essa rede de turismo, deve-se ter em mente que as receitas daí
advindas, que dão sustentabilidade ao sistema, derivam sempre de uma decisão do turista. Por isso,
o turismo deve ser orientado de forma a satisfazer seu usuário, uma vez que será sua avaliação
positiva do local e de sua estrutura que garantirá a sobrevivência do sistema.

 IMPACTOS NEGATIVOS

Os principais impactos negativos gerados pela indústria do petróleo são relativos a acidentes ambientais e à poluição visual provocada por plataformas de extração de petróleo.

 Acidentes ambientais

O acidente em 1989, com o petroleiro Exxon-Valdez - Alasca
Em razão desse risco em potencial, começou a crescer pelo mundo afora uma consciência sobre a
necessidade de proteção do Meio Ambiente. Nesse sentido, foram sendo formados conceitos como
o de desenvolvimento sustentável, que deveriam ser aplicados para que as atividades humanas não
inviabilizassem o futuro da natureza.

A Eco-92 teve importância não só para proteção do meio ambiente como um todo, mas também
despertou a atenção de diversos setores da economia. Isso ocorreu no setor de turismo em que
grandes associações como a American Society of Travel Agents (Asta), World Travel and Tourism
Commission (WTTC), Pacific Area Travel Association (Pata), entre outras, reconheceram o impacto
da atividade turística no meio ambiente e firmaram o compromisso com a sua defesa.  Recentemente,
em Quioto (Japão), adotou-se um Protocolo pelo qual os países industrializados diminuiriam suas
emissões combinadas de gases de efeito estufa em no mínimo 5% relativos aos níveis de 1990 até
o período compreendido entre 2008 e 2012.  No Brasil, em que grande parte da extração é realizada em alto mar, os riscos de derramamento de óleo são elevados.

É possível ainda perceber outros impactos potenciais: sobre a pesca, pelos riscos que provoca a
falta de conservação do maquinário utilizado; sobre espécies em extinção, por causa da produção
de gases que poluem a atmosfera; e, principalmente, sobre os ambientes que são estratégicos para
o desenvolvimento do turismo.

Em razão de tais riscos, cabe aos governos estaduais e municipais promover uma ampla fiscalização
sobre as práticas da indústria petrolífera, de forma a fazer valer o aparato normativo já existente.
Nesse aspecto, no Brasil já existem algumas leis que visam a orientar as atuações da indústria e também a impor sanções a quem as descumprir.

Em função de toda essa base normativa e de uma maior conscientização da necessidade de preservação
da fauna, da flora e das águas brasileiras, as empresas têm adotado práticas naturalmente corretas. Como paradigmas, temos a Recupetro que, a partir de 2001, tenta obter avanços tecnológicos para auxiliar nos impactos causados pela atividade petrolífera. Além disso, a Petrobrás,
em razão de acidentes como os de 2000 na baía de Guanabara e no Paraná, deu início ao Programa
de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Ocupacional (Pegaso) que, com R$ 2,3 bilhões já
investidos, representa um expoente na defesa do Meio Ambiente.
Assim, a atividade petrolífera pode severamente afetar o Meio Ambiente. Mas tanto a indústria como o poder público têm-se organizado para amenizar e eliminar tais impactos potenciais.

 Poluição visual provocada por plataformas de extração de petróleo

Não deixa de ser uma intrusão visual as plataformas de extração de petróleo ao longo das praias,
principalmente se houver uma concentração dessas unidades em um reduzido trecho desses locais.

Ademais, podem ser consideradas como elementos estranhos à paisagem, representando,
subliminarmente, ameaças de poluição das águas destinadas ao lazer dos banhistas que freqüentam
essas praias. Ressalta-se, assim, a necessidade de um constante controle ambiental da região e uma freqüente fiscalização da conservação dessas plataformas.

Para o turismo, essa interferência visual na orla marítima compromete o desempenho de atrativos,
como praias ideais para o desenvolvimento da atividade de turismo de sol e mar. Entretanto, é possível,
com campanhas entre a população local e os agentes do turismo, demonstrar a boa conservação
da plataforma e as medidas que são tomadas para a manutenção da vida marinha do local. Isso
permitiria amenizar os impactos visuais sobre o turismo da região.

Autoras- Ana Carolina Weber e Monica von Glenh Hertenhoff
Sebrae-ES
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