17 de nov. de 2011

CAMINHOS DA FRUTICULTURA - Beth Pereira - Parte III

"Três jovens percorreram os principais pólos de fruticultura a partir do Espírito Santo para traçar cenário realista, visando à implantação de pólos frutícolas em Goiás"

Beth Pereira







A Expedição Caminhos da Fruticultura, idealizada pelos universitários Glauber Pires Ferreira (23), Reginaldo de Carvalho Gomes (27) e Daniel Custódio Lopes de Oliveira (23), alunos do curso de Agronomia da Universidade Rio Verde, saiu de Rio Verde (GO), com os três a bordo de uma caminhonete, no dia 18 de dezembro do ano passado, com um duplo propósito: fazer uma análise do setor, visando adquirir conhecimentos verticalizados da cadeia de fruticultura brasileira e coletar informações para elaborar a monografia de conclusão de curso.





A expedição terminou no dia 22 de fevereiro e, desde março, os alunos fazem parte da Comissão Estadual de Fruticultura do Estado de Goiás, órgão que congrega representantes de várias entidades do Estado. "Estamos apresentando o cenário do setor, com base nos dados coletados e discutindo sobre as possibilidades de instalação de vários pólos de fruticultura em Goiás", conta Ferreira, acrescentando que a idéia é começar organizando os produtores de citros, uvas e, depois, ampliar para outras culturas. Atualmente, o Estado só tem um pólo organizado, o de melancia, em Uruana, que exporta a fruta para a Argentina.

A viagem durou 67 dias, tempo em que os estudantes percorreram 17 mil quilômetros, passando por 14 Estados, 61 empresas, 49 fazendas e 35 packing houses. O resultado foi a formação de um grande banco de dados do setor, composto por fotos, entrevistas e filmagens. "Conseguimos englobar todos os elos envolvidos direta e indiretamente com a cadeia produtiva da fruticultura", afirma Ferreira. Ele e os outros integrantes do grupo sempre tiveram interesse na fruticultura, que é incipiente em Goiás, tanto que tiveram de fazer estágio fora do Estado, em órgãos de pesquisas e empresas da Bahia e de São Paulo.

O projeto contou com o apoio de prefeituras do estado de Goiás, Universidade de Rio Verde, Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo) e Instituto Brasileiro de Frutas - Ibraf, "que foi o grande intermediador da nossa entrada nas empresas", diz Gomes.

CENÁRIO REALISTA

No percurso, muitas paradas: em empresas e produtores de portes e perfis diferenciados, portos, aeroportos e grandes projetos de irrigação dos pólos produtores de frutas do semi-árido nordestino. "Para traçar um cenário mais realista sobre o setor, definimos, como foco principal, grandes empresas e alguns projetos de agricultura familiar", explica Gomes. Com profissionalismo e tecnologia, é possível melhorar a produtividade e instalar novos pólos de fruticultura no País, como em Goiás, onde a atividade é incipiente", observa Oliveira.

Os universitários destacaram pontos positivos, como o potencial que a fruticultura representa para o País na geração de divisas e como importante fonte de renda para a agricultura familiar. Ferreira garante que o Brasil tem tudo para dominar o mercado mundial de sabores de frutas. "No mercado interno, a tendência é de aumento de consumo de sucos de frutas, haja vista que o consumo per capita ainda é muito baixo", afirma, acrescentando que todas as empresas de processamento de frutas visitadas estavam ampliando o parque industrial, apostando no aumento das demandas interna e externa. "Para a exportação, há uma forte demanda por outros sabores de sucos brasileiros entre eles goiaba, manga, caju e acerola que poucos estrangeiros conhecem."

"Embora seja inegável o progresso que há nos portos e aeroportos, falta muito para o setor tornarse eficiente. A burocracia e a falta de infra-estrutura imperam na maioria dos portos", enfatiza Ferreira. "Nos aeroportos também há problemas de logística, principalmente em relação à capacidade de receberem cargueiros. Soma-se a isso, a falta de investimentos em câmaras frias para frutas e de vôos freqüentes para Europa, Estados Unidos e Ásia", completa Gomes. Ele observa que a exceção é o Aeroporto de Petrolina, planejado para a cadeia de fruticultura, com câmaras frias e vôo semanal para Europa com avião cargueiro. Graças aos investimentos em infra-estrutura, o volume embarcado de frutas saltou de 12 mil quilos, em 2004, para 706 mil quilos, em 2005. "De janeiro a setembro de 2006, os embarques para o Japão aumentaram 17 vezes comparado a todo ano de 2005", ilustra Gomes.

Eles também identificaram problemas para o escoamento da produção. "Dos quatro portos visitados no Nordeste, os dois localizados nas capitais (Salvador e Natal), não têm estrutura nem condição de expandir a infra-estrutura e a eficiência em relação aos complexos portuários de Suape (PE) e Pecém (CE), que ficam longe dos grandes centros urbanos", salienta Oliveira. Durante a viagem, as principais reclamações que os universitários ouviram dos produtores exportadores foram relacionadas ao câmbio desfavorável em 2006, à alta carga tributária e ao aumento dos insumos nos últimos anos.

No Espírito Santo, os universitários visitaram indústrias de processamento de sucos e os pólos de produção de maracujá, goiaba e mamão no norte do Estado. "Ficamos impressionados com o tamanho do pólo de mamão capixaba, a organização e tecnologia dos produtores", conta Ferreira. Na Sucos Mais, que só trabalha com concentrado de frutas, os estudantes destacam a preocupação com segurança alimentar e com as certificações; na Caliman, primeira do ranking das exportações de mamão, o profissionalismo e a tecnologia; na Agrapex, souberam que os contratos firmados com produtores da região garantem a demanda de exportações de mamão.

No pólo de maracujá de Sooretama, com 2 mil hectares da fruta, onde predomina pequenas propriedades, uma queixa comum, ouvida pelos estudantes, foi de que a pressão de população de pragas e doenças está tornando inviável o custo de produção de maracujá na região. "Muitas lavouras foram dizimadas", conta Gomes.

No extremo-sul da Bahia, onde também predomina o mamão, a expedição constatou o otimismo dos produtores com a atividade, que ganhou impulso a partir de 2005, com a abertura do mercado americano para a fruta da região. O roteiro, na região incluiu a Bello Papaya, grande produtora de mamão; o grupo Lembrance, cujo foco é mamão, mas também trabalha com eucalipto, cacau e banana.

No percurso, a expedição passou por Estância (SE), onde visitou a Tropfruit, grande distribuidora de concentrados de suco de frutas, visando às exportações para Estados Unidos, Europa e Ásia. De lá, seguiu para o projeto de citricultura da Itacitrus, em Inhambupe (BA), empresa responsável por grande parte das exportações brasileiras de limão em 2006 ; para a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas, onde conheceram pesquisas com banana, abacaxi, manga e o umbu. Mais adiante, visitaram o Sítio Barreiras, produtor de bananas no Maranhão e no Ceará, e agora está com novo projeto em terras baianas, com 120 hectares da fruta irrigada.

VALE TECNIFICADO

No pólo de fruticultura do Vale do São Francisco, em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), que responde por grande parte das divisas brasileiras com exportação de frutas, o grupo conta que ficou impressionado com a estrutura industrial e empresarial montada para o setor. "Há muitas empresas altamente tecnificadas e cujo processo produtivo visa a excelência, tanto que algumas conseguem exportar a maioria da produção para os Estados Unidos, Europa e Ásia", diz Ferreira. O roteiro incluiu visitas à Embrapa Semi-Árido, projetos de irrigação no Vale; Niagro, empresa japonesa que processa polpa de acerola para atender o mercado japonês; Agrobrás e Fruitfort, que produzem manga e uva no Vale; Vinícola ViniBrasil, que está investindo bastante na vinicultura no Vale do São Francisco, em Lagoa Grande, entre outras.

PARCERIAS E INICIATIVA

O Rio Grande do Norte, segundo apurou a expedição, conta com 13 empresas processadoras de polpa de frutas. No Estado, os universitários visitaram algumas empresas de mamão, que antes produziam apenas no Espírito Santo, mas foram atraídas pela logística mais favorável. Entre elas, a Gaia; assentamento do MST e de agricultura familiar do governo que têm parceria com a Caliman, que garante a compra e a distribuição do mamão produzido; o Projeto Ramada, de produção de abacaxi, voltado para a agricultura familiar; a Finobrasa, empresa voltada para a produção de manga e mamão; as lavouras de banana da Banfrut, para exportação; os cultivos de banana Pacovan para o mercado interno no Distrito de Irrigação Baixo Assu. "Vimos muitos lotes abandonados", conta Ferreira, acrescentando que no município há grandes investimentos da Del Monte para a produção de banana para exportação, com impacto na geração de emprego, renda e no desenvolvimento regional.

O roteiro incluiu a Procajus, que processa castanha de caju e mel, em parceria com pequenos produtores locais e assentados da Serra do Mel (RN); a WG, empresa produtora de melão, mamão, banana, tomate e pimentão no Rio Grande do Norte e no Ceará, que trabalha com contratos para a comercialização da safra. "O melão é comprado pela Intermelon, da Agrícola Famosa. Na Chapada do Apodi (CE) cultiva banana e vende a produção para a Frutacor. Já o mamão, que tem qualidade de exportação, é entregue para a Caliman", diz Oliveira.

EXEMPLO DE ORGANIZAÇÃO

O pólo de Mossoró, principal produtor de melão e melancia para exportação do Rio Grande do Norte, é, segundo constatou Gomes, bem organizado e focado no mercado internacional. "As empresas possuem infraestrutura para produzir diversos tipos de melão e exportar para várias partes do mundo", observa. "Os contratos de exportação são, geralmente, firmados antecipadamente", diz. "Não é por menos que o pólo de melão tem tanta importância para a fruticultura brasileira, representando divisas de US$ 88,2 milhões, o equivalente a 18,7% do valor das exportações do ano passado, que alcançaram U$$ 472 milhões", completa Ferreira.

Na região, a expedição visitou a fábrica de polpa de frutas da Cervap (Cooperativa de Energia e Desenvolvimento Rural do Vale do Apodi), que produz 35 toneladas de polpas de 11 sabores para atender à demanda de Fortaleza e Natal. Visitou ainda a Potyfrutas, cooperativa de produtores de melão e melancia, formada por engenheiros agrônomos, que exportou 1,2 milhão de caixas de melão e 1 milhão de caixas de melancia para a Europa, em 2006. Eles conheceram também a Nolem, maior empresa produtora de melão do Brasil; a Agropecuária Otani, produtora de melão em Baraúna (RN), além da Mini-Fábrica de Caju de Córrego, projeto do governo federal, em parceria com Sebrae, Embrapa e algumas fundações, para agregar valor à produção da fruta.

FRUTAS CONVENCIONAIS E ORGÂNICAS

Os produtores de melão do Ceará têm condições de competir e abastecer qualquer mercado mundial, segundo os integrantes da Expedição Caminhos da Fruticultura, após visita ao grupo Doçura, em Quixeré (CE), que possui cerca de 300 hectares da fruta para exportação, em parceria com produtores.

No Estado, a expedição também passou na Frutacor, no Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, com 600 hectares de banana e 150 hectares de mamão; na Figood, que produz figo para exportação; na fazenda de processamento de caju da Itaueira, no Tabuleiro de Russas; na Agrícola Famosa, produtora de melão e melancia; na Del Rey, em Icapuí, braço da produção de abacaxi para exportação da Agrícola Famosa; na fábrica de sucos Jandaia, em Pacajus, onde também fica a Flamingo, outra empresa do grupo.

"Ficamos impressionados com a fazenda da Amway Nutrilite do Brasil, em Ubajara(CE), considerada a maior área de acerola orgânica do mundo, com 200 hectares da fruta, além de 75 hectares de coco, 40 hectares de maracujá, 6 hectares de caju, 1,5 hectares de goiaba, além de 2 hectares de ervas medicinais", relata Gomes. "Vimos a importância da sustentabilidade ambiental no cultivo de frutas", diz Oliveira. O interessante, segundo o trio, é que a acerola, colhida ainda verde, é concentrada e transformada em acerola em pó e exportada para a matriz da empresa, nos Estados Unidos. A polpa de goiaba segue também para aquele país, sendo que a polpa ou o concentrado de maracujá destina-se à Europa.

Finalmente, a expedição chegou no Tocantins. Lá, foi conferir o pólo de produção de abacaxi pérola destinado à exportação, onde ficam as lavouras do produtor Washington Dias. "Constatamos as dificuldades enfrentadas por Dias em relação à exportação, por causa da logística desfavorável do Estado, que fica distante do porto", diz Ferreira. "A região tem características climáticas semelhantes à realidade de Goiás", arremata Oliveira. Agora, os alunos estão analisando os dados apurados durante a viagem e juntamente com a Faeg (Federação da Agricultura do Estado de Goiás) e outras entidades estão criando as bases para o desenvolvimento da fruticultura goiana.

Matéria retirada da Revista Frutas e Derivados
Site: http://www.ibraf.org.br/revista/revista.asp  autoria Beth Pereira
ilustração inserida no original publicado na revista
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