Foto de Larissa Armani |
Turismo e a base da pirâmide
Baseado no seu coeficiente de GINI, o Brasil é tido como um dos países mais desiguais do mundo (dados estatísticos adicionais podem ser encontrados aqui) e o país já é por muito tempo um dos principais destinos turísticos em escala mundial. Nesta postagem do blog, trato de explorar a questão se o setor de turismo pode vir a ser alterado de modo que estabeleça de uma vez por todas, uma igualdade maior, ou seu destino é então continuar a fazer parte do problema. Desenvolvo aqui o argumento de que o crescimento inclusivo sustentável tem que estar intrinsecamente ligado ao potencial de crescimento do setor de turismo em particular.
Nestes últimos anos, constatamos que a desigualdade de renda no Brasil está em queda. Isto pode ser comprovado como verdadeiro em setores como a educação e o transporte, bem como nas políticas sociais. Mas a disparidade de raça e de gênero compromete dois dos fatores mais complexos no esforço do país em direção a uma igualdade econômica maior. Estas questões ainda têm que ser resolvidas e consideradas com todo o cuidado à medida que o país avança para um crescimento novo e contínuo no setor de turismo.
Para levantar a questão do crescimento inclusivo sustentável, o Retrato da Desigualdade, publicado pelo Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mostrou que os negros no Brasil representam 49 % da população brasileira, e são os que têm duas vezes mais chances de viverem abaixo da linha de pobreza. Um pouco menos da metade, ou seja, mais de 40 % dos negros brasileiros vivem abaixo da linha nacional de pobreza e, além disso, representam 66 % dos lares que moram nas favelas. No Brasil, as mulheres recebem, em média, apenas 56% em comparação à renda dos homens, até mesmo quando atingem níveis de educação significantemente mais elevados que os homens. Mais ainda, 30 % da mão de obra feminina no Brasil está numa situação de vulnerabilidade econômica bastante elevada, como, por exemplo, envolvidas nas tarefas domésticas, no trabalho sem remuneração ou simplesmente no trabalho para consumo próprio. Além das questões estruturais bastante comuns que restringem o acesso econômico na base da pirâmide, o Brasil tem também que resolver estas questões sociais e institucionais se quiser atingir um crescimento inclusivo maior.
Já há muito tempo o turismo representa um setor vital da economia brasileira, gerando mais de $5 bilhões de dólares de renda em 2009. Infelizmente, porém, o setor não registrou um número significativo que causasse algum impacto. Em primeiro lugar, mais de 50% do turismo receptivo em países em desenvolvimento acabam se voltando para os países desenvolvidos através de produtos importados ou na forma de renda para trabalho estrangeiro ou para as firmas estrangeiras. Em segundo lugar, o setor cria no Brasil um número enorme de empregos para milhares de pessoas da base da pirâmide, mas muitos são para trabalho de baixa renda e de baixa mobilidade. Entre eles estão o setor hoteleiro e de hospedagem, de limpeza, de agências de turismo e etc. E o lado informal do setor turístico é digno de nota com as disparidades de gênero e de raça, anteriormente mencionadas. Apesar de não haver nenhum estudo conclusivo como referência, qualquer um pode observar que as mulheres e os grupos socialmente excluídos estão mal representados nestas atividades do setor de turismo informal com até subsistência e mobilidade mais limitada.
Nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro, por exemplo, entre as principais atrações turísticas estão os chamados patrimônios culturais dos negros brasileiros - tais como a capoeira, o samba, o candomblé e a gastronomia tradicional - e muitos dos prestadores de serviços são negros brasileiros que exercem atividades informais. O que aumenta a precariedade desta questão é que o Brasil está ultrapassando a Tailândia como o destino de turismo sexual mais popular do mundo. Estas atividades geradoras de renda acabam perpetuando a enorme demanda turística, mas ao mesmo tempo restringe os caminhos fora da informalidade e da limitação econômica.
No Brasil, questões como desigualdade de gênero e raciais, turismo sexual, turismo cultural e oportunidades econômicas formam uma intersecção bastante complexa, mas que está em vias de mudar. Uma parte do aumento da inclusão no setor de turismo representa um avanço mais amplo do acesso ao mercado de trabalho através de transporte, de educação e de políticas sociais- e isso já teve seu começo. Sob a égide do PAC- Plano de Aceleração do Crescimento, o governo se comprometeu a investir no desenvolvimento urbano sustentável, respeitando o meio ambiente e que prevê melhoria das favelas, criando assim um número excessivo de empregos no setor da construção civil, da educação e de serviços sociais, muitas vezes para pessoas de baixa renda. Desde que o Rio de Janeiro foi premiado tanto com a Copa do Mundo de Futebol de 2014 assim como com as Olimpíadas de 2016, a cidade desenvolveu um plano abrangente de revitalização, que trará o desenvolvimento para muitas regiões de baixa renda, promovendo a chamada construção verde e fornecendo treinamento em turismo, hospedagem, idiomas estrangeiros e novas tecnologias para a população local. As favelas, assim como em outras regiões de baixa renda se beneficiarão com a construção de um novo metrô e de novas rotas de transportes, expandindo assim o acesso ao trabalho.
Ainda restam, porém muitas perguntas não respondidas no que se refere a este plano de crescimento tomará algum tipo de ação específica para resolver as disparidades sociais. A falta de estratégias coerentes de inclusão poderia facilmente perpetuar a exclusão. Mas ao contrário parece que podemos ter sim esperanças.
Num âmbito mais amplo, a nível federal, o Brasil registrou progressos significativos com relação à questão de gênero e da desigualdade racial. A administração Lula criou uma secretaria de promoção de políticas da igualdade racial e das mulheres, que agem tanto a nível federal como local. Estas duas secretarias lançaram programas inovadores, que vão desde treinamento a concessões de crédito. Entre estas políticas estão programas de ações afirmativas nas universidades públicas bem como programas de treinamento de diversidade e supplier diversities. A Secretaria da Mulher tem até um programa para incentivar trabalhos para mulheres no setor da construção civil em rápida expansão. Em várias áreas, os governos estaduais e locais estão trabalhando em conjunto de modo a garantir que mulheres e diversos grupos éticos sejam bem representados e se beneficiem destas oportunidades na economia, inclusive no setor de turismo.
As secretarias de assistência social e de direitos humanos junto com a secretaria da mulher lançaram um novo programa para ajudar mais de 1.000 mulheres de baixa renda do Rio de Janeiro a se integrarem na economia de turismo, fornecendo vários módulos de trabalhos relevantes e treinamento de empreendedorismo. O programa é um win-win- preenchendo a ausência do capital humano necessário em 2014 e tendo como objetivo ajudar aquelas mulheres a saírem do setor informal. Também o Sebrae, apesar de não abordar especificamente a questão de gênero, está ajudando não apenas com o fornecimento de treinamento, mas também com a criação de centros artesanais SME que comercializam bens primários produzidos por mulheres e pelos empreendedores e cooperativas.
Este são apenas dois exemplos, mas há potencial para muito mais ainda. A coisa mais interessante sobre esta mudança é a interação de caráter colaborador entre os investidores, o setor privado, o governo e as comunidades da forma que está acontecendo agora mesmo no Rio. Será que o turismo pode prosperar de modo a gerar uma melhor distribuição de renda no Brasil? Se incorporarem devidamente a inclusão social no crescimento baseado no mercado, não tenho dúvidas que sim. Em 2016 vamos poder conferir tudo isso bem de perto.
materia extraida de http://brasil.nextbillion.net/blog
Autoria Tara Sabre Collier - fotoLarissa Armani
Nota do Editor- IBGE divulga 16/11/2011 : 10% mais ricos têm 44,5% da renda dos brasileiros
0 comentários:
Postar um comentário