4 de fev. de 2012

Iatismo: turismo ainda por aproveitar- João Flavio Pedrosa

Iatismo, mais uam segmentação para nosso turismo -foto svrevista.com.br

Iatismo: turismo ainda por aproveitar João Flávio Pedrosa Presidente da Sociedade Náutica Brasileira, do Hidroclube do Brasil e do Movimento Asas da Paz

Quem olha o mapa-múndi percebe que o planeta em que vivemos oferece um meio aquaviário tão extenso quanto múltiplo, seja se considerarmos as populações que dele se aproximam, aos bilhões, seja por identificarmos os espaços de nações onde, à beira de suas águas, múltiplas atividades se desenvolvem.


Essas atividades geram vários processos econômicos que, se devidamente totalizados e analisados,
mostrarão no item turismo que este tem papel fundamental, muito acima até de outras linhas de segmentação da economia global. Dentro dessa concepção analítica, cabe prosseguir no detalhamento,
separando, pelo menos, os grandes centros aquaviários do turismo: Mediterrâneo, Caribe, Pacífico, Oceania e Egeu, onde grande parte dessas atividades ocorre.

Em todos eles o turismo aquaviário se amplia, a cada ano, surpreendendo até os estatísticos que acumulam dados sobre os balneários da moda e avaliam suas campanhas para incentivar mais turistas
a visitar as praias desses mares. Desde muito tempo, a força do chamado ao mar traduz um turismo
qualitativo e sofisticado, quase sempre imune aos desníveis provocados pelas crises econômicas,
mas não imune aos demais contextos ambientais, políticos e sociais.

Se nesse texto já fosse colocado um ponto final, o Brasil estaria fora desse cenário, mesmo tendo – como tem – todo um potencial incomparável a qualquer daqueles centros já citados.
Mas onde está a nossa diferença? Como deixamos acontecer que as tão conhecidas e cantadas areias e palmeiras brasileiras pudessem cativar menos turistas internacionais, ou mesmo transformar o turismo nacional num valor menor para a qualificação das receitas que dele poderiam ser extraídas? O Sol que brilha lá é mais esplendoroso?

Certamente que essas respostas são ensaios e estudos sobre os quais muitos especialistas já se debruçaram, mas, ainda assim, não explica por que ainda somos obrigados a competir com menor vigor que destinos menos charmosos do que os nossos.
Daí surge o tema básico do iatismo, como um divisor de águas entre aqueles centros de turismo e o nosso potencial turístico no litoral.

Aquilo que é chamado de economia de verão é subexplorado por nossas águas, enquanto, em outros países, até menos favorecido pelo sol, as atividades organizadas procuram potencializar o uso das embarcações dos diferentes tipos para aplicá-las ao lazer e ao turismo.
Desde muito tempo a força do chamado ao mar traduz um turismo qualitativo e sofisticado, quase sempre imune aos desníveis provocados pelas crises econômicas, mas não imune aos demais contextos ambientais, políticos e sociais.

Há milhares de anos, quando o ser humano, usando apenas as suas vestes longas, abriu os braços e viu o barco a remo se deslocar com maior velocidade pela superfície das águas, buscou, a partir de então, encontrar o equilíbrio exato entre essa descoberta e a conquista da velocidade no rumo adequado.
Até que essas manobras, técnicas e embarcações chegassem aos dias de hoje com a sofisticação existente, muita evolução dependeu das atividades mercantis, da pesca oceânica e das operações militares.

O fato é que ainda hoje no Brasil a palavra iate lembra um barco sofisticado e acessível apenas às camadas economicamente mai bem dotadas, sendo, por isso mesmo, uma prática exclusiva dos mais ricos.

Claro que esse erro é devido a uma certa confusão, contida na própria palavra iate, que tem duas origens e também dois significados.

A primeira origem vem de hiate, que significa “navio de dois mastros sem mastaréus”. Era uma embarcação com pano latino, ou seja, velas triangulares, em que ambos os mastros têm caimento, quer dizer, o de proa para vante e o da popa para ré.

A segunda origem é o aportuguesamento da palavra inglesa yacht, que, por sua vez, tem origem holandesa – jaghen –, que significa caçar. Quanto a essa origem, estudiosos do tema descobriram em um dicionário holandês-latim de 1599 a descrição de um jaght schip e um jaght .Segundo esse dicionário, era uma embarcação de guerra, comércio ou recreio, ligeira e rápida.

O fato é que, já nessa época, menos de 100 anos da descoberta do Brasil pelas Caravelas de Pedro
Álvares Cabral, tanto os ingleses quanto os franceses já usavam essa palavra para designar as pequenas e rápidas embarcações que acompanhavam as armadas holandesas e que serviam para levar despachos
e oficiais mensageiros. Quem sabe a Carta de Pero Vaz de Caminha retornou a Portugal num iate?

Histórias à parte, a configuração dessa prática moderna do iatismo exige um grau de conhecimento
que vem das menores idades, com pequenas embarcações individuais, passando por tamanhos intermediários usados nos cruzeiros náuticos e regatas locais, e vai até o domínio das grandes e competitivas regatas internacionais.

A produção do turismo que isso envolve já é extremamente conhecida nos países que adotaram o iatismo como prática continuada e extensiva oferecida às populações, independentemente de faixas de renda.

Se uma competição de crianças ou aprendizes se faz fora da sede dos clubes, necessariamente o acompanhamento dos pais, exige uma logistica que envolve do transporte da embarcação, das passagens das crianças e pais  ou responsáveis, treinadores, familiares e convidados, até os meios de hospedagem.

Assim, os locais dessas competições, algumas vezes usados durante vários dias, são destinos turísticos
importantes, quer na preparação, nas provas, ou até mesmo no pós-evento, já que é comum famílias inteiras, ali reunidas, ainda aproveitarem para fazer turismo nessa mesma região.

.Quais as operadoras que se preocuparam, até hoje, com esse nicho de mercado no Brasil? Se existem, são muito poucas, exatamente pela linha de raciocínio de ser esta uma atividade de elite, sofisticada e inatingível, prática errônea que impede a evolução de ambos os lados: dos clubes e do turismo.

Se analisarmos na linha da costa as reentrâncias de enseadas e baías, os ventos e correntes que nos propiciam o iatismo e o sol que nos brinda com o calor tropical ao longo do ano, passeando por nossas praias, veremos que podemos, sim, criar produtos turísticos agregados a essas práticas e competir com destinos menos favorecidos que os nossos, mas ainda hoje mais procurados, pela organização que já alcançaram.
O turista que deseja essas velejadas é diferente do que chega através de regatas internacionais, mas ambos exigem a qualificação dos pontos onde poderão ter seus barcos amarrados e o apoio e a segurança dessa navegação – ou seja, marinas onde recebam os serviços básicos e possam passar algum tempo para refazer planos, manutenção, trocas de tripulantes ou, simplesmente, conhecer os locais e cidades onde aportam.

Nesse caso, faltam produtos e folhetaria específica, além de sites que atraiam os internautas já navegando por essas águas internacionais, usando seu tempo e o vento, como se levados apenas por
um gosto contínuo de conhecer o mundo.

Quem pensa que são poucos esses velejadores, cotejados com outros volumes costumeiros e analisados
pelas estatísticas dos aviões e dos navios, espantase ao reconhecer, no Caribe e no Mediterrâneo, no
Egeu e nas Ilhas do Pacífico, como esses milhares e milhares permanecem vivendo em suas embarcações, ligados, por sistemas altamente sofisticados, aos seus negócios em Paris, Londres, Genebra ou Nova York.

No entanto, quantos desses estão pelo litoral do Brasil? O resultado dessa pergunta só poderá ser um vigoroso planejamento, capaz de envolver a iniciativa privada e o Governo numa das mais importantes e salutares políticas de crescimento dessas práticas do iatismo.
Faltam produtos e folhetaria específica, além de sites que atraiam os internautas já navegando por essas águas internacionais, usando seu tempo e o vento, como se levados apenas por um gosto contínuo de conhecer o mundo.
artigo publicado no Turismo em Pauta numero 03 de janeiro;fevereiero de 2011 do Conselho Nacional do comercio de autoria de João Flavio Pedrosa
http://www.cnc.org.br/
Em tempo - a foto que ilustra a materia, foi postada pela editoria do blog. No original o trabalho apresenta outras ilustrações.
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