Adicionar legendaCachoeira do Bau-Serra da Canastra emDelfinopolis/MG flickr.com |
TURISMO RESPONSÁVEL
O turismo representa hoje uma das principais atividades econômicas no mundo. Atividades turísticas, principalmente aquelas desenvolvidas em áreas de conservação biológica – como parques e reservas – estão cada vez mais fazendo uso do paradigma do desenvolvimento sustentável para se tornarem reconhecidas e aceitas como atividades que oferecem consciência e ação éticas em relação ao meio social e ecológico. Nesse sentido, o ecoturismo, por exemplo, tornou-se um forte símbolo que pressupõem sustentabilidade, muitas vezes legitimizando de forma irrefletida essa atividade do turismo que acontece e impacta – positivamente e/ou negativamente - lugares de grande diversidade cultural e ecológica, e que por fim tem a chance de se contrapor à própria sustentabilidade.
Do ponto de vista social, cultural, e ecológico há, infelizmente, poucas empresas do ramo turístico que podem ser consideradas sustentáveis ou que visem o desenvolvimento sustentável em suas idéias e práticas de turismo. Nessa tarefa complexa e multidisciplinar do desenvolvimento do turismo sustentável, soma-se ainda, a grande dificuldade do envolvimento sério do setor público, assim como dos moradores locais que são direta e indiretamente atingidos pelas atividades turísticas. Do ponto de vista público-privado, o turismo ainda deve ser visto como uma atividade sócio-econômica em formação a nível nacional, sendo ainda quase desconhecida, ou pelo menos muito pouco entendida, pela maioria das comunidades que se encontram em áreas com potencial turístico. Dessa forma, a idéia de fazer turismo para um pequeno fazendeiro em uma região como a da Serra da Canastra pode ser considerada quase que alienígena, já que para se fazer turismo há que se ter férias, e estas raramente fizeram parte da rotina de vida do pequeno fazendeiro ou proprietário de terra. (Na região da Canastra essa família vive normalmente da terra, do leite e fabricação do queijo, e dificilmente teve ou considerou a possibilidade de abandonar o seu trabalho diário para sair de férias para fazer turismo, portanto, para ser turista! Isso significa dizer que essa pessoa local acha difícil entender o novo valor atribuído a seu espaço e às relações que nele surgem.)
A Ecologia Política do Turismo - podendo ser entendida como o estudo crítico das diversas relações e interesses acontecendo entre o meio social, econômico, político, ecológico e cultural, transgredindo inclusive o contexto do turismo; ou em outras palavras, aquela que procura entender a relação entre homens e recursos naturais através do estudo de como aqueles fazem uso destes para construir sua vida.
Nesse sentido, a ecologia política do turismo nos ajuda a melhor compreender as relações envolvendo o turismo na região da Serra da Canastra, uma vez que nos faz considerar: a formação do Parque Nacional da Serra da Canastra, caracterizada pela expulsão dos moradores que se encontravam dentro do seu limite, como parte integrante não só do movimento de conservação da fauna e flora, mas também criador de um novo valor sócio-econômico e cultural na região, através das relações trazidas pelo desenvolvimento do turismo no Parque e seu entorno; o incipiente, mas culturalmente crescente desenvolvimento do turismo na região, que acontece sem forte participação e trabalho social das diversas esferas do setor público, no intuito de socializar esse novo bem junto aos moradores locais (urbanos e rurais) – no sentido de esclarecer e incluir – ao mesmo tempo em que serve para contrabalancear o já antigo setor ecológico-ambiental exercido verticalmente pelo governo federal através do IBAMA e Instituto Chico Mendes que, apesar de promover e trabalhar pela preservação ambiental, carrega uma história de exclusão e descaso para com os moradores da região; e, por fim, o setor econômico fazendo uso desse novo recurso, que infelizmente é em grande parte exercido por empresas que poucas vezes se relacionam de forma a incluir e capacitar produtivamente os moradores locais, acabando por gerar mais exclusão social, econômica e espacial dessas pessoas, sendo, portanto, um agente poderoso de transformação ecológica, cultural e social desse espaço, mas que, quando bem utilizado, pode gerar e promover proveito para todos.
O turismo traz em si a capacidade de apresentar formas alternativas de relação entre o homem e os recursos encontrados a sua volta, onde formas de agir pautadas no respeito, reciprocidade e responsabilidade entre homens e entre estes e o meio ambiente podem ser poderosas na transformação das excludentes e impactantes relações sócio-econômicas atuais, mostrando novos valores culturais que trazem, oxalá, a tão falada sustentabilidade, ou simplesmente o necessário equilíbrio. De qualquer forma, esse equilíbrio depende da participação de todos os envolvidos, em um constante diálogo para o benefício duradouro da própria vida.
Nesse sentido, os benefícios de um turismo respeitoso, responsável e recíproco poderiam ser: uma consciência coletiva da necessária diversidade da vida, através de contatos cruzados de diferentes realidades cultural-ambiental, que podem levar a significados e práticas mais amplos de conservação ambiental; participação ativa entre visitantes e visitados em projetos de educação e preservação ambientais através do turismo; a prática de esportes em contato direto com o meio ambiente e culturas diversas, que carregam a capacidade de promover novas relações entre homem e seu meio e de transformar hábitos de vida menos saudáveis ou positivos em um mais equilibrado e benéfico; o diálogo, integração e inclusão de comunidades locais nas idéias e práticas do turismo, com intuito de fomentar sua melhora sócio-econômica e cultural e preservar sua identidade, ao mesmo tempo em que envolve todos os moradores no trabalho de promoção e preservação ambiental.
materia reproduzida do portal www.canastraviva.blogspot.com
Minha homenagem ao engenheiro NeriltonAntonio do Amaral, nascido em Delfinopolis e um entusiasta da região, a qual conheci a seu convite.