COOPERAÇÃO ENTRE
MUNICÍPIOS
|
||||
|
||||
Cidades como dínamos
da integração internacional
|
||||
|
||||
Muitos municípios e estados brasileiros se
desenvolveram e atingiram excelência em diversas áreas em temas que poderiam
ser incorporados à agenda da cooperação nacional, na medida em que já são
demandadas pelos países parceiros, sobretudo África e América do Sul, tais
como democracia participativa e mobilidade urbana |
||||
|
||||
por Alberto Kleiman, Eduardo Tadeu
Cidades-
Irmãs
Adendo do Editor - na área do turismo, pode-se incrementar o apoio a captação de eventos internacionais para o núcleo receptor, a escolha de cidades-irmãs e com isso criar uma série de políticas públicas reciprocas, ações de marketing que visem atrair investimentos específicos, missões culturais, técnicas, científicas entre outras, convite a jornalista especializados, visando a divulgação turística da cidade e ou região, eventos gastronomicos, feiras de artesanato, mostras comerciais, participação em feiras e congressos internacionais com estande compartilhado, entre outras possibilidades.
|
||||
|
||||
As últimas décadas do século XX viram o
surgimento do fenômeno da ascensão das cidades – e demais unidades
subnacionais, como estados, províncias, regiões, entre outras – como atores
internacionais. Embora haja registros de relações exteriores entre cidades
desde o início do século passado, foi no seu final que os governos locais
alcançaram maior projeção internacional em razão da consistência de suas
ações de cooperação e de sua articulação política global.
Nos anos 1990 e início dos 2000, diversas
cidades brasileiras e latino-americanas se lançaram em ações internacionais,
prática comum entre suas homólogas europeias. As razões para essa atividade
eram muitas: captação de recursos internacionais, atração de investimentos,
intercâmbio de conhecimentos e experiências, visibilidade internacional (e
nacional) e, não raro, articulação política internacional.
No Brasil, as cidades respiravam os ares da
descentralização democrática, o momento pós-Constituinte, que garantiu maior
protagonismo aos governos locais e elevou o município à condição de ente
federado. No plano internacional, realizava-se a Conferência das Nações
Unidas sobre Assentamentos Humanos, a Habitat II, em Istambul, na Turquia,
que colocou o tema urbano no centro da agenda global.
Os novos tempos exigiam do gestor local novas
ideias e novas políticas. E, se possível, novas fontes de recursos. A ação
internacional das cidades crescia nesse contexto. Cientes dos novos desafios
e oportunidades, alguns municípios criaram estruturas especializadas para
atuar internacionalmente. Muitas cidades brasileiras e sul-americanas
ganharam visibilidade apresentando suas políticas inovadoras em fóruns e
prêmios internacionais.
Para além das iniciativas individuais, os
governos locais criaram movimentos coletivos, mais amplos, a fim de incidir
nos processos políticos regionais e globais. A criação da Rede Mercocidades,
em 1995, reuniu os principais municípios do Cone Sul e teve papel fundamental
ao questionar os rumos do Mercosul e da integração regional, então conduzidos
de forma excludente pelos governos nacionais e orientados predominantemente
aos aspectos e interesses comerciais.
Obstáculos
No entanto, as eleições sucessivas de governos
de centro-esquerda na América do Sul e a retomada dos processos de integração
sul-americana não agregaram os atores locais como parceiros. Tampouco as
novas orientações da política externa do governo Lula resultaram em
fortalecimento e avanço da cooperação descentralizada no Brasil.
A falta de mecanismos e instrumentos de
fomento e promoção da cooperação descentralizada no país e a ausência de um
marco regulatório que a discipline, aliado à insuficiência de canais de
diálogo estabelecidos com os operadores da política externa, criam obstáculos
para a ação internacional federativa, desestimulando sua prática e, muitas
vezes, impedindo seu desenvolvimento.
Apesar disso, uma nova geração de prefeitos e
governadores tem criado ou mantido suas equipes e constituído novas
plataformas de ação, o que demonstra que a agenda internacional segue
despertando interesse junto aos mandatários locais e estaduais.
Algumas iniciativas apontam nessa direção,
como o Fórum Nacional de Assessores Municipais de Relações Internacionais
(Fonari), que busca constituir-se como um espaço de intercâmbio, sinergia e
ação conjunta entre os municípios; ou a recém-criada Associação
Latino-Americana de Cidades Aeroportuárias (Alma), iniciativa capitaneada por
Guarulhos em parceria com outras cidades da região; e a Comissão Econômica
para America Latina e Caribe (Cepal), uma rede de produção e intercâmbio de
conhecimento e cooperação; ou ainda as iniciativas conjuntas entre governo
federal, estados e municípios, como as plataformas da Cooperação
Descentralizada Brasil-França e Brasil-Itália, que promovem a cooperação com
esses países e que têm obtido avanços significativos.
Nesse sentido, as recentes mudanças nos
cenários regional e global podem ser entendidas como uma oportunidade de
renovação da agenda da cooperação internacional descentralizada brasileira,
que passaria a ter como foco central a cooperação Sul-Sul, a integração sul-americana
– Mercosul e Unasul –, os novos arranjos multilaterais – o Ibas (Índia,
Brasil e África do Sul), os Brics (Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul)
–, a aproximação com a África e o Oriente Médio e, por outro lado, a
atualização das tradicionais relações com os países desenvolvidos em
parcerias de cooperação trilateral.
O recente estudo realizado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com a Agência Brasileira de
Cooperação (ABC),1 com objetivo de fazer um levantamento da cooperação
prestada pelo Brasil entre 2005 e 2009, apresentou uma mudança consistente no
seu perfil de cooperação. Segundo o estudo, o governo brasileiro destinou, no
período, cerca de US$ 3 bilhões para cooperação prestada. Na categoria da
cooperação técnica, os recursos privilegiaram as áreas nas quais o país
acumulou conhecimento e expertise, tais como pesquisa e tecnologia
agropecuária, produção de medicamentos, educação e capacitação profissional,
entre outros.
Muitas cidades e estados brasileiros se desenvolveram
e atingiram excelência em diversas áreas nas últimas décadas em temas que
poderiam ser incorporados à agenda da cooperação nacional, na medida em que
já são demandadas pelos países parceiros, sobretudo da África e América do
Sul, tais como democracia participativa, desenvolvimento e mobilidade urbana,
saneamento ambiental, resíduos sólidos, políticas de saúde e educação, gênero
e juventude, segurança pública, entre tantas outras.
Nesse sentido, é auspiciosa a iniciativa do
Edital Trilateral Brasil-França-África e Haiti para a Cooperação
Descentralizada2 lançada pelos governos do Brasil e da França e a Frente
Nacional de Prefeitos, que sinaliza positivamente uma mudança de orientação
com essa agenda. O edital selecionará tecnicamente projetos de estados e
municípios e os apoiará financeiramente para prestarem cooperação, em
parceria com seus homólogos franceses, africanos e haitianos, uma prática
inovadora e desafiadora para os governos subnacionais brasileiros.
Acreditamos que essa experiência deveria se
ampliar e se transformar em uma verdadeira política da cooperação
internacional descentralizada brasileira. Editais como esse poderiam se
multiplicar, orientados pelos eixos da cooperação Sul-Sul já mencionados.
Os projetos apresentados pelos municípios e
estados se espalhariam pelo país e seus resultados seriam mais visíveis.
Alguns temas, como a integração regional, o Mercosul e a Unasul, por exemplo,
distantes da realidade das pessoas e de grande desconhecimento dos
brasileiros, poderiam ganhar projeção se transformados em projetos concretos.
A política externa e de cooperação, assim,
ganharia novo oxigênio, novas ideias, novas práticas e novos parceiros. E a
um custo relativamente baixo, característica desse tipo de cooperação. Com
diálogo, orientação e capacitação, o Brasil transformaria seus estados e
municípios em verdadeiros dínamos da cooperação internacional descentralizada
e da integração regional.
Alberto Kleiman - Autor
Mestre em Relações Internacionais pela USP, é
atualmente chefe da assessoria internacional da subchefia de assuntos
federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da
República
Eduardo Tadeu - Autor
Historiador, doutor em Educação, prefeito
reeleito de Várzea Paulista (SP/PT) e 2º vice-presidente de Relações Internacionais
da Frente Nacional dos Prefeitos
|
||||
|
||||
Palavras chave: Cooperação, munícipios, África, Ámerica do Sul, participação social, mobilidade urbana, Brasil
|
||||
|
0 comentários:
Postar um comentário