Mosaico de Unidades de Conservação da Juréia-Itatins, uma das área de Mata Atlântica mais preservadas no Brasil. Foto: http://www.coati.org.br
Caiçaras e quilombolas querem se beneficiar do turismo
em unidades de conservação
Projeto de lei em tramitação na
Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) promete fomentar o turismo na Mata
Atlântica, situada na parte sul do litoral paulista, com a criação do Mosaico de
Unidades de Conservação da Jureia-Itatins. A proposta fará a regularização
fundiária da estação ecológica que não pôde ser plenamente implementada pelas
comunidades tradicionais que vivem na área.
O mosaico, com 97,2 mil hectares, prevê
a incorporação de áreas de preservação na estação ecológica e, ao mesmo tempo, o
desmembramento de outras partes em reservas de desenvolvimento sustentável (RDS)
e parque estaduais. Com isso, ficarão abertas à visitação praias e
cachoeiras.
Os caiçaras e quilombolas que moram na
região temem, no entanto, perder o controle dos recursos naturais com a
concretização do projeto. “Eles propõem parques onde empresas virão fazer a
gestão, dificilmente a própria comunidade vai fazer a gestão de espaços como
parques, alojamentos e todas essas estruturas que eles pretendem criar”,
argumenta a vice-presidenta da União dos Moradores da Jureia (UMJ), Adriana
Souza Lima.
A proposta dos moradores é que as
comunidades administrem de forma partilhada a exploração turística da região.
“Acreditamos que pelo tempo de atuação das comunidades, das lideranças, do
amadurecimento que temos tido no diálogo, temos condições de compartilhar a
gestão com o estado”. Segundo Adriana, os moradores têm estudado projetos
bem-sucedidos implementados em outros estados.
Para Adriana, a preservação da região
foi garantida pela ocupação das comunidades tradicionais. De acordo com ela,
esse ocupantes protegem os recursos das áreas onde vivem, enquanto os locais
completamente desabitados ficam expostos à degradação. “Hoje na Jureia, se você
andar por quilômetros, você só vai encontrar palmito-jussara, que é uma espécie
ameaçada de extinção, nos quintais caiçaras”, diz.
O diretor de Operações da Fundação
Florestal, Boris Alexandre César, nega a existência de planos de privatização
dos parques. “O governo não está privatizando parques, pelo contrário, o governo
está assumindo o papel que lhe compete, que é a gestão ambiental”,
ressaltou.
De acordo com ele, a fundação já tem
trabalhado com a terceirização de serviços em unidades de conservação em
benefício das populações locais. “Na Caverna do Diabo nós terceirizamos o
serviço de guia. Ou seja, nós capacitamos no Alto Vale do Ribeira 850 moradores
tradicionais da região, para que eles ganhem dinheiro com o turista que vai
conhecer o parque”, exemplificou.
Porém, em algumas comunidades, como a
Barra do Una, a preocupação é saber quem serão os moradores que serão
beneficiados com a criação das reservas de desenvolvimento sustentável. Para o
presidente da associação de moradores local, Peder Kvam, os critérios adotados
pelo governo estadual excluem pessoas que criaram raízes na região.
“As populações tradicionais podem ser
modernas, como nós somos”, ressaltou Peder Kvam. Ele próprio descendente de
noruegueses casado com uma caiçara. “O atual modo de vida da Barra do Una gira
em torno das atividades relacionadas ao turismo, além da pesca, trabalhamos com
bares, lanchonetes e pousadas”, diz, ao destacar que a economia local evoluiu
sem agredir ao meio ambiente.
Adriana Lima, da União dos Moradores da
Jureia, ressalta que a discussão é ainda mais complicada porque durante as
décadas de 1970 e 1980 houve incentivo governamental para que pessoas migrassem
para a região. Por isso, a entidade defende que os moradores de cada uma das 12
comunidades envolvidas decida quem deve ficar como morador tradicional. “A gente
respeita o que cada comunidade decidir. A comunidade sabe discernir quem é do
bem e quem é do mal.”
A União dos Moradores quer também a
ampliação das reservas de desenvolvimento sustentável de forma a garantir a
permanência da maior parte das 300 famílias que vivem na região. Segundo
Adriana, o projeto atual atende apenas a 112 famílias. (Fonte:
Daniel Mello/ Agência Brasil) - CLIPPING AMBIENTE
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