9 de out. de 2014

Gasto de brasileiros no exterior aumenta mais de 10 vezes desde 2003 por Sílvio Guedes Crespo

Os gastos dos brasileiros no exterior continuam aumentando apesar da fraca atividade econômica nacional. Nos últimos 12 meses, atingiram US$ 23 bilhões, ou dez vezes mais do que em 2003 (US$ 2,1 bilhões).
Esse aumento não tem sido acompanhado, na mesma proporção, pelas exportações brasileiras (que quadruplicaram no período) nem pelos investimentos estrangeiros no país (que quintuplicaram).


Visto de outra forma, para cada US$ 10 que entraram no país por meio de exportações nos últimos 12 meses, US$ 1 saiu na forma de gastos de turistas. Ou ainda, para cada US$ 10 que chegaram como investimento de multinacionais, US$ 3,62 saíram nas viagens de  brasileiros ao exterior.
Os gastos do brasileiro lá fora contribuíram, junto com a queda das exportações, para que as transações do Brasil com o resto mundo ficassem negativas em US$ 70 bilhões nos últimos 12 meses.
O tema é delicado porque as despesas de turistas no exterior, ao mesmo tempo em que poderiam representar uma preocupação para o país do ponto de vista macroeconômico, são também uma conquista para os que conseguem, pela primeira vez na vida, conhecer outras nações.
O turismo, dentro ou fora do país, é uma atividade que gera um retorno pessoal incomensurável, algo que não pode ser medido apenas pelos gastos no cartão de crédito. Não é desejável que as viagens sejam desestimuladas apenas para o país colocar equilibrar suas contas externas. Mas é necessário que esse equilíbrio seja alcançado por outros meios.
Por que ficou mais fácil viajar
Passear no exterior se tornou uma atividade acessível a cada vez mais brasileiros à medida que melhoravam as contas externas do país, entre outros fatores. Mais especificamente, à medida que aumentavam os preços dos produtos básicos no mercado internacional.
Como a soja, a carne e o minério de ferro ficaram mais caros, os exportadores brasileiros nem precisariam aumentar a produção se quisessem ganhar mais dinheiro. Mas eles produziram mais e, com isso, passaram a ganhar muitas vezes mais.
Em volume, as exportações de soja dobraram de 2001 a 2011; em dólares, sextuplicaram. Com a carne bovina ocorreu o mesmo. No caso dos minérios de ferro, a alta em volume foi de 112%, e em dólares, de 1.326%.
Vendas ao exterior trazem dólares para o país. Como elas subiram com muita força na década de 2000, contribuíram para um ciclo virtuoso de desenvolvimento que durou pelo menos até 2011, mas se desacelerou no ano passado.
Os dólares trazidos pelas exportações mais do que compensavam os que saíam por causa das importações e dos gastos com serviços no exterior. Em outras palavras, o volume que entrava era superior ao que saía.
Esse equilíbrio das transações do Brasil com o resto do mundo contribuiu para dar segurança aos empresários internacionais, que passaram a colocar cada vez mais dinheiro no país. Os investimentos estrangeiros diretos subiram de US$ 10 bilhões, em 2003, para US$ 67 bilhões, em 2011.
Todo dinheiro do exterior que chega ao Brasil é imediatamente trocado por reais para circular aqui dentro. A demanda pela moeda nacional, portanto, aumentou mais do que a oferta nesse período em que choviam dólares na forma de investimento estrangeiro e de aumento das exportações.
O real, em consequência, passou a valer mais. Comprar produtos estrangeiros ficou mais barato; viajar ao exterior, também. Isso para não falar que os investimentos estrangeiros contribuíram para gerar emprego e renda no país. A taxa de desemprego caiu para patamares historicamente baixos, e a renda média da população subiu acima da inflação.
Mudança de rumo
A boa fase das contas externas brasileiras nos últimos meses deu lugar a um momento de apreensão. Os preços dos produtos que o Brasil exporta já não sobem mais como naquele tempo. Em 2012, a exportação de minério de ferro foi igual à do ano anterior em volume; mas, em dólares, diminuiu em US$ 10 bilhões (ou 25%). (No caso de soja e carne, houve aumento, mas de US$ 1,5 bilhão no total, não compensando as perdas com minério).
Ao mesmo tempo, as importações continuam fortes porque a indústria nacional é pouco competitiva no atual cenário. E os turistas, como citamos aqui, continuam gastando bastante no exterior.
Esses e outros fatores fizeram com que a saída de dólares passasse a aumentar mais do que a entrada. Até alguns meses atrás, isso não era um grande problema, pois os investimentos estrangeiros ainda compensavam o dinheiro que saía por meio das importações de bens e de serviços. Porém, já não são mais suficientes.
As empresas de outros países investiram US$ 64 bilhões no Brasil nos últimos 12 meses, mas outros US$ 70 bilhões deixaram o país por meio do comércio de bens e serviços.
O Brasil é capaz de aguentar um rombo desse tipo nas contas externas por algum tempo, pois tem US$ 379 bilhões em reservas. Além disso, o país continua sendo capaz de atrair capital especulativo. Mas não é recomendável que queime reservas ou alimente especuladores para compensar o que os brasileiros  gastam em viagens ou com produtos importados. Nem que continuemos dependentes dos preços dos produtos básicos no mercado internacional.
Mais adequada será uma política que torne o país mais atraente para investimentos estrangeiros diretos (a concessão dos serviços de infraestrutura pode contribuir para isso) e reduza custos para o setor produtivo nacional. Ainda, a exploração do petróleo da camada pré-sal também pode ajudar a trazer dólares ao país ou diminuir a dependência de importação desse produto.
http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/05/22/
Do Editor - mais uma vez reitero a importäncia da assenção social e econömica ocorrida no país nos últimos 11 anos. mas reitero a urgëncia de ação federal, estaduais e municipais, junto com o imenso espectro de prestadores de serviços voltados a atividade do turismo, visando um ordenamento e um desenvolvimento sustentável participativo e amplo rearranjo na prestação dos serviços, visando adequar os preços a um patamar, que virá com a eficiëncia, economia de escala,  melhoria da qualidade profissional, ações promocionais macro, tendo como pano de fundo um planejamento de curto, médio e longo prazo. Otavio Demasi


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