A seca no Cantareira se deve à ausência
de investimentos pelo governo estadual (Sabesp) em novos mananciais para a
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) após a conclusão do próprio Sistema
Cantareira há 30 anos, período no qual a população da região aumentou de 12
para 22 milhões de habitantes, ou seja, 10 milhões de pessoas a mais.
Além dos inúmeros alertas dos
especialistas sobre as consequências dessa omissão a própria natureza também
fez a sua advertência em 2003 promovendo uma estiagem intensa e prolongada que
quase leva o sistema ao colapso.
É importante destacar um agravante que
certamente tem sua parcela de contribuição na extensão da crise atual: a negligência
do governo estadual (Sabesp) permitindo a perda de 70% da cobertura florestal
nativa na área da bacia hidrográfica do Sistema Cantareira. Espera-se que a
gravidade dessa crise sensibilize o governo a impedir a continuidade desse
nefasto processo destrutivo.
O verão seco - Embora se pretenda
transferir a causa da crise para São Pedro, o fato é que o fenômeno
meteorológico ocorrido faz parte dos ciclos naturais de variação da frequência
e intensidade das precipitações que não podem ser ignorados nos projetos dos
sistemas de abastecimento de água que têm de ter capacidade para atender os
usuários sem provocar nenhuma solução de continuidade no suprimento.
Racionamento - A solução técnica, em
termos de gestão do sistema para enfrentar essa crise, é o racionamento – que
pode ser complementado por outras medidas, como oferta de bônus nas contas de
água para quem economizar água, fixação de limites de consumo com aplicação de
multas para quem ultrapassá-los e ampla campanha de esclarecimento e indução à
economia de água.
No curto prazo não existem soluções de
engenharia para enfrentá-la.
Foto publicada no Diario de Aruja em 15-01-2015 |
A gerência da crise - Conforme
noticiário dos jornais o governador está gerenciando a crise pessoal e
politicamente. Em 1º de abril o plano de ação era o seguinte: não fazer racionamento
porque ele entende que a medida vai prejudicar a sua reeleição; manter os bônus
de 30% nas contas de água daqueles que economizarem 20% durante o mês; volume
disponível no sistema: 130 milhões de metros cúbicos; retirar 72 milhões de
metros cúbicos em abril e o restante em maio e início de junho (e em
consequência o sistema secará em meados de junho); acelerar as obras de
retirada de 200 milhões de metros cúbicos do volume morto para serem utilizados
a partir de meados de junho e atenderem a demanda até outubro, início do
período de chuvas, quando termina o plano de ação; o plano não diz, mas indica
que daí para frente as chuvas encherão os reservatórios e o problema acaba.
Comentário: o plano de ação garante o
início da Copa e a eleição de 4 de outubro sem racionamento o que o caracteriza
como um plano político-eleitoral.
Consequências – Em 4 de outubro teremos
um sistema seco e sem volume morto e as chuvas que vierem preferencialmente
reencherão o volume morto mantendo o sistema seco pelo menos por um tempo maior
que aquele levado para esvaziá-lo; o Plano da Macrometrópole feito pelo governo
estadual mostra que a pior estiagem da nossa história ocorreu em 1953/1955, fez
uma simulação da sua repetição em cima do Sistema Cantareira e chegou às seguintes
conclusões: o sistema atingiria volumes mínimos semelhantes aos já atingidos
agora (não fala em volume morto) e demoraria mais de um ano para se recuperar,
retirando menos de 15% de sua capacidade nesse período; a situação atual é
certamente mais grave (primeiro porque temos que somar a esse tempo de
recuperação o tempo necessário para preenchimento do volume morto durante o
qual o sistema permaneceria seco e, além disso, o governador tem afirmado que a
seca atual é aquela que se constitui na pior da nossa história, maior que a de
1953/1955); repetindo o que disse o presidente da ANA, Vicente Andreu, em
recente entrevista, o pior ainda está por vir; para dar uma medida do que isso
representa lembro os seguintes números relativos ao sistema de abastecimento da
RMSP (sem falar na situação da Bacia do Piracicaba PCJ): demanda atual, 82
metros cúbicos x segundo; capacidade dos mananciais existentes incluindo o
Cantareira, 72 metros cúbicos x segundo; idem sem o Cantareira, 39 metros
cúbicos x segundo; observando esses números junto com as conclusões da
simulação da estiagem de 1953/1955 no Cantareira, verifica-se que a partir de
outubro teremos uma situação realmente dramática. A disponibilidade de água
para os próximos anos é menor que a metade das nossas necessidades!
É impressionante a desproporção entre o
tamanho e gravidade da situação e a modesta ação do governador.
A grande preocupação - Acredito que o
exposto não deixe dúvidas sobre a extrema gravidade do problema. Mas apenas
constatá-la não é suficiente, será preciso de imediato começar procurar como
enfrentá-lo.
Partimos de premissas que dão uma medida
das dificuldades a serem superadas: embora a solução do problema envolva
intervenções de grande porte e alta complexidade, cujos prazos de execução são
longos, será necessário também encontrar formas para minimizar as enormes
dificuldades que a região já está sentido e se agravarão no médio prazo. De
outro lado, o governo estadual, que é o responsável pela liderança e condução
do processo, não está preparado – e diria nem disposto a enfrentar tamanho
desafio, pois deixou a situação chegar a esse ponto e apresentou um plano
político que não resolve nada, apenas empurra o problema para daqui a seis
meses.
Desde que haja vontade política os
desafios de longo prazo terão solução normalmente. Porém, os de curto e médio
prazo exigirão muita competência e criatividade.
Há dez dias, inaugurando o volume morto
do Cantareira, o governador transformou uma tragédia em festa.
Ontem, na Câmara Municipal, um diretor
da Sabesp, em tom de deboche, transformou a mesma tragédia em piada ao dizer
que “se a crise persistir vão distribuir água em canequinha”.
Tenho sido frequentemente solicitado a
dar minha opinião sobre a crise da água no sistema Cantareira e não tenho como
não classificá-la de gravíssima tendo em vista se tratar do colapso de um
sistema responsável pelo abastecimento de quase 50% da população da região
metropolitana, ou seja, 9 milhões de pessoas sem nenhuma perspectiva de
reposição a não ser a longo prazo, no mínimo 8 a 10 anos após o inicio das
providências nesse sentido quando a população já terá aumentado em 4 a 5
milhões de habitantes.
Essa gravíssima situação terá inicio tão
logo sejam esgotadas as reservas do volume morto o que deverá ocorrer no final
desse ano. A partir dai não haverá como escapar de um racionamento compulsório
de 50 % da demanda crescente com o aumento da população.
Embora não adiante chorar sobre o leite
derramado não pode ficar sem registro o fato de que se tivéssemos construído um
novo sistema com manancial de grande porte nesses últimos 20 anos, o que não
seria nada de extraordinário, pelo contrario, era absolutamente necessário,
oportuno e viável, com certeza estaríamos superando essa seca rigorosa sem
problemas de desabastecimento. Infelizmente a Sabesp nesse período estava mais
preocupada em valorizar suas ações na Bolsa de Nova York para atender os seus
acionistas e se esqueceu dos seus usuários.
Estamos em Julho, nos distraindo com os
jogos da Copa e com os acordos dos partidos para enfrentar as eleições de
Outubro e não nos demos conta de que nenhuma providência foi tomada para a
construção do novo sistema com manancial de grande porte.
Refletindo sobre esse assunto me
perguntei: será que essa situação tem toda a importância que estou lhe
atribuindo? Me veio à mente o problema da relatividade : aprendi que “ se tudo
é prioritário nada é prioritário”. Olhando a região metropolitana vejo os não
menos graves problemas da mobilidade urbana, déficit de habitação digna para
população de baixa renda, poluição das águas e do ar, enchentes, olhando para o
pais vejo a degradação da nossa economia, da política externa, da
infraestrutura de transportes e energia fiquei na duvida se a crise do
Cantareira tem a importância que imagino.
Realmente, não podemos esquecer que tudo
é relativo e a degradação das nossas políticas publicas atingiu tal nível que
fica difícil saber por onde começar. Porem, não podemos perder as esperanças e
continuar na luta. Encontraremos uma saída. Quanto mais difícil, mais
estimulante.
Estamos no fim do mês de Julho e a
operação de guerra necessária para superar a grave crise da água em São Paulo
ainda não existe.
Embora a crise da água na região
metropolitana já tenha sido anunciada há pelo menos 15 anos, ela deu um sinal
em 2003 e veio com tudo a partir do final de 2013 surpreendendo a Sabesp e o
governo do estado.
O governo a vem administrando até hoje,
final de Julho, com visão exclusiva de curto prazo com o objetivo de passar o
período eleitoral sem racionamento, se valendo do apoio da população em reduzir
o consumo, do racionamento seletivo em diversos setores da região e
especialmente no esgotamento não só da capacidade útil dos reservatórios mas
inclusive de todas as reservas técnicas disponíveis. E só.
Esse comportamento somado à freqüente
alusão à falsa perspectiva de que em Outubro as chuvas que virão encherão os
reservatórios e acaba a crise está induzindo a população a não atribuir à mesma
a sua real extensão e gravidade (efeitos a partir do final desse ano com
horizonte de 10 anos). Em conseqüência as pessoas começam a achar que agora não
dá para fazer mais nada, só depois das eleições, e não se dão conta que após as
eleições vem Natal e em seguida o Carnaval.
A gravidade da situação exige maior
responsabilidade do governo. Era de se esperar que o governo já tivesse
organizado e implantado, pelo menos a partir do final do ano passado, uma
operação de guerra, mobilizando todo o potencial do estado para atacar o
problema e devolver à população a situação de antes da crise com a maior
brevidade possível. Se não foi feito na ocasião que se faça agora.
Observe-se que até hoje, final de Julho,
o governo ainda não começou a tomar as medidas necessárias à superação das
deficiências do sistema de abastecimento de água da região metropolitana (longo
prazo) nem aquelas, mais emergenciais ainda para minimizar os dramas a que a
região estará sujeita a partir do inicio do próximo ano até que o sistema seja
restabelecido (médio prazo).
O único problema é: como conseguir que o
governo passe a assumir suas responsabilidades?
O continuo agravamento da crise da água
em São Paulo está começando a despertar as pessoas para procurarem se defender
com o uso da água subterrânea. Considerando que estamos vivendo apenas o
aperitivo dessa crise e que a sua real dimensão deverá aparecer a partir do
final do ano quando a disponibilidade dos mananciais superficiais estará abaixo
da metade da demanda e, certamente por um período não desprezível, a única
fonte a curto e médio prazos será o manancial subterrâneo, a corrida atrás da
abertura de poços será inevitável.
Duas observações extremamente
importantes, necessárias e oportunas, uma boa e outra ruim. A boa é que o
aquífero da região metropolitana, que já abastece parte da demanda com cerca de
10 m³/s, dispõe de pelo menos outros 10 m³/s que poderão servir à mesma
finalidade desde que o sistema passe a ser competentemente planejado e
gerenciado. A ruim é que a Agência da bacia do Alto Tietê, braço executivo do
Comitê, responsável pelo planejamento e gerenciamento desse importante sistema
de abastecimento e o DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica que
responde pela concessão das outorgas para o uso dessas águas não estão
adequadamente preparados para exercerem essas funções e poderão não conseguir
extrair dos mesmos os resultados que dele se possa esperar.
Essa preocupação decorre primeiro do
fato de que a Agência foi criada em 2003 e praticamente desativada em 2006, não
tendo conseguido se firmar, e o DAEE que exercia todas essas funções desde a
sua criação, há mais de 60 anos, nesse particular chegou a situação atual com
mais de 10.000 poços em operação ( produção de 10 m³/s ) dos quais a grande
maioria clandestinos e uma pequena parte desativados por contaminação.
É importante ressaltar que a Agência
produziu um estudo de mapeamento dos poços existentes, inclusive os
desativados, que mostra as áreas onde não devem ser autorizados novos poços e
as áreas onde eles podem ser incentivados para usar os 10 m³/s ainda disponíveis.
Não é preciso falar sobre a extrema importância do uso desse estudo daqui para
a frente.
Seria do maior interesse da população
ouvir o Presidente da Agência e o Superintendente do DAEE para saber como
pretendem enfrentar essa iminente “corrida para a abertura de novos poços”.
Com a palavra as instituições que
poderiam convidar essas autoridades com esse fim.
Janeiro de 2014
A Sabesp estava pronta para iniciar a
execução de um Plano detalhado para enfrentar a estiagem do Cantareira pela
implantação imediata do racionamento de água. O governador vetou o Plano e
sumiu com ele.
07 de Agôsto de 2014
O jornal O Estado de São Paulo publicou
o Plano que conseguira descobrir.
08 de Agôsto de 2014
O mesmo jornal publica
declaração do governador de que o Plano da Sabesp de Janeiro era tecnicamente
inadequado que nada mais é do que um verdadeiro “atestado de incompetência da
empresa”.
leia mais artigos em www.juliocerqueiracesarneto.com - Artigo publicado sem data, mas antes da eleição de 04 de outubro de 2014 -
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